Alexyus escreveu:O velho sorriu, sentando-se na grama de frente para Juno e começando a discorrer animadamente:
- A Tríade é um conjunto de forças cósmicas que trabalham de forma entrelaçada. As culturas humanas as retrataram de muitas formas, como as Parcas, mandalas, ciclos de existência, céu-terra-inferno, início-meio-fim. Elas não estão totalmente erradas, mas apenas arranham a profundidade da verdade. Nós, garous, conhecemos essas entidades de maneira muito mais pessoal.
Ele passou a mostrar nos dedos:
- A Wyld, a entidade da criação, gera inúmeras formas e ideias a partir da energia bruta de Gaia. Ela abarca todos conceitos imagináveis, dando-lhes substância, trazendo à existência todas as possibilidades. É um caos criativo hiperdinâmico e quase insano.
Ele ergueu o segundo dedo:
- A Weaver personifica a Ordem. Ela sempre organizou as criações da Wyld, dando-lhes formas definitivas e costurando-as no tecido da cosmo, ordenando o que vivenciamos como realidade consensual. Nem todas as criações da Wyld tinham serventia, muitas deveriam ser descartadas, mas em algum momento a Weaver discordou disso e tentou abraçar toda a criação em suas Teias do Padrão; claro que a velha aranha não conseguiria isso, e na tentativa, ela enlouqueceu.
Ele ergueu o terceiro dedo de modo sinistro:
- A Wyrm deveria ser o equilíbrio entre a Criação e a Ordem, trazendo a Entropia a tudo que não pudesse existir, destruindo o que a Weaver não conseguisse ordenar. Como um grande dragão roendo as raízes do mundo, ela deveria trazer a morte de todas as coisas para reiniciar o ciclo de Gaia. Mas a loucura da Weaver confundiu a Wyrm, e a própria Weaver aprisionou a Wyrm para que ela não pudesse mais destruir todas as coisas que a Teia do Padrão continha. Presa, a Wyrm também enlouqueceu e decidiu destruir toda a existência.
Ele fechou os olhos com um suspiro, mas um momento depois os abriu de modo alarmante e assustador:
- Durante milênios, os garous foram levados a combater a Wyrm para impedir a destruição de tudo, mas nossas ações apenas pioraram a guerra entre as três forças da Tríade. Os Filhos de Gaia buscaram uma forma de trazer a paz ao cosmo, mas poucos deles atingiram a compreensão da única solução...
Ele falou em voz baixa, quase um sussurro, bem perto do rosto de Juno:
- Só existe um meio de acabar com essa guerra. Para alcançar a Paz Eterna, precisamos destruir as Teias do Padrão e tudo que ela contém, deixar que a Wyrm consuma tudo que há na criação, para que enfim Gaia e todas as suas criaturas conheçam de novo o equilíbrio e a paz universal. A iminente morte dos garous, a autodestruição da humanidade, a inevitável vitória da Wyrm, tudo isso deve acontecer, criança. Compreende isso?
Os olhos do ancião estavam arregalados, encarando detidamente o rosto de Juno.
Ao se deixar levar pela voz de seu interlocutor, Juno sentia uma imensidão de sentimentos adentrando seu coração, tornando as palavras proferidas por ele em um conto animado em sua mente e ela podia sentir em cada canto de sua alma o desejo de sanar todos os males, de salvar quantos ela pudesse, a inocência ainda habitava seu corpo, por isso agarrava-se ao desejo de ser parte de algo maior e preencher seus próprios vazio. Ouvindo como o mundo começou e como as forças interligavam-se e chocavam-se em turbilhão caótico deixando sua espécie e os humanos em meio a algo nebuloso. Quando ele parou de falar, ela olhou para o chão por uns momentos um tanto perdida após ouvir tudo ao mesmo tempo em que seu coração batia em um ritmo desejoso por dias cheios de esperança para todos os seres.