Chiara - Bastet

Chiara

Aquele era um dia importante para Chiara. Pela primeira vez, ela seria parte de algo... Não seria mais a órfã que não tem amigos ou a elfa cujos elfos não tem muito apreço.  Se tornaria, de fato, uma druida, assim como seu pai.

***

Observava o pai dançar, como iniciação de todo o ritual e sorria. Sabia que algo o preocupava... Era visível em seu rosto, mas não tinha como perguntar o que era, naquele momento.

Ao fim, ele veio até a menina e ela sorriu, acenando.

- Eu sei como lidar com seu mau humor pela manhã, papai. Vai dar tudo certo – deu uma risadinha, tentando disfarçar o nervosismo. Não queria preocupá-lo ainda mais... Mas sentia a ansiedade nascendo em seu corpo, as mãos estavam geladas.

- Obrigada, pai. Eu ainda vou te orgulhar mais – sorriu, ficando na ponta dos pés para dar um beijinho na bochecha dele. Logo suspirou longamente, desabotoando o manto e se preparando para o que viria a seguir.

Usava os cabelos presos e, por todo o corpo, haviam runas e pinturas.

Chiara

Quando o pai avisa que os mestres estão vindo, ela respira fundo, tentando controlar a ansiedade. Ouve com calma o que ele disse e, em seguida, o que os mestres disseram. Estava sozinha com eles... Sob o olhar gelado de Aenelis.

“ O que eu fiz pra essa mulher? ” perguntou a si mesma.


Toda a tensão, mais o julgamento da outra elfa, fizeram Chiara falhar no primeiro teste. Balgolor a avaliava com suas magias druídicas... Coisa que mais tinha medo de treinar, devido aos... Acidentes que ocorreram no passado.

Quando o mestre indicou para ela iniciar,  a jovem elfa indicou que faria uma magia de primeiro nível – Tentaria acalmar um animal. Rapidamente Aenelis se ofereceu ao mestre para sumonar um animal ali, para a jovem realizar o teste... O olhar afiado da mulher indicava que boa coisa não vinha.

Com a concordância de Balgolor, a elfa anciã fez sua magia... E logo veriam um grande vulto branco passando por entre as árvores. Um lobo de tamanho considerável e pelagem branca apareceu na clareira, rosnando para Chiara. O pai dela se levantou, ao longe, claramente preocupado. Os outros mestres se entreolharam... Mas a menina havia escolhido o teste, tinha de estar preparada para executa-lo.

A jovem respirou fundo, tentando não transparecer o medo que sentira ao ver aquele animal.  Tentou se lembrar de todos os movimentos e cânticos da magia... Mas a cada movimento do lobo em se aproximar, mais ela tremia na voz e parecia deixar ele mais irritado. Passou rápido demais... Já sentia o hálito do animal raivoso quando Balgolor gritou o fim daquele teste e fez a anciã dispersar o animal.

Chiara havia falhado (5)... Mas algo dentro de si acendeu. Um fogo perigoso, uma raiva... Iria mostrar para Aenelis que era digna.


Foi perguntada se desistiria após a primeira falha. Ela respondeu um “não” entre os dentes, pegando seu cajado. Era a vez de Miraren avaliá-la em uma luta.

Ele era grande, forte e muito experiente em lutas... Chiara deu o primeiro golpe, claramente não conseguindo atingi-lo e passou um tempo avaliando os movimentos dele. Devido ao tamanho e a força, ele tinha uma pequena desvantagem em agilidade... E ela se aproveitou disso. Se esquivava bem das investidas do homem.

Em determinado momento, após levar uma porrada que a fez se curvar, ela se abaixou rapidamente, usando a pouca força que tinha e atingindo o mestre na articulação atrás do joelho, fazendo ele perder o equilíbrio.

Apesar de não ser um golpe muito limpo, ele achou justo. Não era todo iniciante que conseguia atingi-lo.

Chiara foi muito bem sucedida (20) no segundo teste.


O último teste era com Aenelis, no qual a jovem teria de invocar um animal da floresta e fazer amizade com ele. A elfa anciã comentou que Chiara devia escolher um animal pequeno, em vista ao primeiro teste... Afinal, não devia ter medo de um ratinho.

Chiara sorriu

 - Invocarei o mesmo lobo – ela disse, com convicção. O segundo teste havia dado toda a coragem que precisava para enfrentar a mulher.

Após dizer isso, começou o ritual.  Ao contrário do teste de magia, ali ela parecia firme, cheia de si e completamente no controle da situação.  Nem mesmo o olhar gelado e descrente da anciã parecia abalar a jovem.

Pouco tempo após invocar, a movimentação na floresta apareceu novamente. Os vultos... os rosnados... O animal, dessa vez, veio em disparada em direção de Chiara. Ela ergueu a mão, continuando os cânticos da magia. O animal deu uma patada, arranhando o braço dela em cheio e a derrubou no chão, mas Chiara conseguiu desviar da mordida que seria fatal. Estava sangrando... Chegou a ouvir no fundo Aenelis começando a falar que ela havia falhado... Mas sorriu.

Se apoiou nos pés novamente, as mãos no chão, em uma posição animalesca. Os olhos ardiam. Olhou o lobo nos olhos e foi em direção a ele, que estava se preparando para atacar novamente. Quando ela chegou perto, rosnou e gritou, olhando o animal nos olhos.

Os segundos que se encaravam pareceram horas.... Por fim, ela repetiu o cântico, olhando ele nos olhos.

O animal parou de rosnar... E lambeu a ferida no braço da menina, deitando em seus pés. A jovem, cansada e com dor, desabou em cima do animal, com um sorriso gigante, acariciando a cabeça dele.

Apesar do machucado, foi bem sucedida (18).

Chiara

Chiara podia sentir a conexão com o lobo.... O elo criado entre eles era quase paupável. A sensação era maravilhosa.

Enquanto ainda estava apoiada no animal, não confiando completamente em suas pernas, ouviu a fala dele em sua mente e sorriu – Não se preocupe. Fui eu que te chamei pela segunda vez, afinal. Mereci uma mordidinha pela teimosia – disse para ele, dando uma risadinha e sentindo uma costela doer com o movimento.

***

A jovem elfa apertou o pai quando ele a abraçou,  muito feliz por deixá-lo orgulhoso. – Ah, papai, você viu? Eu pensei que ele ia me comer! Mas ele deixou eu abraçaaar! –  contava como se o pai não tivesse visto, mas logo se recompôs quando um dos druidas se aproximou.

- Obrigada, senhor Miraren – ela fez uma mesura respeitosa, não conseguindo conter um sorriso todo bobo.

Foram todos andando para a fogueira, após o cumprimento do druida ancião, e Chiara tentou deixar de lado a sensação de timidez, conversando com todos ali e se divertindo. Até que Aenelis a chamou para um canto, fazendo a menina tremer.

- Eu não...Me desculpe pelo Varyg.... é que... – começou,  achando que ia tomar uma bronca. A mulher não gostava muito dela. Quando ela começou a falar aquelas coisas, a jovem ficou boquiaberta.

- É...é sério? Quer dizer... As pessoas como eu... como nós, não gostam muito de mim. Eu posso mesmo? – perguntou. Em caso de afirmativa, daria um grande sorriso – Eu quero! Eu quero! Varyg pode vir comigo? Preciso falar com meu pai... Obrigada! – tagarelava, esquecendo, por um momento, dos seus temores quanto a si mesma e quanto aos Elfos.

Em um impulso, abraçou a anciã... Se arrependendo no mesmo instante. Não era muito de abraços com pessoas aleatórias, além do pai... Não sabia quando devia soltar ou se devia dizer algo. Ficou só parada lá, de forma esquisita, envolvendo Aenelis com os braços.