Faz já algum tempo que eu estudo as lendas do nosso folclore (a maioria sincrética devido à abundância de culturas no Brasil desde cedo) juntamente dos antigos contos indígenas de alguns grupos (eu conheço melhor os guarani, mas a internet é linda, dá pra pesquisar muita coisa). Como comecei a ver certos padrões e similaridades entre algumas lendas do folclore e seres mitológicos das antigas, decidi fazer uma "reconstrução", na medida do possível, de alguns desses mitos originais. Sendo que posso estar totalmente errado, tenham em mente que isso é apenas um hobby meu! Não é verdade absoluta (até porque não sou historiador) e é apenas uma tentativa de minha parte para tentar desvendar essas lendas.
Começo com a lenda de Ipupiara, um tipo de monstro aquático:
Famosos na época da colonização, os ipupiara eram bastante descritos por navegantes e cronistas. São seres encontrados em rios doces, mas as vezes descritos em praias de mar, e diferente da iara (lenda que possivelmente descende da união dos mitos de irupiara e as sereias européias) existem machos e fêmeas. Estas criaturas são descritas de forma irregular. Quando tem aparência humana, os machos são homens altos de olhos fundos, e as fêmeas são bonitas e de cabelos compridos como as sereias. Pode-se morrer de medo só de olhar para um ipupiara, e se chegam a alcançar sua presa humana, lhe beijam e abraçam com tal força que a pessoa é feita em pedaços. Parecem não pretender inicialmente a morte da pessoa, já que gemem de tristeza ao perceber que a mataram. A maioria depois de matar um humano larga o cadáver e foge, mas se levam consigo o morto, alimentam-se de seus olhos, nariz, as pontas dos dedos (das mãos e pés), e as genitálias, deixando para trás o resto.
Outra descrição (a imagem acima é de um livro de autoria da testemunha) dos monstros diz que possuem um focinho com longos bigodes, uns 3 metros e meio de comprimento e pelos pelo corpo. Esta versão perambula as praias de mar, e ataca as pessoas ao ficar de pé, jogando seu grande peso sobre as vítimas.Apesar de eu achar que o que o Gândavo matou foi um leão marinho ou coisa assim.
Começo com a lenda de Ipupiara, um tipo de monstro aquático:
Famosos na época da colonização, os ipupiara eram bastante descritos por navegantes e cronistas. São seres encontrados em rios doces, mas as vezes descritos em praias de mar, e diferente da iara (lenda que possivelmente descende da união dos mitos de irupiara e as sereias européias) existem machos e fêmeas. Estas criaturas são descritas de forma irregular. Quando tem aparência humana, os machos são homens altos de olhos fundos, e as fêmeas são bonitas e de cabelos compridos como as sereias. Pode-se morrer de medo só de olhar para um ipupiara, e se chegam a alcançar sua presa humana, lhe beijam e abraçam com tal força que a pessoa é feita em pedaços. Parecem não pretender inicialmente a morte da pessoa, já que gemem de tristeza ao perceber que a mataram. A maioria depois de matar um humano larga o cadáver e foge, mas se levam consigo o morto, alimentam-se de seus olhos, nariz, as pontas dos dedos (das mãos e pés), e as genitálias, deixando para trás o resto.
Outra descrição (a imagem acima é de um livro de autoria da testemunha) dos monstros diz que possuem um focinho com longos bigodes, uns 3 metros e meio de comprimento e pelos pelo corpo. Esta versão perambula as praias de mar, e ataca as pessoas ao ficar de pé, jogando seu grande peso sobre as vítimas.
- Fonte:
- História da Província de Santa Cruz, por Pero de Magalhães Gândavo
Capítulo IX: Do monstro marinho que se matou na capitania de Sam Vicente, anno 1564
Foi causa tam nova e tam desusada aos olhos humanos a semelhança daquele fero e espantoso monstro marinho que nesta Provincia se matou no anno de 1564, que ainda que per muitas partes do mundo se tenha noticia delle, nam deixarei todavia de a dar aqui outra vez de novo, relatando por extenso tudo o que ácerca disto passou; porque na verdade a maior parte dos retratos ou quasi todos em que querem mostrar a semelhança de seu horrendo aspecto, andam errados, e alem disso, conta-se o sucesso de sua morte por differentes maneiras, sendo a verdade huma só a qual he a seguinte:
Na Capitania de Sam Vicente sendo já alta noite a horas em que todos começavam de se entregar ao sono, acertou de sair fóra de casa huma India escrava do capitão; a qual lançando os olhos a huma varzea que está pegada com o mar, e com a povoaçam da mesma Capitania, vio andar nella este monstro, movendo-se de huma parte para outra com passos e meneos desusados, e dando alguns urros de quando em quando tam feios, que como pasmada e quasi fora de si se veio ao filho do mesmo capitão, cujo nome era Baltezar Ferreira, e lhe deu conta do que vira parecendo-lhe que era alguma visão diabolica; mas como elle fosse nam menos sizudo que esforçado, e esta gente da terra seja digna de pouco credito nam lho deu logo muito às suas paiavras, e deixando-se estar na cama, a tornou outra vez a mandar fora dizendo-lhe que se afirmasse bem no que era. E obedecendo a India a seu mandado, foi; e tornou mais espantada; afirmando-lhe e repetindo-lhe huma vez e outra que andava ali huma cousa tam feia, que nam podia ser se nam o demonio.
Então se levantou elle muito depressa e lançou mão a huma espada que tinha junto de si com a qual botou somente em camisa pela porta fora, tendo pera si (quando muito) que seria algum tigre ou outro animal da terra conhecido com a vista do qual se desenganasse do que a India lhe queria persuadir, e pondo os olhos naquella parte que ella lhe assignalou vio confusamente o vulto do monstro ao longo da praia, sem poder divisar o que era, por causa da noite lho impedir, e o monstro tambem ser cousa não vista e fora do parecer de todos os outros animaes. E chegando-se hum pouco mais a elle, pera que melhor se podesse ajudar da vista, foi sentido do mesmo monstro: o qual em levantando a cabeça, tanto que o vio começou de caminhar para o mar donde viera.
Nisto conheceu o mancebo que era aquilo cousa do mar e antes que nelle se metesse, acodio com muita presteza a tomar-lhe a dianteira, e vendo o monstro que elle lhe embargava o caminho, levantou-se direito pera cima como hum homem ficando sobre as barbatanas do rabo, e estando assi a par com elle, deu-lhe uma estocada pela barriga, e dando-lha no mesmo instante se desviou pera huma parte com tanta velocidade, que nam pôde o monstro leva-lo debaixo de si: porem nam pouco afrontado, porque o grande torno de sanque que sahio da ferida lhe deu no rosto com tanta força que quasi ficou sem nenhuma vista: e tanto que o monstro se lançou em terra deixa o caminho que levava e assi ferido hurrando com a boca aberta sem nenhum medo, remeteu a elle, e indo pera o tragar a unhas, e a dentes, deu-lhe na cabeça huma cotilada mui grande, com a qual ficou já mui debil, e deixando sua vã porfia tornou entam a caminhar outra vez para o mar. Neste tempo acudiram alguns escravos aos gritos da India que estava em vella: e chegando a elle, o tomaram todos já quasi morto e dali o levaram á povoaçam onde esteve o dia seguinte á vista de toda a gente da terra.
E com este mancebo se haver mostrado neste caso tam animoso como se mostrou, e ser tido na terra por muito esforçado sahio todavia desta batalha tam sem alento e com a vizam deste medonho animal ficou tam perturbado e suspenso, que perguntando-lhe o pai, que era o que lhe havia succedido nam lhe pôde responder, e assi como assombrado sem fallar cousa alguma per hum grande espaço. O retrato deste monstro, he este que no fim do presente capitulo se mostra, tirado pelo natural. Era quinze palmos de comprido e semeado de cabellos pelo corpo, e no focinho tinha humas sedas mui grandes como bigodes.
Os indios da terra lhe chamam em sua lingoa Hipupiàra que quer dizer demonio d'agua. Alguns como este se viram já nestas partes, mas acham-se raramente. E assi tambem deve de haver outros muitos monstros de diversos pareceres, que no abismo desse largo e espantoso mar se escondem, de nam menos estranheza e admiraçam; e tudo se pode crer, por dificil que pareça: porque os segredos da natureza nam foram revelados todos ao homem, pera que com razam possa negar, e ter por impossivel as cousas que nam vio nem de que nunca teve noticia.
- Fonte:
- Tratados da Terra e Gente do Brasil, por Fernão Cardim
Capítulo XVI: Homens Marinhos e Monstros do Mar
Estes homens marinhos se chamão na língua Igpupiára; têm-lhe os naturaes tão grande medo que só de cuidarem nelle morrem muitos, e nenhum que o vê escapa; alguns morrerão já, e pergunto-lhes a causa, dizião que tinhão visto este monstro; parecem-se com homens propriamente de bôa estatura, mas têm os olhos muito encovados. As femeas parecem mulheres, têm cabellos compridos, e são formosas; achão-se estes monstros nas barras dos rios doces.
Em Jagoarigpe sete ou oito léguas da Bahia se têm achado muitos; em o anno de oitenta e dois indo hum índio pescar, foi perseguido de hum, e acolhendo-se em sua jangada o contou ao senhor; o senhor para animar o índio quiz ir ver o monstro, e estando descuidado com huma mão fora da canoa, pegou delle, e o levou sem mais apparecer, e no mesmo anno morreu outro índio de Francisco Lourenço Caeiro.
Em Porto-Seguro se vêem alguns, e já têm morto alguns índios. O modo que têm em matar he: abração-se com a pessoa tão fortemente beijando-a, e apertando-a comsigo que a deixão feita toda em pedaços, ficando inteira, e como a sentem morta dão alguns gemidos como de sentimento, e largando-a fogem; e se levão alguns comem-lhes somente os olhos, narizes, e pontas dos dedos dos pés e mãos, e as genitalias, e assi os achão de ordinário pelas praias com estas cousas menos.