Music World 3 - Taka

TAKA

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“Pedras no caminho? Eu guardo todas. Um dia vou construir um castelo.” - Nemo Nox

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Takahiro balançava devagar no balanço da área infantil do Shiba Park. Seu coração estava perturbado, e gostava de passar seus momentos assim em contemplação. Ao longe podia ver a grande torre vermelha da Torre de Tokio, apontando para o ceu azul.



Era sábado, e naquela parte do parque estava vazio.

Assim como sua casa. Não havia ninguém em sua casa. Seus pais haviam saído, principalmente depois da grande briga que tiveram de manhã.

As expectativas de uma família tradicional japonesa não condiziam com ele. Estudar, estudar, se matar de estudar, para entrar em uma faculdade famosa, para continuar estudando e depois trabalhar, trabalhar, se matar de trabalhar.

Takahiro morde o lábio. Não era isto que ele queria para a sua vida, ser um advogado como o pai, ou um jornalista como a mãe. Tinha que seguir a vida conforme os outros diziam o que seguir? Injusto! “Nobody is home.”

“Mori-tchan, sabia que ia encontrar voce aqui!”, diz uma voz conhecida. “Liguei para sua casa, ninguém atendia.”

Taka sorri, era Ryota. Kohama Ryota. Seu amigo da escola, um cara legal. Podia não parecer, mas era tímido.

“Aconteceu alguma coisa, não é? Voce vem sempre aqui quando esta triste... Foi o problema com as notas da escola?”

Ryota se senta no banquinho do balanço ao lado, segura nas correntes e observa a Torre de Toquio.

“Cara, ver esta Torre inspira a gente, não é? Sabe ir la para cima, para o alto... Não igual aos prédios pequeninos, saca? Ir para o alto...”

TAKA

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Taka - A gente vai voar, Ryoka. E não só aqui… a gente vai pra Paris! Não...-Taka fala entusiasmado, mas se lembrou que a torre de Tokyo é mais alta do que a Torre Eiffel.- Vamos para a torre mais alta do mundo! Não sei onde fica, mas vamos!

Os punhos dos amigos se encontram, selando sua amizade.

“Porra cara, também não sei, mas vamos!”, diz Ryoka, e os dois riem juntos.

**

O próximo passo de Taka naquele momento, seria arrumar um lugar para ficar. Ryoka lembra que no restaurante dos seus pais havia um quartinho dos fundos, onde guardavam as tranqueiras que não eram mais usadas da cozinha. Estava sujo, mas melhor do que viver como indigente nas ruas de Tokyo.

Após saírem do parque, eles vao em direção da casa de Ryoka, localizada numa área mais tranquila de Minato, bairro onde ficava o parque Shiba.  As ruas estavam tranquilas, e em frente de uma loja de aparelhos eletrônicos, passava um clipe da musica Without You, do X-Japan.

Spoiler:

Ryoka ficou um tempo observando, tocado pelas cenas.

“Ei Taka, não deve ser fácil continuar tocando numa banda, sabendo que seu amigo não esta mais la, porque o cara se matou. Digo, não pelo suicídio, mas o fato de que ele estava ali, do seu lado, em tantas apresentações, compartilhando uma energia... E agora, não esta mais, nunca mais vai estar.”

**

Os dois finalmente chegam até o restaurante, onde encontram os pais de Ryoka.

“Você demorou, Ryoka! Esqueceu que tinha que voltar para nos ajudar a servir os clientes?”

O amigo de Taka pede desculpas, e logo explica o porque. A conversa com os pais de Ryoka não foi nada fácil, pois mesmo não sendo conservadores, abrigar o filho fugido dos Moriuchi, que eram antigos amigos da família, significava tomar parte de uma briga que deveria ser resolvida entre eles.

“Mas por outro lado, o fato de sermos amigos, nos impede de deixar voce perdido pelas ruas. Você pode ficar pelo tempo que quiser, porem terá que nos ajudar no restaurante e continuar estudando. E se possível, converse com os seus pais... Eu sei que seu pai é uma pessoa difícil, porem tente compreender que os pais se preocupam com o futuro dos filhos... Está bom para voce?”

TAKA

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Já fazia 1 mês desde o dia em que Taka tinha fugido de casa. Como se era de esperar, seu pai tinha ficado furioso, e não queria mais ver o filho nem pintado de ouro. Felizmente a mãe de Taka era mais compreensiva, e ajudou, entregando suas roupas e dando um pouco de dinheiro para que pudesse atravessar este período complicado. Ela não estava feliz com a situação, mas compreendia os sonhos de seu filho. “Por favor, mantenha contato”, pediu ela, com um olhar triste em seu rosto.

A mudança não foi fácil, mas com a ajuda de Ryoka, Taka pode se firmar. Os dois arrumaram e ajeitaram o quartinho dos fundos do restaurante, tornando o local habitavel. Taka continuou a estudar no colégio, faltando pouco para se formar, e dividia seu tempo com os estudos e o trabalho no restaurante. O rapaz ate estava gostando do serviço, pois gostava de conversar com os clientes, e estava ate fazendo sucesso com as adolescentes, que muitas vezes vinham almoçar no restaurante somente para ve-lo, enquanto comiam e suspiravam.

Mas Taka sentia falta da musica em sua vida...

Felizmente isto estava para mudar, quando durante a pausa depois do almoço, Ryoka entrou em seu quartinho. Ele parecia bem animado.

“Taka, adivinha só! Eu conversei com meus velhos, e eles concordaram em deixar a gente tocar algumas musicas no almoço, desde que a gente não assustasse os clientes! Cara, eu fico com o baixo, e voce faz o vocal! Agora só falta achar um guitarrista e um baterista... Pena que não conheço nenhum... Você conhece? E aquela sua amiga da outra classe? A Karin Iha? Ela toca guitarra, não toca? Conhece mais alguém? Olha, nem acredito que convenci meus pais! Minha mãe disse que não tem espaço, mas a gente da um jeito, né?”

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ANTES:

Taka - Irasshai! Posso anotar seus pedidos?

As três garotas, que estavam sentadas uma do lado da outra, se entreolham e dao risadinhas ao estilo japonês, cobrindo a boca com a mão.

“Eu disse que ele não ia se lembrar da gente...”

“Da um tempo, até parece que a gente chama tanta a atenção assim...”

Mais risos.

“Ehr, hmm, ola Senpai! Nós três estudamos na mesma escola que a sua, somos do segundo ano! Eu sou Yagami Shiori, esta é a Tsuda Rie e a do canto é a Utsumi Mayumi.”

Todas se curvam.

“Viemos experimentar os pratos do Honten... Todos falam que a comida é uma delicia! Se for mesmo, vamos vir aqui todos os dias!”

“Não sei se vou ter dinheiro para isso...”, diz Mayumi.

“Fica quieta!”, retruca Rie.

**

DEPOIS:

Animado com a noticia de Ryoka, milhares de planos surgem na mente do jovem Taka.

Taka - Você é incrível. Claro que sim, tem aquele espaço perto da janela, só trocar as mesas de lugar. - Ele retirou o celular do bolso e procurou o contato da colega da escola.Taka - Faz tempo que não falo com a Karin, mas ela ainda deve tocar guitarra.

Enquanto isto Ryoka da uma olhada nos acordes criados pelo amigo. Ele esboça um sorriso e balança a cabeça satisfeito.

“Sim, esta perfeito, um bom começo! Precisamos adequar o nosso repertorio de acordo com o publico. I wanna dance!”

Finalmente o celular liga, e Taka leva um susto! Sons de choro por alguns instantes. Depois a voz de Karin, que parecia meio rouca. Era ela que estava chorando a pouco.

“Ah... Oi Taka... Eu... me desculpe, agora não é um bom momento para conversar... A gente se fala depois, tchau...”

Ryoka nota a expressão de surpresa do amigo. Depois de saber o que tinha acontecido, o baixista põe a mão no queixo coçando a barba.

“Hmm, nossa, estranho... Pelo que me lembro da Karin Iha do terceiro B, ela me parecia toda durona... Deve ter acontecido algo muito grave para ela estar chorando desse jeito...”

TAKA

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A situação com a Karin Iha estava muito estranha. Como podia a delinquente do 3 B estar chorando? Ryoka começa a mexer nos cabelos, como costumava fazer quando estava preocupado. Parecia que quanto mais pensava, mais mexia nos cabelos.

Taka - Você acha que devo ligar de novo?

“Puxa cara, liga sim! Meu, pode ser alguma coisa bem seria, tipo, não sei, ela pode estar sendo chantageada, sabe como são estas brigas de gangues... Ou então estar correndo risco de vida... Mas ai então não sei se ela iria querer envolver um amigo... Bem, não sei o quanto voce é amigo dela também... Não seria questão de chamar a policia?”

Ryoka, o exagerado.

Batidas na porta. Era a mãe de Ryoka, Yoriko.

“E então rapazes, vamos la? Já começaram a aparecer alguns fregueses.. Ah sim...”, diz Yoriko, e entrega uma cartinha para Taka, “uma das meninas que voce atendeu passou aqui e pediu para entregar para voce.”

Ryoka ergue as sobrancelhas. “Mas já? Cara, queria ter seu dom!”

Era uma cartinha com bichinhos bonitinhos e fofinhos nas margens, e uma letra feminina muito bonita.

“Morita senpai,
Gostamos muito de conhecer você, você foi muito atencioso, e ainda nos deu os sorvetes, adoramos! Então, nós queríamos saber se gostaria de ir no cinema hoje a noite com a gente... Esta passando o filme dos Vingadores, o pessoal diz que é muito bom! Se quiser ir, é só mandar um zap!”

E seguiam três números de celular, com as assinaturas de Shiori, Mayumi e Rie.

Ryoka, que não era nada curioso, comenta,

“Ei, eu estava querendo assistir este filme mesmo... E são três garotas! Eu poderia chamar um amigo, assim voce não se sentiria tão deslocado, Taka!”

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Um sentimento de urgência cresce dentro de Taka, e ele sente que teria que agir rapidamente. A mãe de Ryoka se mostra bastante compreensiva, e diz para ele que estava tudo bem, e que achava muito bonito ver como ele se preocupava com os amigos.

Ryoka faz um sinal de ok, dizendo ficar no aguardo, enquanto cheirava a carta para ver se tinha algum perfume. Hmm. Lavanda.

Taka sai rapidamente do restaurante, desviando da mesa dos clientes. Ele alcança a rua e começa a discar para Karin. Nada. Fora de área.

O coração bate mais acelerado, a cabeça pensando no que poderia ter acontecido. Ele vai ate a escola e pergunta para a galera se alguém tinha visto ela. “Não veio na escola hoje, bro!”

Taka caminha de um lado para outro. Onde poderia estar? Pensa, pensa! Bem, teve aquela vez que os dois tinham brigado contra uma gangue rival da escola, e que depois, cheios de hematomas e com o corpo dolorido, foram comer um obento e tomar uma latinha de cerveja do lado do rio. Tinham ganhado a luta, e ela dava risada fazendo careta de dor.

“Gosto muito daqui... Adoro ver o entardecer, sentada neste banquinho...”

**

Taka corre para o lugar, ficava proximo, mais 10 minutos correndo. E seu coração finalmente se acalma, ao ve-la ao longe, sentada naquele banquinho, tomando uma cerveja e admirando a paisagem.

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Já eram por volta das 15 horas, e já estava começando a esfriar. Naquele horário a maioria das pessoas estava ou em seus escritórios ou nas escolas, e por isto o caminho ao longo do rio estava bem tranquilo.

Karin estava a olhar o movimento das aguas do rio, quando sente a presença de alguém. Ela  vira o pescoço por cima do ombro e se surpreende ao ver Taka, e rapidamente seca os olhos com o dorso das mãos e se endireita.

Taka -Achei que tinha que te salvar novamente… - Ele toma a latinha da mão dela e dá um gole na bebida e diz por fim. Fiquei preocupado quando você sumiu.

“E desde quando eu sou uma princesa indefesa e você o cavaleiro em armadura prateada? Você que é um intrometido”, diz zombeteira, pegando de volta a latinha. Ela bebe a cerveja e sente seu amargor, virando de uma vez, jogando a lata no cesto de lixo por final.

Taka a observa. Fazia um tempo que não a via, e agora parecia mudada, tomando mais a forma de uma mulher, mais alta e bonita, deixando de ser a moleca danada de antes. Karin suspira e se volta para o rapaz. Pelo menos quanto a personalidade parecia a Karin de sempre.

“Como me achou aqui? Ah sim, a gente costumava vir aqui, para falar besteira e matar aula... Nossa, era bem divertido... Teve aquela vez que a gente acabou com as meninas do outro colégio, eu batendo e voce absorvendo os socos com a cara, kkk. Eu me lembro quando depois viemos aqui, para colocar bandeides em voce... E aquele obento tava bom demais...”

Karin tinha um sorriso nos lábios, mas aos poucos o mesmo foi desaparecendo conforme o canto dos lábios iam baixando. Taka nota outra mudança na amiga... antes ela raramente mostrava seu lado frágil, preocupando-se sempre em se mostrar forte para os outros, e também para ele.

“Só que ai voce sumiu... E a gente agora mal se fala... Por que voce me ligou?”

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Diante da pergunta de Karin, Taka se sente arrendido.

Taka - Meus pais ficaram sabendo daquela briga e me proibiram de te ver novamente. Disseram que íamos nos mudar se algo assim acontecesse de novo...E eu fui um cuzão em aceitar. - Ele olha de relance para a jovem, para perceber suas reações. - Eu vou entender se você não me perdoar por conta disso. Mas eu queria voltar ao que éramos antes. Sem os socos na cara de preferência.- Ele ainda tenta brincar para quebrar o clima

A garota continua a observar o colega com a face seria.

“Seu besta! Eu devia era te encher de porrada por não ter me dito isto naquela epoca...”, diz, mas logo da um sorriso de canto de lábio, “voltar ao que era antes? Tarde demais, também deixei desta vida de gangue, agora sou uma moça fina e estudiosa.”

Karin cruza as pernas e faz uma pose elegante, e então da uma risada descontraída. Ela joga a cabeça para tras e balança os cabelos. Foi um breve momento relaxante, porem sua face volta a ficar triste logo depois.

“Sabe, quando voce me ligou, não pude falar na hora, pois estava preocupada com meu gato, Kuro, que esta sumido. Ele costumava dar suas saídas, mas já faz alguns dias que ele não volta. Já andei pelo bairro inteiro, e nada... Exceto... No beco vermelho...”

Taka sentiu um arrepio na espinha. Já tinha ouvido falar do lugar, onde se juntava toda espécie de malandro e brigão, inclusive o líder de gangue Kai Toju, que costumava extorquir o dinheiro do lanche dos colegiais que se atreviam a passar por ali.

O rapaz volta seu olhar para Karin, e sabia que em seu silencio estava clara a expectativa pela resposta dele.

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Beco Vermelho.

Lugar dominado pela Gangue Samurais de Minato, localizado entre dois prédios de seis andares. Recebeu esse nome por causa das luzes vermelhas que se acendiam a noite, que davam charme para um sobrado comercial construído nos fundos, que hoje estava em péssimo esta de conservação.



Atras de um muro e observando a distancia estavam escondidos Taka e Karin. Ela estava munida de um binoculo, que tirou de sua bolsa. Parecia que já estava planejando algo mesmo antes da conversa com o amigo...

Depois de observar por alguns minutos, Karin se agachou e se recostou no muro.

“Na entrada do beco, o líder da gangue Kai coloca sempre dois capangas para tomar conta, e também para roubar estudantes sem noção que se atrevem a passar na frente. Se dermos contas deles, vamos conseguir entrar tranquilamente pela porta de frente... O problema é que não sei quantos mais estão la dentro.”

Ela estava louca, ou realmente acreditava que conseguia dar conta de tudo na porrada?

“Alternativamente, podemos entrar no edifício do lado, subir ate o teto e descer pelas escadas de incêndio. Acho que dá para saltar de lá para o teto do sobrado...”

Para uma moça que se dizia agora fina e estudiosa, parecia algo um tanto quanto arrojado!

Karin olha para as caras e bocas de Taka e da um cascudo dolorido em sua cabeça. Itaiii!

“Baka! E voce tem um plano melhor?”, diz a garota fazendo uma cara medonha.

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Os dois decidem usar o plano B, e adentram o edificio do lado, dizendo que iam visitar a avó doente que morava no ultimo andar. Para a sorte deles realmente tinha uma avó doente no ultimo andar, então eles puderam entrar tranquilamente. No elevador, Karin diz para Taka que estava se dedicando mais aos estudos, pois descobriu que ficar fazendo bullying nas meninas da outra escola não dava dinheiro, e planejava juntar uma grana para viajar.

Ao chegarem no ultimo andar, eles seguem o plano, e logo estão descendo as escadas de emergência externas, até ficarem bem próximo do telhado do QG dos samurais de Minato. Taka faz seu salto e consegue ficar de pé no telhado, e quando se vira para oferecer ajuda, percebe que Karin já esta do lado dele. Ela tava estudando para o que? Espionagem?

Os dois avançam e veem uma claraboia, que servia para iluminação do aposento interior da edificação. Ela observa, e logo encontra o Kuro, um gato preto, que estava em uma caixinha de papelão. Parecia que estava com a pata machucada. Naquele quarto tinha uma cama, onde parecia que tinha alguém dormindo.

Karin olha para Taka, e ela tinha um olhar mortal.

“Aqueles malditos! Machucaram meu gatinho! Irao pagar com a vida! Vou entrar la, finalizo o cara que esta dormindo, pego meu Kuro e caímos fora daqui!”, diz, já se preparando para abrir a claraboia.