Axcelandra Maverickson
A garota arqueara uma sobrancelha ao ouvir a proposta do professor. Os princípios da transfiguração eram imprescindíveis à vida de qualquer bruxo, mas duvidava que aquele conteúdo específico fosse adequado à sala de aula. Pobre homem, já não ligava mais para a própria reputação ou emprego. Fosse como fosse, aquilo não era de todo um conhecimento a se jogar fora, e Axcel tratou de anotá-lo bem direitinho na memória: caso precisasse usar de álcool para embriagar alguém - ou, como Glover, incendiar tudo -, aquela era uma alternativa interessante. Aquela, como seria de se esperar, não foi a primeira nem a última estranheza que encararam em Hogwarts diretamente relacionada à nova direção. Sempre desconfiada, tentava analisar o comportamento de todo o corpo docente, tentando captar algo que pudesse ser útil, porém sem muito sucesso. E aqueles sonhos irritantes lhe atrapalhando a noite de sono começavam a dar-lhe olheiras – ou talvez fosse só coisa da cabecinha adolescente dela. “Não faço ideia do que sejam”, tinha dito da primeira vez que fora perguntada por Lykke, e seguia sem entender. Quem eram aqueles personagens? Porquê via-se na pele daquele guerreiro. Os dias estavam sendo apertados, mas prometera a si a tentar recolher o máximo de detalhes e tentar descobrir se havia alguma referência àquilo em algum lugar: nomes, paisagens, símbolos. Qualquer coisa seria útil. Quando o evento de Quadribol chegou, ficou decepcionada com a ausência do pai, mas a presença da mãe já era motivo de agitação o suficiente. Marie-France Maverickson Riverview não só era uma mulher exuberante, que não perderia a oportunidade de estrear algum look ousado diante de bruxas velhas e caretas, mas a fama dela como escritora causava certo alvoroço, com alguns jovens não perdendo a oportunidade de ter um autógrafo exclusive na própria cópia de Barry Rotter e o Feiticeiro Silencioso. Axcelandra havia se arrumado impecavelmente e até banhado e perfumado Nostradamus, seu roedor de estimação. Queria dar uma boa impressão na mãe – o que talvez a fizesse relevar uma ou outra nota ruim da garota. Marie-France sempre confiava mais na força da intuição e da criatividade. Acabara decidindo acompanhar o jogo ao lado de Lykke, uma vez que a mãe tinha assuntos “de adultos” a tratar. Quando ouviu a amiga falando sobre os uniformes, pensou que, quando adulta, ela talvez se transformasse numa versão ainda mais espalhafatosa – e talvez não tão harmoniosa ou equilibrada – da mãe. Riu sozinha com esse pensamento, mas havia outra coisa chamando mais a atenção dela. - Meu deus, o que estão colocando no café da manhã do Glover? Acho que sugaram o espírito dele e colocaram outro no lugar, só pode! |