Nascida em 1678, Emanuelle era uma jovem como todas as demais da sua comunidade, mas se destacava por sua grande beleza e bondade, nunca faltando as missas e sempre que possível ajudando os mais necessitados, sendo muito popular e também invejada, fosse pela sua beleza, fosse sua nobreza, mas apesar dos pesares não lhe faltavam amigos e amigas para lhe apoiar, e esses eram Henry um amigo de infância de longa data, filho do pastor Willian Swan, Letízia Ishitar filha de um grande mercador e Sarah Lowell filha de um fazendeiro local.
Sempre que possível esses 3 estavam andando junto, Emanuelle percebia que Henry sempre se sentia constrangido por estar cercado de garotas, na grande maioria das vezes fazendo algum serviço para o seu pai ou sua mãe procurava sempre descontrair o ambiente de alguma forma, Sarah por sua vez não perdia a oportunidade de paquera-lo e dos 3 Letízia era a que menos tinha tempo devido aos seus estudos, mas sempre os convidava para tomar chá e comer doces.
A vida era tranquila e pacata até que estranhos eventos começaram a ocorrer com a filha e a sobrinha do Reverendo Samuel Parris, de modo súbito elas gritavam, jogavam coisas e faziam sons peculiares e ficavam contorcendo-se em posições estranhas, não demorou muito a todos ficarem sabendo que era obra de magia negra.
Foram eventos isolados, mas a comunidade ficou alvoroçada com o acontecido, antes Emanuelle via seus amigos todos os dias, agora raramente os via, exceto nas missas, onde agora a comunidade participava em peso dos cultos, mas a situação se tornou um caos quando a jovem Ann Putnam começou a demonstrar os mesmos sintomas.
Com a pressão dos magistrados Jonathan Corwin e John Hathorne, as garotas culparam três mulheres: Tituba, a escrava caribenha de Parris, Emma Good, uma mendiga sem teto, e Sarah Osborne, uma mulher idosa pobre. Osborne e Good afirmaram ser inocentes, mas Tituba confessou: “O diabo veio até mim e me mandou servi-lo”. Ela descreveu elaboradas imagens de cães negros, aves amarelas e um “homem negro” que queria que ela assinasse seu livro.
As 3 foram presas e interrogadas e condenadas à morte por bruxaria, mas a paranoia estava instalada e o caos começou a pairar pela cidade, ninguém estava mais seguro, temendo pelo pior, durante uma das missas Henry procurou Emanuelle e declarou seus sentimento por ela, e pediu que ela se casasse com ele e juntos fossem embora de lá, a mesma pediu um pouco de tempo para pensar e conversa com seus pais, e disse que na próxima missa lhe daria uma resposta.
No dia seguinte, Sarah foi vítima do mesmo mal que tinha afetado as 4 garotas, quando questionada sobre o acontecido, a mesma culpou Emanuelle, e afirmou que a mesma era uma bruxa que estava querendo fazer mal a não só ela, como também as demais garotas, e corromper o filho do pastor, para entregar suas almas para o Diabo.
A sua vida virou um inferno da noite para o dia, sendo presa foi interrogada, tendo de expor sua intimidade perante diversos homens, por ter o corpo cheio de sardas como seu rosto, decidiram que ela tinha feito “diversos pactos”, e que ela era uma bruxa, mas a mesma clamava por inocência.
Tacada em um cela completamente nua, a mesma rezou e clamou que Deus tivesse piedade, mas no dia seguinte a arrastaram para uma câmara e começaram a tortura-la para que confessasse, mas a mesma se manteve fiel de sua inocência, sangrando pelo corpo inteiro foi tacada novamente na cela, mas nessa noite, os guardas que deviam vigia-la, a violentaram a noite inteira de todas as formas possíveis e imagináveis, e depois a espancaram, até deixa-la entre a vida e a morte, olhando para a lua a mesma clamou por ajuda.
Como se por um milagre um homem se materializou das sombras, parecia um anjo, ele era alto e robusto, muito bem vestido, com belíssimos cabelos ruivos como o dela, uma pele alva e clara como a neve, mas o que mais se destacava eram seus olhos, dourados como o sol e ele disse:
_Você clamou por ajuda criança? – O misterioso homem indagou Emanuelle.
A mesma balançou a cabeça com um sinal de positivo, pois não conseguia falar, um dos guarda a tinha chutando no rosto e fraturado sua mandíbula.
_Bom sinto lhe dizer que quem me enviou não foi seu Deus, e sim o próprio Diabo, pois eu sou um dos seus filhos. – Disse em um tom descontraído.
_Vejo que você é muito devota. – Ao perceber que a mesma se agarrava a um pequeno crucifixo de madeira.
_Mas não precisa ter medo de mim, vim aqui para te oferecer um presente, o presente das trevas que me foi dado pelo meu senhor, e se você aceitar nunca mais terá que ter medo de nenhum homem, pois você será quase divina, assim como eu sou.
De modo súbito ao escutar o alguém falando, os guardas apareceram na cela e foram para cima daquele misterioso homem, um dos guarda investiu com sua lança, mas mais rápido que os olhos pudessem ver, o mesmo se evadiu e agarrou o guarda pelo pescoço e o levantou como se não fosse nada, e com a mesma facilidade que uma criança quebrava um graveto com as mãos, ele com a ponta dos dedos quebrou o pescoço do guarda, o outro guarda horrorizado com a cena tentou fugir e correu, mas da escuridão do corredor surgiu o que lembrava tentáculos negros que o agarram-no e o destroçaram em completo silencio.
_Tolos – Disse o homem com um sorriso arrogante.
Ao ver aquilo, seu coração começou a bater acelerado, não sabia dizer se era medo ou excitação, mas ela queria aquela força para si.
_E então aceita minha proposta criança, ou prefere morrer em nome desse seu falso Deus... – Olhando profundamente nos seus olhos.
Com lagrimas nos olhos elas jogou fora o crucifixo, e acenou com a cabeça dizendo que sim, ela queria aquela força para si, queria aquele poder, o poder de nunca mais ter que se curva para mais ninguém, o poder para se defender seja de quem fosse...
Como se fosse um sonho a mesma adormeceu, um sono sem sonhos ou pesadelos, um sono tranquilo, quando despertou era noite ainda, mas agora sentia sons e cheiros vindos do andar de baixo, ao olhar pros lados estava no quarto de uma estalagem, sentia fome mas não sabia do que era, e sentado em uma cadeira, na cabeceira da sua cama estava aquele homem misterioso lendo um livro:
_Finalmente acordou – Disse em um tom preocupado.
_Perdão, mas o que aconteceu comigo? – Ainda um pouco desorientada.
Nesse momento percebendo que seu corpo não estava mais machucado, e que estava novamente conseguindo falar.
_Como eu disse antes, eu compartilhei contigo a minha divindade, mas antes que você me questione sobre tudo, eu lhe explicarei o que você é agora e quem eu sou.
Ele se apresentou sendo Edgar, ele era inglês e tinha nascido em 1320, pouco antes da Guerra dos 100 anos, e que foi durante esse período de guerra em que o mesmo conheceu seu mestre, Andreas, e foi ele que concedeu seu dom e poder. Também explicou que ele e agora ela, eram vampiros e não demônios, e que eles não eram os únicos, e quem existiam diversas famílias de vampiros, cada uma com seus próprios dons e fraquezas sendo únicos. E que além dos vampiros existiam diversas outras criaturas sobrenaturais, mas que a mais perigosa para eles eram os lobisomens.
Para Emanuelle foi um choque, era tanta coisa, mas Edgar disse que com o tempo ela iria aprender e se acostumar, mas o mais importante agora era ensiná-la como se alimentar, ele explicou que tinham diversos métodos de se fazer isso, mas nunca era bom depender demais dos seus novos dons.
Depois ele deu uma capa para ela vestir e pediu para ela o acompanhar até a parte de baixo da hospedaria, lá ele se aproximou de uma mulher e começou a seduzi-la, até que passados alguns poucos minutos ele a levou para o quarto dela e a mordeu, a mulher parecia que estava gritando mas de prazer, com os dedos ele pediu para ela se aproximar e ofereceu o pulso da mulher para ela morder, e assim ela o fez, depois de pouco tempo ele mandou ela parar, meio que a contragosto ela obedeceu, e logo depois a mulher caiu em um sono profundo.
A sensação de se alimentar era viciante, nunca tinha sentido prazer igual em vida, e ela queria mais, porem Edgar a segurou e a levou para o quarto deles e disse:
_Uma coisa, quando você for se alimentar, tem que tomar cuidado para não matar, senão você vai chamar muita atenção indesejada, a menos que você prefira se alimentar de animais, é possível, mas sinceramente o gosto é horrível...
_Mas por que você está sendo tão atencioso comigo? – Questionou Emanuelle desconfiada das intenções de Edgar.
_Pois estou passando pra você os mesmos ensinamentos que me foram passados pelo meu mestre, o mesmo código que me foi ensinado, um código que vai te permitir viver séculos e séculos sem perder a essência de quem você é.
_Como assim perder a essência? – Questionou curiosa sobre o que seu mestre dizia.
_O certo seria dizer consciência, dentro de todos nós quando renascemos os nossos instintos afloram, os mesmos instintos encontrados nos animais selvagens e se nós não aprendemos a controlar esses instintos, sutilmente nossa consciência vai esvaindo, sendo devorada, e aos poucos deixamos de ser humanos, e guiados apenas pelos nossos instintos nos tornamos monstros... – Disse de um modo sombrio.
_Entendi... – Respondendo assustada, concordou com a cabeça.
_Bom essa é uma lição para outra hora. – Sentando na cama e mudando para um tom de voz mais descontraído – Antes de mais nada você tem que aprender como se alimentar, você viu como eu fiz, pra você que é mulher será muito mais fácil, observe e aprenda, depois disso te ensinarei como se cuidar e a usar seus novos dons, por hora você estará sobre a minha tutela, quando eu achar que está pronta deixarei você seguir seu caminho a menos que você queria viver junto a mim.
Se levantando de modo súbito da cama ele apontou para a porta.
_Vamos voltar lá para baixo, uma última coisa, você está morta para o mundo e para sua família, não volte a procurá-los a menos que você queira morrer em definitivo, não desperdice o dom que eu te dei – Disse de um modo sério.
Os meses que se seguiram foram como um sonho, viajando de um canto ao outro, conheceu diversos lugares, geralmente ficando algumas semanas, mas nunca mais que um mês no mesmo lugar, a primeira coisa ao acordar era se alimentar, no começo foi difícil, mas depois de algum tempo aprendeu a usar sua beleza e ar de inocência para conquistar não apenas os homens, como outras (para sua surpresa) mulheres também, e pouco a pouco foi ganhando confiança, ficando cada vez mais desinibida, começou a usar roupas extremamente curtas e decotadas, para valorizar ainda mais seus dotes femininos, em outras ocasiões, não usava nada além de seu manto com capuz, e as vezes, andava como veio ao mundo, como uma cortesã, mas nunca chegando a prestar os serviços de uma, pois logo suas presas ficavam inconscientes depois que se alimentava delas, e ainda levava consigo um bom dinheiro pelos seus “serviços” prestados.
Logo após “caçar” Edgar a levava para uma clareira na floresta, geralmente próximo a um rio, onde treinavam, desde combate desarmado a armado, passando por treino físico como: correr, escalar, nadar, saltar... Segundo Edgar era o mesmo treino que ele teve como cavaleiro, mas Emanuelle ainda era muito nova, e infelizmente seu corpo não tinha se desenvolvido por completo, apesar de já ter traços de mulher, mas o que lhe faltava em força e resistência, compensava em agilidade, tinha uma excelente coordenação motora, e ótimos reflexos, características tanto de um bom guerreiro, como de um caçador, segundo Edgar, não foi difícil aprender a usar um arco e flecha, e muito menos a se esgueirar pelas sombras, em pouco tempo conseguia se esconder tão bem que nem Edgar era mais capaz de encontrá-la, mas o mais incrível era seus novos dons, descobriu que conseguia manipular as sombras da mesma forma que Edgar, era mais fácil do que ela imaginava, segundo Edgar, parecia que ela tinha nascido para isso, e mesmo seu corpo não sendo desenvolvido, agora possuía uma força que ela não esperava ter, controlar essa nova força se mostrou um desafio, e foi um pouco mais complicado do que ela imaginava, e por fim, em algumas das vezes quando seduzia para se alimentar, conseguia fazer suas presas obedecê-la, geralmente coisas simples, dentre todos esse foi o dom mais difícil, e que levou mais tempo para a aprender a usar e controlar.
Mas nem tudo eram flores, em algumas ocasiões quando se deparavam com outro vampiro, Edgar sempre dava um jeito de resolver as coisas na conversa, e com o tempo ela entendeu o porquê dos ensinamento de Edgar, alguns desses vampiros usavam seus dons e chamavam muita a atenção para si, e alguns deles tinham uma feição quase que inumana, sendo outros possuíam uma aparência verdadeiramente bestial, tendo esses como exemplos, decidiu seguir à risca o que Edgar te ensinava sem questionar.
Mas o maior perigo veio durante um de seus treinos, quando ao longe escutou um uivo que arrepiou sua coluna, Edgar a puxou e mergulharam juntos no rio, por debaixo das aguas foi possível ver o que era um lobisomem, era uma criatura aterradora com quase 3 metros de altura, meio homem e meio lobo, com garras e presas do tamanho de facas de cozinha, e um corpo totalmente musculoso e bestial, de dentro das aguas Edgar manifestou tentáculos feitos de escuridão para tentar prender a criatura, mas foi em vão, aquele ser destroçou os tentáculos como se não fosse nada, mas os tentáculos eram apenas uma distração, o real objetivo de Edgar era pegar a criatura pelas costas, quando ele saiu das aguas estava empunhando uma espada e vestindo uma armadura feitas de sombras, e com um ataque certeiro, golpeou a criatura pelas costas, a mesma caiu no chão gravemente ferida, e com um gesto de sua mão a espada virara uma lança e Edgar dera um golpe de misericórdia na criatura, ainda mantendo uma distância segura do monstro, logo após isso aquele corpo bestial murchou e se tornou o de um homem, mas antes que pudesse ver quem era Edgar a puxou para irem embora pois aquele lugar já não era mais seguro.
Ver Edgar tenso é o que realmente me assustou, voltamos o mais rápido possível para o vilarejo, na taverna diferente de antes de chegar e seduzir, Edgar usou seus poderes, colocando sobre seu controle uma das garçonetes, e foi se alimentar dela, algo estava errado, era visível Edgar nunca agi-a dessa forma, depois de se alimentar ele me chamou para conversarmos:
_ Se lembra o que eu tinha falado sobre lobisomens, bom agora você acabou de conhecer um, vá se alimentar rápido, temos que partir ainda hoje para o mais longe que conseguirmos desse lugar, não perca tempo.
Era nítido que ele estava nervoso, e eu não iria contribuir para deixá-lo mais tenso do que ele já estava, me despi das minhas roupas e desci para a taverna, estando nua era sempre mais fácil, conseguir uma presa qualquer, e assim que desci as escadas já veio um velho em minha direção, não era o tipo que eu costumava me alimentar, mas tinha que ser breve, o levei para um lugar discreto e me alimentei, ele tinha um gosto horrível, fora que estava embriagado...
Voltando para o quarto, me troquei e Edgar já estava pronto para partir, saindo do vilarejo, começamos a nos mover mais rápido, durante a corrida ele me explicou que os lobisomens, tem uma ampla área de caça que se estendia por diversos quilômetros, e que diferente de nós vampiros, eles sempre andavam em bandos que era chamado de matilha, e como nós matamos um deles, era certeza que a matilha em breve estaria em nosso encalço, a menos que tivéssemos sorte, mas não foi o que aconteceu...
Fomos cercados 3 outros lobisomens, eu tentei ajudar Edgar lutando contra um deles, manifestando meus tentáculos, eu sabia que era inútil, mas meu objetivo era distrai-lo, para me mover para longe e atacá-lo com meu arco, porem para minha surpresa eu consegui manifestar uma quantidade assustadora de tentáculos, forçando um dos 2 que ia lutar com Edgar a recuar para dar assistência ao companheiro, consegui com isso me afastar e me ocultar nas sombras conforme fazia nos treinos, enquanto eles destruíam os tentáculos, peguei uma das flechas, mirei e disparei, a flecha tinha trespassado a perna da criatura que uivou de agonia, agora entendi por que Edgar se gabava tanto dos arcos ingleses, logo após isso voltei a me esconder, um deles estava me procurando e o outro não conseguia se mover devido ao ferimento, enquanto isso Edgar lutava com o terceiro, decidi então me arriscar, corri rapidamente pegando de surpresa o que estava ferido e coloquei um fim nele com um tiro certeiro na cabeça, porem o que estava me procurando se transformou em um lobo e foi meu encontro e antes que eu pudesse pegar uma flecha ele me acertou um golpe...
Pensei que dessa vez tinha morrido, quando acordei estava em uma caverna, estava frio, não imaginava que vampiros pudessem sentir frio, ou talvez fosse o fato de eu estar completamente nua, isso por que minhas roupas estavam completamente destruídas, mas fora isso, Edgar estava do meu lado e me ofereceu seu pulso:
_Vamos beba, você precisa para se recuperar e obrigado pela ajuda.
Eu não conseguia me mover, o golpe quase me cortara ao meio, o ferimento ia da altura do meu ombro esquerdo descendo até meu ventre, porem Edgar colocou seu pulso na minha boca e eu bebi um pouco, depois disso ele me mandou descansar enquanto ele caçava, assim o fiz, até por que eu não conseguia me mover.
No dia seguinte eu conseguia me mexer um pouco e o ferimento estava começando a cicatrizar, mas ainda sim Edgar me alimentou de novo e mandou eu voltar a dormir, mas antes disso ele me elogiou:
_Vampiros normais teriam morrido, mas você sobreviveu e além disso em poucos dias conseguiu acordar.
_Mas é normal acordar...
Ele riu de um modo descontraído, estávamos seguros:
_Não necessariamente, alguns vampiros quando gravemente feridos, entram em um estado de sono para se recuperar, normalmente dura algumas semanas, em outros levam meses, e já ouvi casos que demoraram anos para acorda, mas você é uma exceção à regra.
_Porque você diz isso? – Apesar de estar começando a entender...
_Você acordou em menos de uma semana, nunca tinha visto algo assim, é a primeira vez, é como se você estivesse predestinada a ser uma vampira, mas enfim, vai descansar, quando o ferimento cicatrizar, eu te levo para um vilarejo próximo daqui.
No dia seguinte eu já conseguia me levantar, meu corpo doía muito mesmo com o menor dos esforços, mas a cicatriz já não era mais visível, Edgar me trouxera algumas peças de roupa e me trocou, e fomos para o vilarejo, nunca em minha vida eu iria agradecer de poder dormi em uma cama
Depois de uma boa noite de sono eu conseguia me levantar e andar, mas mais que tudo eu estava faminta, porem como não conhecia o lugar, não iria me arriscar a descer nua para achar uma presa qualquer, em vez disso peguei o único vestido bom que me restava e desci, até que tinha algumas presas satisfatórias, consegui me alimentar bem e ainda consegui dinheiro suficiente para um vestido novo.
Não imaginava que recuperar de um ferimento como aquele poderia demorar tanto, e nem que consumia tanto de mim assim, mas não tinha o que reclamar, estava viva, por sorte aquele vilarejo era um pouco maior que os demais e as lojas fechavam um pouco mais tarde e com sorte consegui comprar meu vestido novo, porem nessa noite Edgar me procurou para conversarmos:
_Vejo que está melhor, mas vejo que a culpa foi minha... – Ele disse isso em um tom de amargura.
_Por mais talentosa que você seja, seu corpo ainda é de uma criança, e como tal não se desenvolveu por completo e não tem a mesma resistência que o corpo de um adulto, admito que fui precipitado em te transforma, e agora entendo, o meu mestre.
_Bom venha comigo...
Nisso o acompanhei, descemos as escadas, e fomos em direção a saída do vilarejo, era uma região de mata e ao que parecia estávamos voltando para a caverna, em minha mente o primeiro pensamento é que ele se arrependeu e iria me matar, mas no instante que eu ia fugir ele disse:
_Não se preocupe, eu vou continuar a assumir a responsabilidade pela sua criação, afinal você é minha cria e se eu não o fizesse não estaria honrando os ensinamentos do meu mestre e nem aquilo que te ensinei até agora...
Na caverna, eu percebi que tinha uma mulher, ou ao menos lembrava uma, envolvida em trapos, que quando percebi eram retalhos do meu antigo vestido.
Naquele momento Edgar nos apresentou, ela se chamava Victoria ela também era uma vampira, mas de um clã diferente e pediu para eu me alimentar um pouco do sangue dela, no momento não entendi o porquê, e nem por que ela iria me oferecer um pouco do seu sangue, mas ela me ofereceu seu pulso e fiz conforme ele me pediu, depois disso ele falou:
_Existem diversas famílias de vampiros, como acho que eu te expliquei antes, mas o que eu não te disse é que ao se alimentar do sangue de outro vampiro de outra família, você tem a possibilidade de aprender os dons dessa família, mas são mais difíceis de desenvolver do que os que você já tem.
_Entendi, mas por que isso agora? – Estava curiosa.
_Bom o clã da Victoria dentre nós vampiros, é o que possui a maior resistência física, na verdade eles estão acostumados a enfrentar e matar lobisomens...
Não acha que mais nada que Edgar pudesse me ensinar iria me surpreender, mas estava enganada, depois disso ele continuou:
_Victoria vai ficar um tempo conosco, ela vai te ensinar como usar os poderes da família dela, e em troca você terá que alimentar ela...
_Entendi, bom nesse caso é um prazer conhecê-la Victoria.
Quando ela foi se apresentar percebi por que estava coberta de retalhos, ela quase lembrava um lobisomem, tinha uma aparência quase que completamente bestial, e com isso lembrei dos ensinamentos do Edgar e sobre seguir o código, não queria aquilo pra mim.
O que Edgar tinha dito era uma verdade, mesmo a minha habilidade de controlar pessoas, que eu julgava a mais difícil de todas usar, era brincadeira de criança comparado a dominar os poderes de outro vampiro, mas ela foi paciente comigo e até gentil, e toda vez que ela se alimentava de mim agradecia, com o que eu julgava ser um sorriso...
Passou nisso quase um mês, mas eu tinha conseguido, era difícil, sim e muito, mas eu tinha aprendido a ganhar a mesma resistência que ela, e de curiosa até aprendi como funcionava os outros poderes, mas não tive muito interesse em desenvolvê-los.
_Bom agora que você aprendeu com a Victoria o que era necessário, chegou a hora de eu te ensinar o que meu mestre me ensinou, a como modelar as sombras, assim como eu faço.
Nisso ele manifestou uma espada feita de sombras e logo em seguida em uma armadura, como ele já tinha feito em duas ocasiões diferente, quando enfrentamos os lobisomens...
Após isso fomos embora do vilarejo, afinal tínhamos passado muito tempo lá, o que parecia fácil, sinceramente não era, era até mais complicado do que aprender os poderes da Samantha, mas segundo Edgar eu estava indo bem.
Ao chegar no próximo vilarejo depois de nos hospedarmos, Edgar me chamou para conversar:
_Bom vejo que a essência da técnica você já aprendeu, agora é praticar, porem terei que voltar com a Victoria, pois prometi ajudar ela com os lobisomens daquela região.
_Isso significa que agora estou por conta própria?
Nesse momento ele se levantou e me abraçou e disse:
_Não é apenas temporário, me espere aqui que eu voltarei, mas se passar mais de um mês, deixe um recado pra mim para onde você foi e eu irei até você.
Feito isso ele partiu...
Os dias se tornaram semanas e por fim tinha já se passado um mês, eu já dominava a arte de modelar as sombras em armas e até em uma armadura, mas tinha que partir, e como combinado deixei um recado no nosso quarto, que estaria voltando pelos vilarejos que já tínhamos passado, nas mesmas estalagens e quartos, pois assim seria mais fácil dele me seguir.
Foi nostálgico reencontrar as pessoas e rever aqueles lugares, e quando me dei conta, estava voltando para o meu antigo vilarejo, já tinha se passado 4 anos, olhei estava tudo diferente, e pelos preparativos, tudo indicava que teriam um casamento, eu queria muito rever minha família, mas eu lembrei do que Edgar tinha me dito, para todos eu estava morta, mas meu coração falou mais alto...
Cheguei onde era minha antiga casa e percebi que estava tudo em ruinas, a mata tinha tomado conta do que antes era nossa plantação, minha antiga casa estava abandonada, mas ainda de pé, e o estabulo em ruinas, o que tinha acontecido...
Quando um homem se aproximou de mim e disse:
_Cuidado criança, não se aproxime demais, esse lugar é amaldiçoado.
Eu me virei pra ele, mas ainda ocultando meu rosto e perguntei:
_Por que amaldiçoado?
_Nessas terras viviam uma família de bruxas e feiticeiros, tudo começou com a filha deles, Emanuelle que fez pacto com o Diabo, tentando amaldiçoar todas as meninas da região para conseguir suas almas, depois disso os magistrados trouxeram soldados e prenderam os pais dela, que também eram bruxos e feiticeiros.
_Nossa, eu não imaginava e como ele descobriram sobre isso? – Precisava saber o que aconteceu com minha família.
_Bom isso foi tudo graças a jovem e corajosa Sarah, que descobriu tudo, e entregou as provas para os magistrados, e hoje será o casamento dela com o jovem filho do pastor, Henry Swan.
_Eu vos agradeço e muitíssimo obrigado senhor, pelo aviso.
Depois disso eu parti para a floresta, aquela desgraçada, miserável, não bastou fazer o que fez comigo, tudo para ficar com o Henry, ainda assim precisava destruir minha família e matar meus pais, mas ela iria pagar e caro pelo que ela fez.
O casamento estava prestes a começar tudo estava pronto, era para aquele ser o meu momento e não o dela, mas ela ia pagar, não só ela, por sorte os magistrados também estavam lá, e os homens que me torturaram também, era como um presente, a chance de me vingar de todos de uma única vez.
Para iluminar a festa, tinha diversas lamparinas no local, só foram necessários dois tiros certeiros e pronto o caos começou, o fogo começou a se alastrar de uma forma extrema pelo vilarejo, nisso aproveitei a oportunidade, como ainda estava longe, era hora da vingança, dessa vez foram 3 tiros Jonathan Corwin, John Hathorne e Samuel Parris, estava fácil demais, até que os soldados perceberam de onde viera os disparos e foram em minha direção, manifestei a armadura das sombras e transformei meu arco em uma espada e me ocultei nas sombras, quando eles chegaram ataquei um pelas costas quase o cortando ao meio, consegui me esquivar do golpe de um deles, mas o outro conseguiu me atingir, mas não conseguiu me ferir, logo em seguida o golpeei na altura do ventre e o sangue começou a jorrar e cairá no chão tinha sobrado 2, eles tentaram escapar, mas consegui prendê-los com meus tentáculos, não consegui esmaga-los como Edgar, mas os derrubei no chão, e logo em seguida os empalei, transformando minha espada em uma lança, enquanto imploravam por misericórdia.
Misericórdia, era algo que naquele momento eu não estava disposta a ter, não depois do que aconteceu comigo e minha família, mas minha vingança não estava completa, faltava agora somente a causadora disso tudo, Sarah Lowell, não fora difícil achá-la, até por que eu sabia onde ela se escondia toda vez que ficava com medo, ao destruir a porta e ao ver a expressão de medo no rosto dela, fora a melhor coisa desse mundo, melhor foi quando eu disse:
_A quanto tempo Sarah...
_Emanuelle, isso não é possível, você está morta...
O espanto misturado com o terror, fora algo melhor que eu tinha imaginado, quando eu desfiz a minha armadura e pude encara-la, face a face...
_Sim sou eu, eu não morri e em vez disso, eu fiz um pacto com o próprio Diabo, ou devo dizer um dos seus filhos, e estou aqui para me vingar de você...
_NÃOOOOOOOOOOO – nisso ela saiu correndo.
Foi fácil perseguir ela e quando a alcancei ela já estava sem folego parada de frente para o antigo poço da família Fox.
_Acabou Sarah, chegou seu fim...
_Não por favor piedade... – Chorando e soluçando
Peguei ela pela garganta e a levantei, ela cravara a unhas em meu braço em uma fútil tentativa de eu soltar ela, era inútil, queria saborear cada instante daquele momento, conforme a vida ia se esvaindo do corpo dela, ela já quase não conseguia mais se debater, suas mãos já frias soltaram meu braço, ver ela sufocar até morrer, é o que ela merecia por tudo que fez, mas de repente algo atravessará meu peito, era uma lança e quando me verei era o Henry...
Foi como um sonho, toda a força do meu corpo desaparecera, e eu soltei a Sarah, e ele me empurrou com todas as suas forças em direção ao poço, foi possível escutar o som da haste da lança se quebrando, e naquele momento conforme eu caia era como se o tempo estivesse passando mais devagar, enquanto eu via o rosto do Henry, tudo que eu queria era estar lá junto a ele, mas em vez disso, foi a escuridão e o frio que me abraçaram, cada vez mais forte, até que tudo desaparecera...
Era como se eu estivesse em um sono sem sonhos, em meio a um mar de escuridão, quando senti algo me puxar, e eu despertei...
Estava com fome, muita fome, nunca tinha sentido tanta fome na minha vida, tinha um homem vestindo estanhos trajes de costas para mim, não perdi tempo e o ataquei e me alimentei, tinha que me controlar, não podia matá-lo...
Foi difícil, mas consegui me conter, ele ainda estava vivo, e segurando em uma de suas mãos, estava ao que parecia um pedaço de madeira, quando me aproximei para lamber e estancar o ferimento da mordida, pude ver que era parte da haste da lança que tinha se quebrado, a lança que Henry usara para me apunhalar e jogar no poço...
Eu ainda estava morrendo de fome, mas não podia deixar ele lembrar do que aconteceu, tinha que apagar as memorias dele, afinal como o Edgar vivia me dizendo tínhamos que ser discretos, e lembrando das palavras dele, me veio a imagem do seu rosto na memória, onde ele estará, será que ele encontrou meu rastro...
Aquele lugar era estranho, com objetos que nunca tinha visto antes, aquele homem estava de frente para um estranho quadro que estava emitindo uma luz e nesse quadro tinha imagens de pessoas se movendo, que magia era aquela...
Ao sair de lá estava numa espécie de castelo, com diversos quadros e estatuas, era tudo tão claro como o dia, mas não via nenhuma lamparina, de onde vinha aquela luz, então isso que era magia...
Até que andando por aquele estranho lugar, cheguei onde talvez fosse a saída de lá, lembrava muito minha antiga igreja, porem era possível ver através do teto, a noite estrelada e a lua, ao longe tinha outro homem, esse era gordo e careca, e estava fazendo o mesmo que o outro homem, mexendo no estranho quadro de luz, provavelmente eu estava na Capela de algum grupo de magos, Edgar tinha me alertado quanto a eles, apesar de seus corpos serem como da maioria dos humanos, eram capazes de manifestar poderes quase divinos, maiores que qualquer dom que nós vampiros possuíamos...
Decidi não me arriscar, me esgueirei entre as pilastras sem que ele percebesse, porem quando cheguei na porta, a mesma estava trancada e o homem que estava sentando me percebeu, ele se levantou e disse:
_Está tudo bem criança?
Eu me controlei e me virei e disse:
_Onde estou, eu quero sair daqui – E fingi que estava chorando...
Ele pegou o que parecia uma blusa, me cobriu e me abraçou dizendo:
_Calma, vai ficar tudo bem, qual o seu nome e nome dos seus pais, é só falar que eu vou ligar para eles...
Não entendi nada o que era esse “ligar”, eu ainda estava com fome, então aproveitei a oportunidade, como ele estava de guarda baixa, cravei minhas presas nele, e logo após terminar, lambi ele sutilmente, e ele caiu no chão dormindo, só tinha que fazer como fiz com o outro, em geral quando eles dormiam era sempre mais fácil...
Como eu não tinha a chave teria que usar minha força para abrir aquela porta, até que percebi que tinha uma espécie de vidro na porta, então optei por quebrar e passar...
Do lado de fora tinha uma enorme faixa enfeitando a frente do castelo, com os dizeres: “Bem-Vindos a Salém, embarque em uma viagem sobre a verdade sobre as bruxas, e venha conhecer, A Bruxa de Salem, em exposição por curta temporada”.
Eu estava realmente em casa, mas aquele lugar em nada lembrava minha antiga casa, era um lugar estranho, tinha um lago e uma floresta, e ao longe estanhas torres luminosas, mas o que mais me assustou foi quando olhei pro céu, uma criatura gigantesca de metal voando pelos céus, fazendo um som estridente, então aquilo era um dragão que o pastor pregava nos sermões, será que aquele era o apocalipse o final dos tempos, o que tinha acontecido comigo, quanto tempo tinha se passado...
Quanto mais eu andava em direção as torres luminosas, mais as coisas ficavam estanhas, carruagens de metal, com vidro e cores diferentes, emitido algumas delas luzes e fazendo sons estranhos, e de outras saiam sons, como se tivessem almas aprisionadas gritando de agonia, juntamente a sons extremamente agudos, mas o mais estranho era as pessoas que estavam dentro dessas carruagens, usando estranhos objetos de metal em seus rostos, outros com símbolos marcados em seus braços e pescoços, esses últimos cavalgavam ao que parecia cavalos de metal, que fazia um barulho ainda pior que as carruagens...
Mas quando pensei que nada mais poderia me surpreender, eu cheguei no que parecia um vila, não era maior, muito maior, e mesmo estando de noite, as luzes que vinha daquelas casas, tornava a noite tão clara quanto o dia, ainda mais que tinha estranhos mastros feitos de metal e deles saia um luz que iluminava ao que parecia uma trilha de pedra cinza, com pinturas brancas, mas o mais surpreendente era a quantidade de pessoas, nunca tinha visto tantas pessoas andando despreocupadas, era como se elas não tivessem medo dos lobisomens, algumas delas tiravam de dentro de suas roupas, estranhos tijolos coloridos, que emitiam luz, da mesma forma que os quadros no castelo.
Conforme eu andava, mais as coisas se tornavam estranhas, até que cheguei onde ficava as torres luminosas, fiquei parada e atordoada com aquela quantidade de luzes estranhas, aquela cacofonia de sons, aquelas pessoas rindo, falando e gritando, quando de repente um clarão como a luz do dia surgiu do nada, eu corri o mais rápido que pude para um sombra próxima, mas ainda era noite como aquilo era possível, quando me recuperei do susto percebi que a luz vinha de uma daquelas estranhas carruagens de metal...
Decidi seguir pelas sombras, longe daquelas luzes e sons, aquilo tudo era muito estranho, será que estava em uma cidade de magos, até que me deparei com uma outra realidade completamente oposta, pessoas dormindo no chão, com roupas esfarrapadas, algumas estavam amontoadas próximas de um barril de metal de onde saia fogo, ao que tudo indicava para se aquecer, dessa vez decidi não chamar muita atenção, e comecei a me esgueirar pelas sombras...
Até que cheguei no que parecia uma igreja, tinha torres ao redor dela, mas não emitiam nenhuma luz como as outras, era como se estivessem abandonadas, ao bater na porta uma senhora abriu era uma mulher de meia idade e disse:
_Você está bem criança?
Eu fixei meus olhos nos olhos dela e disse:
_Sim, me leve para dentro, e depois me diga tudo que preciso saber sobre essa estranha cidade.