SteamBrasil World - Ayira

AYIRA

AMAZONAS

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Ayira sabia que a luta contra os Vaihape seria árdua, e que teria que fazer muitos sacrifícios em sua vida. Deveria enfrentar o inimigo onde ele estivesse, nem que tivesse que se afastar de tudo e de todos...  Quaisquer vínculos que existisse com alguém ou com algum lugar não seriam fortes o suficiente para prende-la por muito tempo, pois onde existisse um Vaihape, ela estaria la para extermina-lo. Algum dia conheceria a paz? Algum dia conseguiria acabar com a ameaça dos Vaihape? Improvavel...

***

O tempo estava bom, bem úmido, ao gosto de Ayira. A filha da Iara estava descansando em uma rede a frente de seu pequeno casebre nas margens do Amazonas, aproveitando o momento de sossego. Não fazia muito tempo que tinha conseguido aquela residência, que havia sido dada a ela pelo povo ribeirinho em recompensa por ela ter dado cabo de um Vaihape que estava incomodando a região.

Sua bela sucuri, Potira, tinha acabado de retornar de sua caça, e estava se enrolando para fazer sua digestão. Ela ainda tinha marcas do ultimo combate contra o Vaihape.

Ayira leva a mão ao queixo, pensativa. Era a primeira vez que tinha visto um Vaihape com nadadeiras... Estariam de alguma maneira evoluindo? Isto era ruim, muito ruim...

“Visitas...”, disse mentalmente Potira.

Ayira sente a presença de alguém. Com um impulso se levanta, permanecendo sentada na rede.

Era Karawe, o Ianomami guerreiro de uma tribo próxima dali.



O indígena bate duas vezes com a ponta rombuda de sua lança no chão, e faz uma mesura.

“Warixama Hetumisi, Ayira... É noticia na tribo que derrotou o Vaihape que atacava os Nape da beira do Grande Rio. Verdade?”

Ayira queria passar mais tempo refletindo sobre o Vaihape com nadadeiras, mas parece que Tupã tinha outros planos para ela com a chegada do indígena. Revirando os olhos, ela finalmente sai da rede onde estava, indo abrir a porta de sua nova residência para encarar Karawe.

“Karawe… Se fosse mentira,eu não teria marcas de batalha em meu corpo e também não teria marcas no corpo de Potira” Ela disse, sem se mover da porta, impedindo que o outro entrasse em sua residência. O bem da verdade Ayira, apesar de conseguir conversar com os homens, continuava extremamente cautelosa dos demais homens com que tinha contato, tanto que os poucos que ela tinha confiança eram seus antigos companheiros da bandeira, mas os deuses tinham outros planos para cada um deles que faziam os caminhos seguirem por rumos diferentes.

“Mas não é apenas uma notícia que o faria sair da tribo, o que você está buscando Karawe?” Ela pergunta, seu olhar negro, parecia querer ver a alma do indígena, para compreender o que ele poderia realmente querer, ou quais notícias ele poderia trazer agora.

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“Mas não é apenas uma notícia que o faria sair da tribo, o que você está buscando Karawe?”

Ayira provoca o guerreiro a sua frente, e observa os seus gestos corporais. A expressão de Karawe era a mesma, mas havia um certo retesar em seus músculos.

“Ayira, você esta certa... Nós da tribo Urihi tratamos dos nossos problemas. Se são coisas da terra-floresta, nós resolvemos. Mas se riachos somem, terra fica friável, arvore seca, problema fica muito grande. Você sabe, vaihape é contra a terra-floresta, e se voce mata vaihape, você que também é filha da natureza, nós Urihi pedimos sua ajuda. Não ajuda dos Nape, mas ajuda de Ayira”

Potira, levanta a cabeça, e olha para Karawe. Depois se volta para sua mestra, que sente as palavras de Potira em sua mente.

“Não cheira medo. Mas esta tenso”.

Karawe bate forte com sua lança no chão molhado. Seria para mostrar sua determinação?

“Outro vaihape, também com nadadeiras, esta atacando a nossa tribo. O que atacou os nape e que voce matou, não é o único.”

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Aiyra olhou para Potira após as palavras do indígena e da sua amiga. Ela cerrou os olhos levemente, olhando para o chão pensando enquanto viu o bater forte da lança no chão molhado, e seu olhar frio encontrou com o dele. Apesar de talvez querer mostrar determinação, não havia gostado do temperamento do indígena. Ela deu um passo em direção a ele, ligeiramente irritada.

“Nunca achei que fosse o único, e assim como filhos da mãe natureza estão lutando para livrar nossa mãe destas criaturas imundas, eu continuarei lutado Karawe” A voz mostrando toda a certeza e a raiva que ela tinha ela deu outro passo forçando o indígena recuar para fora da entrada da casa dela. Ela respira fundo tentando manter a calma, antes de olhar para ele novamente

Ela sentiu o terra molhada aos pés descalços, e apenas o contato com a água parecia já trazer algum conforto para ela, que pela segunda vez respirou fundo e por fim olhou para o indígena “Eu ajudo a tribo Urihi, mas tribo Urihi terá de me ajudar também” Ela disse, apontando para Potira que tinha suas marcas, e para ela mesma para as cicatrizes. “Esses vaihapes são diferentes do que eu já batalhei, e até aprender melhor maneira de atacar, é melhor atacar em grupo”

Sua postura pareceu diminuir um pouco a imponência que ela parecia passar sem pensar, seu olhar negro olhando para o chão húmido, e depois para a floresta. “Assim também, quem for meu companheiro saberá como matar um vaihape caso Tupã e Jaci queiram que meu caminho siga para outra região em minha batalha”

Finalmente ela retornou o olhar para Karawe, e se virou para entrar de volta em sua casa pegando suas armas e pertences para partir. Se agaixando ao lado de Potira, ela acariciou a amiga, e sorriu para ela. “Sei que preferia dormir agora, Potira, mas se importa de se enrolar em mim para irmos até a tribo?” Ela pergunta não querendo forçar a amiga, mas ao mesmo tempo não queria ficar sem ela, e assim que sua gigantesca amiga se enrolasse no seu corpo, Aiyra iria sair da casa olhando para Karawe. “Me leve até sua tribo, quero saber mais sobre os ataques do Vaihape”

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“Eu ajudo a tribo Urihi, mas tribo Urihi terá de me ajudar também” “Esses vaihapes são diferentes do que eu já batalhei, e até aprender melhor maneira de atacar, é melhor atacar em grupo”

Karawe percebeu a irritação na bela voz de Ayira. Ele olhou para baixo e acenou com a cabeça.

“Sim, a tribo Urihi pede a ajuda, mas não fica de braços cruzados. Chefe dos Urihi explica melhor.”

Ayira então acomoda a sucuri Potira em seu corpo, algo que faz com que Karawe fique impressionado. O corpo esbelto da filha de Iara não revelava a força que possuía, e carregar aquela enorme cobra era um feito considerável. A lenda que o indio escutara falava que se tratava de uma grande guerreira, mas ver de perto tal força era algo impressionante.

“Me leve até sua tribo, quero saber mais sobre os ataques do Vaihape”

Ele acena com a cabeça e fala mais sobre os Vaihape que incomodavam sua tribo enquanto trilhavam o caminho pelo meio da selva.

“Tribo Urihi fica do lado de um riacho bom de pesca. Um dia peixes apareceram mortos, boiando... Tupã e Jaci nos proteja! Um vaihape saltou da agua, e atacou o bom guerreiro Rudá, que lutou bravamente mas caiu. Agora ninguém mais vai ate o riacho, todos tem medo.”

Depois de duas horas eles chegam na vila Urihi. As crianças olham divertidas para Ayira e sua sucuri, enquanto que os mais velhos ficam desconfiados, puxando os mais jovens para dentro de suas ocas. Karawe explica o motivo da desconfiança.

“Todos ouviram do que fez junto com os napes, os homens brancos. Tem medo de seu poder da agua, todos conhecem a Iara, que afogou o velho Ubirajara”, diz, olhando serio para Ayira. “E sua voz é linda, boa de se ouvir. Mas eu não tenho medo, você é da natureza, os vaihape não. Pode me enfeitiçar, se este for o preço.”

Logo chegam na oca da chefe da vila, Amana, agua que vem do ceu.



Potira se desenrola de Ayira e se acomoda no chão. Amana observa espantada para a sucuri, mas sem medo. A chefe dos Urihi faz um cumprimento formal, e diz,

“Tupã e Jaci nos guiem! Obrigada por ter vindo, Ayira. A tribo Urihi precisa de sua ajuda... Temos que matar o vaihape que suja o riacho, antes que corrompa a nossa mata. Muitos da tribo temem seu poder, e acham loucura falar com voce, mas se voce anda entre os napes, então não seria como a mãe da água, estou certa?”

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Ayira andava ao lado de Karawe, acariciando sua amiga enquanto pensava nas palavras ditas. Não gostava do que estava escutando, pois trazia memórias que a deixavam triste, de uma época que ela ainda vivia com suas irmãs e mãe, mas não ofereceu nenhuma palavra de conforto para o índio, pois ela mesma não sabia o que poderia falar. Por sempre ficar focada na missão dela, sendo direta em suas palavras, muitos a consideravam rude quando conversavam, talvez fosse por isso que preferisse ficar calada nessas situações.

Ao chegar na vila, a sereia observava a segurança da vila até escutar as crianças olhando para ela com sorrisos inocentes, e com um pequeno sorriso brotando em seus lábios, ela até sentiu alguma compaixão para os pequenos, mas ao serem puxados, ela voltou a ficar séria, seu olhar gélido se voltando para o companheiro de viagem que tentava explicar os motivos.

“Mãe Iara e eu não somos a mesma pessoa” Ela diz com ódio da mãe de sangue que a abandonou após um ataque de vaihape. “Meu poder de água é dado por Tupã e Jaci que me deram a missão de deixar mãe natureza segura” A sereia segurou mais firme na lança que carregava, seus dedos ficando cada vez mais pálidos com as palavras e olhar sério de Karawe “Guerreiro Karawe pode até ser valente, mas guerreiro Karawe não sabe medir palavras!” Ela disse, batendo o pé no chão, apontando um dedo no meio do peito do guerreiro, antes de se virar e voltar no caminho até a Oca resmungando com Potira o quão complicado era conseguir viver em paz sem pessoas julgarem ela por ser filha d’água.


Dentro da Oca, Ayira comprimenta a chefe da tribo, mais tranquila por ver o olhar de Amana sem medo. “Tupã e Jaci nos guiem… Não sou, minha missão é limpar mãe natureza dos vaihapes que mancham as terras e águas” Ela disse, ainda levemente irritada. “Há quantas luas começou os ataques dos vaihapes?” A filha da Iara perguntou, e assim que obter a resposta ela iria já pensar no plano de como seguir, compartilhando o pouco que sabia desses novos vaihapes.

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Ayira fica irritada com as palavras de Karawe.

“Guerreiro Karawe pode até ser valente, mas guerreiro Karawe não sabe medir palavras!”

O guerreiro observa Ayira se afastar, espantado com sua atitude. Não estava acostumado a ser confrontado, ainda mais pelas mulheres, que normalmente se derretiam com sua presença. Seu olhar então se fixa na cintura da filha da Iara... que balançava formosamente de um lado e para o outro.

Karawe se estapeia, balança a cabeça, e se apressa em acompanhar Ayira ate a Oca de Amana.

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“Há quantas luas começou os ataques dos vaihapes?”

Amana fica pensativa por alguns instantes, e diz,

“Uma quinzena... Começou com a morte de Rudá, depois desapareceram mais três... Não tem um ponto certo de atacar, e estão chegando perto da vila, todos estão assustados. Karawe foi investigar o riacho.”

A sucuri Potira volta sua atenção para o guerreiro, que fica desconfiado. Estaria a cobra acompanhando a conversa?

“Sim, por Tupã e Jaci, devemos matar o vaihape! Ele está corrompendo a mata, a agua esta se tornando gosmenta e as cascas de arvore estão ficando apodrecidas. Cheiro ruim se espalha... Eu... acho que a casa do monstro está para dentro da floresta alagada... Não pude ir muito longe para ver.. Mas fincado numa das arvores encontrei uma coisa...”

Karawe olha para a chefe, que pega algo guardado em um bau, e mostra para Aiyra.


Aiyra já tinha visto algo parecido, era um arpão, acoplado a uma arma e usado em pesca por alguns malucos da cidade grande, que colocavam uma bola na cabeça para respirar dentro da agua. O que estaria fazendo uma arma dessas no meio da floresta amazônica?

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A jovem sereia tombou levemente a cabeça, levando uma de suas mãos próximo do rosto, enquanto pensava nas palavras ditas. Fazia já um tempo que aquilo estava acontecendo, como ela não havia pegado nenhum sinal antes? Antes que sua mente pudesse fazer mais hipóteses, Aiyra percebe que Potira havia voltado sua concentração para o guerreiro.

Observando os olhos de Karawe, e seria aquilo uma dúvida se Potira escutava ele? Ela soltou um riso abafado, antes de escutar as palavras do guerreiro, fazendo a sua expressão voltar a ficar séria. Voltando a olhar para Potira, ela comenta. “Com água pesada, vai ser difícil respirar enquanto nadamos, investigar vai ser complicado…” Ela se volta para Amana e Karawe, pensando que a magia dela de purificar a água não vai ser forte o suficiente.

Mas sua preocupação se torna surpresa ao ver o arpão nas mãos de Amana. Pedindo permissão antes para olhar mais próxima ela começa a explicar. “Arma de homem branco louco, mas por que tão longe?” Ela indaga, vendo se a arma era nova ou se estava a muito tempo debaixo d’água. “Napés loucos usam bolas em volta da cabeça para respirar, são lentos, mas perigosos com armas que criam…”

Ela se volta para Amana “Quais são as vilas dos homens brancos mais próximas?” A sereia pergunta, com uma hipótese em sua cabeça que ela queria confirmar e deseja que estava errada. “Se um homem branco louco estiver caçando vaihape para estudar, pode ter tirado ele de onde estava originalmente…” A sereia não queria mas era necessário investigar “Vou investigar as vilas para ter certeza que estou errada sobre este assunto, mas antes quero ver onde Vaihape está atacando”

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O problema da corrupção das aguas da área alagada incomoda Ayira, ainda mais por atrapalhar a respiração subaquática. A filha da Iara já tinha usado seu poder com sucesso para limpar a corrupção provocada por outros Vaihapes, mas eram quantidades bem menores da gosma arroxeada... Seria esta variedade aquática de monstro capaz de atingir uma área maior que os outros que ela enfrentou?

Ao ver o arpão, Ayira pede para examina-lo com mais cuidado. Não tinha sinais de ferrugem, alias não parecia ser feito de ferro, mas sim de algum outro material... Não tinha como saber ha quanto tempo estava ali.

“Quais são as vilas dos homens brancos mais próximas?” “Se um homem branco louco estiver caçando vaihape para estudar, pode ter tirado ele de onde estava originalmente…” “Vou investigar as vilas para ter certeza que estou errada sobre este assunto, mas antes quero ver onde Vaihape está atacando”

Amana acena com a cabeça, concordando com Ayira.

“Existe uma vila próxima, Karawe pode leva-la... Normalmente não temos tido problemas com os napes de lá, fora algum caçador que invade nossas terras.”

Karawe estava irritado, a intervenção de um nape em terras dos índios era uma afronta para a tribo.

“Isto esta passando dos limites! Vaihapes atacando as vilas dos napes e depois a nossa tribo? Me cheira a problemas causados pelos próprios napes!”

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Logo Ayira, acompanhada de sua leal sucuri e Karawe chegam ao local corrompido. Tratava-se de área alagada, onde era possível ver os troncos grossos de arvore sobressaindo da lamina de agua, sendo que a maior parte da vegetação estava submersa. A profundidade da agua variava, indo desde o tornozelo ate a cintura nos pontos mais fundos.

A filha da Iara foi ate uma das arvores, e notou que a casca do tronco dela estava quebradiça, sendo que uma gosma arroxeada saia dela. O cheiro era de podridão, como se estivessem em um pântano.

Potira não queria ficar na agua.

“Vou ficar no seu ombro, esta agua esta suja.”

A face de Karawe era de desolação.

“Tupã e Jaci, isto esta muito errado. A mata esta doente, precisamos logo achar a cura para ela...”

De repente o sentido de Ayira se aguça... Havia algo ali que estava diferente, em uma das arvores! A heroina mergulha e ve que na base de uma das arvores, protegida por uma rede de raizes estranhas, estava algo que brilhava numa luz vermelha sanguinolenta... Dentro algo que estava separado por uma membrana transparente.

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“Malditos homens brancos” Ayira comentou ao percebendo que não iria identificar, pensando como iria conseguir resolver isso sem envolver mais pessoas, apenas para chegar na conclusão que teria de conversar com algum homem branco, e isso já a deixava com dores na cabeça.

Ao escutar a confirmação de uma vila, Ayira concordou com a cabeça, pois sabia que era habitual dos Napes trazerem mais problemas por onde andavam, mesmo que não intencional. Com as palavras cheias de irritação de Karawe, Ayira olhava para o índio antes de confrontar ele novamente. “Índio Karawe não percebe quando estamos levantando ideias?” Ela comentou, se posicionando a frente dele. “Não sei se homem branco é culpado, ainda não tenho certeza, só vou ter quando buscar na vila!” Aiyra comenta olhando brava para Karawe “Se não for culpa de homem branco, e homem branco escutar índio Karawe julgando sem provas, podem escolher atacar índio Karawe e sua tribo! Palavras tem poder!” E com isso ela sai da oca, para seguir viagem.


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Ayira ao sentir que estava próxima correu pelos troncos para ver o quão danificada aquela área estava. Sua bela face se contorcia com a dor e tristeza de ver a casa a mãe natureza tão machucada. “Por Jaci, o que este Vaihape fez?” Ela murmurou, acariciando Potira que havia se enrolado para voltar ao ombro e evitar a sujeira.

Por mais que o índio a irritasse em vários momentos, ela parecia tão pequena naquele momento que ela concordava com ele, e antes mesmo que pudesse usar sua magia para limpar um pouco daqueles lugares, ela se volta em direção de uma das árvores, e sem pensar duas vezes, mergulhava sentindo suas pernas se transformar na sua bela cauda. Ela tentava entender o que era aquilo que estava sendo protegido por aquela rede estranha, mas logo sua mente teve certeza de que era algo relacionado aos Vaihapes, e por Tupã, como ela torcia que não fosse um filhote de Vaihape. Subindo para ficar com a cabeça fora d’água ela volta para alertar Karawe, ela se aproxima do índio. “Tem algo dentro na base daquela árvore, brilha de forma violenta, por Tupã que não seja ninho de Vaihape. Potira, consegue sentir mais alguma criatura?” Ela pergunta preocupada.

“Quando mexer com a membrana que envolve a raiz, vai atacar, se prepare” A sereia olhava para os olhos de Karawe, os olhos negros carregavam preocupação, ainda mais por tentar buscar respostas rápida em sua mente do que era aquilo. Mergulhando de volta as águas, ela preparou seu ataque, com suas mãos segurando a lança com força, buscando atacar naquela rede com força.

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“Se não for culpa de homem branco, e homem branco escutar índio Karawe julgando sem provas, podem escolher atacar índio Karawe e sua tribo! Palavras tem poder!”

Karawe ouve a bronca com a boca aberta e os olhos arregalados, e observa Ayira sair da oca batendo os pés. Ué, mas por que estava tao brava com ele? Os napes sempre eram fonte de problemas. Em busca de ajuda, o índio volta seu olhar para a chefe Amana, que se limita a esconder um riso com a boca.

Karawe fecha os olhos, suspira e murmura, “mulheres!”

***

Depois de verificar a base da arvore infectada, Ayira emerge e confabula com seus companheiros. Potira informa mentalmente que não havia sinal de outras criaturas, sejam Vaihapes ou criaturas selvagens.

Karawe estava visivelmente preocupado, segurando firme sua lança. Apesar de sempre levar bronca, não podia deixar de protege-la, como todo bom guerreiro de sua tribo.

“Ayira, tem certeza que vai fazer assim? Sei que voce é forte, mas...  se o Vaihape filhote atacar dentro da agua, não vou poder te ajudar...”, diz, e coça a nuca, “eu... vou mergulhar a cabeça e observar de cima... se puder, atraia o bicho para fora da agua!”

Ayira mergulha, acompanhada de Potira, que dentro da agua nadava como se fosse um peixe. Formavam uma boa dupla, e a habilidade da amiga de se enrolar no corpo dos inimigos era muito útil.

A membrana estranha na base da arvore pulsava, e parecia que um frio sobrenatural a envolvia. O silencio total dos arredores era opressivo.

Com a lança nas mãos e aproveitando o impulso de seu rabo de peixe, a filha da Yara investe contra a abominação, e a membrana se rompe, espalhando mais corrupção na agua.

Ayira aguarda a saída da criatura-filhote... mas nada acontece.

Ela lança um olhar para Potira, que com os lábios e os olhos imita a expressão humana de “não entendo...”

Ayira decide se aproximar do buraco aberto... e olha para seu interior. Se assemelhava a um útero, mas ela sabia que as casas dos Vaihapes todas tinham essa aparência, meio de carne e entranhas... O instinto natural lhe dizia que se tratava de mais uma alteração da realidade, e que aquele buraco na realidade era uma passagem, que levava para um outro local... um local não deste mundo.

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Ayira não conseguia compreender completamente o que estava vendo, seria aquilo realmente possível?

Olhando para Potira, ela pensa que é melhor avisar Karawe antes de tomarem qualquer decisão, e nadando de volta a superfície, ela se apoia na base onde o índio estava tentando limpar um pouco a gosma dá água infectada.

“Não tem filhote de vaihape ou qualquer outra criatura por perto, o que tem alí é algo que nunca vi antes...” Ayira comenta sua voz preocupada, antes de olhar para o homem com os olhos negros preocupados “Indío Karawe, eu acho que esse ventre de Vaihape leva para outro lugar… Um lugar que eu não acho que Tupã ou Jaci abençoaram” Ela disse, pegando os longos cabelos negros e prendendo em um rabo de cavalo.

“Karawe… teria tanto medo quanto eu?” A sereia indagava o índio, enquanto lembrava das palavras de mulher que havia cuidado dela ‘Corajoso é aquele que mesmo com medo segue em frente’, e aquilo parecia refletir o que ela sentia. “Não sei como fechar esse ventre, e temo o que ele pode trazer ao resto de dor para mãe natureza” Ela murmura para ele, realmente preocupada e temerosa com o que havia ali.

Acariciando Potira para tentar se acalmar, tentando pensar em soluções “Temos de avisar Amana, mas também não sei o que pode sair deste ventre que agora está aberto…” Ayira disse “Quero entrar, e ver o que está do outro lado, procurar algo para fechar ele…” Ela disse, uma vez que suas belas pernas ainda se permaneciam com a cauda de sereia. “O que índio Karawe quer fazer?” Ela o pergunta um pouco mais certeira em sua voz.

Não iria obrigar ele a ir com ela para o outro lado, mas também sabia que não iria impedir ele de fugir caso fosse o desejo dele, por mais valente que ele pareça ser. Olhando para sua amiga ela também a questiona “O que acha que é melhor fazer minha amiga?”

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