Sophie Fisher

Enquanto se olhava no espelho, Sophie suspirava.  O cabelo dourado brilhava, estonteante, sob a luz da penteadeira, enquanto ela cobria as olheiras com um pouco de maquiagem. Primeiro o primer... Os corretivos, a base.  Ou os corretivos vinham depois?.. Ela  já não tinha certeza. Abriu um tutorial do youtube, pra tirar a dúvida, e começou a segui-lo, mesmo que não fosse sair para qualquer lugar importante naquela noite. A jovem aprendera que sempre tinha de estar arrumada, afinal, sua beleza havia aberto caminho para os pequenos shows e para ser uma das melhores líderes de torcida.

Após terminar de se maquiar, vestiu um shortinho jeans e uma camiseta de uma série que adorava, sobre vampiros, escrito “bite me” na estampa.  Logo saiu de casa, indo em direção ao colégio.

Como costumava ter os dias cheios, quando pegou recuperação em algumas matérias, precisou  pedir o horário noturno. Normalmente de noite só estudavam os repetentes ou pessoas mais velhas... Por isso, ela não conhecia ninguém, nem mesmo os professores. ”Ao menos ninguém que eu conheço vai estar lá”, pensou, aliviada. Sophie sentia um esforço grande para se encaixar entre os populares... Sempre precisava controlar as suas ações, as suas expressões e até mesmo as cores de suas roupas... Não entendia bem o porquê, mas as gurias da sua sala cismavam de ter dias de cores “temáticas”, tipo na quarta feira, onde todas iam de rosa. Sabia que era algo de algum filme, mas não tivera tempo de assistir naquele ano.


Ao chegar na escola, mal reconheceu o lugar. Estava calmo, sem gritaria, sem pessoas zoando outras. Podia até mesmo ouvir o salto do seu sapato batendo no chão de madeira e ecoando pelo longo corredor principal.

Foi até a diretoria, pegar os seus horários de aula de recuperação e depois foi até a sala indicada. Não tinha ninguém... Afinal, quem conseguia bombar nota, tendo a Srta Anne Louise, tão boazinha, como professora de francês?.. Aparentemente, só ela. Colocou o notebook na mesa e a mochila em uma das cadeiras, indo até uma das grandes janelas e se apoiando, olhando a rua movimentada. Como ainda estava um pouquinho cedo, colocou os fones de ouvido, cantarolando qualquer coisa enquanto trocava mensagens com o namorado, que estava surtando pelo fato de ela ter “preferido” ir para o colégio ao invés de ir no jogo dele, naquela noite.

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A jovem estava distraída em seu próprio mundinho: a música alta, as conversas no celular, as redes sociais... Da janela, se esticasse bem o corpo, olhando para o lado direito da construção da escola, podia ver o campo de futebol por entre as árvores. Billie estava lá, jogando com o time... Com o grupo de líderes de torcida do primeiro ano fazendo a animação. As jovens novinhas eram as preferidas dele. Apesar de Sophie saber disso, não via muito como mudar a situação. Na realidade, pensava que, de alguma forma, merecia aquilo. Há um preço a se pagar por namorar com o capitão do time, certo? Ainda mais sendo uma jovem bastante comum.

Ela suspirou, dando um pulo ao ouvir o barulho da cadeira do professor sendo arrastada. Tirou os headphones, deixando em seu pescoço,  e olhou na direção do professor. Não era um que conhecia...  E se ele não estivesse usando aquela roupa tão antiquada, provavelmente o confundiria com um aluno. Ele tinha mesmo idade pra ser um professor? Bem... Era o que o crachá dele dizia.

Sophie pegou o papel para ele assinar e logo foi até a mesa,  o encarando um pouco sem pudor. Definitivamente, devia ser um crime hediondo um homem bonito como aquele ser professor...

- Er... Oi. Sou a Sophie Fisher... Aluna “nova” – sorriu, entregando o papel para ele. Ouvira falar que as aulas da noite eram... uma baboseira. Que todo mundo passava se tivesse a presença assinada na maioria das aulas.

Esperou ele assinar a sua presença – Merci – fez uma mesura exagerada e voltou pra janela, ouvindo os gritos eufóricos na quadra.

Quando a aula começou, ela se sentou em seu lugar e ficou lá um tempo, escrevendo uma letra de música romântica, em francês, para homenagear a aula que não estava prestando atenção. Provavelmente tinha erros e coisas escritas de forma esquisita, mas era bem pessoal.

Assim que teve a oportunidade, pediu para ir ao banheiro... E não voltou para a sala de aula. Correu até a quadra, para assistir o finalzinho do jogo... Mas, antes que Billie a pudesse ver, Sophie o viu, com uma das novatas. Nem sabia o porquê ainda insistia em se iludir. Suspirou, deixando algumas lágrimas de raiva e frustração descerem pelo seu rosto, e começou a seguir o caminho de volta para a aula... Mas se deu conta que havia passado mais tempo ali do que devia... A aula havia terminado.

“Ah, que beleza... Primeiro dia e já largo tudo dentro da sala”, pensou, saindo correndo, pois todo o seu material e dinheiro havia ficado lá dentro... Apesar da correria, chegara tarde. Já haviam fechado o prédio, estando aberto só os vestiários. – Merda! – disse, batendo na porta e grunhindo ao sentir a mão doer.

Morava um tanto longe dali, não tinha ideia de como voltaria. Foi andando até o ponto de ônibus do colégio e se sentou lá, tentando falar com Billie... Talvez ele largasse as piranhas dele e pelo menos desse uma carona para ela... Mas, como se não fosse azar o suficiente, o celular descarregou antes que ela pudesse enviar a mensagem.
Sophie deu um gritinho de frustração e apoiou os cotovelos nas coxas, fazendo das mãos um apoio para seu rosto frustrado.

Se Sophie parecia estar com a cabeça longe, em aula, agora, sentada naquele ponto de ônibus escuro, parecia estar em outro mundo. Seu corpo estava levemente encolhido pelo frio que começara a fazer e os olhos estavam um tanto marejados, devido às lágrimas que escorriam.

A jovem olhava para a tela do celular descarregado como se, magicamente, ele pudesse voltar a funcionar. A cabeça estava longe, pensando no que havia visto e tentando encontrar alguma desculpa que fizesse sentido em sua mente... Afinal, no outro dia, teria de estar com um belo sorriso no rosto.

“Qual é mesmo o sentido disso tudo?”, pensou, percebendo o quanto sua vida não fazia sentido. “Não pensa nisso, Sophie. Falta só mais esse ano...”.

Quando o carro parou na frente do ponto de ônibus, ela arregalou os olhos, com um pouco de medo. Não conhecia aquele carro... E estava sozinha ali. Ela estava pronta pra começar a gritar quando percebeu que o motorista era o professor da aula de reforço.

Ficou aliviada e envergonhada ao mesmo tempo.

Deu um pequeno sorriso com o que ele disse, sentindo as bochechas esquentarem de vergonha.

- Acabou... Desculpa ter saído da aula assim – ela suspirou, sabendo que não havia feito certo... Amores adolescentes fazem você fazer besteira – Eu moro um pouco longe... Mas... Se o senhor puder me dar carona. Eu meio que... – olhou na direção do vestiário – Meio que fiquei sem carona...

- Obrigada - ela agradeceu, enfiando o celular no bolso, ao se levantar, e andando em direção ao carro do professor. Era uma jovem bonita e tinha feições mais maduras que as meninas da sua idade. O corpo já estava bem formado e os seios, medianos, apontavam levemente em decorrência do frio e da camiseta fina que usava.

Sophie entrou no carro,colocando o cinto sem olhar para o professor. Estava envergonhada por toda aquela situação e Louis... Bem, ele tinha uma presença com a qual ela não estava acostumada... Uma presença que poderia tirar o ar.

Quando ele mencionou o carregador, Sophie agradeceu e o fez, verificando em seguida as mensagens. Sua mãe havia instruído ela a passar a noite na casa do namorado, pois havia acontecido um acidente terrível na ponte que levava até a sua casa e seria perigoso a menina passar por lá. Era estranho como a mãe confiava em Billie... Mesmo sendo tão protetora.

Suspirou.
-Mr. Louis? Não tem como voltar pra minha casa, a ponte tá interditada - ela avisou, estavam no meio do caminho. - O senhor pode me levar até a casa do Billie? - perguntou, soando extremamente desgostosa de ter de ir para lá, naquele momento.

A jovem se surpreende com o que o professor diz, não sabendo se era uma boa ideia... Não conhecia ele afinal. Mas... Ele foi tão assertivo quanto ao assunto que ela não pôde dizer não.

Afinal, era melhor lá que na casa do namorado.

-Tá bem, obrigada - ela sorriu meio sem jeito, mandando a mensagem para a mãe, que parecia ficar tranquila de ela ter um lugar seguro para dormir.

Sophie ajeitou a roupa antes de apoiar os pés descalços no banco, um tanto cansada por aquele dia. Não demoraria para adormecer.


Quando chegaram lá, ela só resmungou qualquer coisa quando o carro parou, abrindo levemente os olhos sonolento, mas logo os fechando novamente.

Louis Smith

Is it worth the risk?

Só o fato de ter a garota sentada alí perto dele era bem perturbador. Se não tivesse um auto controle muito bom já teria engolido a jovem por inteiro, mas com o passar dos anos o seu controle foi melhorando cada vez mais.

-Fique a vontade... – disse ele dando mais espaço para ela no sofá, apesar de ela preferir se sentar grudada nele.

Estavam assistindo um bom filme e ficou feliz em poder explicar certas coisas que parecia que deixava a garota em dúvida sobe a história. Louis gostava muito desse tipo de filme, ainda mais quando tinha momentos saudosistas com sua própria história.

“E se esses tempos pudessem voltar?” – pensava ele caladinho e ficava levemente perdido nos pensamentos enquanto observava o filme. Klaus se espreguiça gostosamente e pula no colo do dono fazendo com que Louis tomasse um leve susto, já que seu gato maine coon era relativamente pesadinho.

Klaus olhou mais uma vez para a garota do colo do dono, aproximou o seu focinho dela para cheira-la curioso e se ajeitou no colo do vampiro. Tinha um instinto protetor e egoísta com Louis, pois toda sua linhagem havia sido propriedade dele e ele, não seria por menos. Ainda era meio infantil e temperamental as vezes, mas algum dia teria que arrumar uma bela gata para ter filhotes que continuariam a cuidar de Louis...