A cidade de Whittier era bem diferente do que ela se lembrava, parecia menor, embora sempre tivesse sido uma cidadezinha minúscula. A população correu para ver o incêndio, muitos deles ex-vizinhos dos Bones.
Carlos Amaruq, aquele faxineiro que a salvara, e que depois ela viera a descobrir que não era apenas um faxineiro, insisitiu que tinham de sair de lá rápido, e enrolou-a em cobertores para protegê-la do frio e também a sua identidade. Eles tinham entrado no carro dele, ele a deixara ir no banco da frente, e rapidamente o veículo deixou a cidade pela W Camp Road. Na estrada à beira-mar, eles passaram por um caminhão dos bombeiros de outra cidade que vinha de sirenes ligadas em direção a Whittier.
O homem velho e ruivo que se apresentara como Carlos Amaruq ganhara a confiança dela, mas Madelyn sabia e entendia perfeitamente o que estava acontecendo: eles estavam fugindo. Carlos ateara fogo no laboratório para encobrir o massacre que ela, inadvertidamente, causara. Ele era bom em contar histórias e foi lhe contando tudo sobre os garous, Gaia, a guerra contra a Wyrm, e todas essas coisas. Ele era muito simpático e animado, embora parecesse estar meio bêbado quase o tempo todo. Carlos também era um bom ouvinte, e gostava de quando Madelyn se expressava.
- Carlos Amaruq:
Quando passaram pelo aeroporto de Whittier, Amaruq ficou um pouco mais calado, parecendo concentrado, olhando para todos os lados como se procurasse algo. Ele ficou tão quieto que Madelyn teve a impressão de escutar o espírito da velha minivan falando com ela com sua voz rouca de motor.
Não houve problemas no aeroporto, e eles pegaram a Portage Glacier Road, e Madelyn ficou embevecida pelas belas paisagens da região, uma grande mistura de água, árvores e neve, como só o Alaska possuía.
Eles seguiram por ela até chegarem à grande Seward Highway, a rua mais barulhenta que Madelyn já vira, mas Carlos corrigiu-a, explicando que aquilo era uma rodovia, nomeada em homenagem ao Secretário Geral americano que comprara o Alaska da Rússia. Os carros passavam em grande velocidade nas duas direções. Por ela, eles chegaram ao Centro de Conservação da Vida Selvagem do Alaska, onde Amaruq falou com algumas pessoas que parecia já conhecer. Elas providenciaram uma refeição quente, a primeira que Madelyn tinha desde o incidente no laboratório (os lanches de estrada não contavam como refeição na opinião de Madelyn e Carlos concordava), e também uma cama para que ela pudesse dormir um pouco. Carlos ficou bastante tempo no telefone, conversando e argumentando, mas Madelyn estava cansada demais para entender as palavras ditas.
Na manhã seguinte, com o carro abastecido, eles seguiram viagem rumo ao norte. Carlos explicou que Madelyn não podia ser uma fianna por não ter sangue da tribo. Então ele a levaria para conhecer os Wendigo, de quem provavelmente era parente.
Eles continuaram na Seward Highway por bastante tempo, até chegar a um lugar chamado Girdwood, onde Carlos abasteceu o tanque do carro (cujo espírito chegou a ronronar ao ser alimentado), e comprou mais daqueles snacks de viagem vagabundos.
Apesar de ser quase meio-dia, ele preferiu voltar à estrada, e rodaram por mais algum tempo. Ao final da tarde, eles chegaram a Bird Creek, que parecia ser uma pequena cidade construída no final de uma ferrovia. Carlos explicou que eles estavam na região de Kongiganak, estacionou o carro e levou Madelyn para jantar numa lanchonete, e essa foi a segunda refeição dela com ele (nem se comparava à primeira mas era bem melhor que aqueles snacks).
Depois do jantar, ele a deixou dormindo no carro e saiu para investigar alguma coisa. Ele voltou algumas horas depois, acompanhado de três homens que pareciam vir das Primeiras Nações (como se chamavam os índios atualmente no Canadá e Alaska); eles quiseram dar uma olhada de perto em Madelyn, mas não disseram nada. Após um minuto sendo observada de perto por eles, os três homens viraram as costas para ela e se afastaram com Carlos.
Quando Amaruq voltou, ele tinha os olhos vermelhos e anunciou que iam dormir no carro mesmo. Ele ajudou Madelyn a se acomodar no banco de trás com um cobertor, mas ele mesmo não foi dormir tão cedo. Em vez disso, ele abriu uma garrafa de uísque e entornou-o pelo gargalo, bebendo durante bastante tempo, até que Madelyn adormeceu.
Na manhã seguinte, Madelyn acordou antes de Carlos, e ele ainda estava dormindo, babando, e a garrafa de uísque estava vazia, caída perto dele. Ele acordou com os olhos muito vermelhos e levou-a pra tomar o desjejum. ele se esforçava para disfarçar e parecer animado, mas Madelyn percebeu que ele estava estranho. Ele acabou comentando:
- Bom, você não será uma wendigo, afinal de contas! Mas isso é uma coisa boa, sabe? Esses caras vivem andando no gelo, deve ser horrível...
Carlos explicou que estavam perto de Anchorage, e lá eles se encontrariam com algumas pessoas, "gente mais legal e simpática que esses wendigos!", como ele disse.
Eles voltaram para a rodovia e em pouco mais de meia hora, estavam entrando na maior cidade que Madelyn já vira na vida, Anchorage.
- Anchorage:
Naquela grande cidade, a capital do Alaska, Carlos levou Madelyn para conhecer sua primeira seita, a Seita de Lake Dog. O caern deles ficava no distrito universitário, ao redor do University Lake, e era gerenciado pelos Roedores de Ossos, mas aberto a todas as tribos, conforme Carlos explicou.
A sensação de estar num caern pela primeira vez, tão mais perto do mundo espiritual, foi incrível para Olha da Lua. Havia muitos espíritos ali, mas ela não entendia o que eles diziam, e suas interações eram muito mais instintivas do que racionais.
Ali, Madelyn percebeu que Carlos estava se esforçando para que alguma tribo adotasse Madelyn e a aceitase como parte da Nação Garou.
A primeira opção dele, os Andarilhos do Asfalto, consideraram que ela era caipira e esquisita demais para fazer parte da tribo. Um Uktena se interessou por ela, mas Carlos negou a oferta dele, bem como a dos Roedores de Ossos, explicando que aquelas tribos não eram adequadas para ela. Havia um Senhor das Sombras, mas ele nem sequer olhou duas vezes para Madelyn, desprezando-a totalmente.
Ficando sem opções, Carlos aceitou quando Paz Invernal, uma theurge dos Filhos de Gaia, propôs aceitar Olho da Lua como parte da tribo.
- Paz Invernal:
Christine Foster (o nome humano de Paz Invernal) era uma métis, uma impura, filha de dois garous, o que Madelyn já aprendera que era proibido pela Litania, a lei dos garous. Apesar de parecer visualmente saudável, ela explicou que às vezes tinha crises convulsivas graves. Mesmo assim, era a pessoa mais doce e amigável que Madelyn já conhecera, até mais do que Carlos.
Por algum motivo, ela e os outros garous chamavam Carlos de Charles, ou então pelo seu nome garou, Arauto das Fadas.
Paz Invernal ensinou tudo que Madelyn precisava saber e Carlos não podia ensinar: dons, rituais, como lutar defensivamente, o papel dela como theurge e toda a filosofia dos Filhos de Gaia como tribo.
O Rito de Passagem que Paz Invernal impôs a Madelyn foi retomar sua identidade humana. Isso exigiu que ela esclarecesse para as autoridades humanas que estava viva e sobrevivera após o incêndio que matou seus pais. O processo foi um pouco demorado, mas em menos de três meses, Madelyn conseguiu ser reconhecida como única herdeira de seus pais.
Após seu sucesso no Ritual de Passagem, Olho da Lua ganhou de Paz Invernal seu Bastão do Peregrino, um fetiche apropriado para a viajante que ela se tornara na companhia do Arauto das Fadas.
Olho da Lua ainda não falava a língua dos espíritos, mas Paz Invernal já tinha mostrado como aprender o dom. Ela e Carlos (Charles) abrigavam Madelyn perto do território da seita.
Certa noite, Madelyn dormia e teve um sonho. Ela sabia que estava sonhando, mas a sensação era bastante real. Ela se via em meio a uma terrível escuridão, mais negra do que qualquer noite. Repentinamente, um enorme pássaro de fogo flamejou acima dela, piando ensurdecedoramente. Abaixo dela, vultos sombrios de lobos corriam na direção dela. Ela reconheceu um desses lobos: era ela mesma, mas na forma lupina.
E então Madelyn acordou.