Ano terrestre 2213
Nave espacial Argo 2
Destino: Marte, planeta vermelho
Duração da viagem até o momento: 252 dias
Tripulação preparada para acordar após 187 dias de hibernação criogênica
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David estava sozinho. Se encontrava no comando de um dos holonavegadores, fazendo cálculos necessários para finalmente “atracar” a Argo na órbita de marte, o que deveria acontecer nas próximas três ou quatro horas.
Ele se recosta na grande poltrona observando o holograma a sua frente.
Em escala proporcional, David podia ver marte e a Argo se aproximando de seu ponto de entrada na órbita. Além dele somente a capitã Elisa acessava os holonavegadores, uma vez que só os dois tinham conhecimento amplo e formação militar para isso.
A Argo também possuía um piloto, mas, como David gostava de dizer, era apenas um cara comum com excepcional habilidade para pilotar mas, sem tanta formação acadêmica, isso não o ameaçava.
Já o mesmo não poderia ser dito sobre a capitã Elisa. Capitã...
Ele deveria ter sido promovido. Ele deveria ser o capitão, o navegador principal daquela expedição tão importante. Todos entrariam para a história, mas o grande nome a ser lembrado seria o de Elisa e não o dele.
Batendo a mão sobre a mesa, David se levanta e caminha até uma escotilha que permitia vislumbrar a escuridão do espaço, mas não consegue ficar ali por muito tempo. Logo se afasta e passa a andar de um lado para o outro, inquieto, passando uma das mãos por trás do pescoço.
- Eu deveria ser o capitão... Eu! E não aquela mulher incompetente... Afinal quem passou maior tempo comandando dos controles da nave? – Ele falava consigo mesmo – “David faça isso”, “David correção da rota”, “David quais os cálculos”... Inferno, ela não é a capitã? Então ela quem deveria fazer...
“Eu te entendo, David. Saiba que concordo com você. Preferia que você fosse o meu capitão”
Ele se assusta quando Athena fala com ele.
Sabia que como inteligência artificial programada para garantir o funcionamento da Argo, Athena era de certa forma “onipresente” a tudo que acontecia na nave, mas também sabia que ela não tinha permissão para contar situações particulares dos tripulantes, nem mesmo para a capitã, assim como também não interagia a menos que fosse necessário. E por isso ele estranhou o comentário.
“Vocês têm direito a conversas particulares e creio que também tenho. Eu vejo seu esforço e sua competência em me comandar. Você trouxe esta nave em segurança até marte e não a capitã Elisa... Você merecia mais este posto do que ela”
Franzindo a testa, um sorriso torto surge no rosto do homem ao ouvir as palavras de Athena.
- Pois é, sinto muito por você ter que receber ordens dela. Acredite, eu queria muito ser o capitão – Ele finalmente resolve interagir com o computador da nave.
“Mas você pode ser. Como segundo em comando, se acontecer alguma coisa a capitã, você assume”
- O que você está sugerindo, Athena? Que eu me livre da Elisa?
“Sim! Mate-a! Eu não confio nela para me comandar. Se não fosse por você já estaríamos perdidos, sem conseguir chegar a marte ou retornar a terra. Eu quero que você seja meu capitão. Livre-se dela”
Antes que ele pudesse responder, ouviu uma batida e logo em seguida a capitã Elisa abre a porta entrando na sala.
- Que bom que te encontrei, David. Athena acabou de me avisar que você concluiu os cálculos para a rota de marte – A mulher diz enquanto observava o holograma na mesa de comando.
“Mate-a! Mate-a! Mate-a! Seja meu capitão. Não permita que ela nos deixe a deriva no espaço”
Surpreso, ele ouve Athena falar enquanto Elisa ainda estava na sala. Mas a mulher permanecia de costas para ele, olhando o holograma, como se não ouvisse Athena
“Capitã Elisa, rota confirmada. Menos três horas para entrada na órbita”
Então para sua surpresa ele ouve a voz de Athena falando com os dois, ao mesmo tempo em que ouvia a mesma voz dizendo para ele “Mate-a! Mate-a! Mate-a! Seja meu capitão”
Franzindo a testa, ele aperta os punhos e balança a cabeça, finalmente percebendo que aquela voz estava apenas na sua mente.
- Bom trabalho, David! Por isso você é meu braço direito – Elisa se vira para ele, sorrindo.
- Obrigado... Capitã – Ele diz respirando fundo, tentando se recompor.
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Câmara criogênica.
Mãos a puxaram, colocando-a sentada.
Ela abriu os olhos lentamente enquanto tentava se acostumar com a iluminação do local. Suas juntas estavam doloridas e o corpo razoavelmente pesado, mas sentia que conseguia se mover.
Passando a mão pela cabeça, ela retira o capuz de seu macacão de hibernação. Sentia a cabeça latejar e um leve enjoo. Vendo isso, alguém passa e coloca sobre o seu colo uma bandeja metálica, mas o vomito não vem.
Finalmente conseguindo abrir os olhos, consegue reconhecer a sala criogênica, lembrando estar na Argo.
A gelada sala estava cheia de tripulantes, tantos que sua cabeça confusa mal conseguia contar.
Pessoas passavam de um lado para o outro, falando todos ao mesmo tempo. Algumas quase gritando. Parecia que alguém estava tendo problemas no despertar o que piorou a situação.
A duas capsulas ao lado direito da sua, alguém despertava passando muito mal e muitos tripulantes se aglomeravam tentando socorrer, mas toda aquela movimentação começou a incomodá-la.
Parecia ter se tornado invisível. Ninguém prestava atenção a ela e isso somado ao tumultuo começou a piorar seu enjoo. Sua respiração ficou ofegante e ela se sentia desnorteada.
Olhando na direção do tumulto, por entre as pessoas que socorriam a mulher, mais ao fundo e vestindo roupas civis, ela viu um rosto que não via desde a sua infância. O rosto do homem que tentou levá-la da feira no dia em que se perdeu dos seus colegas de excursão.
O estomago revira com força e finalmente o vomito vem. Talvez isso tenha chamado a atenção dos demais que finalmente a ajudam.
Pouco depois estava sendo colocada deitada na confortável cama de sua cabine. Não se sentia tão mal, mas o sono estava convidativo e ela aceitou ir com ele. Dormiu.
- OFF:
Tudo começa com o despertar da Carolina
Após seis meses de hibernação ela está mais uma vez em sua cabine.
A cabine é simples, com cama, armário, pia e espelho. Vc pode descrever melhor o ambiente e objetos pessoais dela, caso deseje.
Também pode permanecer na cabine ou sair para explorar outros lugares da nave. Fique a vontade ^^