As portas da loja se fechavam, era assim todo dia uma rotina interminável, os pais terem ido tão cedo, de uma vez só eram uma dor inexplicável e um vazio sem fim. Os sonhos e pesadelos mais fortes a casa dia, alguns nem faziam sentido.
Os cânions do deserto tão pertos, já havia corrido e saltado por eles dezenas de vezes, a lua grande e cheia no céu limpo, a noite clara como o dia… Ela tem certeza que alguma coisa passou na frente dela, um vulto grande e preto, mas tudo era preto na noite não era? O susto, o pé que não encontrava o chão mais, o fundo do cânion, ossos se partindo, cheiro do próprio sangue, tinha acabado, alguém aparece na parte superior do cânion e fala alguma coisa, mas ela já não responde mais, tudo que resta é uma fúria crescente a última palavra que ela consegue entender é - Fudeu! - e o resto vira perseguição, veloz e insana. A coisa na frente dela tem cheiro, tem forma, mas tudo que ela vê é um vulto, e cada vez que ela corre mais o vulto se distancia, ela vê uma fogueira ao longe, vozes humanas tem certeza, mas longe demais e indignos demais para virarem uma refeição, ela quer aquilo que corre, que corre mais do que ela rumando deserto adentro, até tudo virar escuridão.
O corpo gelado, a roupa em pedaços, nua debaixo da manta do lado de uma fogueira, ainda assim é frio, sobre a fogueira uma lebre do deserto praticamente assada, índio sentado do lado dela olhando pra cima com os olhos marejados - Foi lindo… - ele disse cheio de emoção como se tivesse assistido a estréia do Titanic.
Ele conta dos Rahulunim dançando sobre ela, entalhando a marca da pureza na carne e espírito, a canção do juramento, ele fala sobre muitas coisas do mundo dos lobos, ele fala o que ela é, mas não fala nada dele.
Pegar a estrada enrolada só numa manta sobre uma moto é terrível, mesmo com o sol batendo nas costas continua frio de doer os ossos…
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Catalina surta todas as vezes que vê ela pela garagem, dá ver ela passando xingando vários nomes em espanhol e mesmo que ela não domine a língua ela entende todos os xingamentos, mas era Willy que dava as respostas, alguma coisas sobre jovens urathas serem mau agouro, dos Cahaliths estarem pirando com a lua gritando no ouvido deles.
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O teste era simples, bancar o churrasco da galera toda, sem usar um tostão de grana… Foi uma merda derrubar um poste e deixar o açougueiro o dia todo sem energia e a carne perigar de estragar pra lançar a desculpa de que era um churrasco beneficente, mas ela tinha trazido uma perna de boi inteira pra alcateia… A navalha desenhando o símbolo na carne e no espírito é pura dor de chegar a revirar os sentidos.
Eles nunca aceitaram Mercedez, Catalina era contra demais, surtada demais pra aceitar e Willy preferiu ter menos problemas, ainda assim Caminha-Na-Sombra te deu um presente - Imaculada. - ele disse - Imaculada a uratha que passou pela mudança sem conhecer sangue, nem o dela mesma. - ele assustava quando queria, mas era até que poético... Imaculada era seu nome, cheio de significado e sentimento na primeira língua.
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Happy hour no Saloon, tá todo mundo te esperando. Nina, não era a primeira vez que ela te chamava, mas tinha tempo que não chamava, tinha tempo que o pessoal das lojas e do mercado não faziam aquilo também.
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