Os estivadores estavam todos trabalhando e a maioria tinha muita camaradagem com Alice. Muitos vinham de áreas pobres e precisavam da grana, então havia um certo sentimento de companheirismo no ar, apesar de brigas não serem incomuns... obviamente, nunca com a mutante, pois as pessoas tinham juízo.
Alice normalmente trabalhava com roupas largas, a pedido do chefe daquela região do porto. Isso porquê era notório que a beleza da mulher demônio chamava muito atenção e ela era praticamente a única mulher no local. O homem quase não a contratou, até ver do que ela era capaz... ele poderia economizar 20 homens com a força dela e até mesmo poupar as gruas de vez em quando. Era muito mais rápido quando ela subia carregando do que ter que amarrar tudo e arriscar que o guindaste derrubasse.
Ainda sim, ela já estava acostumada com as "cantadas de pedreiro" que levava de vez em quando. Especialmente Fred, um estivador negro de 24 anos que vivia dizendo que iria casar com ela e ter filhos vermelhos e chifrudos. Até flores ele já havia mandado, numa espécie de amor platônico, que servia mais para que os outros o chacoteassem, dizendo que ela o quebraria em vinte na Lua de Mel. Apesar de tudo, todos adoravam ele, por ser o mais novo da turma... estava sempre animado, sempre tinha as melhores piadas e sempre gastava parte da sua grana com comida ou bebida para alegrar os amigos nos plantões.
A grande maioria dos rapazes ali tratavam inclusive ela como um camarada... como um deles. Nenhum tratava ela com mais delicadeza ou como se fosse frágil, mas mesmo assim, a protegiam, mesmo que ela não precisasse. Não gostavam que outros de fora mexessem com "a vermelhinha" - como era conhecida. Eles chamavam-na para beber e até tentavam fazê-la participar das apostas de baseball e futebol. De fato, ela não tinha razões para não se sentir acolhida naquele local.
Mas foi naquela noite que uma coisa estranha começou a acontecer...
Um navio cargueiro, cheio de containers chegou ao porto naquela noite quente. Porém, ele não parou... estava devagar e só parou quando sua lateral bateu no cais, fazendo os homens correrem, gritando para terem cuidado.
Alice estava dormindo no alojamento, pois era sua noite de plantão no local. Foi quando ela acordou de supetão com um dos colegas sacudindo-a.
Colega: Alice! vermelha, acorda!
Ela acordou de supetão, sem entender o que era.
Colega: Vem! Você precisa vir! É... é o Freddie!
Alice se vestiu e saiu as pressas com o colega. Ela viu o barco meio que "ancorado" no píer.... mais encostado que ancorado, na verdade... estavam todos os amigos em volta de algo no chão, reunidos. Quando ela foi se aproximando, podia ver que os estivadores estavam todos com os capacetes nas mãos, como que em respeito. Havia um tom de tristeza no ar... Um dos colegas estava ajoelhado no chão e com Fred deitado em seus joelhos. Alguns choravam, outros tinham a mão na boca, pasmos...
Fred estava pálido, apesar da pele negra... Havia muito sangue... Seu braço direito havia sido arrancado, na carne. Não havia sido cortado.... Havia sido arrancado, em pu puxão.
Ele abriu os olhos com dificuldade e quando viu Alice, esforçou-se pra dar um sorriso.
Fred: Vermelhinha... Acho que não vai rolar.... nosso casório. Hehehe...
Colega: Fica calado, Freddie. O socorro já tá vindo.
Mas Fred não aguentou... Os olhos fecharam pela falta de sangue e a cabeça pendeu pro lado. Alguns choravam, outros se perguntavam o que aconteceu...
Chefe: A polícia já está a caminho... Tem algo naquele navio. Algo que matou Fred Hoskins...