Somewhere in Toronto
Os pés embora descalços não pareciam sentir a neve congelante que os tocava, sequer arrepios ou o tecido humano queimando a cada passo. Muito menos a brisa da recém chegada noite, com o frio absurdo que era característico do inverno contrastando o céu negro e límpido com a neve bruta e acomodada no solo em que você caminhava. Você não sentia nada.
Olhava aquela casa, que tinha certeza que nunca havia visto mas era tão familiar para você, conhecia cada metro cúbico daquele lugar, sabia onde o piso de tábuas grossas rangia e onde pisar para que o som não pudesse ser ouvido, conhecia também o lugar que a chave reserva ficava e era lá que sua mão procurava, entre os tijolos em meio a neve. A chave já velha e enferrujada em sua mão, ainda continham os segredos necessários para abrir a pesada porta de carvalho que guardava aquela residência.
Você instintivamente tentava tirar os calçados ao entrar na casa, mas não os usava mais, podia ouvir uma chaleira no fogo mais ao longe e o som da conversa de duas pessoas enquanto uma pequena criança parecia cantarolar alguma música canção que passava na TV a muito tempo. Sentia que no seu inconsciente acompanhava a melodia como se a conhecesse a muito tempo, embora não soubesse de onde e nem o nome ou época que havia ouvido.
Ao se aproximar, podia ver uma mulher mais velha de cabelos ruivos, chorava enquanto bordava algo em uma toalha de criança na cor azul anil. Estava sentada em uma cadeira de balanço rudimentar, mas que movimentava-se vagarosamente, ela vez ou outra olhava para a criança que cantarolava enquanto fazia desenhos no vidro da janela com o hálito quente no vidro gelado, gerando aquele embaçamento repentino.
A criança estava de pés descalços, mas não parecia sentir frio, provavelmente porque o fogão era abastecido com lenha e isso criava uma calefação natural para afastar o frio congelante da rua. Usava roupas muito simples, seu cabelo assim como da mulher mais velha, era de um tom ruivo muito claro, não deveria ter mais que cinco anos de idade e em sua camiseta estavam estampados os Duck Tales.
Assim que chegou perto, seu campo de visão se ampliou e pôde ver toda o resto da humilde sala, em frente a lareira estava de pé uma mulher muito bela, com olhos azuis profundos e longos cabelos cor de fogo, diferente das demais, ela havia parecido notar sua chegada com um breve olhar, mas retornou os olhos para a mulher mais velha sentada na cadeira. A passos lentos que pareciam levar séculos, ela se aproximou da mulher sentada, uma lágrima de sangue escorreu em sua face e ela mencionou palavras com muito pesar enquanto olhava para a criança na janela:
- Sophie, chegou a hora, me desculpe.
Em um movimento que você não conseguiu acompanhar, a mulher mordeu a senhora no pescoço. Então tudo começou a girar para você em um ritmo acelerado, finalmente começou a sentir algo e era um embrulho não muito comum no estômago, olhava para si própria e também estava suja de sangue. O som gorgolejante que a pessoa emitia ao dar os últimos suspiros engolfados em sangue só não era mais incômodo que o da menina gritando ao ver toda aquela cena de assassinato brutal. Tudo girava enquanto a ruiva olhava para você e uma segunda lágrima descia, seus olhos não conseguiam mais enxergar o que acontecia, apenas o choro da criança silenciando-se e no último momento pôde ver a toalha rosa no chão, em letra azuis de forma escrito: "CHARLOTE"
Olhava aquela casa, que tinha certeza que nunca havia visto mas era tão familiar para você, conhecia cada metro cúbico daquele lugar, sabia onde o piso de tábuas grossas rangia e onde pisar para que o som não pudesse ser ouvido, conhecia também o lugar que a chave reserva ficava e era lá que sua mão procurava, entre os tijolos em meio a neve. A chave já velha e enferrujada em sua mão, ainda continham os segredos necessários para abrir a pesada porta de carvalho que guardava aquela residência.
Você instintivamente tentava tirar os calçados ao entrar na casa, mas não os usava mais, podia ouvir uma chaleira no fogo mais ao longe e o som da conversa de duas pessoas enquanto uma pequena criança parecia cantarolar alguma música canção que passava na TV a muito tempo. Sentia que no seu inconsciente acompanhava a melodia como se a conhecesse a muito tempo, embora não soubesse de onde e nem o nome ou época que havia ouvido.
Ao se aproximar, podia ver uma mulher mais velha de cabelos ruivos, chorava enquanto bordava algo em uma toalha de criança na cor azul anil. Estava sentada em uma cadeira de balanço rudimentar, mas que movimentava-se vagarosamente, ela vez ou outra olhava para a criança que cantarolava enquanto fazia desenhos no vidro da janela com o hálito quente no vidro gelado, gerando aquele embaçamento repentino.
A criança estava de pés descalços, mas não parecia sentir frio, provavelmente porque o fogão era abastecido com lenha e isso criava uma calefação natural para afastar o frio congelante da rua. Usava roupas muito simples, seu cabelo assim como da mulher mais velha, era de um tom ruivo muito claro, não deveria ter mais que cinco anos de idade e em sua camiseta estavam estampados os Duck Tales.
Assim que chegou perto, seu campo de visão se ampliou e pôde ver toda o resto da humilde sala, em frente a lareira estava de pé uma mulher muito bela, com olhos azuis profundos e longos cabelos cor de fogo, diferente das demais, ela havia parecido notar sua chegada com um breve olhar, mas retornou os olhos para a mulher mais velha sentada na cadeira. A passos lentos que pareciam levar séculos, ela se aproximou da mulher sentada, uma lágrima de sangue escorreu em sua face e ela mencionou palavras com muito pesar enquanto olhava para a criança na janela:
- Sophie, chegou a hora, me desculpe.
Em um movimento que você não conseguiu acompanhar, a mulher mordeu a senhora no pescoço. Então tudo começou a girar para você em um ritmo acelerado, finalmente começou a sentir algo e era um embrulho não muito comum no estômago, olhava para si própria e também estava suja de sangue. O som gorgolejante que a pessoa emitia ao dar os últimos suspiros engolfados em sangue só não era mais incômodo que o da menina gritando ao ver toda aquela cena de assassinato brutal. Tudo girava enquanto a ruiva olhava para você e uma segunda lágrima descia, seus olhos não conseguiam mais enxergar o que acontecia, apenas o choro da criança silenciando-se e no último momento pôde ver a toalha rosa no chão, em letra azuis de forma escrito: "CHARLOTE"
- Mulher mais Velha:
- Mulher mais Jovem:
O som de seu telefone tocando repetidamente lhe tirava daquele pesadelo, você sentia que todas as cobertas estavam molhadas do seu suor. Como todos os cainitas, você suava sangue e aquilo seria algo dificil de passar despercebido na lavanderia do prédio em que morava.
Sentava-se na cama observando as luminárias com tom mórbidos naquele espaço amplo que Hector havia tido a boa fé de lhe arranjar, não que não fosse no mesmo quarteirão do refúgio dele, mas ter você por perto e sob a visão afiada do mesmo era sempre o objetivo desde o seu Abraço.
O som de gatos brigando em cima dos telhados vizinhos em meio a neve fazia com que você soubesse que não estava mais sonhando, sentia dor nas palmas das mãos causadas por você mesma com as próprias unhas de tanto apertar a mão em sofrimento com a cena no mínimo estranha que havia presenciado.
Seu telefone parou de tocar por alguns instantes, mas sem seguida o som de dois bipes significavam uma mensagem. Esticou a mão para pegar o telefone, então percebeu que estava trêmula, mas sentia-se bem alimentada, então era um provável nervosismo ou ansiedade, coisa que pensava que não teria nunca mais uma vez que estava morta.
Sentava-se na cama observando as luminárias com tom mórbidos naquele espaço amplo que Hector havia tido a boa fé de lhe arranjar, não que não fosse no mesmo quarteirão do refúgio dele, mas ter você por perto e sob a visão afiada do mesmo era sempre o objetivo desde o seu Abraço.
O som de gatos brigando em cima dos telhados vizinhos em meio a neve fazia com que você soubesse que não estava mais sonhando, sentia dor nas palmas das mãos causadas por você mesma com as próprias unhas de tanto apertar a mão em sofrimento com a cena no mínimo estranha que havia presenciado.
Seu telefone parou de tocar por alguns instantes, mas sem seguida o som de dois bipes significavam uma mensagem. Esticou a mão para pegar o telefone, então percebeu que estava trêmula, mas sentia-se bem alimentada, então era um provável nervosismo ou ansiedade, coisa que pensava que não teria nunca mais uma vez que estava morta.