Remy ergueu o braço e bateu na palma da mão da colega de posto.
- Acho que podemos aprender muito hoje, com todos esses irmãos mais experientes. Diria que estamos em uma situação privilegiada, Esperança de Paz - Disse, correspondendo o sorriso.
O sorriso de Erika Esperança-de-Paz tornou-se travesso enquanto ela dizia:
- Se alguém aqui estiver disposto a ensinar alguma coisa, eu estou dentro! - Você tem razão, Estrela Dançarina. E com a firmeza que demonstra ter, tenho certeza que o posto de Adren não demorara a chegar.
- Meu plano atual é ouvir da Voz da Deusa o motivo da convocação e ajustar meus passos diante do que nos for apresentado - Respondeu com a voz tranquila.
Elena gesticulou com a cabeça ao dizer:
- Haverá espaço para todos falarem o que quiserem, e você poderá expôr suas opiniões também. Afinal, não somos presas de prata ou coisa parecida...Não demorou quase nada para que mais uma dúzia de garous chegasse, e Remy soube que aqueles só poderiam ser os Filhos de Gaia de Fern, do protetorado Ninho da Coroa.
Não houve muito tempo para apresentações e cumprimentos antes que Kakeka anunciasse:
- Sejam bem-vindos, irmãos! Dêem as mãos e vamos transpôr a Película!Dezenas de Filhos de Gaia deram as mãos, incluindo Remy, e num piscar de olhos eles se encontraram na Umbra, numa paisagem bastante semelhante à do mundo material, mas com alguns espíritos despertos das árvores olhando-os curiosamente.
Sentados em roda, alguns na forma hominídea e outros na lupina, os Filhos de Gaia se prepararam para iniciar a assembleia.
O uivo de abertura foi feito por Grail Nobre Domador, de modo belo, rápido e objetivo.
Uma theurge de cerca de cinquenta anos, aparentemente das Primeiras Nações canadenses, fez a evocação dos espíritos, convocando o Unicórnio, o Pai-Mulo, e vários outros totens da tribo. A presença deles foi sentida ao redor da roda, e um unicórnio branco postou-se no meio deles, escutando o que falavam.
Começou então a Quebra do Osso, a discussão dos assuntos importantes.
Nelson Chang, o Justo Conselheiro, apresentou a questão mais premente:
- A Nação Garou rachou em Vancouver. Os Presas de Prata se dividiram em duas facções, e as outras tribos escolheram lados. O cerne da questão é o antigo pacto de convivência pacífica com os vampiros da cidade, defendido pelos mais velhos e criticado pelos mais novos da tribo dos Presas de Prata. Houve várias reuniões entre os dois lados e algumas acabaram em rompantes de violência. Os mais novos disseram que vão começar a atacar os vampiros, e os mais velhos ameaçaram atacar quem fizer isso. Nós tentamos mediar um acordo, mas foi impossível. Com essa guerra iminente, decidimos convocar essa assembleia emergencial para definir um posicionamento conjunto da nossa tribo na Colúmbia Britânica.A discussão entre os Filhos de Gaia começou, e embora o respeito nas palavras de cada um fosse uma constante (sempre que alguém se exaltava, era repreendido pelos demais), as opiniões divergiam. Após mais de uma hora de argumentos de todos os lados, parecia claro que a matilha dos Filhos do Pai-Mulo advogavam um extermínio completo de qualquer sanguessuga na região de Vancouver, no que eram apoiados por quase todo o protetorado de Fern, enquanto o protetorado de Pentiction defendia conter os violadores do pacto do modo mais brando possível até que se pudesse negociar uma unidade entre todos os garous.
Dos garous que Remy conhecera, o primeiro a expôr uma opinião foi Andrew Glorioso-Defensor:
- Esta é uma guerra que nem todos os garous da Colúmbia Britânica poderiam vencer juntos, quanto mais divididos em facções. Os sanguessugas têm respeitado o pacto nas últimas décadas e isso permitiu que nós mantivéssemos a paz na cidade de Vancouver e nas áreas selvagens da província. Seria tolice acreditar que poderíamos quebrar o acordo impunemente.A Estrela Dançarina, Emma Meyers, acrescentou:
- Esse pacto foi criado para evitar que as indústrias madeireiras de Vancouver, controladas pelos vampiros, continuassem a devastar nossas florestas sem nenhum controle. O acordo permitiu que as políticas de reflorestamento e controle da ocupação humana do solo surtissem efeito, além de evitar a criação de novos vampiros dentre a população local, dando segurança aos nossos Parentes humanos. A contrapartida para isso não foi tão pesada; os vampiros só esperam que nós não matemos nenhum deles e não ajamos dentro dos limites da cidade. O acordo é benéfico, e mesmo que possa ser aprimorado, eu acho que ele deve ser mantido. Julie Miranda, a Bruxa Alvirrubra, expressou sua opinião:
- O Grande Caern de Vancouver está perigosamente cercado pela cidade e isso põe em risco sua segurança. O acordo dos vampiros e o pacto garou impõe que todas as tribos têm acesso a ele, mas na prática os olhos humanos impedem que realizemos todos os rituais que são necessários ali. E mesmo que digam que todos os garous da cidade o protegem, não há uma seita organizada para defender corretamente o caern. Não sou a favor de simplesmente massacrar todos os sanguessugas, mas precisamos de mudanças urgentes para proteger o caern.Erica Hartman ponderou:
- Qual o caminho mais curto para a paz? Devíamos ver qual lado é mais forte, ajudá-lo a sobrepujar o outro e depois discutir internamente com eles a questão do pacto. O Dr. Derrick Mack, fazendo jus ao seu nome de Nobre Sábio, falou após todos:
- O que eles estão esquecendo é do mandamento da Litania que ordena Não levantar o Véu, ou seja, não revelar a presença dos garous para os humanos. Uma guerra contra os vampiros seria muito difícil de esconder, e entre dois exércitos de lobisomens seria ainda pior. Não há soluções simples para os problemas que todos vocês citaram, e precisamos fazer as outras tribos perceberem que precisamos respeitar a Litania a cada passo do caminho para construir uma resolução satisfatória para todos! O Braço da Deusa e a Voz da Deusa ainda não tinham se pronunciado, mas Remy sabia que assim que o fizessem, seria o encerramento da discussão. Se ele quisesse expressar algum pensamento, teria de fazer antes disso.