Um mundo melhor para poucos

Olive não demorou muito até chegar na entrada da loja de quadrinhos e se surpreendeu em ver justamente o Piralho olhando para a propaganda de uma robô de combate de visual feminino.

Ao que parecia os robôs estavam ficando cada vez mais populares.



Ele estava literalmente grudado no vidro e se preparava já para entrar na loja quando a viu chegando volto-se para ela reclamando.

—Ah, lá vem a Princesa...

Oliver estava ainda com seu celular a postos, vendo a cena ao estilo “The Office”, mas desta vez com super-heróis.

Andou mais alguns metros e qual foi a surpresa ao ver o Pirralho parado na frente de uma vitrine. Oliver, antes de cumprimentar o rapaz, olhou para a vitrine e fez um comentário sarcástico típico:

- K-Sandra? Me diz que é só por causa dos combates que você tá olhando assim pra ela.

Oliver não esperou resposta:

- É por causa do combate, né?!

E ela olhou com os olhos estreitos para ele quando ele a chamou de Princesa:

- Você pode ir me chamando de Vossa Alteza. Princesa é muito informal.

Oliver aproximou-se da vitrine e olhou a modelo:

- Parece ser legalzinha.

Olhou o rapaz de novo:

- Tava aqui há muito tempo? Tava indo na loja de quadrinhos e..

Oliver pareceu lembrar-se do que estava vendo.

- Aliás, você chegou a ver qualquer coisa do Jimmy Kimmel? Um bando de supers tá lá agora, fazendo algazarra.

Ela falou com certa empolgação, que logo foi se perdendo:

- Acho que ninguém tá a fim de salvar o mundo mesmo. Nós meros mortais que nos viremos.

E suspirou:

- Quando vai ser a próxima rinha?

Parou na frente da vitrine:

- Vai comprar a K-Sandra? Eu posso dar um boost nela pra você.

E sorriu:

- Por um preço, quem sabe.

Oliver ficou pensando no que O Pirralho dissera:

-... Hmmm, é. Até que apareceu pouco doido, né.

E diante do comentário de Pirralho, ela só deu um meio sorriso enquanto observava as capas dos quadrinhos:

- Há-há! Desde quando pedi pra você fazer algo humilhante? Eu quero só que você complete meus deveres de casa, pra eu não chegar na droga da escola sem nada. Nem precisa ser tão bem feito. – deu os ombros. – Eu mudo as notas do sistema depois.

E suspirou:

- Só não dá pra não entregar nenhum trabalho, né. – estreitou os olhos e olhou para Pirralho. – Ah, e pagar minhas inscrições nas rinhas de robô. E também meus almoços. Minha mesada acabou. E você ainda tem um plus.

Ela estufou o peito e se apontou:

- Vai ser visto comigo, que sou linda!

Riu enquanto, de fato, prestava atenção nos quadrinhos agora.


Seu sorriso foi se perdendo enquanto olhava a capa que mostrava uma Enchantress desolada segurando o corpo de outra Enchantress. Oliver respirou fundo e lembrou-se do que lera na internet. A garota era uma pessoa cuidadosa e sempre verificava suas fontes. Aparentemente, o que diziam era real.

Onde há fumaça, há fogo. Vasculhou a internet atrás de notícias de garotas de programa desaparecidas. Teve até a ousadia de averiguar invadindo sistemas da polícia. Era decepcionante: essas pessoas não eram tratadas como, bem, pessoas e quase não se podia encontrar registros de garotas de programa desaparecidas.


E quanto dinheiro não deviam gastar para proteger a imagem dos Supers. Olhando os quadrinhos, Oliver começou a achar aquilo uma grande idiotice. Suspirou um tanto triste. Parecia que toda fantasia lhe era arrancada de uma vez pela vida.

Ainda perdida em pensamentos, jogou a pergunta prO Pirralho:

- Se você tivesse super poderes, você ajudaria? O que você acha desses caras?
 
Ergueu os olhos e viu o rapaz dirigindo-se até o caixa.

- Ei! Te fiz uma pergunta, droga!

Ela olhou de novo os quadrinhos e tentava lembrar-se de quais heróis eram, agora, os vilões que mataram a Enchantress. Pegou a edição e já estava correndo atrás do Pirralho quando parou e viu outro quadrinho, um pouco mais escondido, que chamou sua atenção:





Era um super pouco conhecido. Oliver estreitou os olhos.

"Alexander? Não conheço."

Era um rapaz bonito. Não se importaria de trombar com ele por aí. Ele era um ano mais velho que ela. Será que estudava por aí?

Ficou irritada com ela mesma, após ela ter um surto adolescente e pegar a revista para comprar. Qual era o mal em ter um crush em um super? Ela poderia. Não poderia...?

"Perda de tempo e dinheiro, Ollie! Ele deve ser um babaca".

Mas... Bem, ela levou a HQ.


De qualquer forma, chegou até o balcão com as duas edições e sorriu para O Pirralho.

- Pediu a boneca? Acho que eu vou querer uma também! Que acha de fazermos um time?

Oliver deu os ombros:

- Até porque eu acabaria com você se não fossemos.

Falou alto do balcão, para o atendente, que já ia na direção do estoque, ouvir:

- Aí, moço! Quero ver os modelos de bonecas também!

Oliver, por quase um segundo, ficou encarando de volta o atendente. Ficou um pouco confusa com o comportamento dele. Havia algo no rosto dela ou ele achava que ela ia sacar uma arma e assaltar a loja?

Arqueou uma sobrancelha e olhou para Pirralho, com um meio sorriso. Achara interessante a possibilidade de personalizar tanto assim uma boneca de luta.

- Hmmm! Legal! Deixa eu pensar....

E novamente, pulando de um pensamento a outro em uma velocidade alta, Oliver começou a folhear as páginas do “Aranha”. Gostou do colorido e do tipo de narrativa que ela possuía: algo às vezes lúdico, mas também, pé no chão quando era necessário. Achou que era quase uma obra de arte, afinal, saber misturar cores, diálogos e estruturas narrativas e design de páginas não era algo fácil. E aquela HQ estava realmente bem-feita. Era diferente.

“Anansi”. Conhecia por alto as lendas da região de Gana sobre o deus Aranha que tecia histórias através de suas teias e como ele astutamente escapava de situações. Também conhecia a história grega de Aracne. Ela deixou escapar um leve sorriso.

Estava perdida em pensamentos quando ouviu o gentil dono da loja a chamar de novo.

- Ah! – ela olhou para o Pirralho, sem jeito, e depois, para o homem. – Quero sim! Pode mandar imprimir!

Apontou o Pirralho com a cabeça:

- Ele vai pagar. Pode caprichar nas especificações! Hehehehe!

E lembrou-se da HQ da Enchantress. Puxou e chamou o atendente antes dele buscar a boneca:

- Espera, moço! Aqui, nessa capa, quais super-heróis são agora vilões mesmo? Que dizem aí que mataram a Enchantress?

Colocou a HQ no balcão, esperando o homem apontar os heróis e explicar.

Oliver arqueou uma sobrancelha quando viu a figura de um Anjo. Não ficou surpresa que uma figura com nome de anjo fosse conservadora. Ah, os estereótipos.

- Phanael? Fanático.

Oliver ficou olhando para as figuras que o homem apontou. Milhares de pensamentos surgiam em sua mente:

-Bem, serem vistos não significa que eles participaram.

Ia perguntar o que mais o homem sabia, mas decidiu guardar a pergunta para uma busca online e que não envolvesse muita interação humana. E achava que a busca online seria mais produtiva, de qualquer forma.

Levou um susto quando ouviu o flash e levantou os olhos rapidamente. De repente, o click da impressora 3d e ela entendeu o que estava acontecendo. Agora encarava o homem enquanto ele examinava a foto e a impressora 3d.

- Hmmm.... Viram onde, exatamente? – dessa vez, não pensou antes de perguntar. Seria melhor fazer a busca online também.

Ficou examinando a impressora 3d enquanto ela fazia sua cópia. De repente, pareceu “desligar”. Estava focada na impressora e imaginando como ela funcionava. O Pirralho já vira a menina desligar do mundo em volta e processar algumas informações. Era... Engraçado e estranho.

Oliver deu os ombros.

- Ser visto não quer dizer que participou. Claro, podemos deduzir que estivessem lá porque se interessaram, mas isso não é a única variável e..

Oliver parou de falar. Estava divagando e olhou sem graça para o atendente. Deveria estar enchendo o saco do coitado do homem que queria apenas trabalhar.

E não ficou surpresa com Phanael defender apenas heróis católicos. Deveria defender apenas também os heterossexuais, família tradicional, e por aí vai. O que chamou sua atenção foi um cara como o Morcego estar lá. Oliver balançou a cabeça em positivo, pensativa.





Oliver estava analisando a máquina de impressão 3D quando o homem colocou as bonecas na bancada. Ela não deixou de ficar impressionada com a qualidade da impressão e em como a boneca realmente lembrava ela. Ela sequer fez comentários sobre as roupas curtas de cetim das bonecas, de tão impressionada. E era difícil deixar ela impressionada.

- Nossa... – Oliver tinha a boneca nas mãos, enquanto a examinava. – O que ela pode fazer?

Oliver estava prestando atenção nos controles. Ouviu parte da explicação do homem da loja, mas sua cabeça já começou a divagar nos combos que poderia fazer. Se era como um vídeo game, não sderia muito difícil fazer os comandos necessários.

Qual foi o susto que levou quando foi tirada de seu transe quando ouviu a moça chegar e cuspir algumas informações.

- Sombra e Camazotz? - guardou a informação. Então aqueles eram os outros nomes que ele usava.

Algo fez Oliver calar a boca e pensar. Aquelas informações jogadas foram muito... jogadas. Parecia ser uma conversa inofenciva, mas havia algo no ar. Algo que dizia que aquela não era uma simples aproximação parajogar conversa fora.

- Eu acho que não sei quem você é. - olhou o rosto da mulher e prestou atenção, querendo guardar sua fisionomia. No fim, liver sorriu. - Na real, não sei muita coisa. Só perguntei de curiosidade porque tão falando toda hora da Enchantress.

Ela ia completar sua frase, mas o balconista começou a falar asneiras. Oliver disfarçou a expressão que iria fazer, mas pensava, provavelmente, a mesma coisa que a estranha mulher: tirar liberdade de expressão d ehomem branco era balela e provavelmente ele reclamava porque já não podia ser preconceituoso livremente.

Oliver suspirou e quando a moça estendeu a mão, ela olhou a mão da jovem, olhou seu rosto e por fim, sorriu enquanto apertava a mão dela.

- Nicole di Carpago? Que nome diferente! Pode me chamar de Princesa! - sorriu e observou de novo o casaco que ela portava.

- Você é estudando em Haward, hein? deve ser difícil estudar lá! Qual curso?

Queria confirmar se o que via. Seria mesmo medicina, mais especificamente, psiquiatria? Oliver se fazia de adolescente "normal".

- Ah, Warner? Não é a tal Wayne Bros? - jogava ainformação solta, como se não soubesse direito do que estava falando. - Não conhecia essa empresa.

E Oliver riu, quase como cúmplice de Nicole, quando o balconista fez cara de "oprimido".

Oliver concordou com a cabeça.

- Saquei e tô sabendo. Tá em todo lugar isso.

Oliver resolveu soltar uma mini informação que talvez Nicole já soubesse:

- E parece que Phanael e o amigo nosso Morcego são suspeitos.

E agora, jogou a pergunta de volta para Nicole, como uma pura pergunta de adolescente curiosa com alguma fofoca grande:

- E o que você acha, moça de Haward?

Oliver olhou novamente a capa da revistinha. Ela ergueu somente os olhos para Nicole. E agora era um olhar diferente, um olhar que não pertencia a uma simples adolescente. Um olhar questionador:

- Eu acho que, se Morcego for como você diz ele ter sido visto onde Enchantress morreu.... Talvez, talvez ele estivesse tentando fazer o certo.

E de rabo-de-olhos, olhou o balconista:

- Mas há muitas versões para o certo. Que você acha? Esse mundo dos supers é muito doido.

Oliver deu os ombros. Jogara uma parte da opinião - achava que faltavam muitas informações para se ter uma opinião realmente concreta - para ver se Nicole mordia a isca e soltava mais do que ela sabia. Se ela queria jogar gato e rato, iria jogar.

- Sério? Que bad sobre sua faculdade. Mas então tem mesmo uma greve? A galera da faculdade tá sabendo? E como vocês tão fazendo pra estudar então?

Oliver voltou a ter seu olhar blasé e típico de uma garota de 16 anos:

- Eu não saco muito de greves. Esse lance tem a ver com o que?

"Além da separação dos estados que eram originariamente do México?" - Oliver pensou.

Olhou para Pirralho, como se pedisse ajuda para entender a situação. Depois, olhou novamente Nicole, esperando que a mulher mais velha derramasse um pouco de seu saber.

Sorriu.

(Eu não sou esperta pra jogar gato e rato, mas vamos ver se consigo hehehehe Vaai, Oliver)

Oliver arregalou os olhos quando o balconista respondeu.

- Nossa, cara, desculpa aí. Foi só um comentário, nada mais. Longe de mim roubar qualquer "direito"! Cruzes!

Oliver pegou a bonequinha e começou a observar suas articulações. Já estava começando a viajar de novo, pensando em como elas eram fabricadas e que material seria aquele. Onde conseguiria aquele tipo de liga? Não parecia uma impressão normal... Será que responderia rapidamente ao controle? Precisaria fazer um upgrade nele também?

Muitas perguntas que precisavam de respostas imediatas. Precisava iniciar os testes e aí...

- Que?

Finalmente ouvira Nicole.

- Vocês precisam de uma pessoa pra fazer robôs funcionarem? É isso, né.

Arqueou uma sobrancelha e desviou os olhos de Nicole, enquanto fazia bico.

-..... Pra que vir em uma loja de quadrinhos se você poderia ir na tal deepweb? Lá você encontra gente que sabe "tecnologia da informação".

E olhou de relance para Nicole. Apontou com o queixo o escudo da faculdade no casaco.

- E lá também.

Falava em um tom baixo, direcionado á Nicole. Nem mesmo olhava o Pirralho.

"Abre o jogo logo!" Pensou, sem paciência.

Oliver não tinha percebido que seu tom estava agora um pouco mais acalourado. Para a menina, ela simplesmente havia exposto fatos que estavam lá e precisavam só de alguma atenção.

- Hun?

Tanto que ela fica um pouco confusa com Pirralho e sua atitude.

- Não, ela tem vários lugares pra ir. Ela sabe o que é deepweb e sabe o que falam lá.

E olhou Nicole, curiosa. Depois olhou Pirralho de novo.

- E ela estuda na Haward! Lá tem gente que pode ajudar.

Oliver dá os ombros, um pouco entediada com a situação. Detestava esse jogo de esconde-esconde.

- Isso me faz pensar que ela está procurando alguém em especial.

"Fora que esse papo inicial foi muito suspeito." Pensou. Sentiu que Nicole queria sondá-la.

Ela depois levou o olhjar até Nicole, esperando suas considerações antes de sair da loja com Pirralho.

Oliver reparou na expressão de Nicole e estreitou levemente os olhos, como se tivesse certa dificuldade de lê-la.

- Ah...

Não disse mais nada. Dessa vez, encontrou-se sem palavras. Ela olhou os quadrinhos, olhou o balconista e depois olhou para O Pirralho. Saiu da loja com suas compras, sem olhar para trás.

Já na rua, enquanto olhava sua versão de brinquedo, ela comentou, um tanto sem graça:

- Poxa, eu não quis deixar ela daquele jeito...

Suspirou:

- Desculpa pela situação toda. Eu só... Ah, sei lá.

Andava junto com o amigo pelas ruas movimentadas. Ainda examinava as articulações da boneca e imaginava os combos que poderia fazer e as mudanças necessárias para dar um boost de respeito.

- Você comprou a K-Sandra? - olhou para as mãos do Pirralho, para ver se carregava algo.

E por fim, deu mais um suspiro enquanto pensava também nos heróis (heróis?) na Casa Branca e Capitólio.

- Cara, onde vai ser a rinha? Acho que temos um tempinho. Eu arrumo a K-Sandra pra você. Vamos ganhar de geral!

Sorriu. Iria primeiro à rinha. Depois, procuraria sobre os heróis.

- Não sei como vou chamar a minha. pensei mesmo em algum título de nobreza. Princesa, Rainha ou Duquesa. O que acha?