Allen Alfar

O dia começara como a maioria dos outros para Allen, sendo acordado pelo seu pai, Alfrik Alfar, para os treinos matinais, antes de ele ir para o seu trabalho. Alfrik Alfar foi um exímio membro da guarda da Capital, mas foi aposentado precocemente por causa de um ferimento em uma batalha. Porém, o que bastou para a guarda da Capital aposenta-lo, não foi o suficiente para ele. Alfrik ainda trabalhava como guarda pessoal de Tiber Croster, um grande mercador da cidade. Alfrik comandava sua guarda pessoal, e por vezes tinha dado oportunidades a Allen de escoltar algumas mercadorias ali ou aqui, mas nunca deixando o filho ir muito longe da Capital.

Quando o sol terminou de se mostrar por completo, Allen já estava suado de tanto treinar. Ele sabia que o treino acabava quando sentia o cheiro do café da manhã feito por sua mãe. Seu pai, também suado, vinha em sua direção mancando e o abraçava dizendo:

- Vamos meu filho. Já está bom de treino pro dia de hoje, e o pai tem que trabalhar.

O café da manhã era bem feito por sua mãe. Pães quentinhos, sucos e leite para beber, e algumas frutas para começar o dia. Por vezes sua mãe até arriscava um bolo. Assim era sua rotina de sua manhã todos os dias. Já seus afazeres de tarde variavam conforme o dia, Allen sempre esperava que seu pai te desse alguma missão ou serviço, mas eles vinham apenas duas ou três vezes por semana, mesmo com Allen insistindo para ser mais participativo no trabalho do pai.

E infelizmente aquele dia seria mais um sem acompanhar o pai para o trabalho. Logo que acabou sua refeição matinal, seu pai se despediu de todos, e partiu para o trabalho. Allen ficou para ajudar sua mãe organizar a mesa do café da manhã, e assim que terminou, foi a vez de sua mãe falar:

- Meu filho, sei que as "missões" da mãe não se comparam a de seu pai. Mas preciso hoje que vá até as feiras da cidade e compre um frango e alguns legumes para a mãe fazer na janta, você pode fazer isso para mim?

Realmente, não se comparavam as missões de seu pai, que apesar de também quase não terem combate, eram obviamente mais empolgantes do que comprar verduras. Mas Allen não tinha nada para fazer naquele dia, e não via o porque recusar ajudar sua mãe. Allen morava em um bairro médio da cidade, destinado quase que totalmente aos soldados ativos e aposentados da guarda. Como a sede dos Riders ficava adjacente a Capital, os reis antigos e a rainha atual não viam necessidade de ter um alojamento para os guardas, mas criaram o bairro como forma de benefício de emprego. Porém, tirando o fato de ser residido por militares, não diferenciava de outro bairro residencial médio, sendo suas ruas meio de transporte para qualquer um que quisesse passar por lá. O sol já estava forte quando Allen saiu de sua casa para a rua.

As ruas da Capital eram extremamente largas, como a cidade foi construída para um convívio mútuo entre dragões e humanos, muitas construções variavam de tamanho, sendo a maioria no tamanhão "padrão" para humanos, e algumas no tamanho descomunal, indicado para Dragões. Porém hoje a população da Capital era de 90 a 95% de humanos, os dragões eram vistos com frequência pra quem morava ali, mas não era a mesma coisa que ver um humano. Allen mesmo já viu muitos dragões, e em uma rara ocasião conseguiu até conversar com um.

Allen adentrou no meio da multidão das ruas, indo em direção as feiras. Mas mal tinha saído de sua rua, e levou um encontrão, vindo por trás.

Spoiler:

- Haha! Dessa vez te peguei de surpresa! Um dia ainda vou conseguir te derrubar!

Era Saven, um filho de um soldado menor que morava na rua de Allen, bem mais franzino e fraco que Allen, mas era uma boa companhia e um amigo de infância, apenas dois anos mais novo. Ele o acompanhou no caminho até a feira. Porém, vocês começam a perceber uma leve movimentação das pessoas, aumentando cada vez mais. Todas estavam indo a mesma direção. A movimentação começou a ficar tão intensa que pessoas trombavam em vocês, querendo chegar mais rápido ao seu destino. Saven não aguentou a curiosidade e começou a questionar quem estava por perto.

"A Rainha Astrid II e a Rainha dragão Sheea convocaram a todos para um anúncio urgente, não estão sabendo?!?

Foram o que ouviram, e não perderam tempo em irem até a praça comum, que ficava em frente ao castelo da rainha, quando tinha um anúncio a fazer, era lá que sempre fazia. Quando chegaram lá, milhares de pessoas já se encontravam esperando o tão urgente anúncio, Saven foi abrindo caminho entre a multidão, e Allen foi atrás seguindo ele, chegaram a um ponto ainda distante do castelo, mas pelo menos tinham uma visão boa.

Demorou um pouco, talvez estavam dando um tempo até a multidão chegar, no meio de milhares de pessoas, dava pra ver até alguns dragões curiosos que vieram ver o que estava acontecendo. Mas finalmente a enorme porta do castelo se abriu, de dentro saíram A Rainha Astrid II e a Rainha dragão Sheea, sendo acompanhada por trás de dois Riders com seus respectivos dragões. Allen sabia quem eram eles, afinal eram os braços direito e esquerdo da rainha, e membros do conselho real.


O barulho de conversa/excitação enorme de muita gente reunida no mesmo lugar foi interrompido pela voz imponente e ao mesmo tempo gentil da Rainha Sheea.

- ATENÇÃO, TODOS VOCÊS! Hoje viemos fazer um pronunciamento importante, talvez o mais importante de nosso reinado!

A Rainha Astrid se colocou a frente, agora que o silencio instaurava. Ela começou a falar como se ela e a rainha dragão estivesse em perfeita harmonia.

- Hoje, cidadãos de Nilfhein, temos uma ótima notícia para vocês. É com grande orgulho que anuncio a vocês que pela primeira vez em nosso reinado, e espero que não seja aúltima, uma ninhada de ovos está pronta para ser chocada nesse solstício de verão! Muitos dos ovos são da nossa Rainha Sheea. *Ela acaricia o pescoço de Sheea, que devolve um sorriso gracioso* - Portanto, avisem a todos os jovens de 14 a 20 anos, para testarem sua sorte, aqui mesmo no salão de nosso castelo! Uma nova leva de Riders está por vir!

Enquanto a multidão comemorava de alegria, num barulho ensurdecedor, Allen pôde ver os dois cavaleiros que estavam atrás da Rainha subindo em seus respectivos dragões, e com uma rapidez impressionante, alçaram voo fazendo algumas acrobacias no ar, e após isso deram um rasante por cima da população, cada um de um lado. Nesse rasante, jogavam lá do alto panfletos, criando assim uma chuva deles. Allen pegou um deles, e as informações confirmavam o que a rainha tinha dito, aquilo era um convite.

- Eu não acredito!! Tenho a oportunidade de me tornar um Rider!

Allen gostava de treinar com seu pai, mas não gostava de trabalhar. Mesmo assim, mantinha a disciplina e obedecia às ordens que recebia, tanto do pai quanto da mãe. E isso agora envolvia ir comprar frango na feira.

Quando Saven trombou com ele, Allen riu alto e só falou:

- Pra me derrubar é preciso mais do que me pegar de surpresa! Você precisa ficar muito mais forte!

E então começou toda aquela solenidade com a rainha humana e a rainha dragão. 

O jovem Alfar não se impressionava mais com qualquer dragão, pois na capital eles eram relativamente comuns, então não era algo exatamente inédito para ele. Mas a rainha e seus guardas eram algo bem mais raro de se presenciar, e Allen ficou alerta.

Depois do anúncio, ele pegou um dos folhetos e checou as informações, enquanto Saven ficava todo animado ao lado dele.

Com cuidado, ele dobrou o papel e guardou nas dobras de sua roupa, dizendo:

- Bom, eu vou levar esse frango para minha mãe e depois penso nisso. Afinal, todos os jovens foram convocados, então eu também tenho que ir.

E era exatamente isso que ele planejava fazer.

- Pra me derrubar é preciso mais do que me pegar de surpresa! Você precisa ficar muito mais forte!

Saven riu desconcertado, apesar do tom de brincadeira de Allen, aqui era realmente verdade.

...

Depois do anúncio real, Allen pegou um dos folhetos, guardou em sua roupa, e disse:

- Bom, eu vou levar esse frango para minha mãe e depois penso nisso. Afinal, todos os jovens foram convocados, então eu também tenho que ir.

Saven ainda não tinha diminuído sua excitação.

- Como assim, você TEM que ir? Desse jeito parece até que nunca sonhou em ser um Rider. Cara, eu não tô acreditando! Quando é o solstício de verão?

E Allen realmente não sabia, sabia que não era muito distante, mas não sabia exatamente quando seria.. Mas isso não era um problema, já que o evento era na Capital, e Allen morava nela. Logo Saven se despediu de seu amigo, e Allen se pôs no caminho de casa. Por causa do anúncio real, todas as ruas estavam bem movimentadas, e demorou um pouco para que Allen chegasse em casa.

Ao chegar, Allen viu sua mãe e seu pai na cozinha, eles pareciam estar tendo uma certa discussão, que foi encerrada assim que ouviram os barulhos de Allen adentrando na residência. Seu pai estava sentado na mesa, enquanto sua mãe já estava preparando a comida. Sua mãe agradeceu o frango, e assim que Allen disse sobre o anúncio, eles fingiram uma comemoração, mas disseram já saber do ocorrido. Um silêncio constrangedor instaurou um pouco na residência até que sua mãe comentou com seu pai..

- Você tem que falar..

Seu pai realmente não queria, mas se forçou a dizer:

- Meu filho, sente-se.. Preciso te contar uma história..

- Eu já imaginava que isso estaria prestes a acontecer.. Não faço mais parte da guarda da Capital, mas ainda tenho muitos amigos lá.. Ninguém me disse nada diretamente, mas vi que alguns soldados partiram para "missões" em todo canto de Nilfheim.. Isso só podia ser um anúncio real, e depois de tanto tempo.. Só podia ser uma coisa, mais uma ninhada de ovos..

- O que eu queria te dizer meu filho.. É que na última ninhada, seu velho pai tinha 20 anos, e teve a oportunidade de tentar se tornar um Rider.. Eu já treinava para ser um soldado, e era convencido de que me tornaria um Rider, e seria um dos melhores. Mas, como você vê, nenhum dos ovos me escolheu, e voltei de mãos vazias. Aquilo me atingiu em cheio, e uma grave depressão me atingiu por tempos.. Se não fosse sua mãe, não teria seguido em frente.. Logo você terá sua chance, mas saiba que a probabilidade de ser escolher é muito pequena.. Não quero que aconteça com você o que aconteceu comigo..

Allen ouviu toda a explicação dos seus pais, sem entender o motivo de tanto drama.

Apesar do que o pai dizia, ele não tinha nenhuma dúvida de que se tornaria o melhor de todos. 

Tivesse dragão ou não. 

- Não se preocupem! Eu vou só obedecer a ordem da rainha e comparecer no dia marcado.  Enquanto estiver lá,  vou tentar arrumar uma vaga na guarda real. Nem preciso de dragão para isso!

Seu pai riu de alívio quando ouviu a resposta do filho, sabendo que sua criação tinha dado certo.

- Hehehe, é assim que se fala! Viu, eu te disse que não precisava falar nada pra ele. *Disse ele olhando para sua mãe, que deu de ombros*

- Tenho certeza que conseguirá Allen, como você disse, tendo dragão ou não.

O almoço seguiu depois dessa pequena conversa, com a comida deliciosa e nutritiva que sua mãe tinha feito. Após o termino, seu pai se levantou, e com uma voz firme, disse ao filho.

- Allen, hoje a noite teremos um compromisso. O senhor Croster quer realizar um jantar com sua equipe e um punhado de nobres.. Quer aproveitar o anúncio da rainha e exibir sua riqueza para os outros.. Ele está confiante que seu filho ira se tornar um Rider, e o vangloriará para todos..

- Quero que vá comigo, o senhor Croster tem uma entrega com mercadorias valiosas em um povoado aqui por perto, e quero te indicar para ir sozinho como guarda dessa missão. Acredito que já está pronto para isso.

Após a conversa com seu pai, Allen teve a tarde toda para fazer o que quiser. (Se quiser descrever algo, seja livre)

A noite chegou, e Allen logo já estava de banho tomado e vestindo suas melhores roupas, que por sinal eram roupas que não era qualquer um que possuía. Seu pai estava vestido a altura, com uma roupa de nobre que Allen só tinha visto ele usar em ocasiões especiais. O chefe de seu pai tinha mandado uma de suas carruagens para busca-los, e logo partiram em direção a sua mansão.

Spoiler:

A mansão de Tiber Croster era enorme, suficiente para abrigar todos os seus funcionários e todas suas regalias, além de todas as suas mercadorias e seu centro de distribuição, tudo ficava ali. Junto com a carruagem de Allen, muitas outras chegavam. Como seu pai era um dos guardas pessoais de Croster, a entrada foi bem mais rápida, sem pedidos de credenciais e convites, e logo entraram no salão principal. O salão era enorme, e já estava todo preparado para receber os convidados, com várias mesas dispostas por toda sua extensão. Nas paredes encontravam várias tapeçarias raras, quadros belíssimos, e algumas relíquias que Croster tinha deixado ali para se exibir. Allen foi passando lentamente por elas junto com seu pai, até que ele parou em frente a uma específica.

Spoiler:

Era um ovo de dragão, mesmo Allen nunca tendo tido a sorte de ver um até aquele momento, era inevitável saber do que se tratava. Mas, diferente do que todos falavam, aquele ali não parecia ser tão bonito. Ele parecia ser apagado, como se estivesse sem vida. Mesmo assim era uma das coisas mais bonitas que Allen tinha visto na vida.

- Em algumas semanas você estará diante de vários desses meu filho. Eles estarão mais brilhosos, com vida. Escolha o que, no seu coração, achar que é o escolhido.

- Este aqui foi um ovo infértil, ou um ovo em que seu escolhido não o escolheu.. Nunca saberemos, já que para qualquer um obter um ovo de dragão, tem que conseguir através de meios.. incertos..

O tom de voz de seu pai na última palavra fez entender claramente que seu chefe tinha conseguido aquele ovo de forma ilegal. Seu pai iria continuar a conversa, quando foi interrompido por um cara corpulento e bem grande, vestido com roupas finas e muitos colares e adornos de ouro.

Tiber Croster:

- Alfrik! Que bom que chegou! Admirando meu velho ovo? Meu filho irá conseguir mais um para nossa família nas próximas semanas!

Enquanto ele falava de seu filho, chacoalhava um jovem da mesma idade de Allen, que ficava com uma cara fechada, sem ao menos dirigir seu olhar aos dois convidados.

- Tenho certeza que vai, senhor.. Senhor, antes de qualquer coisa, quero apresentar meu fil...

Mas Tiber o interrompeu como se seu pai nem estivesse falando.

- Venha Alfrik, logo meus convidados estarão chegando, e quero meu guarda pessoal por perto, você sabe como são ganaciosos! Só querem um pedaço de minha riqueza esses malditos!

- Hehehe, é assim que se fala! Viu, eu te disse que não precisava falar nada pra ele. *Disse ele olhando para sua mãe, que deu de ombros*

- Tenho certeza que conseguirá Allen, como você disse, tendo dragão ou não.

Allen ficou satisfeito em constatar que tranquilizara seus pais. Ele não gostava de vê-los preocupados, ainda mais por causa dele.

- Allen, hoje a noite teremos um compromisso. O senhor Croster quer realizar um jantar com sua equipe e um punhado de nobres.. Quer aproveitar o anúncio da rainha e exibir sua riqueza para os outros.. Ele está confiante que seu filho ira se tornar um Rider, e o vangloriará para todos..

- Quero que vá comigo, o senhor Croster tem uma entrega com mercadorias valiosas em um povoado aqui por perto, e quero te indicar para ir sozinho como guarda dessa missão. Acredito que já está pronto para isso.

O jovem Alfar assentiu com a cabeça, concordando tacitamente.

Fazer a segurança de ricaços e mercadores não era o mesmo que ser da guarda real, mas era o que seu pai sempre fizera e o que lhe ensinara a fazer, com a perspectiva de que um dia ele poderia ser um cavaleiro de verdade.

Ser o único guarda de uma missão era uma prova de confiança notável de seu pai para com ele, e Allen estava plenamente seguro de que era capaz de lidar com a responsabilidade da tarefa.

Após a refeição, Allen passou o tempo livre da tarde treinando, tanto o combate quanto a percepção e as táticas de defesa que poderiam ser exigidas naquele trabalho. Mas não pôde demorar muito posto o compromisso à noite com o contratante.

Trajado com sofisticação e fazendo dupla com seu pai, Allen estava a postos quando a carruagem chegou. Ele estava acostumado a estar do lado de fora atento às possíveis ameaças de viagem dos passageiros, mas hoje seu pai e ele eram os passageiros. Mesmo assim, Allen passou o tempo todo olhando para o caminho, mapeando a rota usada e os possíveis desvios, e notando os pontos vulneráveis do veículo.

A residência do comerciante rico era enorme, mas isso não impressionou Allen, e sim o preocupou, pois eram ainda mais pontos fracos para inimigos penetrarem e ele como defensor proteger. Ele tentou notar a planta do edifício e traçar o possível diagrama em sua mente, determinando quais eram os pontos fracos se ele tivesse de reforçar as defesas. Todos os quadros e tapeçarias eram ornamentos que poderiam se converter em esconderijos ou armas em caso de crise, e Allen os contava ordenadamente.

Mas seu pai se deteve diante de uma pedra brilhante sobre um suporte em formato oval. Um ovo de dragão.

- Em algumas semanas você estará diante de vários desses meu filho. Eles estarão mais brilhosos, com vida. Escolha o que, no seu coração, achar que é o escolhido.

- Este aqui foi um ovo infértil, ou um ovo em que seu escolhido não o escolheu.. Nunca saberemos, já que para qualquer um obter um ovo de dragão, tem que conseguir através de meios.. incertos..

Allen assentiu muito formal, enquanto analisava o ovo à sua frente. Para ele, contrabandistas eram igual a ladrões, e ele não gostava de trabalhar para ladrões. Não importava se eram ricos ou não.

Mas foi quando o ricaço dono de tudo ali chegou para falar com seu pai.

- Alfrik! Que bom que chegou! Admirando meu velho ovo? Meu filho irá conseguir mais um para nossa família nas próximas semanas!

Enquanto ele falava de seu filho, chacoalhava um jovem da mesma idade de Allen, que ficava com uma cara fechada, sem ao menos dirigir seu olhar aos dois convidados.

- Tenho certeza que vai, senhor.. Senhor, antes de qualquer coisa, quero apresentar meu fil...

Mas Tiber o interrompeu como se seu pai nem estivesse falando.

- Venha Alfrik, logo meus convidados estarão chegando, e quero meu guarda pessoal por perto, você sabe como são ganaciosos! Só querem um pedaço de minha riqueza esses malditos!

Allen observou criticamente o homem abastado e seu filho, sem se importar se o ignoravam ou não. 

O velho era corpulento e carregava muito peso, teria dificuldades imensas numa situação de crise. Mesmo com dez guardas, ele não escaparia de um agressor determinado e meio inteligente.

Já o filho dele, embora tivesse a idade de Allen, não aguentaria dois minutos de trocação com o jovem Alfar. Ainda não era tão molenga quanto o pai, mas tinha a mesma atitude indolente que o progenitor.

Discretamente, Allen seguiu seu pai, afinal estava ali a trabalho e devia ajudá-lo com a função de guarda.

Tiber arrastou seu pai pelo salão, em meio a risadas e piadas sem graças, até a mesa principal, onde o rico e sua família deveriam jantar. Alfrik reagia de forma bem mais discreta, notavelmente desconfortável com os puxões e piadas de seu chefe. Allen não sabia dizer se era por ele estar ali, ou se seu pai vivia descontente no trabalho.

Na mesa principal a esposa do comerciante, igualmente grande e robusta como o marido, estava o esperando. A mesa continha quatro lugares, foi só então, no momento de sentar, que Tiber percebeu de fato a presença de Allen ali.

- Este menino que é o seu filho, Alfrik? Por que não me apresentou antes?? CRIADOS! Tragam mais uma cadeira para este jovem!

- Sim, este é o meu filho Allen. Eu o trouxe para o senhor conhece-lo, e gostaria de fazer um pedido..

O corpulento mercador fitou Allen de cima a baixo com sua expressão animada.

- Pelo visto deseja seguir os passos do pai, não é, meu jovem? Tem o físico pra isso! Alfrik, os convidados estão chegando, faça seu pedido mais tarde.

De fato, os convidados estavam entrando no grande salão da mansão. Allen conseguiu ver vários rostos de pessoas famosas, algumas Allen conhecia de vista, outras apenas por nome. A maioria pertencia a corte de Befolk, mas tinham alguns integrantes da corte da Capital também, todos estavam com vestes bem elegantes, alguns com ornamentos bem extravagantes, demonstrando seu poderio econômico. Tiber esperou todos se sentarem em seus lugares, para se levantar, e discursar, com uma voz incrivelmente poderosa.

- Meus caros! Hoje é uma data muito importante para nós de Nilfhein, ovos de dragão irão eclodir e surgirão novos Riders! Isso é muito importante para nossa segurança e consequentemente, para nosso comércio! É por isso que quero mostrar para vocês, com muito orgulho, um dos próximos e principais Riders, Tiberius Croster!

Ele então aponta para seu filho, que se levanta com uma soberba declarada, e acena para os aplausos recebidos, que se mostraram bem fervorosos. É claro que aquilo tudo era de uma presunção enorme, pois por mais que Tiber pudesse subornar guardas para que seu filho pudesse testar vários ovos, não teria como subornar os ovos para escolherem seu filho. E anunciá-lo assim de forma antecipada, poderia ser um tiro no pé. O garoto tinha sido criado em meio as regalias de uma família bem rica, e não demonstrava para Allen qualquer preparo para o combate, mesmo assim, o mesmo se mostrava bem confiante que se tornaria um Rider.

O jantar então foi iniciado, e vários pratos deliciosos foram servidos, Allen pode se deliciar como nunca antes tinha feito. Depois dos ânimos se acalmarem, seu pai mais uma vez foi tentar fazer o pedido.

- Senhor Tiber, sobre meu pedido.. O senhor me escalou para escoltar uma caravana com suas mercadorias amanhã, e tudo já está organizado para a partida dela. Porém, com o anuncio do solstício, com certeza a cidade receberá vários visitantes nos próximos dias, e acredito que eu, como seu guarda pessoal, devia estar com você, providenciando sua segurança. Allen, meu filho, tem treinad...

E mais uma vez, seu pai foi interrompido por Tiber, pelo visto, Alfrik já era habituado a isso.

- Vai fazer um pedido em nome de seu filho Alfrik? *Ele da mais uma olhada em Allen, e fala agora diretamente a ele* - Ele já parece bem grandinho para fazer isso sozinho. Vamos menino, me diga, o que você quer?[/b]

Allen acompanhou seu pai Alfrik, suportando como ele a arrogância e grosseria do senhor Croster.

Quando chegaram à mesa, ficou aliviado por sua presença ter sido notada e assim conseguir uma cadeira, já que estava receando ter que comer sozinho ou pior, nem participar do jantar.

Aquelas pessoas ricas e famosas não impressionavam Allen. Não muito. Era impossível ficar indiferente àquela opulência e ostentação, mas Allen desaprovava aquilo, imaginando como aqueles abastados conseguiam gastar tanto dinheiro enquanto tantas outras pessoas eram pobres e passavam até fome por possuírem uma minúscula fração de toda aquela riqueza.

O senhor Croster anunciar que seu filho seria um rider parecia absurdo, pois a escolha dos ovos era uma das poucas coisas que não dependiam da riqueza de ninguém. Tiberus pareceu a Allen exatamente como seus pais, pessoas fora de forma, não habituados a se exercitarem, incapazes de aguentar um soco no rosto se fosse preciso. O jovem Alfar duvidou que aquele jovem playboy fosse se tornar um rider, e percebeu que se isso não ocorresse, o senhor Croster estaria numa posição bastante desconfortável.

Finalmente seu pai pôde falar com o senhor Croster sobre que ele queria, mas foi cortado, como de costume.

- Vai fazer um pedido em nome de seu filho Alfrik? *Ele da mais uma olhada em Allen, e fala agora diretamente a ele* - Ele já parece bem grandinho para fazer isso sozinho. Vamos menino, me diga, o que você quer?

 Intimado daquela maneira, Allen empertigou-se e falou com voz forte e confiante:

- Sim, senhor! Meu pai avalia que estou pronto para comandar a escolta de sua caravana, senhor. Queremos que autorize isso enquanto meu pai mantém a sua segurança, senhor!

Ao ouvir a resposta de seu filho Alfrik assentiu concordando, mostrando o orgulho que tinha pelo seu filho.

Croster ouviu o pedido de Allen com uma rara atenção, olhando depois para Alfrik com uma expressão de surpresa.

- Comandar?

Mas não diz nada após isso, Allen consegue ver que ele está pensando em qual resposta dar, talvez calculando os riscos e oportunidades. Depois abre um sorriso ganansioso, e diz para Alfrik:

- Está definido então, eu o permito comandar a caravana de amanhã. Mas não comandará sozinho, meu filho Tiberius irá acompanha-lo e dividirá o cargo de comandante com você Allen. Também mandarei dois de meus guardas, mas direi a eles para obedecerem suas ordens. Assim, tanto o meu filho quanto o seu filho ganharão alguma experiencia com escolta. Será um diferencial para o Tiberius quando ele se tornar um Rider. Ah, e Alfrik, não pagarei a mais por esses serviços, entendido?

Ele ainda conclui, falando dessa vez para Allen:

- Não se atrase amanhã, viu garoto? Seu pai sabe que não tolero atrasos em minhas entregas. Se quiser propor ao meu filho como planeja dividir a liderança com ele, fique a vontade.

Alfrik olha para Allen, sorrindo. O plano não tinha saído exatamente como desejavam, mas tinham alcançado o objetivo.

O jantar tinha sido finalizado, mas ainda iriam servir as sobremesas, e após isso, os músicos tocariam algumas valsas para os casais dançarem.

OFF: Se quiser conversar com Tiberius, Tiber, seu pai, ou tentar conhecer algum nobre que está no jantar, fique a vontade, se quiser conhecer os nobres, me diga que eu coloco aqui as opções.

Allen não ficou muito animado com a proposta do Lorder Tiber.

Ele teria que fazer a escolta dividindo as decisões com um filhinho de papai inexperiente e ainda sem nenhum pagamento!

Como seu pai não protestou, Allen decidiu aproveitar a oportunidade do jeito que ela se apresentava. Deu um jeito de chamar Tiberius de canto e lhe disse:

- Senhor Tiberius, por ordem do senhor seu pai, nós vamos dividir o comando da escolta da caravana. Como você nunca fez algo assim antes, tenho que lhe avisar que as vidas de cada pessoa da caravana bem como a carga transportada são responsabilidade de quem lidera, e o líder deve protegê-los com sua própria vida se necessário. Não se pode ser preguiçoso, desatento ou descuidado. Não sei quanta experiência de combate você tem, mas se chegar ao ponto de termos que lutar contra bandidos salteadores, temos que estar preparados para combater até a morte, nossa ou deles. Se entender essas responsabilidades e conseguir agir de acordo, eu não me importo de ser o segundo em comando. Mas se você vacilar, eu tomarei a frente e assumirei o controle. Entendido?

Com o recado dado, Allen pôde se concentrar no restante do evento.

Era um jantar, e Allen comeu o suficiente, mas também havia uma orquestra tocando valsa. Os casais de nobres foram para a pista de dança, e Allen olhou em volta à procura de alguma jovem dama que não tivesse par para convidá-la para valsar. Não era um galanteio, apenas boa educação e atenção para com os elos fracos. Se dali surgiria algo, Allen não poderia prever.

Tiberius olhou Allen de cima a baixo, com um olhar exalando soberba. Ele demorou um pouco para responder, Allen por um momento achou que iria ser ignorado. Mas finalmente aquelas bochechas grandes se moveram.

- E você? Já fez algo assim antes?

Tiberius tinha pego Allen na curva. Era óbvio que Allen era mais preparado que Tiberius, fisicamente e até taticamente falando. Mas isso não mudava o fato de que Allen também nunca tinha escoltado uma caravana, ainda mais liderando-a. Sua experiencia vinha dos incansáveis treinos que seu pai aplicava e de pequenas funções que o mesmo arrumava. O jovem esnobe ainda continuou:

- Não sei porque meu pai insisti nisso, temos dinheiro para pagar os servos para protegerem a caravana, não tem necessidade de nos sujeitarmos a isso.. Mas já que ele disse, está feito.. E é óbvio que você será o segundo em comando. Meu pai contratou os melhores professores de Nilfheim para me ensinar a arte do combate, não fui treinado por um guarda aposentado. Até amanhã... Qual seu nome mesmo?

O jovem gordo e esnobe estava vestido com roupas muito bem feitas, com brincos e um colar de ouro pendurado em seu pescoço, seus dedos cheio de anéis com pedras preciosas, e uma boina pousava em sua grande cabeça.

Tiberius Croster:

Após essa "conversa" Allen olhou ao salão e procurou por uma jovem dama que não tivesse par para chama-la para uma dança.

Jovem Damas:

OFF: Já pode também postar o começo do outro dia, o que pegou para ir na missão, e como foi até a residencia de Tiber pela manhã. O próximo post terá essas interações com as damas, mas já começaremos a viagem da caravana

A atitude do riquinho bochechudo não intimidou Allen.

- E você? Já fez algo assim antes?

O jovem Alfar respondeu sem pestanejar:

- Treinei para isso a minha vida inteira e sei exatamente o que fazer. É por isso que te avisei.

- Não sei porque meu pai insisti nisso, temos dinheiro para pagar os servos para protegerem a caravana, não tem necessidade de nos sujeitarmos a isso.. Mas já que ele disse, está feito.. E é óbvio que você será o segundo em comando. Meu pai contratou os melhores professores de Nilfheim para me ensinar a arte do combate, não fui treinado por um guarda aposentado. Até amanhã... Qual seu nome mesmo?

- Allen Alfar, Tiberus. Eu o encontrarei amanhã de manhã bem cedo então!


Desviando sua atenção para as donzelas do baile, Allen estudou-as antes de agir.

Ele descartou a dama de ornamentos dourados, já que ela tinha fartura de convites para dançar, e provavelmente estava negando todos porque realmente não desejava bailar. A jovem negra de ornamentos prateados era alegre e atraente, mas a ligação do pai dela com negócios escusos de Tiber impediram que o virtuoso Allen a abordasse. Restou-lhe então dar atenção às três damas restantes.

A dama desconhecida com ornamentos de metal brilhante foi a que lhe atraiu mais, pois além de bonita e provavelmente menos rica que as demais patricinhas, tinha um mistério que ele gostaria de desvendar. A segunda era a moça ruiva, que além de seus atributos físicos atraentes, também tinha um pai que Allen conhecia e respeitava por seus feitos. A terceira foi a dama de prata cujo pai tinha negócios no porto de Befolk, e Allen considerou que se iria tomar um fora, poderia ser de alguém que o faria com a polidez que ela exercia. Allen iria convidá-las para bailar nessa ordem de importância; não sabia se gostariam de manter o mesmo par por várias danças seguidas ou se prefeririam trocar de par. Na primeira hipótese, ele se concentraria na que o aceitasse, mas no segundo caso poderia chegar a conhecer as três.

Na madrugada seguinte, Allen juntou todos os seus equipamentos, armas e suprimentos e encaminhou-se para a mansão de Tiber antes do nascer do sol. Ele sabia que os mercadores gostavam de começar cedo, e apenas esperava que Tiberus não os atrasasse com sua impontualidade.