Assim que Alex mencionou outra casa, Kima piscou algumas vezes.
"Outra casa? Hypercidade? A família dele tem uma cidade? Quem no mundo tem uma cidade?" Logo imagens de uma cidade falsa voltaram à sua mente.
"Os pais dele não ficarão felizes com uma visita... Ele deve estar de castigo", para Kima era perfeitamente natural a ideia de crianças travessas ficarem de castigo, mesmo Alex não sendo mais uma criança.
"Bem, para nossos pais sempre somos crianças... seria estranho mesmo uma esquisita como eu ir até lá. Minha altura é esquisita, meu cabelo é colorido, talvez eu seja feia... Ai..." Ela suspirou e só conseguiu responde-lo com um simples:
- Tá... -
"por que não consigo agir como uma pessoa normal?" - e deu um sorriso sem graça.
Logo suas dúvidas e anseios se fizeram presente e com doçura Alex tentou ameniza-las com respostas. Ela foi até o sofá esperando as respostas e o que recebeu foi aquele garoto lindo sentado à sua frente, seu rosto queimou, ela precisava se acalmar, já tinha quebrado a vassoura da mãe dele.
"Que vergonha!" A simples menção dos mortos e feridos trouxeram dor ao peito de Kima e seus olhos marejaram, ela desviou o olhar e buscou o teto, sentia-se culpada. Ela fungou. A simples menção ao nome de seu pai, Vince, fazia a garota sentir arrepios e ela esfregou o rosto para espantar aquela sensação funesta que lhe corroía a alma toda vez que lembrava dele, o que fez o band-aid sair do lugar. Seu pai era o vilão, agora ela não tinha mais dúvidas. Sentiu-se vazia. Ela só acenava com a cabeça, comprovando que entendia as explicações dele.
- Então somos um grupo porque estávamos todos no mesmo lugar... entendo - ela encarou as mãos e depois encarou os demais
- então vamos todos ficar juntos e sermos uma equipe? - as luvas sem dedos permitiram que a unha fosse parar entre os dente, pura preocupação
- eu não tenho noção real do que eu tenho... desde que meus cabelos começaram a mudar de cor, eu me sinto forte, com super força... fora isso não sei mais nada sobre as experiências do Vince, não sei nem se isso é permanente... Eu... - ela escondeu as mãos novamente
- eu não quero ser um peso para ninguém.A ideia de ajudar as pessoas parecia agradar a jovem, o que a fez emitir um sorriso tímido, para ninguém específico, a não ser para ela mesma. O hiper garoto sabia como convencer alguém e falar que eles poderiam ser amigos aquecia aquele vazio que ela sentia, ouvir que ele se importava a encheu de esperanças.
"Ele quer ser meu amigo! E os demais?" Olhou novamente para o restante da equipe buscando aprovação. Sentiu-se culpada por ter julgado a Mila, elas seriam da mesma equipe agora e poderiam ser amigas.
"Eu sou uma pessoa horrível".
- Eu não quero ser nenhum incomodo, eu não tenho como pagar a minha estadia aqui, no momento... Minha mãe pagou para mim alguns dias em um albergue no centro da cidade. As minhas coisas estão lá.Os segundos em que ele a ficou encarando pareceram uma eternidade, um filme da Disney todo rosa e florido, ela podia ouvir os passarinhos cantando atrás dela e o cheiro de algodão doce parecia adocicar o ar ao redor deles. Até brilhos principescos ela via ao redor dele, tudo em câmera lenta.
"Eu devo estar parecendo um idiota!"- T... Tenho certeza que será - ela parou de falar quando ele ajeitou aquele maldito curativo em sua bochecha. Ela piscou mais algumas vezes -
um... ótimo... líder - as palavras saíram tão lentas quanto seus pensamentos. Ela engoliu pesado mais uma fez para se recompor e balançou a cabeça rapidamente
- estou... estou melhor sim. Obrigada! "Isso, aja normalmente!" Escola? Ah... sim, claro... - ela olhou o cabo quebrado da vassoura e arriscou uma fala mais descontraída
- acho que te devo uma vassoura - e riu de leve.
*******
Antes de sair para a escola, Kima pegou uma maçã para não ir de barriga vazia. Acabou indo com Alex, de carro, para o colégio, já que cada um tinha arranjado a sua própria maneira. Achou estranho ir só ela e o rapaz de carro, o certo seria todos irem, mas cada um seguiu o seu caminho. Ela não queria deixar um silencio constrangedor no carro e decidiu iniciar uma conversa.
"Apenas aja normalmente."- Que bom que os meninos já estão amigos - se referiu à John e Jack
- a Hana e a Milarhys também se deram bem. Acho que comecei errado com ela depois que ela tentou te bater - ela sentia vergonha daquilo
- você... você acha a gente vai ser amigos depois de hoje? - ela mordeu o lábio inferior enquanto encarava as mãos apoiadas na mochila - encher todo mundo de perguntas e desconfiança não parece uma boa maneira de se iniciar amizades - ela olhava pela janela também
- eu quero ter amigos de verdade, não um monte de ator contratado pelo meu pai - suspirou.
Viu as mãos simplórias, unhas curtas e sem esmalte, decidiu esconde-las. Sua vaidade havia ficado para trás, uma vida de fugas não deixava espaço para as trivialidades, por isso tinha ficado feliz ao ver o estojo de maquiagem. Ficou feliz ao ver que ainda conseguia fazer uma make decente. As roupas agora eram básicas, coisas que facilitassem correr se preciso
"Que péssima imagem eu devo estar passando..."- P... posso ligar o rádio? - ela queria manter-se ocupada
- Harper, como é ter uma família de heróis? Como é ter um pai de verdade? - ela sentia falta de sua mãe e achou que conversar sobre a família de Alex poderia distrai-la daquela saudade, além de ajuda-la a conhece-lo melhor
- se não quiser falar não precisa, claro - apressou-se em se corrigir.
Ela encarou o céu pela janela enquanto pensava como seria viver numa casa cheia de pessoas, aqueles adolescentes todos seriam uma equipe. Ela se adaptaria? Ela estaria segura entre eles, assim como sua mãe sempre sonhou.
- Posso te perguntar uma coisa - arriscou encara-lo de vez
- você disse que somos jovens e inexperientes, mas o que vocês estavam fazendo naquele lugar - a lembrança daquele laboratório lhe causava arrepios
- eu agradeço muito por você ter me tirado de lá... eu tenho medo do meu pai... do Vince ser uma sombra entre nós... ele não vai me deixar livre... - voltou a olhar para a frente.
Ela queria sair daquele assunto, queria falar de coisas legais, mas o que seria legal?
Escolas sempre eram um universo à parte e para Kima não foi diferente avistar aquele prédio enorme, não muito diferente do que o que frequentava na sua antiga "cidade". Esse era de verdade e ela não teve muito tempo para conhecer lugar, Vince a sequestrou tão logo ela se matriculou. Kima agora devia ser considerada "uma delinquente juvenil que não frequentava o colégio
" Que vergonha. - Me apresenta o colégio? -
"Que tipo de pergunta foi essa?" - ah, mas você pode ficar com seus amigos - ela ficou envergonhada e decidiu mudar de assunto - acho que não temos muito tempo, né... a aula já vai começar.
Ela estava empolgada com as aulas e anotava tudo que os professores falavam, mesmo com fome e sono, tudo ali era tão novo que ela sorria feito boba. Kima era alta e por isso sentava na última fileira, não tinha muita opção, mas isso não foi um problema para ela.
Ao fim da aula, seguiu os demais até o o refeitório. Esperava ver Mila entre eles, mas nada da alienígena. Será que Hana não a encontrou? Mas ela estava com o Sentinel que queria que fossem para a aula.
"Agora já estamos na escola".
- A Mila apareceu? - perguntou preocupada.