Qualquer coisa seria mais vantajosa do que um combate, mesmo um combate com altas chances de vitória. Ilyana pôde ver isso nos olhos do soldado que a abordava. Certamente não estaria satisfeito com aqueles poucos detalhes logo depois de ter exigido saber mais, mas a reação agressiva de Teryn às exigências o fez recuar com seus planos.
O soldado não tirou os olhos de Teryn nem por um segundo enquanto ouvia a sacerdotisa, enquanto isso outro com a bandeira estava quase desembainhando a espada, e só fez questão de encara-la ao ouvir a menção ao filho do Senhor de Harlaw. Nesse momento ele afastou sua mão do cabo da espada e orientou o outro soldado a fazer o mesmo, assim como Teryn. O combate havia sido evitado.
- Muito bem.- Disse com desgosto. Seu ego havia sido ferido.
- Sigam-me. Eu os escoltarei para a Dez Torres.Os cavalos dos soldados viraram-se relinchando para a direção de onde vieram e seguiram na frente sem mais perder tempo. Teryn olhou de canto para Ilyana, aliviado por não terem entrado em combate, e depois os dois foram juntos dos soldados. Imediatamente deixaram o caminho pelo qual vinham desde o porto e cortaram caminho pelo terreno gramado até a fortaleza.
Contornaram pelo campo, com o topo de uma torre cada vez mais visível, e alguns minutos depois foram deixando a grama e o verde para trás, descendo por uma depressão de solo rochoso e cinzento. A torre que a dupla via desde que estavam distante agora era acompanhada por outras nove. Muros e defesas se erguiam ao redor de nada menos que dez torres cinzentas, e de topo mais alto, aquela que era vista de longe, provavelmente era a
Torre dos Livros, conhecida exatamente por ser a maior das dez.
Dez Torres Assim que os quatro cavalos começaram a se aproximar do portão, o soldado que corria na frente começou a diminuir a velocidade junto dos demais e sinalizou para que a sacerdotisa e o manco parassem onde estavam. Aquele que carregava a bandeira parou um pouco à frente dos dois enquanto o outro seguiu sozinho para o portão. Nesse meio tempo, o som das ondas do mar se chocando contra as rochas alguns metros à baixo chamou a atenção de Ilyana. Era curiosa a localização da fortaleza, praticamente na costa da ilha, mas as rochas nas águas próximas e a subida rochosa, que precisaria ser escalada, tornam a Dez Torres inconquistável aos que tentam um ataque direto pelo mar.
Ilyana teve sua atenção chamada para frente por Teryn, que a chamou quando o outro soldado retornou para guia-los.
- Assim que chegarmos no portão vocês serão revistados. Quaisquer armas devem ser deixadas antes que adentrem de fato a fortaleza.- E quanto a isso não havia negociação. Tratava-se claramente de uma condição irrevogável, e nem Teryn contra-argumentaria.
E assim foi. Encontraram o portão sendo aberto e alguns outros guardas os revistaram, recolhendo apenas a espada que Teryn levava na cintura. Não voltaram a ver o soldado que os havia guiado até ali, pois sua função era apenas a de reconhecer e escoltar. A partir do portão de entrada a dupla foi guiada por uma serviçal de pele e olhos claros, com o cabelo em um tom fraco de castanho e vestes simples e esbarrotadas. Seguiram pelo pátio inicial até a entrada em um salão localizado abaixo da torre mais próxima. A única observação relevante era a de que aquele realmente era o castelo mais novo das Ilhas de Ferro, assim como Ilyana lera a respeito em algum estudo passado, afinal a sacerdotisa já possuía vasto conhecido sobre as Ilhas de Ferro.
Quando adentraram o salão, uma vasta mesa de jantar, obviamente "vazia", se encontrava ao centro, cercada de belas cadeiras de madeira com adornos e sobre um quase imperceptível tapete de cor verde musgo. Logo ao fundo, abaixo de uma bela decoração com duas foices de prata cruzadas, estava uma luxuosa cadeira com detalhes de metal depois de três degraus de elevação. Aquele deveria ser o salão principal.
A serviçal virou-se para os dois e cumprimentou, deixando-os logo em seguida. Não estavam sozinhos ali; haviam dois soldados na entrada e um em cada uma das portas à esquerda e à direita. Perceberam que o som dos passos ecoava naquele local, quase como se estivesse completamente vazio, e então uma figura surgiu da direita caminhando pelo salão em direção ao "trono". Era uma senhora com seus cinquenta anos, alto e magra, pele pálida e cabelos grisalhos e lisos. Seu vestido era negro e o manto cinzento que vestia cobria quaisquer detalhes da roupa, mas a julgar pelo tecido certamente era nobre.
- Apresentem-se.- Disse em tom seco enquanto já se sentava. Cruzou as pernas e os olhou por cima, sem demonstrar qualquer tipo de empolgação para recebe-los.