Com a ira de Viserys momentaneamente aplacada e os aliados necessários reunidos, nada mais impedia o grupo de seguir de volta para o lar dos Greyjoy deixando a aquela ilha e alguns corpos de soldados Lannister para trás. O bardo de transporte foi aprontado às pressas e de maneira sorrateira para que nenhuma alma viva no porto desconfiasse.
Era óbvio que não tardaria para que os perseguidores descobrissem as mortes dos soldados daquela área e deduzissem que o "objetivo" havia escapado deles mais uma vez. Talvez houvesse a possibilidade de desistência e retorno aos seus senhores, pois lhes havia sido dado muito tempo para capturar Viserys e até agora somente colecionavam fracassos. De qualquer maneira, era muito difícil imaginar que desistiriam de capturar ou eliminar o Rei de Nada.
Com os preparativos feitos e as várias dúvidas incomodando os mais espertos como uma coceira atrás da orelha, o grupo "liderado" pela sacerdotisa e seu já aliado de confiança Teryn zarpou ainda antes que o sol nascesse. Uma curiosidade em especial incomodava bastante Ilyana: por que mesmo após tanto tempo desaparecidos, Lorde Greyjoy não enviara ninguém atrás dela, Teryn e o precioso navio que agora jazia no fundo do mar?
Após tanto tempo, Ilyana finalmente retornaria.
- Parte III
"O que está morto não pode morrer, mas volta a erguer-se, mais duro e mais forte."
"O que está morto não pode morrer, mas volta a erguer-se, mais duro e mais forte."
"Uma, duas vezes."
Conhecido nas ilhas mais próximas ao seu porto pela confiabilidade de seu capitão, o barco transportador de carga de porte médio cumpria com os requisitos necessários para um bom barco de transporte e comércio, sendo rápido em abrir caminho pelas águas até seu destino e, apesar de aparentemente já danificado em pontos específicos do casco próximo à proa, provou-se bem resistente à "turbulências" e outros obstáculos. Era conhecido pelo nome de
"Rei Robin", isso de acordo com o que seu capitão, Robin, havia contado à Ilyana em uma conversa qualquer. Mas, ainda de acordo com o capitão, aquele barco de transporte jamais o havia deixado na mão, o que estranhamente parecia dar enorme confiança aos tripulantes trabalhadores.
Com poucas pessoas e nenhuma carga a bordo, o
Rei Robin havia demorado apenas alguns dias para fazer crescer a confiança de que chegariam sem problemas ao Lorde Greyhoy, tamanha era a proximidade que já se encontravam de Pyke. Lá a promessa da sacerdotisa finalmente se concretizaria e sua missão para com Viserys estaria completa, e isso deixava até mesmo ela ansiosa para finalmente experimentar a sensação de
conclusão que tal "sucesso" traria. Sendo assim para Ilyana, obviamente outros, como Viserys e Teryn, se encontravam em estados muito mais nervosos, quase desesperados para encerrar aquela longa jornada no mar.
Ambos, Viserys e Teryn, não haviam se comunicado durante todo aquele tempo, cada um com suas mágoas e razões para sentir raiva. Tendo isso claro, aceitar que Viserys recusava-se a cooperar com qualquer um no barco que não fosse Ilyana era inevitável. Por algumas vezes até com Ilyana, que já conhecia a mais tempo, era hesitante na colaboração e insistia em se distanciar cada vez mais dos outros indivíduos no barco. Talvez começasse a pesar a dúvida e o medo de que a sacerdotisa ou o senhor dela não cumprisse com a promessa, ninguém saberia ao certo.
Naquele dia, muitas noites de viagem distantes da ilha que deixaram, o céu claro era completamente coberto pelas nuvens carregadas e uma mistura de cinza azulado e branco se formava acima do
Rei Robin. Havia névoa, pouca de fato, mas ainda assim capaz de dificultar demais a visualização de qualquer coisa muito distante. Chuvisco caía gelado, sentidas como agulhas quando faziam contato com a pele, e o vento soprava forte vindo do norte, fazendo até os mais resistentes e habituados a isso precisarem massagear de vez em quando.
Alguns homens, dois dos quatro trabalhadores e Viserys, ainda dormiam no convés, justamente onde eram acostumados a guardar as cargas e materiais para comércio. Não tinha um cheiro bom lá em baixo, mas o tempo e o balançar do barco deixava alguns mais preguiçosos pela manhã. No topo, Robin encontrava-se sonolento ao leme e Teryn próximo à vela, sentado em uma cadeira com uma caneca de bebida forte em mãos, enquanto na proa a sacerdotisa observava as ondas inquietas com sua serenidade.
Um dia, muito tempo atrás, ela encontrava-se a proa de um temido navio que rumava para a ilha de Volmark. Naquela época ainda lutava para encontrar um sentido em suas visões, ainda ignorante a respeito do que o destino realmente lhe reservava, e ao seu lado estava Teryn também, como um capitão imponente e não como um doente ferido, mas estava lá. E após seu longo período perdida nas dificuldades e companhias muitas vezes nada confiáveis, sua confiança no Deus Afogado, seu real senhor, só se fortalecera.
Não havia temor em seus olhos, nem o natural desespero enfrentado por aqueles que temem mais quando estão tão próximos daquilo que por tanto tempo perseguiram. Seu olhar, apesar de mais forte e experiente, era o mesmo que tinha no dia em que partira com o
Fúria do Sol. Com aqueles olhos avistou o sinal de más águas vindo a caminho.
Um navio, consideravelmente maior do que o
Rei Robin, encontrava-se flutuando não muito longe de onde estavam. A névoa o havia escondido até então e tanto Robin quanto Teryn sequer o haviam notado ainda, mas Ilyana conseguia enxerga-lo da proa com clareza o suficiente para saber que não se tratava de uma fantasia delirante. O primeiro reflexo da sacerdotisa, naturalmente, foi um leve susto por deduzir inicialmente que deveriam ser inimigos, mas foi mais rápida ainda em relaxar quando notou o estado triste do navio: estava praticamente em pedaços, útil somente para navegar sem rumo.
A bandeira da lula gigante ainda podia ser avistada pendurada na mureta da proa.