Os dias que se seguiram foram relativamente tranquilos. Não houveram imprevistos, acidentes, perseguições ou algo que desmentisse a história de Wicked, ao não ser algumas perguntas que a jovem Grifiths fazia sobre o destino deles, o que era um "lugar seguro" de que tanto ouvia e questionava avidamente sobre poder ou não mandar uma mensagem para seu pai informando-lhe de seu infortúnio.
Era Charllote quem normalmente controlava a situação e fazia com que a menina pensasse em outras coisas. Eventualmente, quando as perguntas da menina a cansava ou ficavam ousadas demais, ela simplesmente drogava a menina com uma mistura simples que carregava, misturando-a com sua água ou vinho, fazendo-a dormir ou simplesmente ficar confusa demais para lembrar do que falava.
Quando chegaram a cerca de 700 metros do acampamento da companhia, um batedor veio falar com Wicked secretamente durante a noite, para adiantar sua chegada ao líder da companhia.Harland explicou-lhe que o serviço estava feito.
Esperaram ali aquela última semana, Charllote mais carinhosa do que todos os outros dias, dera abrigo e muito mais atenção à menina e suas histórias. Serviu-lhe o melhor pedaço de queijo e pão que tinham e dividiu seu melhor vinho. Harland sabia que aquilo era porque seria, possivelmente, a última boa refeição dela por muito tempo... Os "hóspedes" da companhia não era bem tratados, nobres ou não. E certamente não tinham amigos.
Na manhã do dia seguinte, Charllote foi com a menina buscar algumas flores que cresciam ali perto, enrolou o cabelo dela com as flores e cuidou de guardar as jóias que a menina usava, dizendo que não precisava daqueles ornamentos com as flores em volta de si.
Foram com os cavalos até o encontro de outros 5 homens, todos membros da companhia.
Harland os cumprimentou e assegurou à Grfiths que ela poderia ficar tranquila, que eram amigos dele. Vernes deu um risinho quando ouviu Harland mentir tão descaradamente, no entanto, apesar da suspeita quase certa da jovem nobre, ela já não podia fazer nada por sua segurança, olhou para Charllote que a puxou pela mão.
Adentraram um acampamento imenso. Nele era possível ver várias cabanas pequenas, levemente ornamentada com teccidos marrons, bege ou vermelho. Elas ficavam nas laterais do acampamento e, ao longo de todo o centro, haviam rodas de pedras onde eram acendidas as fogueiras a noite. Alguns homens e mulheres levavam os cavalos para comer, arrumavam suas coisas para partirem, alguns acenderem algumas fogueiras e faziam o desjejum, outros açavam batatas nas brasas que foram apagadas após a noite.
Haviam algumas jaulas, carruagens e algumas "prisões" feitas de madeiras. Todas fáceis de serem desfeitas ou abandonadas caso alguém desafiasse a segurança do acampamento da companhia.
Caminharam até a frente de uma tenda com tecidos azuis e prateados riquíssimos, a tenda era enorme e parecia ser a maior e mais elegante de todas.
Na porta dela, haviam dois homens armados.
Vernes cumprimentou animadamente todos os que encontravam pelo caminho, inclusive algumas mulheres. Hughes, por sua vez, grunhia impaciente para terminar logo o serviço e se incomodava com a atitude do parceiro que os atrasava, já que muitos vinham falar com Harland sobre seu trabalho.
Já não era possível manter a farsa para Lady Grifiths, e Charllote já não mantinha o braço da jovem no dela como um conforto para uma caminhada, mas sim a segurando. Quando viu que ela iria gritar e desesperar-se sussurrou em seu ouvido:
- Não faça escândalo, querida. Não vai querer me aborrecer sabendo que mantenho minha pistola carregada...
A jovem nada fez além de chocar-se com a verdade à sua frente, empalidecendo.
- Mantenha a calma e a postura. Você ainda é uma dama e, caso se comporte, poderá comer esta noite. Ryan pode se mostrar bondoso, como eu fui, se conseguir não causar problemas... Agora ande. E, se possível, sorria.
Harland ouviu a conversa que ela teve, e aparentemente funcionou bem. A menina pigarreou, ergueu a cabeça e caminhou com boa postura, como era devida à filha de um lorde. Se não fosse seu ar amedrontado, sua mão tremendo e sua pele tão pálida que parecia sem vida, ela conseguiria ter enganado qualquer um da companhia de que estava bem.
Assim que chegaram, Ryan Wright, o líder da Companhia União Púrpura, saiu da sua tenda.
Todos pararam. Ele olhou cuidadosamente cada um dos seus mercenários e, inclusive, a menina que trouxeram consigo.
Após um segundo que pareceu se prolongar, ele deu um sorriso forçado em seu rosto quadrado:
- Muito bem! Não esperava nada melhor de você Wicked.
Após isso, se aproximou de Charllote e a puxou pela cintura em uma espécie de abraço. Hughes imediatamente pousou sua imensa mão sobre o ombro de Lady Grifiths, fazendo-a tremer.
- Vamos! Entrem... hoje vocês beberão na minha tenda!
Charllote entrou abraçada com Ryan, em seguida entrou Harland, depois Hughes e por último Vernes.
Dentro da tenda uma mulher estava sentada em um dos sofás cheios de almofadas.
Foi Charllote quem perguntou:
- Senhor, quem seria esta... preciosa... pessoa?
- Ah, está é Luna Santiago. Ou seria Luna O'Farrel? Não importa... Ela está em nossa companhia a um tempo, posso dizer que ainda não falhou.... HUGHES! - bradou repentinamente - largue isto. Garanto que ela não fugirá enquanto eu tiver homens nesta companhia.
Ele soltou sua mão do ombro da menina e sentou-se em um amontoado de travesseiros, um pouco incomodado de estar na tenda do líder.
Vernes, por outro lado, deitou-se em um sofá comprido e pediu por um hidromel forte e alguma carne assada.
Lady Grifiths permaneceu parada onde estava, com as mãos unidas em frente ao ventre, tentando seguir o conselho de Charllote. Olhando Ryan em silêncio.