Após Alicia adentrar o carro desesperada, Isabelle não se atentou a mais nada que não fosse tirar o carro daquele lugar. Deu a ré de forma abrupta enquanto girava o volante para a esquerda, freando quando fora o suficiente para colocar a frente do carro para o rumo onde ela entendia que deveria ser a saída do local. Em seguida acelerou, fazendo o pneu cavar o gramado alto, perdendo a tração, mas não o controle do carro. Apenas ali, Isabelle notou que aquele carro era de difícil condução. O motor era muito potente e a tração era traseira, o quê dificultava bastante se quisesse manter uma aceleração alta.
No banco do motorista, Alicia sequer prestava atenção para onde Isabelle estava levando o carro. Seu foco era na mochila que tirou la de dentro. A mochila estava bastante danificada pelo tempo, mas cumpriu o papel de guardar o que quer que estivesse la dentro. Alicia abriu a mochila com pressa, e retirou dali um diário bastante antigo. A capa do diário era de marrom com uma textura de couro. As extremidades das páginas estavam definhando, retorcidas e secas, dando o aspecto que fazia jus a idade do diário.
Isabelle não teve dificuldades em encontrar a saída depois de encontrar um caminho que se distanciava do edifício principal. Os faróis iluminaram a saída, e Isabelle percebeu que o portão havia sido arrombado. Uma parte estava envergada, aberta para um dos lados, a outra parte havia sido arrancada e lançada a dois metros dali. Tudo indicava que Alicia havia utilizado o carro para arrombar o portão. Se esticando um pouco dentro do carro, Isabelle pôde comprovar sua teoria após perceber o capô do carro com a pintura bastante danificada, mas sem grandes danos na lataria.
Todos os terrores do local foram rapidamente deixados para trás. Isabelle se acalma no volante, diminuindo a velocidade do carro. O pavimento já estava escorregadio por conta da neve, então todo cuidado era pouco. Era hora de questionar Alicia sobre o quê havia acontecido no interior do edifício.
- Eu encontrei uma passagem para o subterrâneo. E o local obviamente era utilizado para outros fins além de abastecer a cidade. Mas alguém chegou antes. - Alicia levou uma das mãos a frente de Isabelle, como quem fosse entregar algo. Isabelle abre as mãos e Alicia entrega o celular de Brandon. O celular estava danificado, a tela fissurada, a bateria rompida, e pedaços transformados em cacos. Era como se uma marreta tivesse caído em cima do celular. - O local foi esvaziado, não sobrou quase nada. Havia algumas celas... Quatro delas parecia ter sido arrombadas pelo lado de dentro. E em duas delas as paredes estavam toda arranhadas. - Alicia parou de mexer na mochila por alguns instantes, e passou a falar enquanto olhava para Isabelle, que sentia o olhar de Alicia enquanto mantinha o foco na estrada. - Eu continuei vasculhando o local. Encontrei uma sala onde estava tocando um projetor antigo. O filme era preto e branco. Peguei a filmagem na metade, mas esperei terminar para assistir desde o começo. - Alicia suspirou e começou a contar sobre o conteúdo do filme.
- Duas enfermeiras adentram um quarto carregando um homem moribundo e o colocam sentado sobre uma cadeira em frente a uma escrivaninha. Havia uma pilha de papéis e canetas. Em seguida elas o acorrenta pelos pulsos e tornozelos. Em seguida saem do quarto, deixando o homem desmaiado com a cabeça sobre a escrivaninha. O filme parece acelerar até o próximo evento importante. - Alicia fez outra pausa e continuou. - O homem acorda, levanta a cabeça e tenta levar uma das mãos até a cabeça, mas não consegue devido as correntes. Ele se desespera, tenta se soltar, mas o esforço de nada adiantava. Ele se acalma enquanto parecia receber alguma instrução por um sistema de som. E o filme volta a acelerar. - Alicia deixou Isabelle absorver o quê contou até ali, e continuou. - Mesmo com o filme acelerado, dava para perceber que o homem começou a ter um comportamento estranho. Balançava a cabeça de um lado para o outro em uma frequência constante, e de repente ele se acalma e deita a cabeça sobre a escrivaninha. Com uma das mãos ele começa a arranhar a escrivaninha e com a outra começava a amassar papel por papel, formando bolinhas e jogando para o lado. Só parando quando a pilha de papel terminou e as pontas dos dedos que arranhavam a escrivaninha começavam a sangrar. E depois, as coisas ficam bastante esquisitas. - Alicia fez outra pausa. - Ele fecha os punhos e rompe a corrente de um dos punhos usando apenas sua força, depois, com a mão livre, ele rompe o restante das correntes com facilidade. Ele escorrega a cadeira para trás e levanta-se, mas fica numa postura curvada, com os braços sensivelmente abertos. Ele se aproxima da escrivaninha e sobe sobre ela. Mas não para por ai... Ele se agarra na parede lisa e começa a subir pela parede... Sem dificuldade alguma... Então... - Alicia suspira outra vez antes de continuar. - Uma das enfermeiras entra no quarto e se assusta com quê vê. O homem, pendurado no parede feito uma aranha, volta seu rosto para a enfermeira e a encara com uma feição bestial, estava fora de si... E do nada, ele salta para cima da enfermeira... Não da para ver o quê aconteceu, os dois ficaram fora do foco da câmera, mas pouco tempo depois o filme termina... - Alicia respira com calma, ficando um tempo em silêncio.
- Eu sai dali e encontrei um escritório antigo onde ainda tinha ficado alguns móveis. Achei essa mochila. Então escutei o som de algo metálico batendo... Foi quando eu me dei conta do quê estava acontecendo. As celas, rompidas pelo lado de dentro. O conteúdo do filme... Aqueles homens, algo aconteceu com eles para ficarem daquela maneira. E o barulho... Talvez eles estivessem ali. Fiquei com medo. Coloquei a mochila sobre o ombro e me esgueirei pelo local. Então, quando eu estava saindo, escutei outro barulho num quarto próximo. E acho que comecei a alucinar. Quanto mais eu me aproximava da saída, mais eu via vultos, como se algo estivesse me observando. Eu segurei minha arma com firmeza, apenas por precaução... E quando eu adentrei o corredor em direção a saída do subterrâneo, ouvi mais um barulho vindo de trás de mim... Virei-me e disparei três tiros por puro reflexo, foi no susto... E após os tiros, escutei um grito rouco partindo do interior de alguma daquelas salas, era um grito esquisito, não humano... Então virei-me e corri, fazendo todo o percurso da volta sem olhar para trás... Por sorte você já estava com o carro ligado. - Alicia parecia ter terminado sua história, voltando sua atenção para o diário velho.
Alicia abriu o diário e foleou as páginas, cada vez mais rápido. Ela ergueu as sobrancelhas, curiosa. - Nada escrito... - E continuou foleando, até a última página, onde estava escrito apenas uma frase. - Fim da trilha... - Alicia falou em voz alta. - Estranho... - Intrigada, Alicia rejeitou dirigir o carro, estava curiosa com o diário, estudando suas folhas, mesmo sem ter nada escrito ali. E algum momento depois, perguntou a Isabelle. - Então, o quê você vai fazer agora?.. Você sabe, seu namorado... Ele continua por ai. - Faltava pouco tempo até amanhecer, dentro de um hora o Sol iria nascer.