Prólogo - Eleonor Martell

Meus olhos correram por Porto Real e aquele cheiro estranho do lugar entrou por minhas narinas bem antes de eu chegar a cidade em si. Não era o melhor perfume que já havia sentido, mas ao menos a brisa do mar e o cheiro salgado dela diminuía um pouco minha repulsa. Quando o homem se aproximou de mim e perguntou, olhei-o em silencio pensativa por um instante antes de falar.

- Vamos direto ao rei. Tudo e todos nessa cidade tem ouvidos e olhos... Pode não ser uma opção muito boa abusar da sorte com a situação atual. - Queria resolver aquela questão o mais depressa possível, pois havia já conhecido a fama de Eddard Stark quanto a sua honra. Se minha intuição estivesse certa, ele talvez achasse que todos eram tão honrados quanto e uma vez feito o juramento ao Trono de Ferro, ele acreditaria que a casa desejava se manter na paz do rei, precisando me preocupar apenas com os outros jogadores. Dentre todos, os que mais me preocupavam até então eram os Lannister e seus aliados.

- Entendo que planejas manter o respeito, sir, mas pode me olhar enquanto fala comigo.

Eu não planejava envergonhar-lhe ou deixar sem jeito, apenas desejava que aqueles que comigo estavam tivessem o respeito que mereciam e não acreditava que fosse tão melhor assim do que ele - eu apenas tinha berço nobre, mais nada. Quando ele se afastou, anotei mentalmente a necessidade de falar com ele depois e explicar.

Ao chegar no lugar, cumprimentei algumas pessoas por quem passei, trocando cortesias e palavras doces quando necessário e se necessário. Um sorriso bailava em meus lábios durante isso e me vi satisfeita quando aquele instante passou. Paciente, aguardava o momento de jurar a lealdade enquanto observava os presentes.

- Estranho... O rei não chegou ainda. - Falei baixinho, coçando o queixo. E quem seria aquela casa ali presente do brasão que eu não conseguia reconhecer? Não me parecia ser uma das grandes casas, mas talvez alguma tivesse ascendido e eu não ficasse sabendo... Depois me informaria melhor sobre aquilo.

Agora estava explicado a presença daqueles homens e isso aguçou um pouco minha curiosidade, mas fui interrompida dos devaneios pela fala do rei e, em seguida, de sua Mão. Quando Tyrion falou, dei um sorriso e fiz uma mesura antes de responder, com a voz cortes e alguma leveza na voz.

- Não há problema nenhum com isso, senhor Mão e Vossa Majestade. De fato é uma pena que meu pai não tenha podido comparecer. - Eu não estava realmente ofendida com o equivoco do rei e qualquer pessoa poderia notar isso. Todos os homens falham e eu acreditava que os últimos dias e semanas deveriam estar sendo terríveis para o novo rei. Fiz mais uma mesura e voltei a observar atentamente o que acontecia, aguardando os juramentos e demais palavras.

Não me surpreendia com as saídas as presas e não era exatamente falta de educação pelo meu ponto de vista - apesar de achar que o rei parecia por demasia rude as vezes, porém talvez fosse apenas o jeito do Norte ou mesmo o estresse da situação em que ele se encontrava. Quem poderia julgar-lhe, afinal? Eu sabia bem como a politica poderia deixar alguém daquele jeito, já que quando meu pai estava incapacitado era eu quem assumia os deveres dele, uma vez que eu era a herdeira. Olhei para minha comitiva e dei um meio sorriso para eles antes de falar.

- Eu prefiro ficar no castelo pelo menos por hoje, caso não se incomodem em ficar por aqui. - Em geral, eu gostava de ouvir a opinião daqueles que estavam ao meu redor e considerar o que pensavam para não ser imparcial ou agir totalmente pelo impulso, além do fato de que um líder que não ouvia aqueles quem comanda e se julga acima deles está fadado ao fracasso.

Então me aproximei discretamente do grupo que conversava. Se o tema parecesse interessante, me uniria a eles, caso contrario convidaria a comitiva a me acompanhar para descansar e chamaria o guarda com quem falara mais cedo para uma conversa.

Apesar de estar preocupada com o que ouvi entre Lorde Frey e Tully, não foi o suficiente para que eu me juntasse a discussão deles - principalmente porque eu não estava em Dorne e muito provavelmente o assunto seria interrompido se me unisse a eles. Sabia que as coisas por ali eram bem diferentes de como eu estava acostumada. Então convidei minha comitiva a me acompanhar e iria procurar me informar sobre onde ficaríamos ali. Assim que conseguisse descobrir, levaríamos as coisas para lá e então convidaria o guarda a uma conversa.