"Reciprocidade faz qualquer coisa dar certo."
O jovem lord sem palavras me deixou bem animada e o convite dele ainda mais. Visita-lo sempre que desejasse não pareceria uma má ideia. Claro que uma viagem ao Norte exigia muito tempo e preparo, então não seria realmente sempre que tivesse vontade de ver ele. E tinha também o fato de que eu tinha minhas obrigações com minha casa, o que me trouxe novamente ao mundo com as palavras do mercador. Minha família não era exatamente o tipo que sentava a sombra e deixava os outros fazerem em nosso lugar e eu esperava que ele ao menos soubesse isso. Mas não poderia julga-lo, ele provavelmente não conhecia nossos costumes de sucessão ou o quanto seguíamos as nossas palavras, "Insubmissos, Não Curvados, Não Quebrados". Eu não ficaria quieta em meu quarto ou qualquer outro lugar enquanto negociavam pela minha família e tampouco meu pai aceitaria algo assim. Como herdeira, eu mesma queria ouvir o que ele tinha a oferecer, discutir os termos e talvez concordar ou não com eles.
— Eu sou a responsável pelos assuntos oficiais da Casa Martell, uma vez que sou a representante da Casa e sua herdeira. Poderíamos discutir isto amanhã também, pois provavelmente depois do jantar estaremos todos tão cansados e sonolentos, alguns talvez até bêbados, que ninguém teria cabeça para discutir acordos comerciais. A menos que o senhor tenha problemas em tratar com uma mulher, mas nesse caso teria que arrumar uma conferencia com meu pai e os deuses, Novos e Antigos, sabem como isso pode ser difícil. Ele dificilmente trata de algo que eu possa resolver, como creio que ele venha a supor que é este caso.
Tentei ser o mais cortês e gentil possível enquanto falava, alertando-o da dificuldade que ele teria para falar pessoalmente com meu pai. Além disso, o tempo de viagem até Dorne para uma reunião que poderia demorar a ocorrer - se ocorresse - poderia não compensar tanto para um comerciante do que falar com alguém que pudesse resolver de uma vez aquilo. O único porém era que ele teria que negociar com uma mulher, o que poderia ser bem incomum para as pessoas desacostumadas com os traços de cultura que havíamos herdado dos roinares. Quanto ao que eu definia como assuntos que eu pudesse resolver envolvia a maioria daqueles que não envolvessem casamento, mas haviam algumas outras pequenas exceções. Em todos os casos, eu sempre estava presente e próxima para escutar e aprender com ele. Então olhei para o jovem lorde e falei com uma voz mais doce.
— Não se vê com muita clareza, não é, Od? Você não é incrivelmente belo apenas por fora, tenho certeza. Com o tempo e um pouco de esforço, talvez consiga te fazer ver a si mesmo com os meus olhos. Eu adoraria conhecer sua casa. Quando estivermos em Dorne, irei comprar, então, algumas roupas mais quentes, pois precisarei para quando formos para o Norte. Minhas sedas dificilmente seriam apropriadas, em especial as que eu mais gosto. Estou ansiosa para conhecer o lugar, deve ser incrível e de uma beleza e agradabilidade fascinantes.
Não entrei em detalhes sobre as que eu mais gostava, mas talvez ele entendesse o que eu queria dizer pelo ar malicioso que havia surgido em minha voz e o sorriso. Havia uma sinceridade grande minha voz ao proferir as palavras. Eu nunca vira o Norte ou a Muralha, mas pelas histórias que ouvira devia ser um lugar fascinante. Queria ter a honra de conhecer o lugar e ainda poder desfrutar um pouco mais da companhia de Od enquanto isso. Mordendo o lábio inferior, ponderei um pouco sobre o que dizer e mexi nos cabelos escuros, ajeitando os cachos para melhor emoldurar a face morena e também tirando um pouco do cabelo que escorrera para minha face de modo a me atrapalhar um pouco a ver e fazer cocegas.
— Será que eu consigo aguentar o frio do Norte? Não sei se conseguiria, mesmo com camadas boas de tecido sobre a pele.
Eu queria ouvir a resposta dele e ver como ele reagiria aquilo, pois as vezes as posturas e as formas como as coisas são ditas podem indicar dezenas de coisas e dar informações importantes sobre aqueles com quem se está conversando.