Prólogo: -3 dias
O som do trem passando pelos dormentes de madeira continuava como uma especie de hipnose. Sentado perto da janela estava quase dormindo, segurando um livro só como figuração porque não lia mais nada. Esfregou os olhos e tirou do bolso o relógio, apertou o botão para abrir a tampinha. Observou os pontos concluindo que era 15:00 horas. Meio da tarde do terceiro dia de viagem e ainda faltavam mais dois dias de viagem.
Olhou pela janela de sua cabine a planície interminável verde passar na direção contraria do movimento do trem. Nela as vezes era possível ver bosques aqui e acolá de arvores coníferas e de copas arredondadas. Era um lugar que se você não prestasse atenção poderia se perder nele só olhando. O seu destino ficava no final dela, a ultima cidade do império, antes das terras despedaçadas.
Com um jornal de três dias atrás, data em que embarcara, enrolado ao seu lado no banco da sua cabine. Ele o pegou e saiu para o corredor a fim de ir para o restaurante do trem. Sabia que o momento já era tarde para pegar o almoço, mas acreditava que ainda poderia faze-lo antes que a cozinha fechasse para a preparar a janta.
Foi caminhando distraído, com o constante som do trem passando pelos trilhos o hipnotizando. Estava sem o seu uniforme militar, estando com roupas de civil, pois não estava em serviço, pelo menos não oficialmente. Era o primeiro Manu mandado para a distante cidade de Santa Maria. Existiam umas preocupações do imperador e do exercito acerca do lugar por isso mesmo acabaram decidindo mandar um dos “abençoados” do exercito para lá.
Manus eram conhecidos em todo o território do império por serem portadores do dom magico. O nome era de origem indígena e significava “espirito encarnado”. Todos os que eram assim identificados automaticamente faziam parte do exercito imperial, sendo recrutados imediatamente para treinamento. Existiam algumas peculiaridades envolvendo os manus, mas isso era um capitulo para outro momento.
Perdido em pensamentos enquanto andava acabou mal olhando para frente e esbarrou em alguém. Saiu imediatamente do transe de reflexões que estava e observou quem tinha acertado com seu corpo sem querer.
- Me desculpa, estava distraído e acabei não notando os arredores – afirmou.
Tinha sido um homem de aparentemente uns quarenta anos ou mais que ele tinha esbarrado. Ele vestia um terno de tom amarronzado com uma bengala de madeira clara nas mãos, tinha cabelos escuros e barba bem cuidada no rosto. Parecia ser um homem de muitas posses.
- Tudo bem – nesse momento o homem parou e o olhou de cima a baixo – Você deve ser o enviado especial do exercito para Santa Maria, estou certo ou não? - com o que parecia ser um sorriso estranho o homem continuou – É difícil confundir as peculiaridades de um Manu com qualquer outra coisa.
- Sim está certo, sou o Manu enviado para Santa Maria, mais uma vez peço desculpas pelo esbarrão, senhor, mas agora tenho que ir senão perco definitivamente o almoço – Sorriu e continuou o seu caminho.
- Hei! espere, será que posso acompanha-lo? Sou de Santa Maria e é tão difícil ver uma pessoa dos seus talentos ir para minha cidade. Me chamo Reinaldo Alves e sempre quis conhecer alguém com um dom particular como um Manu. Devo dizer antes de mais nada que lá em Santa Maria provavelmente o senhor não será bem recebido.
Parou por um momento olhando o homem. Serio que ele estava querendo se sentar para comer junto com ele? Que tipo de interesse poderia ter um homem que se diz rico em querer conversar com um militar? Não quis refletir muito sobre isso.
- Não, não pode. Sinto muito por estar sendo mal educado, mas não quero que me vejam junto com o senhor e comecem a pensar em todo o tipo de relação – disse continuando para o restaurante do trem.
O homem chamado Reinaldo ficou olhando para ele parado aonde estava por tempo até o momento em quê deu de ombros e continuou o seu caminho.Sem perceber que o homem tinha ficado parado olhando para ele no meio do corredor, foi andando até o restaurante do trem. O lugar que ocupava um vagão inteiro tinha uma decoração chique com cortinas de cores claras nas janelas e toalhas brancas nas mesas com varios tipos de rendas bordadas nas suas extremas. Praticamente todas as mesas do lugar estava desocupadas a exceção de um casal que conversava descontraidamente numa mesa do lado direito quase no fundo do vagão e uma senhora solitária sentada no lado esquerdo comendo pudim. Sentou-se a umas duas mesas de onde essa mulher estava e chamou o garçom para pedir o prato que desejava. A sua refeição foi normal, sinceramente, não se comparava com a comida dos bailes do exercito que tinha participado ou até mesmo os eventos da corte imperial que de vez em quando tinha sido convidado. Era compreensível, afinal, um trem comercial não devia ter os mesmos padrões de exigência que os nobres e os militares.
Voltou para sua cabine e o resto do dia passou monótono com o som hipnótico do trem viajando sobre os trilhos e planície se desarrolando nos lados do vagão. Logo no começo da noite pararam numa pequena estação numa vila chamada Estefanies, o porquê do plural? Sinceramente não sabia.
Levantou com má vontade do banco em que estava deitado. Seu cabelo estava desgrenhado e bagunçado, sentia uma dor chata na parte de trás do seu pescoço. Fez uma cara feia quando botou a palma da mão nessa parte do seu corpo. “ Era hora socializar, tempo de sair da toca” pensou quase sem vontade nenhuma de fazer tal ato.
Sentado no banco da sua cabine suspirou e se levantou, puxou a sua mala logo depois abrindo-a. Tirou dela as peças de roupa do seu uniforme para vestir. Não levou nem cinco minutos para que fizesse o processo todo. Deviam ir uniformizado, pois a única forma de poder usar a sua magia era estando em atividade pelo exercito. Como esperava hostilidade tanto ali como em Santa Maria, era melhor que tivesse o recurso magico para poder se defender. Era praticamente um ermitão pode ser dizer assim. Geralmente não gostava de ver outras pessoas por muitas razões, mas estava cansado demais para elucidar elas. O fato é que esse afastamento de grande parte do mundo social tinha lhe rendido uns dias de cela e esse maravilhoso serviço de ir para essa remota cidade do império.
Saiu da sua cabine trancando-a com a chave e rumou pelo corredor do vagão até a saída mais próxima. Desceu na plataforma e logo sentiu o frio sereno da noite ali fora. Caminhou até a saída da estação, logo ali no fim do prédio um homem com roupas maltrapilhas o viu, fazendo uma cara feia para ele e gritou:
- Bruxo! Sua raça não é bem vinda aqui! VÁ EMBORA! - tendo terminado de expressar o seu ódio atirou uma pedra na direção dele.
O objeto parou no ar antes antigo-lo. Virou e atirou um olhar nada amistoso para o homem. A pedra caiu no chão calmamente sem acerta ele.
- Pela mãe da terra e suas crias ! - exclamou o homem e saiu correndo.
Era só o começo né? Deveria procurar um lugar aonde as pessoas iam comer e beber para passar o tempo, qual era o nome mesmo? Cantina ou Pensão, não sabia, não costumava a frequentar esse tipo de lugar. Em geral costumava ficar ocupado com os seus estudos na sua casa na vila militar e quando muito ia até o refeitório do quartel. Era até estranho que alguém formado na escola de Triagem fosse tão anti-social. “Os mestres da energia” como eram chamados os Manus que egressavam a instituição eram conhecido por suas participações na festas da corte e nos bailes do alto escalão militar.
Foi caminhando pela rua dessa vez sem ser molestado por qualquer pessoa. Começou a observar a pequena cidade aonde estava. As ruas delas eram de chão batido e as casas geralmente simples, sem grande decorações na sua fachada e quase sempre tendo um andar apenas. No final da rua pode reconhecer a cruz de Avis na fachada de um pequeno prédio de três andares. Não precisou de mais observação nenhuma para saber que ali era o prédio da administração local do povoado.
Parou um momento olhando para ele bem em frente a sua entrada. Um vento frio bateu nas suas roupas as balançando e uma voz veio de trás:
- Eu falei que a sua recepção não seria boa. Em Santa Maria será pior que aqui.
Virou e viu Reinaldo parado logo atrás dele. Aquele homem era persistente, certamente deveria querer alguma especie de benesse do exercito.
- Eu lembro do senhor ter me dito isso, mas não vejo a utilidade de repetir isso agora.
- Tenho informações que podem ser uteis a você sobre Santa Maria. Sei o porquê o exercito mandou um Manu para cá . Vocês temem que a crianças com o Dom estejam sendo ocultadas do império, para que não possam se juntar ao exercito – Ele começou a andar na direção a sua direita fazendo sinal para o acompanhasse – Venha vamos conversa na pensão da Dona Maria, lá terão menos ouvidos indesejados que aqui.
- Er...- Fez uma cara de desgosto – Não obrigado.
Aquela tentativa de socializar já tinha dado o que tinha, era hora de voltar para o trem. Tinha vários livros mais interessantes para ler que ir conversar numa pensão. Devia ter ficado na sua cela no quartel que aceitar aquela missão.
Foi caminhando até o prédio da estação e entrou nele. Mostrou o seu bilhete para o funcionário da estrada de ferro imperial e voltou a entrar no trem, assim que o fez sentiu um peso sair do seus ombros. Agora era só ir para sua cabine e passar o resto da noite lendo.
Olhou pela janela de sua cabine a planície interminável verde passar na direção contraria do movimento do trem. Nela as vezes era possível ver bosques aqui e acolá de arvores coníferas e de copas arredondadas. Era um lugar que se você não prestasse atenção poderia se perder nele só olhando. O seu destino ficava no final dela, a ultima cidade do império, antes das terras despedaçadas.
Com um jornal de três dias atrás, data em que embarcara, enrolado ao seu lado no banco da sua cabine. Ele o pegou e saiu para o corredor a fim de ir para o restaurante do trem. Sabia que o momento já era tarde para pegar o almoço, mas acreditava que ainda poderia faze-lo antes que a cozinha fechasse para a preparar a janta.
Foi caminhando distraído, com o constante som do trem passando pelos trilhos o hipnotizando. Estava sem o seu uniforme militar, estando com roupas de civil, pois não estava em serviço, pelo menos não oficialmente. Era o primeiro Manu mandado para a distante cidade de Santa Maria. Existiam umas preocupações do imperador e do exercito acerca do lugar por isso mesmo acabaram decidindo mandar um dos “abençoados” do exercito para lá.
Manus eram conhecidos em todo o território do império por serem portadores do dom magico. O nome era de origem indígena e significava “espirito encarnado”. Todos os que eram assim identificados automaticamente faziam parte do exercito imperial, sendo recrutados imediatamente para treinamento. Existiam algumas peculiaridades envolvendo os manus, mas isso era um capitulo para outro momento.
Perdido em pensamentos enquanto andava acabou mal olhando para frente e esbarrou em alguém. Saiu imediatamente do transe de reflexões que estava e observou quem tinha acertado com seu corpo sem querer.
- Me desculpa, estava distraído e acabei não notando os arredores – afirmou.
Tinha sido um homem de aparentemente uns quarenta anos ou mais que ele tinha esbarrado. Ele vestia um terno de tom amarronzado com uma bengala de madeira clara nas mãos, tinha cabelos escuros e barba bem cuidada no rosto. Parecia ser um homem de muitas posses.
- Tudo bem – nesse momento o homem parou e o olhou de cima a baixo – Você deve ser o enviado especial do exercito para Santa Maria, estou certo ou não? - com o que parecia ser um sorriso estranho o homem continuou – É difícil confundir as peculiaridades de um Manu com qualquer outra coisa.
- Sim está certo, sou o Manu enviado para Santa Maria, mais uma vez peço desculpas pelo esbarrão, senhor, mas agora tenho que ir senão perco definitivamente o almoço – Sorriu e continuou o seu caminho.
- Hei! espere, será que posso acompanha-lo? Sou de Santa Maria e é tão difícil ver uma pessoa dos seus talentos ir para minha cidade. Me chamo Reinaldo Alves e sempre quis conhecer alguém com um dom particular como um Manu. Devo dizer antes de mais nada que lá em Santa Maria provavelmente o senhor não será bem recebido.
Parou por um momento olhando o homem. Serio que ele estava querendo se sentar para comer junto com ele? Que tipo de interesse poderia ter um homem que se diz rico em querer conversar com um militar? Não quis refletir muito sobre isso.
- Não, não pode. Sinto muito por estar sendo mal educado, mas não quero que me vejam junto com o senhor e comecem a pensar em todo o tipo de relação – disse continuando para o restaurante do trem.
O homem chamado Reinaldo ficou olhando para ele parado aonde estava por tempo até o momento em quê deu de ombros e continuou o seu caminho.Sem perceber que o homem tinha ficado parado olhando para ele no meio do corredor, foi andando até o restaurante do trem. O lugar que ocupava um vagão inteiro tinha uma decoração chique com cortinas de cores claras nas janelas e toalhas brancas nas mesas com varios tipos de rendas bordadas nas suas extremas. Praticamente todas as mesas do lugar estava desocupadas a exceção de um casal que conversava descontraidamente numa mesa do lado direito quase no fundo do vagão e uma senhora solitária sentada no lado esquerdo comendo pudim. Sentou-se a umas duas mesas de onde essa mulher estava e chamou o garçom para pedir o prato que desejava. A sua refeição foi normal, sinceramente, não se comparava com a comida dos bailes do exercito que tinha participado ou até mesmo os eventos da corte imperial que de vez em quando tinha sido convidado. Era compreensível, afinal, um trem comercial não devia ter os mesmos padrões de exigência que os nobres e os militares.
Voltou para sua cabine e o resto do dia passou monótono com o som hipnótico do trem viajando sobre os trilhos e planície se desarrolando nos lados do vagão. Logo no começo da noite pararam numa pequena estação numa vila chamada Estefanies, o porquê do plural? Sinceramente não sabia.
Levantou com má vontade do banco em que estava deitado. Seu cabelo estava desgrenhado e bagunçado, sentia uma dor chata na parte de trás do seu pescoço. Fez uma cara feia quando botou a palma da mão nessa parte do seu corpo. “ Era hora socializar, tempo de sair da toca” pensou quase sem vontade nenhuma de fazer tal ato.
Sentado no banco da sua cabine suspirou e se levantou, puxou a sua mala logo depois abrindo-a. Tirou dela as peças de roupa do seu uniforme para vestir. Não levou nem cinco minutos para que fizesse o processo todo. Deviam ir uniformizado, pois a única forma de poder usar a sua magia era estando em atividade pelo exercito. Como esperava hostilidade tanto ali como em Santa Maria, era melhor que tivesse o recurso magico para poder se defender. Era praticamente um ermitão pode ser dizer assim. Geralmente não gostava de ver outras pessoas por muitas razões, mas estava cansado demais para elucidar elas. O fato é que esse afastamento de grande parte do mundo social tinha lhe rendido uns dias de cela e esse maravilhoso serviço de ir para essa remota cidade do império.
Saiu da sua cabine trancando-a com a chave e rumou pelo corredor do vagão até a saída mais próxima. Desceu na plataforma e logo sentiu o frio sereno da noite ali fora. Caminhou até a saída da estação, logo ali no fim do prédio um homem com roupas maltrapilhas o viu, fazendo uma cara feia para ele e gritou:
- Bruxo! Sua raça não é bem vinda aqui! VÁ EMBORA! - tendo terminado de expressar o seu ódio atirou uma pedra na direção dele.
O objeto parou no ar antes antigo-lo. Virou e atirou um olhar nada amistoso para o homem. A pedra caiu no chão calmamente sem acerta ele.
- Pela mãe da terra e suas crias ! - exclamou o homem e saiu correndo.
Era só o começo né? Deveria procurar um lugar aonde as pessoas iam comer e beber para passar o tempo, qual era o nome mesmo? Cantina ou Pensão, não sabia, não costumava a frequentar esse tipo de lugar. Em geral costumava ficar ocupado com os seus estudos na sua casa na vila militar e quando muito ia até o refeitório do quartel. Era até estranho que alguém formado na escola de Triagem fosse tão anti-social. “Os mestres da energia” como eram chamados os Manus que egressavam a instituição eram conhecido por suas participações na festas da corte e nos bailes do alto escalão militar.
Foi caminhando pela rua dessa vez sem ser molestado por qualquer pessoa. Começou a observar a pequena cidade aonde estava. As ruas delas eram de chão batido e as casas geralmente simples, sem grande decorações na sua fachada e quase sempre tendo um andar apenas. No final da rua pode reconhecer a cruz de Avis na fachada de um pequeno prédio de três andares. Não precisou de mais observação nenhuma para saber que ali era o prédio da administração local do povoado.
Parou um momento olhando para ele bem em frente a sua entrada. Um vento frio bateu nas suas roupas as balançando e uma voz veio de trás:
- Eu falei que a sua recepção não seria boa. Em Santa Maria será pior que aqui.
Virou e viu Reinaldo parado logo atrás dele. Aquele homem era persistente, certamente deveria querer alguma especie de benesse do exercito.
- Eu lembro do senhor ter me dito isso, mas não vejo a utilidade de repetir isso agora.
- Tenho informações que podem ser uteis a você sobre Santa Maria. Sei o porquê o exercito mandou um Manu para cá . Vocês temem que a crianças com o Dom estejam sendo ocultadas do império, para que não possam se juntar ao exercito – Ele começou a andar na direção a sua direita fazendo sinal para o acompanhasse – Venha vamos conversa na pensão da Dona Maria, lá terão menos ouvidos indesejados que aqui.
- Er...- Fez uma cara de desgosto – Não obrigado.
Aquela tentativa de socializar já tinha dado o que tinha, era hora de voltar para o trem. Tinha vários livros mais interessantes para ler que ir conversar numa pensão. Devia ter ficado na sua cela no quartel que aceitar aquela missão.
Foi caminhando até o prédio da estação e entrou nele. Mostrou o seu bilhete para o funcionário da estrada de ferro imperial e voltou a entrar no trem, assim que o fez sentiu um peso sair do seus ombros. Agora era só ir para sua cabine e passar o resto da noite lendo.