por Luxi Sáb maio 14, 2016 1:47 pm
Jade
"Bando de abutres", pensou rabugenta enquanto espiava pela janela. Tomou um gole de seu chá. Gostaria de dar uma notícia positiva para a população apresentando números de sucesso, não simplesmente dando a cara para aqueles jornalistas que esperavam uma fala em lugar errado para propagar o pânico. Não que desgostasse da imprensa completamente, mas sabia que nesses casos eles serviam para atrapalhar mais, trazendo uma ansiedade coletiva diante de casos mais complicados. Parecia que a partir do momento em que os jornalistas entravam em cena, o tempo que eles tinham para resolver os casos caía pela metade. Já tinham identificado todos os mutantes? É claro que não. Mas prenderiam todos. Bebeu mais um pouco de seu chá. Já sabiam como combatê-los? Também não exatamente, mas ela não tinha medo de disparar algumas balas naquele bando.
Criava aquelas perguntas na cabeça, desejando ter um tipo de assessor de imprensa para falar por ela. Capitã Shamu. Ficava bem confortável de circular pelos meios oficiais, entre polícia e militares, mas não com o festival de flashes. Quando conquistou aquela posição, uma parte de si tinha receio que virasse uma posição quase política, mas a outra que a fez aceitar era por temer a incompetência alheia num cargo como aquele.
Depositou a xícara vazia na mesa. Estava na hora. Sabia o quanto aquele departamento estava apreensivo com o que a capitã com tão pouco jeito com as palavras falariam diante de câmeras. Tinham medo que a Capitão Shamu desse alguma declaração polêmica, achava. Idiotas, pensava. Não queria causar o pânico. O único motivo para ela dar uma entrevista era realmente para assegurar a população de que estava tudo bem, pois era com quem se preocupava. Mas sabia que as matérias que já tinham ido ao ar eram bem desagradáveis, sempre trazendo dúvida quanto ao preparo dos policiais para lidar com aquilo. "Porque não me viram com uma arma", rosnava para a televisão antes de desligá-la, discutindo sozinha em casa quando via um tipo de reportagem daquela. Mesmo assim, o departamento teria muita razão para ter medo daquela entrevista, já que ela tinha mania de tomar decisões por conta própria, como por exemplo, aquela sua vontade latente de ela mesma ir a campo e que era questionada. Hoje, poderia anunciar isso, e não tinha descartado a possibilidade.
Ouviu a batida na porta e pediu para que Amélia entrasse. Já estava em pé, encostada à mesa. Droga, como odiava aquele tipo de adrenalina social.
- Certo. Obrigada, Amélia. - respondeu, sem grande simpatia. Mas fazia um esforço às vezes, principalmente com pessoas que tentavam ser gentis. Passou pela secretária com passos duros e um rosto pouco amigável. Estava indo para um campo de combate. Não cumprimentou ninguém no caminho, estava concentrada. Tentava mentalizar respostas assertivas, mas aquilo fazia crescer um mau humor preventivo. Só tinha que se concentrar em não xingar nenhum daqueles jornalistas.