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    [Narração] Alicia (Celesthye)

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    Mensagem por Bastet Dom Jun 04, 2017 8:41 pm



    C h r y s a l i s
    Narração -  Alicia (Celesthye)

     
    [Narração]   Alicia (Celesthye)  Wrskkom


    Dentro dos padrões nos quais crescera, Alicia tivera uma infância normal.  Desde de jovem, recebeu uma educação muito formal e rígida, com poucas horas de lazer (nas quais, geralmente, estava tendo aulas de violino). Não tinha muitos amigos: tirando o seu violino e o a bailarina de pelúcia que ganhara de seu pai, não conversava muito com outras pessoas. O único pensamento dela, influenciado pela falta do pai e pela obsessão da mãe com a beleza da filha, era ser perfeita. Pensava que, assim, teria o amor da mãe e conseguiria trazer o pai mais vezes para casa... Mas não fora bem sucedida em nenhum dos objetivos.

    A mãe, cada dia que a garota ficava mais velha, arrumava um novo defeito na aparência dela: certa vez foram as espinhas, outra, os dentes que estavam ficando tortos; ora estava gordinha, e, muitas vezes, magra demais. E não se resumia apenas a beleza física, pois a mãe cobrava uma etiqueta impecável da filha, mesmo em situações descontraídas, e não aceitava menos que o esplendor, ao ouvi-la tocar o violino.

    O pai, com o passar dos anos, ao invés de ficar mais tempo em casa, foi apenas se afastando. Viagens de negócios eram cada vez mais extensas e distantes, reuniões iam cada vez até mais tarde, acordos internacionais estavam cava vez mais difíceis, segundo ele. Isso tudo contribuía para que ele só visitasse a família em feriados importantes, chegando até a ter um loft mais próximo do trabalho. “A viagem é muito longa para o nosso bairro. É melhor ter esse tempo a mais de sono. Nos fins de semana eu compenso vocês”, foi o que ele dissera quando decidiu comprar o loft, mas, após isso, foram raros os fins de semana que realmente estava em casa.

    [...]

    A menina acabou se refugiando em seu próprio mundo, onde tudo era belo e simples, onde a música conseguia quebrar os corações mais duros e deixar todo mundo feliz. Seu mundinho fora construído em um lugar que tocara certa vez: uma clareira circular, dentro de bosque lindo e denso de mata, que capturava a luz do sol durante todo o período do dia e que tinha um palco aberto, parecido com um teatro grego. Sempre se imaginava lá, fazendo sua melhor performance, enquanto os pais e os amigos a olhavam e aplaudiam com verdadeira admiração.

    [...]

    A medida que crescia, mais se beneficiava de suas apresentações, tanto financeiramente quanto daquela “energia” que recebia ao ouvir as palmas. Era algo quente e delicioso, que a jovem não sabia o que era, mas que a fazia se sentir revigorada. Menos dependente dos pais, sentia menos necessidade de impressioná-los, mas ainda cobrava muito de si.

    Quando completou 15 anos, as coisas começaram a mudar. Vez ou outra, após receber tanta energia no palco, começava a ver coisas estranhas. Via pessoas parecendo fantasiadas por aí, lugares cheios de brilho, monstros se escondendo pelas sombras... Tudo parecia loucura. Mas ela sentia que era tudo real. Parecia palpável, mesmo que essas visões durassem apenas alguns segundos.

    [...]

    A medida que os dias passavam, as coisas ficavam ainda piores e mais reais. Naquela noite, depois do show, tudo estava dourado. Haviam pessoas “fantasiadas” na plateia, o som do seu violino parecia dançar em cores, diante dos seus olhos e entrar no coração de cada um que a ouvia, os deixando mais belos. Era... incrível.

    Quando terminou o show e de se arrumar para voltar para casa, tudo parecia bem, até começar a sentir o chão tremer . O tremor parou na porta de seu camarim e uma batida forte na porta a fazer pular.

    -Senhorita Müller, o carro já está pronto – a voz de um dos seguranças ressoou, bem mais vibrante e grossa que normalmente. Quando ela abrisse a porta, veria um homem enorme, de mais de dois metros, todo azul, vestindo pouca roupa e com dois chifres saindo da testa, a esperando.


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    - Oh! – ele pareceu espantado, ficando prontamente sobre um dos joelhos – Senhorita, é uma honra protegê-la... – disse, mas logo, aos olhos dela, ele voltou a ter a aparência de um humano normal.


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    @Rosenrot

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    Mensagem por Rosenrot Seg Jun 05, 2017 5:24 pm

    Boa parte de si tinha deixado a infância para trás, soterrado suas memórias em qualquer canto que não pudesse mais encontrá-las. Às vezes, quando desviava-se de seu único hobby e trabalho, lia livros e absorvia histórias. Não acreditava nelas, como poderia? Como poderiam existir finais felizes quando os seus próprios finais eram… Cinzas? Não acreditava mais naquelas histórias, agora havia apenas música. Apenas a música era real. E as memórias ficaram lá, escondidas, onde ninguém poderia mais encontrá-las.

    Olhava-se no espelho, indiferente ao que via. Diferente de sua mãe, não tinha nenhum apego ou desapego pela própria aparência. Era apenas… Ela. Não importava como estava, ao menos para si, aquilo era tão vago, tão… Indistinto e descartável. Precisava apenas das mãos, dos dedos e do ouvido para ser feliz, para sentir-se minimamente parte de alguma coisa, de algum lugar. Mas a fim de evitar conflitos ou qualquer coisa que pudesse lhe proporcionar uma perda de foco maior, sempre cedia aos caprichos de sua mãe.

    Seu pai era um sujeito que não conhecia – não nos termos reais da situação –, mas era tão distante e tão ausente que para ela nada mais era do que um estranho, uma presença etérea na mesa do café aos fins de semana, uma voz desconhecida nas ligações ao final do dia. Uma caligrafia estranha nos cartões de aniversário. Tinha aprendido ou simplesmente se acomodado a não se importar com isso, não faria diferença. Já era uma mocinha, não ficava mais esperando acordada para vê-lo chegar.

    Conforme suas apresentações avançavam, Alicia começava a desconfiar que estavam lhe dando “alguma coisa” para aguentar mais tempo no palco. As coisas que andava vendo não eram normais, apesar de acreditar que boa parte delas poderiam ser, também, efeitos especiais que estavam sendo cada vez mais adicionados as apresentações. Mas isso não explicava o fato de como se sentia tão bem após as apresentações, por mais longas ou cansativas. Ou talvez, em alguns momentos pensava, estivesse ficando louca. Talvez sua mente finalmente estivesse sucumbindo a tudo que se acumulava nela. Cedendo aos poucos.

    Vagando.

    Ela observava seu próprio reflexo, quando sentiu o chão tremer daquela forma. Alicia levantou-se, a mão segurando a maleta do violino e olhando em volta, tentando entender o que estava acontecendo realmente. Não haviam terremotos por ali, haviam?

    Então veio a voz, e suas finas sobrancelhas curvaram-se de maneira duvidosa, a cabeça movendo-se na direção da porta. Ela não se lembrava de ninguém com aquela voz na equipe… Ninguém que soasse daquela forma, deu passos hesitantes até a porta e quando a abriu cambaleou para trás, suprimindo um grupo de espanto e surpresa. Tinha os olhos bem abertos.

    – O que…? O que está fazendo? – Disse, finalmente, após piscar algumas vezes e ver a ‘visão’ desaparecer. Ok, tinha certo nível de status e empregados aqui e ali.. Mas ninguém costumava se ajoelhar diante dela, pelo menos não até então.

      Data/hora atual: Seg Nov 18, 2024 3:23 pm