[Dois Pensam Melhor Que Um] - Sienna e Aeron

O Brunch teve sua parcela de sucesso, mesmo que não tenha sido o evento que todos esperavam. A maioria ali tinha sido convidada para um casamento, afinal. E provavelmente nem todos os presentes estavam ali só por serem aliados, talvez quisessem ouvir ou saber mais sobre as situações que envolviam o nome daquela família. Eles pareciam num verdadeiro inferno astral.

Sienna via os criados arrumando o local e a promotora de eventos ajudando a desmembrar as mesas, cadeiras e afins. A jovem atravessava o salão sem muita vontade, com a cabeça um pouco distante. Mexia no celular porque tinha acabado de enviar o telefone da veterinária para Aimee e também adicionou o numero de Dimitri. Olhava para o número dele sem saber exatamente o que pensar. Os cabelos já caíam pelas costas, com a trança desfeita e o salto alto foi substituído por uma pantufa discreta. O vestido ainda estava ali, bem como a echarpe lilás.

Ao passar por uma das salas, viu que Aeron estava mais à frente, na sacada. Como não usava mais salto, seus passos não foram ouvidos, mas sua presença foi sentida. Um suspiro escapou de seus lábios quando o viu e concordou em se aproximar. Antes, contudo, serviu um taça com conhaque, como geralmente fazia quando tinha esse tipo de conversa com o pai. Aproximou-se do irmão, entregando a taça para acalmá-lo.

Ouviu o início do discurso do irmão e o encarou, mas sem deixar a surpresa passar por seus olhos. Era a primeira vez que Aeron abria espaço para as opiniões dela - até porque, geralmente falava direto com o pai e as irmãs eram só pra perturbar e brincar. Mas agora os dois eram adultos e estavam diante de uma crise, com um pai ausente e uma irmã condenada. Sienna conhecia o temperamento de seu irmão e precisava escolher bem as palavras antes de começar. Primeiro deixou que ele dissesse tudo e apenas concordou - num suave menear de cabeça - quando ouviu sobre os Berzukov.

- Eu imaginava que papai precisasse mesmo se ausentar depois de tudo. Só não esperava que fosse ser assim, tão rápido... - Suspirou mais uma vez e tombou um pouco a cabeça. - Qual é a história que está correndo, Aeron? O que aconteceu ou que nós queremos que tenha acontecido? Mais cedo o Sr. Berzukov me pegou para uma conversa e eu disse o que queria que tivesse acontecido. Pareceu convencê-lo, de certo modo, mas agora não sei o que você ou o papai sabem.

Voltou a encará-lo.

- Também sei que não haverá um casamento pra mim. O Sr. Berzukov deixou bem claro a expressão "bons amigos", ainda que o sobrinho tenha deixado bem evidente o interesse por mim. - Ponderou por um instante e não parecia demonstrar qualquer sentimento romantico no ar. - O que devemos fazer agora? Bom, eu diria para que façamos como nosso pai: vamos tirar nossas imagens de foco, por um tempo. Você precisa se focar em como conquistar prestígio pelas vias do guerreiro e eu ajudo a pensar como manter o nome. Não podemos perder a cabeça, entende? Já chega de escandalos. Vamos sair de foco, nem que seja mandando Aimee para França ou Rússia e passar um tempo lá. Eu também posso ir, se você achar melhor. A verdade é que nós temos titulo, sangue nobre e recursos, prestígio recuperamos e as pessoas simplesmente acreditam no que convém.

- Não, não vi. Quando Aimee voltou pra casa, eu estava nos estábulos, falando com a Drª O'Brian. Ela inclusive pediu o telefone dela, não me disse porque...

Respondeu, olhando para baixo por um instante. Pensava na vergonha que o pai sentia e não pôde deixar de se sentir culpada por isso também. Ergueu a cabeça e encarou Aeron, tentando manter sua dignidade e respondeu.

- Não cheguei à tempo. - Comentou. - Quando cheguei até o hostel onde ela estava, só restava Sasha Smirnov, Aimee já tinha partido com Yuri e só voltou no dia seguinte. Não tinha muito o que eu pudesse fazer, porque ele atendeu ao celular que eu tinha, mas depois não consegui mais contato. A história que contei ao Sr. Berzukov foi a história que ela usou para fugir daqui...Mas disse que ela parou em Bray porque foi surpreendida pelo mau tempo durante a trilha.

Ajeitou sua echarpe. Era uma história bem fraca, mas se bem contada, podia ser a verdade que eles queriam. Ao ouvir a indagação do irmão, Sienna fechou os olhos e ponderou por um instante. Tinha prometido que manteria o segredo da irmã, mas esse segredo já trouxera prejuízos demais. Fora que ela falou para Aimee fazer X e a irmã fez X³², algo completamente diferente. Era melhor colocar as cartas na mesa logo.

- Eu sei como ele conseguiu anular o casamento. Eu só não sei porque Aimee não entende o que eu digo e confia cegamente nessas pessoas...

Disse, de repente e o encarou. Retirou o copo da mão do irmão, deixando para o lado e virou-se para encará-lo melhor. Sienna estava pronta para contar tudo o que sabia, mas agora olhando para seu irmão, ela pensou que não tinha um jeito de jogar toda a verdade. Precisava agir com cautela e contar...pouco a pouco.

- Ela contou um segredo a ele, Aeron. Um segredo que ela esconde há anos da gente. Eu só não sei porque ela aceitou esse acordo, se ela saiu perdendo tudo. E não apenas ela. Toda nossa família.

Umedeceu os lábios e engoliu em seco. Não falou sobre sua situação ainda, porque já sabia de tudo o que irmão dizia. Não adiantava nada Dimitri ter gostado dela, se ainda precisava respeitar sua família. E ela não queria pensar nisso, no momento, pois tinha assuntos piores para lidar. E quanto aos Crias de Fenris, era um conselho que o irmão deveria seguir mais à risca. Ela sempre os respeitou.

O coração de Sienna começou a acelerar quando viu o irmão tomar aquela postura. Acabou olhando ao redor também e sentia que estava entrando num terrano bastante complicado, quase que um campo minado. Não haveria ninguém para socorrê-la à tempo, caso as coisas saíssem do controle e até mesmo para Aeron, só teria ela para controlá-lo.

Seria o bastante?

Mas agora já estava feito. A família estava numa situação comprometedora demais, precisavam pelo menos saber o que o inimigo sabia. Sienna encarou Aeron com os olhos um pouco marejados, mas manteve a cabeça erguida.

- Ainda em Bray... - Começou. - Aimee me contou o que a motivava a fugir de casa e desse casamento. Só soube ontem e ela não queria que ninguém soubesse. Quando Yuri esteve aqui em casa, ela ficou bastante confusa e eu também. Falei para que ela perguntasse a ele como se destroi um Garou, porque os Senhores das Sombras nascem sabendo isso muito bem.

Abaixou o olhar, ainda tomando tempo para, finalmente dizer.

- Aimee não queria se casar porque o Visconde a estuprava, Aeron. - Falou de uma vez. - Não sei exatamente quantas vezes isso aconteceu, nem porque ela não quis nos contar ou porque não percebemos. Mas a primeira vez foi logo no dia do acordo de casamento. - Engoliu em seco - E ela ao invés de pegar conselhos, ela contou isso a eles e conseguiu anular o casamento.

Mordeu o lábio internamente e fechou os olhos, abaixando a cabeça. Quanto mais falava, mais preocupada ela ficava, por todos os motivos do mundo.

Sienna meneou positivamente quando o irmão pediu para que ela não dissesse aquele tipo de coisa. Fez um silencioso pedido de desculpas e desviou o olhar por um instante, mesmo que realmente acreditasse naquilo que tinha acabado de dizer. E havia muito mais a ser dito.

O momento para começar a colocar as cartas na mesa havia chegado, pelo menos naquele prólogo. Sienna achava melhor que o irmão estivesse preparado e preferia se unir a ele, porque era sua família, afinal. E todos estavam no meio daquela confusão. Por mais que discordasse de muitos de seus atos, não queria vê-lo ferido, nem nada do tipo. Porém, ela piscou os olhos para um fator importante: a fúria. Apesar de ter ouvido histórias e relatos, ela nunca soube de maneira precisa o que a Furia era capaz de fazer com um Garou - para o bem ou para o mal.

A jovem hesitou por um instante ao ver a mão dele se fechando na sacada. Os olhos de Aeron estavam fixos nela, mas ele parecia muito mais fera do que homem.

- Aeron...Não, olha pra mim... - Ela falou baixinho poucos segundos antes dele dizer "Corre". - Aeron...

Com os olhos arregalados, ela começou a recuar, passando pela porta de vidro que dividia a sacada da sala anterior. Estava indecisa porque temia pela vida, mas não queria ver o irmão naquele estado. Queria ajudá-lo!! Ela deu um grito alto quando viu a mão se tornando uma garra daquele tipo. Já tinha passado pela sacada e começou.

- OWEN!! FLYNN!! LOGAN!!!! - Gritou pelos membros da matilha que estavam no andar de baixo. - SOCORROAAAAH!!!! - E saiu correndo, tentando empurrar o carrinho de bebidas no caminho.

Aeron já havia arrebentado a porta de vidro e a via como potencial alvo.

- AERON, NÃO!!!! PARA!!! - Gritou quase tropeçando, já perdindo uma das pantufas e puxando a saia do vestido para não prender em nada.

O ataque aconteceu tão rápido que Sienna não sentiu a dor no instante em que recebeu o corte no braço. Obviamente ela se assustou e tentou se esquivar, chegou a ouvir o rasgo da encharpe e, talvez, o rasgo na pele também. Porém, por conta do sangue quente e da adrenalina, a dor só veio quando Owen a puxou daquela forma e colocou a enorme pata por cima do braço. Encolheu-se e soltou um gemido de dor audivel. Conseguia andar, mas suas pernas não a obedeciam muito bem naquele instante. Estava em choque pelo que aconteceu.

Podia ter sido muito pior, mas mesmo assim...

Viu quando os outros dois membros da matilha começaram a segurar Aeron. Foi levada por Owen como se pesasse menos do que um papel, mas não reclamou de nada. Continuou expressando um pouco de dor - era um ferimento de garra, afinal e deixaria uma cicatriz. Encarou o Garou, aceitando aquilo. Antes uma cicatriz do que perder o braço todo ou pior, a própria vida. Pegou a água com açúcar e sal e tomou com a mão meio trêmula.

- Obrigada, Owen... - Agradeceu abaixando um pouco a cabeça.

O barulho no andar de cima já tinha parado, por hora. Agora via a agitação para repararem os estragos. Não demorou muito para que Aeron descesse as escadas de novo. Sienna estava com a echarpe rasgada sobre seu colo e um curativo no braço ferido. O vestido, por ser de alça, não foi estragado, mas tinha algumas manchas de sangue no tecido branco. Apenas algumas gotas que pingaram. Olhou para o irmão e, apesar de sua expressão fechada e do ataque, ela não se moveu quando ele se sentou ao seu lado. Sabia que não tinha sido culpa dele e não o temia a presença dele.

- Estou... - Respondeu com a voz meio trêmula e com o copo d'água meio na mão do braço bom. - Parece que tenho minha primeira cicatriz de batalha. - Disse, de brincadeira, mas sem tom para piada. Suspirou quando Aeron rangeu os dentes e meneou positivamente. - Sim, acredito que contou isso. Por qual motivo ele teria agido tão rapidamente? Porque interessou. Eu só não sei o que Aimee terá que dar em troca. E acho que o papai não sabe, não deu tempo de saber.

Olhou para o irmão.

- Mas nem tudo está perdido. Acho que eu também tenho alguma coisa dele, sabe? - Umedeceu os lábios. - Tentei dar isso para Aimee como forma dela trocar, mas ela não fez. Então, quando soube que ela saiu, eu escondi para que ninguém tivesse acesso. - Deu um gole em sua água para se acalmar. - Quando soube que Aimee tinha fugido com ele, eu passei uma parte da noite pesquisando e escrevendo em meu caderno, coisas sobre ele. Não achei nada em sites irlandeses, ingleses, franceses ou alemãs. Mas...quando pesquisei em russo, descobri uma matéria. Uma matéria de alguns anos atrás, que batia com o período que ele sumiu do mapa. Ele esteve envolvido num "acidente" de carro com 3 politicos, cujos nomes eu escrevi. Ele foi dado como um espião ou algo assim, mas aparentemente, tudo mudou e ficou provado que foi um acidente em ricochete, que ele estava em outro carro.

Deixou que o irmão absorvesse aquilo.

- Não parece algo muito grave, mas no dia seguinte, a matéria tinha saído do ar. E eu também tive meu celular invadido. Eu escrevi e tirei prints das paginas, da foto do acidente e salvei, mas tudo foi apagado e deletado. E também recebi um e-mail de ameaça, mandando que eu não mexesse onde não deveria. O e-mail também sumiu. Mas as datas e os nomes, estão nesse caderno. - Mais um instante e ela continuou. - Cheguei nisso por acaso, porque queria saber com quem minha irmã estava. Alguém ficou aborrecido por eu ter descoberto e talvez isso seja a única coisa que a gente tenha para colocar um pano sobre tudo isso.

- Ok.

Sienna respondeu à pergunta dele, mesmo que aquilo não tivesse sido um pedido. Até porque, nesse caso concordava. Eles precisavam ter ciência do que estava acontecendo, mas o pai não merecia mais aquele desgosto. Por isso, ela se calaria e manteria aquela história apenas para quem de direito, mesmo que esse alguém fosse Aeron.

Depois desse "acordo", Sienna contou o que tinha descoberto e do jeito estranho que alguém reagiu à uma simples informação. Não era como se tivesse descoberto um grande segredo ou algo do tipo, mas talvez fosse algo a ser explorado. O irmão, contudo, não parecia disposto a isso. Ele explicava sobre algumas histórias que tinha escutado de Yuri e ela apenas meneava positivamente enquanto o ouvia.

- Não, não vamos. - Comentou. - Mas é tudo o que temos, por enquanto. Não sei o que ele pode pedir em troca por conta desse acordo, nem como proceder com Aimee. Sendo bem franca, ela cometeu uma traição à nossa família, porque preferiu confiar neles. Ou nele, sendo mais específica. - Abaixou o olhar, ponderando.

Cruzou os braços, passando a mão por cima do curativo e suspirou uma vez mais.

- Sim, ele agora tem duas famílias em mãos. Porque sabe que o Viscondeu cometeu esse crime e sabe que Aimee escondeu de nós. Por um lado, ele tem como atacar o Visconde diretamente e nossa família por conta da falta de cuidado. - Mordeu o lábio internamente. - Em quem ainda podemos confiar ou quem tem dividas de favores conosco? Na verdade, eu nem sei se temos isso, de fato, nosso pai não me contava muita coisa.

Sienna voltou a se calar quando Aeron a encarou daquela maneira. Chegou a arquear levemente a sobrancelha esquerda, já imaginando que haveria um plano ali. Algo a ser tentado e, provavelmente, ela não ia gostar muito. Mas, como já estava acostumada a lidar com esses percalços da vida, escutaria com o máximo e atenção.

Engoliu em seco e também se ajeitou no sofá, chegando um pouco para o lado e se virando mininamente para encará-lo.

Aeron citava um documento no escritório do pai deles e que quem tinha resolvido aquele trâmite foi a Parente de Yuri. Piscou lentamente, imaginando aonde o irmão ia querer chegar. Quando ele falou que poderia tentar interceptá-la, Sienna demorou cerca de cinco segundos para entender o que ele queria dizer. Chegou a tombar um pouco a cabeça, pensando até que arregalou os olhos.

- Você quer que eu vá como se fosse Aimee? - Tentou absorver aquela ideia, pensando. Elas eram gêmeas idênticas, mas tinham posturas tão diferentes que era um plano arriscado. Sienna respirou fundo. - O que eu poderia tirar dela? Devo usar alguma coisa do Brunch de hoje como isca para que ela diga o que quer da gente? Ou você quer que eu faça algo mais do que isso?

Os olhos dela continuaram passando pelo rosto do irmão enquanto tentava pensar no que poderia fazer. Felizmente, ele descartou aquela ideia de se passar por Aimee - isso seria impossível. Por mais parecidas que elas fossem, as posturas eram completamente opostas. Inclusive Aeron destacava algumas diferenças entre elas.

A ruiva deu um suspiro, passando o dedo suavemente por sua sobrancelha.

- Compreendo, Aeron. Vou até o escritório do papai para pegar esse documento e analisar melhor. Tão logo você aprove, tentarei marcar uma reunião com ela. A questão é que não temos o que oferecer. Ou melhor, temos o que oferecer, mas não sei até que ponto você quer negociar com eles. O que eu posso ofertar? Eles têm tudo..Menos o que?

Continuou ponderando por mais alguns instantes.

- Mas acho que o maior refém deles é o Visconde. Não duvido nada que esteja se aliando a eles. E se eu falar com o filho dele também? Será que ele conseguiria fazer alguma coisa? - Se bem que ele não fez nada por anos...Duvidava um pouco que ele quisesse ou tivesse vontade de mudar alguma coisa.

A jovem tinha a sensação de que não chegariam a nenhum lugar se continuassem apenas pensando naquele sofá. Depois de dar sua opinião, pôde perceber como Aeron estava diferente. Nunca tinha visto essa versão mais séria e tensa de seu irmão. Normalmente ele era mais impulsivo, tinha até mesmo a desculpa de "sua lua", mas agora ele optava por ser mais cauteloso.

Também pudera, eles estavam sozinhos e, no momento, nas mãos dos Senhores das Sombras. Podia compreender a raiva dele e seu surto de fúria para atacá-la. Tinha, afinal, o mesmo rosto daquela que provocara tudo isso.

- Certo, então eu vou até o escritório do papai para ler esse contrato. Amanhã cedo vou tentar agendar um horário com ela e...bom, acho que é isso que podemos fazer, por enquanto. Quando terminar de ler, eu te procuro para falar o que achei dele...

Porque Aeron provavelmente não tinha lido também. Levantou-se, apoiando o braço por um instante e parou.

- Esta noite Dimitri disse que faria algo importante com a matilha dele... - Comentou, de repente. - O que devo fazer se ele me ligar amanhã? Ele me deu o número dele e eu já enviei um sinal para que ele anotasse o meu. Por impulso, na verdade, não pensei que ele viria a responder. - Franziu um pouco as sobrancelhas. - Devo mante-lo por perto ou afastá-lo de vez?

Após receber essa ordem dele, seguiria até o escritório do pai para se ocupar com aquela leitura.

Sienna não entendeu o que Aeron quis dizer sobre se divertir. O que havia de divertido naquela situação? Ou ainda, onde Dimitri entraria nisso? Enquanto o irmão forçava um sorriso, ela tombava um pouco a cabeça, realmente sem entender o contexto daquilo. Chegava a ser engraçado o modo inocente que ela o encarou - às vezes sua expressão era tão séria e de boneca que dava para esquecer que ela tinha apenas 16 anos.

Depois de se despedir do irmão, ela seguiu até o escritório do pai. Sem perceber, ela deu duas batidas na porta, pedindo permissão para entrar. Arregalou um pouco os olhos quando lembrou-se que estavam sozinhos ali. Uma certa melancolia tomou conta do ambiente, mas ela respirou fundo e seguiu até a mesa com a cabeça erguida. O contrato estava ali e, em respeito, ela sentou-se em frente à cadeira do pai, como se ele estivesse ali mesmo. O documento não era muito extenso, mas tinha uma escrita rebruscada, o que a tornava cansativa. Felizmente, Sienna gostava de ler e não se cansou, mesmo que algumas palavras ela tivesse que procurar o significado para entender completamente.

Não havia nada em seu conteúdo que servisse de apontamento para Sienna, por isso ela precisou fazer algumas pesquisas básicas acerca de contratos. Só podia ligar para aquele número e agir com convicção se encontrasse alguma brecha. Se não tivesse nada em mãos, ela iria apenas ao covil dos leões para ser humilhada. Esse era o sentimento.

Porém, não demorou muito para que ela encontrasse algo que fez ascender seu espirito. Talvez, apenas talvez, ela tenha conseguido encontrar alguma coisa. Ligou para o número e teve aquela surpresa: o assunto era urgente e ela não podia deixar passar a oportunidade. Apenas três horas a separavam do encontro com a Srª Smirnov, por isso ela correu primeiro até o irmão.

- AERON! - Perdeu completamente os modos, mas ao encontrá-lo com os outros membros da matilha, ela pigarreou e disse o mais rápido que pôde. - Consegui.

Spoiler:

Três horas depois, o elevador se abria para Sienna. Lembrava-se desse prédio, era onde o Parente Fianna que a ajudou trabalhava ou estagiava, não tinha certeza. Só não imaginava que estaria ali em tão pouco tempo. Como não teve tempo de preparo, Sienna tinha optado por um visual mais simples - só teve que retocar a maquiagem do brunch daquela manhã e fez isso no carro, assim como o rabo de cavalo que usava. Escolheu um vestido preto tubinho e um blazer cinza (algo assim). Nos pés, scarpin preto com um salto alto.

Aproximou-se da secretária e informou seu nome, dizendo que tinha um horário marcado com a Srª Smirnov. Após ser anunciada, ela entrou no escritório, mas com a guarda baixa. Bom, ela tinha um olhar fixo e uma postura impecável, mas não chegou ali tensa ou pronta para atacar, pelo menos não de cara. Sua expressão era agradavelmente neutra e confiante, como se estivesse ali apenas para conversar sobre negócios. Antes de sentar-se, ela estendeu a mão para cumprimentar a elegante mulher.

- Boa tarde, Srª Smirnov, obrigada por me receber tão em cima da hora. - Sentou-se e se ajeitou. - Oh, eu vim conversar sobre o contrato que minha irmã, Aimee, e o Visconde assinaram ontem...Aliás, é um prazer conhecê-la, eu me chamo Sienna - Pegou o papel pardo da bolsa e colocou sobre a mesa. Uma cópia, o verdadeiro estava em casa. - Eu gostaria de entendê-lo, se a senhora puder esclarecer algumas coisas...