[Dois Pensam Melhor Que Um] - Sienna e Aeron

- É um prazer... - Reinterou diante da apresentação e sentou-se, desabotoando o blazer e colocando a postura perfeita, tipico de Miss e realeza.

Seus movimentos eram fluidos, delicados depois de anos de treinamento, mas logo ficaria evidente para Ayshane que Sienna era bem diferente da irmã. Apesar da delicadeza, ela parecia mais...centrada, na falta de uma palavra melhor que definisse naquele primeiro momento. Talvez mais séria, alguém cuja opinião parecesse mais relevante. Não era relaxada, nem "natural" como a outra.

- Oh sim. Bom, ontem fomos surpreendidos por Aimee chegando em nossa residência com esse contrato anulando o casamento dela cerca de o que? 12 horas antes que acontecesse? - Indicou o contrato que a mulher não tinha tocado e ponderou. - Mas algumas coisas não ficaram bem claras. Veja, eu sou leiga para os termos e eu também gostaria de entendê-los, mas uma coisa me deixou curiosa. A Senhora estava mediando essa situação em nome da minha irmã ou do Visconde?

Arqueou suavemente uma das sobrancelhas, naquela pergunta que tinha um fundo de retórica.

- Como, exatamente, ela contratou os seus serviços? E como ela pagou por eles? Porque...Com o renome de seu escritório, imagino que não tenha agido de modo filantrópico. - Basicamente, qual era o interesse de Ayshane naquele caso e por que ela tinha se envolvido?

A primeira coisa que Sienna talvez notasse, além da educação e da elegância da mulher a sua frente, era que Ayshane parecia não se importar ou se preocupar muito com o assunto que estava surgindo ali. Ela fixou o olhar muito brevemente na adolescente à sua frente, como se estivesse analisando Sienna, mas logo deixou isso de lado. Ela também tinha um sotaque russo extremamente forte e presente.

- Veja bem, Srta O'Shea, acaba de fazer uma pergunta e logo em seguida responde a mesma com suas suposições em forma de novas perguntas. Tentarei partir do principio, para que isso fique mais... Claro, Да? (se pronuncia 'da' que quer dizer 'sim').

Ayshane entrelaçou os dedos, deixando as mãos sobre a mesa, antes de começar a falar.

- O escritório para o qual eu trabalho foi solicitado para resolver um problema a respeito de um possível casamento que já não agradava a família Kavanagh, já que em alguns termos a reputação da futura noiva não era... Interessante para a família Kavanagh, já que o assunto de a moça em questão ter dormido com outro homem acabou... Se alastrando, digamos. Eu fui designada a redigir os termos do contrato e apresentar as partes envolvidas. Como sua irmã não compareceu acompanhada de nenhum advogado, eu a orientei a respeito dos termos do contrato, junto ao Sr. Kavanagh. Sua irmã não é a cliente do escritório, Srta O'Shea, Ciaran Kavanagh e seu filho são, e foram eles que pediram o cancelamento. - Ayshane sabia que aquilo era mentira, como também sabia que não havia como Sienna provar, já que Ciaran estava de uma forma ou de outra, nas mãos de Yuri, mas era engraçado observar o desespero dos Pratas, ao ponto de terem enviado uma adolescente para ela.

Ela ajeitou-se na cadeira, agora um pouco mais séria, havia pego o celular e escrito algo bastante rápido, antes de voltar sua atenção para Sienna. - Acho que a senhorita consegue compreender que a família Kavanagh encontra-se em uma constante ascensão e a reputação da sua irmã não é das melhores... Portanto, é compreensível a preocupação da família com esse casamento. Como o filho do Sr. Kavanagh já tinha recebido outras propostas para matrimônio, foi necessário desvinculá-lo de Aimee O'Shea definitivamente. Há algo mais que deseja saber?

A jovem meneou positivamente quando Ayshane informou que partiria do princípio. Para tal, ela repousou a mão sobre o braço do assento e foi ouvindo. A mulher falava sobre a reputação de sua irmã e que a familia Kavanagh não tinha mais interesse no casamento. As respostas dela só confirmavam a teoria de Sienna que tinha sido feito apenas para expor uma situação da família O'Shea e ter os Kavanagh em mãos.

Sienna parecia concordar com as coisas que ela dizia acerca de sua irmã, mas em momento algum acreditou nas palavras dela. Uma das primeiras coisas - talvez a segunda - que um Presas de Prata aprender é não confiar ou subestimar um Senhor da Sombra. Não acreditava nas palavras dela, mas a situação parecia muito amadora tendo em vista a pessoa que era. Tinha algo mais ali, mas ela preferiu ir direto ao ponto.

- Então, a senhora está me dizendo que o Visconde Kavanagh procurou por seus serviços para cancelar o casamento? E ao invés de tratar diretamente com o meu pai, o responsável legal por Aimee, ela veio aqui sozinha pra assinar termos que não conhece. - Sienna tombou um pouco a cabeça. - A questão, Srª Smirnov é que você deve saber que esse contrato não tem validade, mesmo que a senhora tenha dado as orientações, Aimee é menor de idade. E a Srª também deve estar ciente do motivo que a fez assinar. Eu também só descobri isso ontem, assim como o Sr. Yuri Smirnov, a pessoa que "ajudou" Aimee. Pretendia, na verdade, pretendo levar isso até a Seita. Existe uma questão tribal aqui e agora a senhora me diz que o Visconde estava, basicamente, fugindo de um julgamento. O casamento não ia acontecer, de toda forma, mas agora fomos expostos. O que temos mais a perder?

Deu de ombros.

- Levarei os documentos até os advogados de minha família para anular o acordo. Avise ao seu cliente que ele será procurado, pelas leis dos [i]homens e de nossa raça.[i] - Suspirou. Não estava satisfeita, isso era visivel, mas realmente já tinham sido derrotados ali. Porém, ela não estava blefando sobre o que faria, só precisava convencer o irmão disso. - Obrigada pelos esclarecimentos e por ter me dado seu tempo.

A reverencia que fez não foi irônica. Apesar de tudo, estava diante de uma boa estrategista, parecia. Estendeu a mão para cumprimentá-la e recolheu o contrato da mesa para se retirar.

Ayshane ficou em silêncio e sentada, enquanto Sienna falava, ela tinha um ar engraçado no rosto de misturava a tentativa de disfarçar o sorriso que se formava em seus lábios com alguma surpresa rasa. Quando Sienna terminou de falar, a mulher deu uma risada leve, daquelas de quem acabou de ouvir algum absurdo, antes de se levantar e andar para o outro lado da mesa.

Ayshane franziu muito levemente as sobrancelhas, parecia ter notado alguma coisa. - Você não está zangada pelo contrato, é sua irmã, não é? Ela bagunçou tudo, sei como se sente. - Moveu a cabeça de leve, recostando-se a mesa, ficando de perfil para Sienna. - Eu estou impressionada. - Ela disse, movendo uma das mãos. - Mas desapontada. Mas até que gostei de você, então vou dar algumas dicas para as próximas vezes, ok? - Disse, suspirando, antes de olhar na direção de Sienna.

- Primeiro de tudo: Nunca faça suposições. Nunca, jamais trabalhe com suposições. Como eu disse anteriormente, quem pediu o anulamento foi a família Kavanagh, não apenas o Visconde.

Ela fez uma pausa, como quem contempla a coisa toda, a teia que ali estava tecendo.

- Dica dois: Nunca acuse sem provas. Você pode provar que Yuri teve algo a ver com isso, Sienna? Ou você pensa que os Philodox tem uma bola de cristal mágica para ver passado, presente e futuro? E além do mais, para levar um Garou de outra Tribo, de um Posto como o de Yuri a um Philodox, você tem que ter no mínimo, algo que embase sua acusação. O que você tem? Um papel assinado pela sua irmã e pela família Kavanagh. Yuri ajudou sua Tribo e sua família com a questão de Bray, vocês nem podiam pisar aqui antes. - Ela gesticulou com uma das mãos, antes de continuar.

- Dica três: Pesquise, e eu ouvi dizer que você é muito boa nisso. - E aqui, houve aquela leve cutucada. - O Visconde se entregou à Seita hoje pela manhã, assumiu seus crimes e será julgado por eles. - Ayshane se moveu de novo, agora na direção da mesa, onde abriu uma gaveta e retirou alguns papeis dentro de uma pasta. - Essas são mensagens que sua irmã mandou para meu marido do celular que ela roubou dele na noite em que dormiram juntos. Isso pode ir parar na Seita também se você desejar, onde provavelmente sua Tribo não vai gostar muito do que vai ler, sua irmã e sua família terão problemas, talvez bastante perca de prestigio e renome, acho que deverá afetar bastante seu irmão, ele é um Cliath, certo? Ouvi dizer que ele é bem problemático. Vamos fazer um acordo, você não mexe com a minha família e eu não mexo com a sua.

Então ela parou, como se tivesse lembrado de algo muito importante. - Oh, não. Você é uma menor de idade, não podemos fazer acordos sem seus advogados. Você pode deixar o número deles? Gostaria de discutir sobre esses papeis. - Ela se sentou.

- Você é nova, Miss O'Shea. Eu estou nessa há bastante tempo, o suficiente para saber os movimentos que tenho que fazer, os favores que tenho que cobrar. É uma causa perdida. Acredite ou não, eu quero ver o Visconde cair tanto quanto você e não por conta da sua irmã, mas por toda a merda que ele fez durante os anos ou você acha que Aimee foi a única vitima das articulações dele? Vou lhe dar um conselho: vasculhe o passado dos Kavanagh, eu não posso fazer isso, mas você pode.

Os olhos de Sienna ganharam um brilho diferente diante da constatação de Ayshane. Foi tão inusitado o modo como a mulher tinha compreendido seu pensamento que, talvez tenha sido nesse momento que a jovem percebera que...tinha gostado dela. Era realmente diferente quando se estava no meio de pessoas inteligentes e perspicazes. Deu um suspiro que demonstrava que ela não podia ser nada além de sincero.

- Digamos que pessoas tolas me aborreçam. Poucas coisas me tiram do sério, mas agir sem pensar certamente é uma das que me irritam mais. Minha irmã... - Ponderou. - Não apenas bagunçou tudo, ela não confiou em mim. A verdade é que não vim por ela, eu vim pela minha família. Não, vim por mim mesma...O futuro dela já está na lama, mas o meu ainda posso tirar dessa situação. Ou pelo menos tentar, diferente dela. Compartilhamos a mesma aparência, mas não o mesmo cérebro.

Fez uma cara de "infelizmente", mas esboçou um sorriso, tentando manter o humor. Quando achou que sairia de lá sem nada, Ayshane resolveu presenteá-la. Não havia outra explicação para tudo o que a Parente jogava no colo dela. Ensinava lições valiosas, passo a passo que a ruiva realmente começava a cravar em sua mente. Não cometeria os mesmos erros amadores de agora.

Algumas coisas que Ayshane apresentava, como as conversas. Não eram provas o suficiente, mas era um bom argumento. Toda sua expressão compenetrada se transformou em outro meio sorriso com o comentário acerca de sua idade. Justo o suficiente. Mas outra coisa ficou no ar. Não compartilharia com ela, mas falaria com Aeron depois, porque seria algo que ele deveria discutir com a nação. A parte dela estava feita.

Por fim, Ayshane pedia algo que Sienna não tinha certeza se faria. Vasculhar os Kavanagh seria como procurar por mais ruínas aos Presas de Prata e, por hora, eles já tinham o suficiente. Se ela, uma Parente daquela tribo, pedia algo assim, o bem é que não queria. Obvio que o diabo ficaria tentando Sienna porque ela tinha faro investigativo, mas ela não seria mais um peão do jogo deles. Pigarreou e levantou-se, estendendo a mão para Ayshane.

- Obrigada pelas lições, Srª Smirnov. Apesar de todas as diferenças, eu...realmente agradeço pela conversa. Foi, até certo ponto, um prazer vir até aqui e uma honra por ter me atendido num horário tão apertado. Admito, ainda sou muito jovem, mas aprendo rápido e, quem sabe, um dia não estarei diante de uma Sienna também.

Sorriu e recolheu seus pertences para se retirar dali. Caso não tivesse nenhum problema para sair, ela seguiria até seu carro, onde o motorista a aguardava. Antes que desse a partida, ela sentou-se e respirou fundo, deixando os ombros caírem. O celular estava em suas mãos, mas ainda não tinha ligado para o irmão. Apesar de estar protegida, em partes, dentro de um carro e perto de seguir para casa, ela ainda se sentia insegura...vazia...Precisava de um rosto familiar, mas não aguentaria até sua casa. Retirou o blazer e pigarreou antes de encarar o motorista.

- Vamos até a delegacia de policia, por favor, Edgar.

E enquanto esperava que o motorista atendesse ao seu pedido, ela enviava uma mensagem ao irmão. Dizia que estava bem, mas que ainda ficaria em Bray, ia aproveitar para falar com o tio Sean e avisou que sua bateria estava acabando. Era mentira, mas não queria que o irmão ligasse para ela. Recomendou que ele se informasse acerca do Visconde, pois aparentemente, ele ia se entregar à seita naquele dia.