[Lars-Gaehlia] A Universidade

Subterrâneos da Universidade

Hellen Moritz

Hellen não se fez de rogada. Teve uma oportunidade e a aproveitou. Logo que se viu desacompanhada do orc, olhou o salão a sua frente e escolheu uma das portas. Seguiu para esquerda, torcendo que aquele fosse o caminho correto. Atravessou os metros que a separavam da outra porta correndo, tentando não fazer barulho para não alargar o orc de novo. Quando chegou, testou a maçaneta. Estava aberta. Benditos deuses que ouviram suas preces!

Entrou, estava num corredor que terminava numa esquina que virava à direita. Fechou a porta atrás de si e avançou. Quando chegou ao final, viu que só havia uns três metros de corredor que continuava. Quase desanimou, porém notou logo que havia uma luz diferente naquele corredor. Ela vinha de cima, não difusa, pelas lâmpadas alquímicas. Olhou para cima e constatou que havia uma saída fechada por uma grade. Havia ali um ferrolho enferrujado, mas não seria um problema. Hellen tirou a corda da sua mochila e com agilidade passou-a pelas grades, assim conseguiu subir até o gradil. Forçou o ferrolho e ele cedeu mais fácil do que ela imaginara. Possivelmente alguém havia aberto-o e fechado-o há pouco tempo.

Fez algum esforço para alçar-se para o andar superior. Havia arbustos próximo daquele gradil, que basicamente o escondia. Olhou ao redor. Reconheceu imediatamente que estava dentro da Universidade ainda. Estava numa praça, que possivelmente era a Praça Interna, onde a Universidade havia começado. Se ela seguisse em frente, daria no corredor principal da Universidade, bem no meio da perna debaixo do U que formava aquele edifício. Se seguisse para os lados, chegaria em corredores menores das pernas do U, e seguindo para trás, havia a muralha que cercava a Grande Torre e também toda a cidade.

Subterrâneos da Universidade

Hellen Moritz

A ladra então resolveu contornar a Grande Torre a fim de chegar a sua saída. Fora uma idéia inteligente, afinal era dia de descanso e provavelmente a Universidade estaria quase vazia, se tivesse de cruzar com alguém, seria dentro do próprio edifício. Por fora, dificilmente cruzaria com algum transeunte desprevenido.

Ainda assim seguiu com cautela e evitando ser muito chamativa. Pouco tempo depois, estava já próxima ao portão de saída. Xingou mentalmente quando observou que o portão estava fechado. Afinal, era dia de descanso. E a tarde já quase acabava, provavelmente o acesso a Universidade fora interrompido com o raio e os tremores. Ela porém observou que havia, do lado do portão, como que uma pequena torre de vigia, em que algum funcionário deveria ficar normalmente observando quem entrava e saía. Talvez ela conseguisse sair por ali.

Aproximou-se. Havia uma pequena escada feita em alvenaria que levava até o posto de observação, que era bem pequeno, agora olhando de perto. Subiu esgueirando-se, tudo que não precisava era cruzar com mais orcs. No posto de observação, deu uma olhada ao redor. O posto era alto, possivelmente sua corda ajudaria ela a descer para o outro lado do muro, mas não seria fácil. O muro não era perfeitamente liso, as grandes pedras que o formavam davam espaço para se segurar.

Subterrâneos da Universidade

Hellen Moritz

Lá de cima, Hellen viu que tinha duas opções principais: ou usar da corda, que não ela longa o suficiente para descê-la até o chão, mas o bastante para deixá-la bem perto, e assim perder a corda; ou ela poderia ir descendo o muro segurando-se nas saliências das pedras. A primeira opção era mais segura, a segunda porém, não lhe custaria equipamento algum.

Subterrâneos da Universidade

Hellen Moritz

Ela desceu habilmente com o auxílio da corda. Aquilo, sem dúvida, fora a coisa mais fácil que ela fizera naquele dia. Infelizmente sua empreitada dentro da Universidade só havia lhe rendido um livro estranho com rituais profanos. Mas quem sabe o que aquele livro poderia trazer? Talvez ele pudesse ser vendido, ou contivesse algum conhecimento obscuro... As possibilidades eram muitas. Hellen, contudo, recordou-se que aquele homem que entrara na sala junto com o orc estava a procura de um livro. Se fosse aquele, a essa altura ele já saberia que ela o havia pegado. Era preciso ter cuidado.

Esgueirou-se pelas ruas mais vazias e mais estreitas, evitando a rua principal. A movimentação da cidade começava a diminuir. O sol logo mais iria se por e pelo visto, a algazarra causada pelos tremores e pelo raio já havia em grande parte se desfeito. Os feridos haviam sido atendidos e os trabalhos de recuperação das construções, começado. Hellen voltava para seu alojamento. Daquela vez, ela havia reservado uma cama n'O Eremita. Uma taverna-hospedaria simplória, logo ali no Bairro Velho. Era barato, era seguro e era exatamente o que Hellen precisava: uma pernoite.

Subterrâneos da Universidade

Nadyne Creenbottle e Rax

Com a tocha na mão, Rax ia caminhando à frente. Nadyne o seguia logo atrás, quase de lado. O túnel parecia bem construído, com esmero, embora fosse claramente pouco usado: eles haviam tirado algumas teias de aranha enquanto caminhavam, o cheiro de mofo era universalmente presente e, talvez por conta do túnel inundado, a umidade era bastante alta. Eles caminharam assim por cerca de dez minutos. Aquele túnel, diferente do outro que haviam passado dias antes, era mais estreito e não dava para andar duas pessoas lado a lado.

Finalmente viram o fim daquele caminho. Havia uma porta que parecia ser feita de pedra. O formato retangular estava marcado na parede. Ela não tinha, contudo nenhuma maçaneta que parecesse ser usada para abri-la.

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Nadyne Creenbottle e Rax

A miúda comerciante tentou tatear as paredes em busca de uma fresta que indicasse uma forma de abrir ou quem sabe uma placa de pressão. Porém fora em vão. O orc, por sua vez, resolveu apelar para a força. Encostou o ombro contra a porta de pedra e começou a empurrar. Embora colocasse bastante força na tentativa, a porta não parecia se mover. Mas ele não estava inclinado a ficar trancado do lado de fora. Imprimiu mais força e gemendo sentiu que começa a ceder.

Porém a pesada porta não abriu. Rax força ainda mais, sentindo seus músculos retesarem e passarem a arder tamanha era a força que imprimia. Pouco a pouco ia cedendo o obstáculo que tinham diante deles. O orc notou que faltava pouco para finalmente abrir. Com um urro, esquecendo a necessidade de ser discreto, ele impulsionou o chão sob seus pés e sofrendo com os músculos como que se rasgando, moveu a porta o bastante para eles passarem.

Caiu sentado no chão, respirando ofegante. Tinha se esforçado mais do que podia para abrir aquela maldita porta. No entanto agora eles estavam dentro. Sentado no chão viu que estavam já na biblioteca. Uma das tantas que haviam naquela torre. Nadyne aproximando-se viu a infinidade de livros. Afinal aquele esforço não foi vão.

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Rax

Rax levantou-se após a ajuda de Nadyne, ela seguiu na frente, avançando sobre as prateleiras e buscando alguma coisa que pudesse ajudá-los. Assim que ficou de pé, o orc sentiu sua vista escurecer-se e, ao mesmo tempo, o corpo fora tomado de uma fraqueza. Mas aconteceu algo mais ali. Sentiu o frio da morte invadindo seu corpo.

Seus olhos então se apagaram e o que ele viu, viu não de uma forma orgânica, mas numa forte intuição que desenhava imagens em sua imaginação. Viu como se o ar rachasse como vidro e então explodisse, dando abertura para entrada de vultos horrendos que tomavam formas ainda piores ao passar pela fenda. O último que saiu fora a mesma criatura que havia visto momentos antes nO Porto. Porém o que o aterrorizou não foi aquele último ser. Foram os vultos ainda maiores que ele conseguia ver pela fenda. Eram grande o bastante para não passarem, mas eles iam e vinham chocando-se contra aquele vidro invisível que separava a existência de onde quer que estivessem.

E viu as fissuras em volta da fenda se abrindo cada vez mais, rachaduras que pareciam pernas de uma aranha a se mover devagar. E naquela rachadura viu diversas pessoas, vestidas em vestes rituais, em rodas, no meio de altares e rituais impronunciáveis. Os Irmãos da Sombra Eterna. E então não viu mais nada.

Fim da Segunda Aventura para Rax