[Duas Rodas, Uma Família] - Lurth Johann

Evelyn McEvans era uma mulher bonita. E ela sabia que era uma mulher bonita, Evelyn era alta, cerca de 1.75 de altura, aumentada por sua constante mania de usar botas de salto. Evelyn tinha os cabelos vermelhos curtos e os olhos verdes intensos e brilhantes. E tinha um corpo de dar inveja em muita garota de 15 anos, apesar de estar lá pelos 30 e poucos e com três filhos.

Haviam muitas coisas sobre os McEvans que não era mais dita na Irlanda, para ser honesto, Evelyn não se importava muito. Sua família tinha um complicado passado e um futuro indistinto. A morte de seus irmãos tinha posto uma pedra muito grande naquela existência e agora cabia a ela fazer com que as coisas acontecessem.

Retornar à Irlanda lhe trazia lembranças, algumas boas, mas a maioria lhe parecia mais um fisgado dolorido do que uma recordação: Evelyn sempre amará seus irmãos, mas sua relação com o pai nunca tinha sido das melhores e isso se estendeu por todos os anos amargos que o velho viveu. E agora lá estava ela, de volta aquele país, de volta as raízes, com uma família própria e com suas próprias ambições.

O encontro com Sean tinha sido interessante, pudera ter ideia leve do que acontecia por aqueles cantos de maneira rápida e simples e agora precisava planejar o restante dos passos. Evelyn não gostava muito daquilo; mas como todo Garou sabia que tinha uma missão a cumprir e que ela sempre viria primeiro do que qualquer outra coisa.

Do lado de fora do Garda, enquanto sentava-se na moto e pensava sobre essas coisas, ela observou sua prole, agora praticamente um adulto e pensou a respeito de tudo que aquilo implicava: Elliot tinha ficado nos EUA para resolver seus próprios problemas, enquanto ela e Donovan estavam lá, na terra da Dana, não gostava da ideia de deixar o marido para e os dois outros filhos trás, como todo Fianna, Evelyn era extremamente ligada a família, mas tinha que confiar que estariam bem, já que o Trevo tinha prometido cuidar deles enquanto Eve e Donovan estavam naquela jornada.

Suspirou, girando a chave e fazendo o motor da harley iniciar. Ela pôs o capacete, esperou Donovan fazer o mesmo e então ambos partiram para o próximo destino.

[...]

Quando as duas motos viraram para entrar na rua do Pub de Lurth, estava próximo do meio dia e o lugar aberto, como ele sempre gostava de manter, apesar do movimento àquela hora ser menor. Eve estacionou a moto e logo ao seu lado o rapaz fez o mesmo. Ela tirou o capacete e as luvas e as deixou no compartimento.

Ela deu uma olhada rápida do lado de fora, antes de entrar no lugar e quando Evelyn entrava num lugar, ela definitivamente chamava a atenção.

A ruiva parou à porta e deu uma olhada breve em volta, àquela hora o lugar estava praticamente vazio, tinha meia dúzia de perdidos aqui e ali, que lhe lançaram olhares curiosos e cobiçosos, Donovan parou ao seu lado e então ambos moveram-se para uma das mesas. Eve queria fumar, cara, ela mataria por um cigarro, mas não o fez, tinha que se focar em outra coisa, afinal.

Lurth, quando colocasse os olhos nos dois recém chegados saberia: não eram clientes comuns.

Spoiler:

O relógio estava perto de marcar meio dia. Havia cerca de meia hora que Lurth havia acordado, já que estava trabalhando no pub até tarde da madrugada anterior. Pelo horário, além dele, havia apenas um atendente/garçom para atender os poucos clientes que porventura ali dessem uma parada. Devido aquela situação tranquila, Lurth estava sentado em um dos sofás do canto, distraindo-se jogando dardos no alvo da parede enquanto fumava um cigarro antes mesmo de qualquer refeição.

Quando o casal peculiar entrou e por fim escolheram seus lugares para se sentar, Lurth sinalizou para o atendente para que se mantivesse em seu lugar. Estes dois, Lurth atenderia em pessoa.

Levantou-se, apagou o cigarro e deu uma rápida ajeitada em suas roupas, por fim, dirigiu-se para a mesa com as mãos nos bolsos, com um olhar caloroso e um sorriso jovial, de forma que quem olhava para sua aparência sempre o julgava como sendo mais novo do que realmente é.

"Bem, pelo visto o dia vai começar mais cedo do que imaginei..." -pensou

Ao chegar perto da mesa, retirou as mãos dos bolsos:

-Boa tarde meus caros, o que desejam?

O rapaz tinha voltado sua atenção ao celular, enquanto a ruiva ao seu lado olhava em volta sem muitas pretensões; Evelyn notou o sujeito que se aproximava, mas em primeira instância ela apenas observou, quando Lurth chegou perto o suficiente, a ruiva o olhou de cima a baixo por um instante breve. Ela lambeu os lábios.

- Conheço sua mãe, crescemos juntas até. - Comentou desviando os olhos e novamente olhando em volta, ela tinha uma voz autoritária, de alguém que estava habituado a encontrar-se em comando, em seu pescoço era possível notar algumas 'dogtags' que não eram meramente decorativas.

- Precisamos de cobertura, porque temos que trazer alguém para baixo. - Ela piscou um dos olhos, antes de suspirar. - E um bom uísque escocês seria bom, também.

Lurth, sem vacilar pela voz que para alguns pode ser intimidante, mantém sua expressão afável, junta a palma da mão esquerda nas costas da mão direita:

-Ah, mesmo? Que maravilha, bem, alguns dias que não a vejo, se quiser falar com ela,
talvez ela dê uma passada por aqui esta semana. Bem, primeiro, permita-me iniciar com o mais fácil - e assim deu um rápido cumprimento e se retirou e voltou com 2 copos com whisky e uma vasilha pequena com algumas pedras de gelo e um ''pegador''

-O sr também gostaria de uma dose? Para você, Srta: aceitas gelo? A propósito,
Lurth Johann, e vocês, meus caros, são...?

Evelyn tinha os olhos no lugar, parecendo atenta demais para só um dia comum e qualquer; o garoto com ela agora estava com o celular na mão, diferente de Lurth, Donovan era bem mais novo do que sua aparência mostrava e ele agia de acordo com sua idade. A ruiva prestou atenção no recém chegado e sorriu de leve; era difícil decifrar o sorriso da Ragabash.

- Ah, eu acho que não. Ela possivelmente ainda deve estar puta porque eu dormi com o namoradinho dela quando éramos jovens.

Donovan tirou os olhos do celular e olhou para a mãe com uma expressão que misturava a surpresa e certa diversão, moveu a cabeça em negativo e voltou os olhos para o celular.

Quando a bebida chegou, Eve pegou a garrafa, dispensado que Lurth os servisse, ela abriu o uísque e deu um gole na garrafa mesmo.

- Evelyn McEvans. - Ela falou, dando outro gole. Lurth conhecia o sobrenome McEvans, mas também sabia que há algum tempo a maior parte da família Evans tinha saído da Irlanda, por motivos que poucos gostavam de comentar. - Essa é minha prole, Donovan.

Ela moveu uma das mãos, gesticulando. - Ouvi dizer que vocês andam tendo problemas com os Senhores. - Ela piscou um dos olhos e bebeu mais um gole da garrafa.

Quando a mulher falou sobre dormir com o namoradinho da época, Lurth colocou a mão na boca e começou a rir por cerca de 5 segundos. O rapaz abriu o pub sendo um dos objetivos procurar prestar auxílio de modo a (tentar) resolver as intrigas que pudessem haver entre seus semelhantes, além do suporte e tudo mais, mas...

"...mas definitivamente triângulos de pegação da geração antecessora de garous não é meu foco"

-Ééé...compreendo. Eventualidades acontecem.

Lurth não se opôs quando a mulher pegou a garrafa e começou a beber na boca da mesma, apesar de prezar para si mesmo a educação, não se incomoda com a falta de modos dos outros

"Ao menos ela parece estar a vontade"

Ao ouvir a última fala, o rapaz retorna a colocar as mãos nos bolsos e esboça um sorriso leve e um olhar gentil e diz calmamente:

-E ouvi dizer que a maioria dos McEvans haviam deixado a Irlanda- e imitou a mulher, piscando também um dos olhos.

-De qualquer forma, creio que concorda comigo que os detalhes do que trouxeram a Sra. e o Sr. aqui, por questão de prudência, devem ser discutidos em um local mais privativo, por isso, os convido a irmos em um dos cômodos do fundo, fique a vontade para trazer a garrafa.

Evelyn voltou a sorrir. Ela tinha um sorriso bonito, mas era daqueles que deixavam muitas coisas no ar: era difícil sondar aquela mulher. E de fato, como todo bom Fianna, Evelyn estava extremamente a vontade, ainda que eventualmente seu olhar andasse pelo lugar como um predador a busca de alguma coisa.

A frase de Lurth, porém, chamou sua atenção. Suas sobrancelhas finas se arquearam levemente, observando o Parente com atenção; Donovan pareceu afetado também, guardando o celular no bolso da jaqueta e agora parecendo interessado na conversa.

- É?- Ela falou e desabrochou outro sorriso cheio de segundas, terceiras e infinitas intenções. - Só a parte ruim da família. - Completou e piscou um dos olhos.

Então quando Lurth falou, a ruiva se levantou. Ele já teria notado naquela altura que o Irlandês dela, apesar de bom, tinha um fortíssimo sotaque americano e não o britânico que era comum de quem era de fora da Irlanda.

- Ele vai te explicar as coisas, querido. Eu tenho outro assunto para resolver. - Ela segurou a garrafa numa das mãos e com a outra deu três tapinhas no ombro de Lurth. Donovan apenas observou a mãe se afastar e depois voltou seu olhar azul - ele não se parecia muito com ela, para falar a verdade - era um garoto alto, claro, mas tinha os cabelos loiros e os olhos azuis, diferentes dos verdes da mãe.

Ele se levantou. - Bom, você mostra o lugar. - Comentou.

O parente faz um gesto leve com a cabeça, assentindo com o que a mulher dissera quando dá os 3 tapinhas em seu ombro e a observou sair, assim como o filho dela.

Quando Donovan fala, Lurth responde:

-Pois bem, siga-me, por gentileza.

Antes de sair daquela sala por completo, sinalizou para seu atendente do balcão, para que ele ficasse de olho agora que estava a se retirar. E então conduz Donovan para um dos cômodos do fundo que ele tem, que geralmente serve para hospedarem viajantes ou garou/parentes feridos ou que não tem um local pra passar o dia/noite. Mais precisamente, ele os levará para o cômodo que utiliza para tentar apaziguar animosidades, é um cômodo com uma mesa grande central retangular com os cantos arredondados, algumas cadeiras a sua volta e sofás semi-recostados nas paredes. Lurth abre a porta, entra e aguarda que seu convidado também o faça. Quando ele entrar, Lurth fecha a porta.

-Fique a vontade para escolher onde sentar-se e depois dele se acomodar, Lurth se senta de frente para o garou.

-Então...estou ouvindo atentamente, meu caro.

Donovan não parecia ter prestado muita atenção no lugar em si. Diferente da mãe, ele não parecia estar tão atento as coisas que aconteciam ao seu redor. Lurth pode notar, quando o jovem passou por ele, que aparentemente todo o corpo do garoto estava coberto por tatuagens: pode ver desenhos subindo na nuca, vindo das costas, quando ele tirou as luvas de couro e a jaqueta, também pode ver os braços e a mãos cobertos de desenhos que se misturavam ao misticismo celta, ao rock 'n' roll, ao motociclismo e a cultura Garou.

Donovan puxou uma cadeira qualquer e se sentou, ele tirou do bolso a carteira, as chaves e o celular. Suspirou, não gostava muito daquela parte burocrática da coisa: na real não gostava muito de se meter nos "assuntos dos outros", já tinha bastante coisa com o que preocupar atualmente.

O Garou levantou os olhos claros na direção do Parente e sorriu de leve, passou a mão pelo rosto, antes de começar.


- Até onde da confusão dos Pratas com os Senhores 'cê tá sabendo?

-Lurth simplesmente aguarda com olhar calmo e sereno:

-Bem, creio que não muito, apenas que os Senhores dominaram Bray e estão de treta com os Pratas, mas a parte da treta não é novidade ao dizer isso dá uma risada curta e breve em um misto de sarcasmo e divertimento e termina

-...e por fim, ouvi que chegou um Sombra novo na cidade e sua fama aparentemente não é muito boa, mas não sei sequer seu nome, nem quem ele é exatamente. Ah, sim, e uma Prata aparentemente não resistiu aos encantos do bad boy em questão e transou com ele. Bem, só isso mesmo.

- Alguma coisa assim. - Ele disse, ajeitando-se. Parecia de certa forma meio desconfortável. Não pelo ambiente ou qualquer coisa assim, mas pela aparente situação em que se encontrava. Donovan suspirou levemente, tateando os bolsos e pegando o maço de cigarros; ele acendeu um, dando um trago longo e esperando, como quem pensa em uma solução que fosse aparecer magicamente para eles.

- Na real a reputação dele é muito boa, de certa forma, entre eles. - Deixou a fumaça sair devagar, pensativo. Ele não gostava muito daquelas situações políticas: era uma das coisas que gostava nos Estados Unidos. Não tinha que se preocupar muito com essas coisas. - Mas a questão é de que o motivo dele ter vindo para cá ainda não é muito claro. Estão especulando que estão tramando para a dianteira, sabe? Os Senhores das Sombras já são maioria na Europa, onde os Presas de Prata perderam terreno e suporte. Muitas das Tribos estão seguindo o Margrave e toda essa confusão atual, não é boa para os Presas.

Donovan fez uma pausa, os olhos azuis - tão diferentes do da mãe - fixando-se no Parente. - O que precisamos que você faça, é que cutuque seus contatos, tente descobrir algo que ajude os Pratas, entende? Mas sem chamar atenção.