[O Começo É o Fim do Começo]

Admirou-se com o fato de não ter acordado banhado de suor por conta dos pesadelos. Aquilo, para si, já queria dizer que teria um ótimo dia. Sabe o que queria dizer que seria um dia ainda melhor? Ele ter sonhado com uma mulher belíssima tocando sua mão! Era excelso! Puta merda! Levantou cantarolando. É verdade que, dentro de si, aquela imagem se repetia e de certa forma lhe preocupava, porém se forçava a crer que não era nada demais. Passara a manhã atarefado e usava disso para não se preocupar. /p>

Não deveria se preocupar mesmo com toda a questão político-social garou que estava rolando. Mal havia entrado naquela circunstância e parecia que a batata já assava perto dele ali. A verdade era que estava feliz, de fato, pelo que lhe acontecera. Entre os lobisomens ele se sentia muito mais à vontade e útil que sendo um mendigo. O fato de uma parente Presa de Prata ter desopilado - HAHA - com um Senhor da Sombra não lhe preocupava em absoluto. Jebediah se cria muito insignificante para aquele tiro acertar ele. Ele esperava isso, pelo menos./p>

Estava caminhando para o refúgio dos Roedores enquanto pensava nessas coisas. Os boatos corriam rápido entre eles, e Jebediah era ótimo em captá-los. Na realidade, ia para o refúgio torcendo para encontrar Amy e perguntar-lhe do seu sonho. Quando chegou nos túneis abandonados, avistou a ela e a Omelete, a responsável pelo lugar, que disparava insultos a cerca da parente fogosa e da situação. - Boa tarde, madame! - Falava com a manda chuva local com um sorriso de orelha a orelha. - Eu conheço casos terríveis de pulada de cerca. A história acaba com um órfão lazarento que termina num túnel abandonado com a escória da sociedade. - Fez um gesto com as duas mãos mostrando a si mesmo enquanto dava uma gargalhada, terminou com um abano de mão, caminhando para onde estava Amy./p>

- E aí?... Ei! Eu tive um sonho bizarro, mas bom! Não era tipo um pesadelo. Eu tava numa neve, tá ligada? Muita. Porra, como tinha neve. E tinha uma mulher lindíssima, bonita mesmo, pálida e de olhos azuis que pareciam gelo, que tocava minha mão. E aí a neve tombava e eu acordei. - Recontou seu sonho com rapidez. Não queria admitir, mas estava encucado com isso. - O que você acha?

Jebediah Katz:

Omelete não gostou especialmente do comentário de Jebediah. Não se abalou por aquilo, cedo ou tarde ele conseguiria a simpatia daquela Ahroun. Ele precisava conseguir aquela simpatia. Porém, não precisava ser agora, nem mesmo hoje. As pessoas tem seu tempo para se adaptar às outras. É normal.

Estava de fato mais preocupado com o sonho. Rira quando Amy sugeriu que ele precisava de uma namorada.  - Quem não precisa, não é? Mas por enquanto eu tô na paz. - Ainda mais agora que, sendo um garou, estava envolvida toda uma coisa de parentes e não sei mais o que. Ainda não entendia perfeitamente aquela onda. - Apareceu muda e desapareceu calada. Quando ela tocou minha mão, a neve caiu e eu acordei. Também achei estranho isso da neve. Nunca fui muito fã de neve...

Moveu-se incomodamente, como que se agasalhando, num ato reflexo. Fora o frio que quase o matara e o empurrou para o frenesi da primeira mudança. É verdade que era grato por aquilo, mas não deixava de ser uma situação traumática. Porra, ele poderia ter morrido ali... - Nada contra também, acho mó bonito e tudo. Papai Noel, Merry Christmas essas coisas todas... Será que é um indício que o inverno está chegando? - Sorriu com a referência idiota.

Amy era muito menininha quando estava fora de seu papel de Theurge. Isso tinha um certo charme. Jebediah deu um sorriso contido quando ela revirou os olhos pelo comentário sobre um namorado. - Não precisa ficar sem jeito, você é uma gracinha. Só não te dou bola porque tem esse lance todo da Litania e tal... - Levantou instintivamente um pouco o ombro já se preparando para o safanão que iria levar.

Ficou parado olhando para ela enquanto ela o observava de cima a baixo tentando imaginar o motivo daquilo tudo. A verdade é que se ela, que era ela, não sabia, quem dirá ele, que como ela mesma disse, era um pé rapado.  - Eu garanto que tô limpo, nem na loja de Eljah eu tenho passado. - Odiava isso, mas vez por outra costumava surrupiar alguns itens da loja de seu amigo. Eram todos de pouco valor, é claro, e ele mesmo estava certo que Eljah sabia, só não falava por generosidade mesmo. - Você não consegue localizar esse espírito não? Podemos resolver chegando na boa e perguntando. Eu sempre prefiro uma abordagem franca e direta. 'Oh, dona dos gelos, o que a senhora tem pretendido'? Acho que assim é mais fácil para todo mundo.

Aquela também seria uma oportunidade, ir para a Umbra junto com Amy sempre é um aprendizado. Ainda mais para ele que tinha certos problemas com a Umbra e quando menos esperava, estava lá dentro. Precisava aprender mais para evitar entrar em enrascadas. - O que me diz?

Caminharam então pelas galerias até encontrar um lugar adequado para passarem para Umbra. Ele tinha alguns problemas com aquilo, mas Amy era uma Theurge super capacitada e com delicadeza e segurança o guiou até passarem para o mundo espiritual. As galerias da Umbra eram residência de muitos espíritos menores, de variados tipos. Era ao mesmo tempo perigosa, pois nunca se sabe que espírito se poderia encontrar, e digna de pena, pois como os espíritos menores fugiam dos mais poderosos, os roedores se escondiam ali dos demais garous. Ao entrar ali, naturalmente tomaram a forma crinos. Jebediah era magro e forte, com pêlos distribuídos de forma meio estranha, sendo bem peludo nos braços e ombros, descendo uma pelagem em V pelo tronco. - Isso aqui tá diferente. - E de fato estava. As galerias estavam frias, com um frio um tanto quanto antinatural. Jebediah porém se sentia confortável. Estar confortável no frio era uma novidade imensa para ele que sofrera nas ruas.

- Está vendo esses floquinhos de gelo girando por aqui? - Foi o que respondeu quando Amy lhe disse que talvez a Rainha da Neve estivesse procurando por ele. Na realidade ele não sabia direito o que isso queria dizer. Seu olhar estava perdido nos cristais que rodopiavam a seu redor. - Eles estão fazendo uma trilha... Vê? Vamos!

Passou então a seguir aquela trilha a medida que ia encontrando-a e percebendo-a, esperando que Amy estivesse logo atrás dele.

Forma Crinos:

- Não estou escutando nada especial, mas esse floquinhos parecem apontar uma direção. - E inconsciente e um pouco intuitivamente começou a seguir aquela visão. Caminhavam pelos túneis que pareciam mais tenebrosos que de costume. Jebediah ia a frente, Amy lhe seguia de perto. Dobraram em algumas esquinas até que chegaram numa bifurcação. Boca-do-Povo estancou diante daquele impasse. Os cristais de gelo paravam de cair e se acumulavam em ambas as entradas. - Parou... - Tentava vislumbrar algo no fundo dos túneis mas eles eram escuros e inconclusivos..

- A trilha acaba aqui, dando cabimento para ir para qualquer um dos lados. - Virou para Amy como que perguntando o que deveria fazer. Mas sabia que ela não poderia ajudar muito, afinal ela não conseguia ver os flocos que apareciam para Jebediah. Passou a mão enorme pelo rosto e tentou raciocinar. Deveria haver alguma resposta. Algo que lhe apontasse uma direção. Passou alguns momentos em silêncio até que lhe brilhasse na mente uma idéia. - Sabe, vai ver é uma parada enigmática. Olha só, eu sou um roedor - nós somos roedores - e nada para nós é do jeito certo ou do jeito mais fácil. E se isso tem a ver comigo, deve ter a ver com isso. Ser destro quer dizer ser capaz, habilidoso. Mas ser canhoto, é sinistro, errado. Ser gauche na vida.

E dizendo aquilo como a resposta mais clara que ele, um Galliard, poderia achar, começou a adentrar pelo túnel da esquerda. - Num faz sentido?

Off:

Entrar naquela tempestade era estranho. Sentiu os pelos se eriçando, criando uma tensão que envolvia seu corpo. Aquela sensação, contudo, parecia confortável. Os trovões e o barulho do vento não pareciam oprimi-lo. O que era de fato admirável, pois nas ruas aqueles sons eram sinônimo de incerteza, de uma péssima noite e talvez de tuberculose. Quando Amy tocou seu olho e lhe falou alguma coisa que ele mal prestou atenção, Jebediah apenas pensou alto: - Esse lugar tem uma paz, né? - Amy indicou a criatura que mais à frente estava parada. Tinha forma humana mais definitivamente não era uma pessoa. Nem dava para ter certeza que era mulher. - Não era ela no sonho... Ou se era, estava muito diferente.

A criatura humanóide então falou algo que estava além da compreensão do galliard, mas que em seguida a theurge traduz. Se aquilo não fazia sentido para ela, tampouco para ele. - Quem é esse Senhor dos Corvos? Você já ouviu falar? Tem jeito de ser um espírito.

Continuou olhando para Amy sem saber exatamente o que fazer. - Num dá pra perguntar pra ela? Será que essas cinco chaves tem a ver com os augúrios? Uma matilha da prata?

Escutou o que disse Amy com atenção. Mas o que poderia ter a ver com ele os espíritos totêmicos dos Crias ou dos Senhores das Sombras? Quer dizer, ele até entendia que um espírito-corvo pudesse adotar um roedor. Mas algo como o Avô Trovão? - O que esses espíritos iriam querer comigo? - Seguiu-a em direção da silhueta. Em um dado momento passou a ir na frente. Jebediah não era do tipo que ficava acuado diante das coisas. Eles estavam ali por causa dele, então ele tinha que estar à frente. Nem que fosse para proteger Amy do que quer que acontecesse. Quando chegasse num local que saberia ser ouvido, impostando a voz, ele se dirige ao espírito, sem sequer saber se ia ser entendido. - Oh, seu grandioso espírito! Eu sou Jebediah 'Boca-do-Povo'. E fui trazido aqui por um sonho. Que quereis de mim?

Falou e depois com o rabo de olho olhou para Amy, procurando saber se fizera certo.