And my old man, well he is snoring
Rainy day stay
Well my brother, he builds a puzzle
On the blue rug with lazy bubbles
Rainy day please stay
Rain rain don't go away,
The sun can come back another day
Rainy day please stay
Well my mother, she doesn't
bother with the dishes in the kitchen
Rainy day please stay”
Rain - Priscilla Ahn
Lailah sentia frio. Um frio que não vinha exatamente de lugar nenhum, mas simplesmente penetrava no corpo. Ela conhecia aquela estradinha, cobertas de folhas e galhos, mas não entendia por que estava ali àquela hora da noite e por que estava descalça e de camisola. Mas não era exatamente isso que lhe chamava mais atenção. Era o que via à frente.
Lailah sabia que aquela estrada não terminava daquele jeito, sabia que ao final dela estava a velha casa de fazenda, o velho estábulo dos cavalos e o velho celeiro. Sabia que haviam árvores e animais por ali, sabia que era possível ouvir os pássaros. Sabia que ficava mais frio no inverno. Mas ali e agora, Lailah só via a estrada coberta de folhas, e quando Lailah olhou para a frente, ela viu um cavalo. Era o seu cavalo? Ela não sabia bem, não dava para ver direito, mas Lailah se moveu – ela sentia a vontade de se mover, mas quando Lailah se moveu, o cavalo se moveu também e se afastou dela.
Lailah então correu na direção do cavalo, chamando seu nome. O cavalo por sua vez correu de Lailah, e quanto mais Lailah corria mais longe do cavalo ela ficava. Mas ela não desistia e continuou a correr e correr e o cavalo a fugir e fugir… Lailah parou de correr, sem fôlego e cansada. Seu olhar se voltou para o horizonte, onde o cavalo parecia afastar-se cada vez mais. Tinha alguma coisa naquele cavalo que não estava normal… Lailah forçou a visão então o cavalo virou de lado e levantou as patas dianteiras, como se saudasse alguém ou alguma coisa… E havia algo na sua cabeça… Algo… Pontudo…?
Ela forçou mais a visão, era definitivamente um cavalo… Era definitivamente um chifre… Um unicórnio?
(...)
O sol, naquela manhã não tinha batido em sua janela. Mas ainda sim a luz do início do dia tinha lhe despertado: as coisas lá começavam cedo. O vento frio entrou balançando as finas cortinas do quarto que dividia com as irmãs. Podia sentir o cheiro do café e ouvir os sons do trabalho que já começava naquela manhã. Tinha chovido noite passada, como era comum naquela época do ano e ela e as irmãs correram na chuva como há algum tempo não faziam. Seus pais ficaram sentados na varanda, observando-os. Era uma memória boa, achava. Uma memória que provavelmente voltaria a sua mente daqui uns anos, quando as coisas começassem a mudar. Lailah acordou desnorteada, tinha tido um sonho esquisito com cavalos…
Pode observar que suas irmãs já tinham se levantado, o que era estranho já que era sempre ela quem levantava primeiro todos os dias, podia ouvir a mãe cantarolar uma musiquinha sobre a chuva na cozinha e ouvir o som dos equipamentos do pai começando a serem postos para funcionar naquela manhã. Mas ela estava com aquela coisa na cabeça, aquele sonho esquisito que não conseguia se lembrar muito bem. Talvez, só por precaução fosse bom dar uma olhada em seu cavalo antes da escola.
O café da manhã foi aquela bagunça anunciada de sempre, todo mundo tentando falar ao mesmo tempo e sua mãe e seu pai fingindo que conseguiam ouvir todos, Lailah entretanto estava mais calada naquela manhã, com o sonho ainda na cabeça. Não tinha sido a primeira vez que sonhara com algo parecido – envolvendo cavalos –, mas era, sem sombra de dúvidas a primeira vez que tinha visto um cavalo com chifres e ainda não tinha certeza do que isso significava. Talvez seu pai soubesse afinal ele sabia um monte de coisas, mas não queria incomodá-lo com aquelas coisas agora, provavelmente teria esquecido isso antes das aulas terminarem naquele dia.
O trajeto para a escola naquela área rural era mais problemático, ela e as irmãs tinham que andar um pouco antes de poderem pegar um ônibus que as levava para a aula e como tinha chovido a estrada estava um pouco molhada e lamacenta… Suas irmãs iam mais à frente, mas Lailah tinha ficado para trás, ela gostava de observar a paisagem.
– Pensando na morte da bezerra? – Veio a voz de trás dela, quando Lailah se virou, deu de cara com o sujeito alto de porte atlético e cabelos longos. Ela o conhecia, era Muninn, ele também tinha umas terras por ali com os irmãos e o pai. Muninn era bonito pra caramba e as meninas da idade de Lailah ficavam cochichando sobre ele na hora do intervalo, às vezes. Lailah era tímida demais para fazer isso. Ele puxava um cavalo pelas rédeas, era um cavalo de pelo negro e patas felpudas. Lailah achava aqueles cavalos lindos e tinha perguntado para o pai uma vez, seu pai explicara que eram a maior raça de cavalo que existia e eram muito caros, se chamavam Shine e vinham da Inglaterra, tinham sido muito importantes na era medieval, já que aguentavam o cavaleiro e sua armadura sem muitos problemas. Nas terras que pertenciam à família de Munnin, existiam muitos desses cavalos, ela já tinha visto algumas vezes.
Munnin e seu pai às vezes também se encontravam para resolver problemas locais com alguma coisa. As terras do rapaz ficavam mais afastadas, quase próximas as florestas que começavam a preencher a terra, mas para todos os efeitos, eram vizinhos - ou próximo disso - e pareciam se dar relativamente bem, apesar da pequena fama da família de Muninn - Lailah sabia que eles eram Crias de Fenris - e que Muninn era filho de um Garou poderoso. Mas diferente do pai e do irmão, ele geralmente era bacana. Pelo menos das poucas vezes que tinha encontrado com ele. Claro, ele era mais velho.... Mas não deixava de ser bonito.
Munnin notou como Lailah olhava para o cavalo e deu uma risada alta e divertida – diferente dela, ele parecia bastante extrovertido – deu uns tapinhas no pescoço do animal. – Essa é Lua Minguante. – Falou Munnin. – Quer passar a mão nela?