[Counting Stars] - Prólogo Ralph D’ Lowell

O sol mal tinha nascido lá fora quando Ralph começou a despertar graças aos barulhos que Sasha fazia. Ela estava de pé, enfiada numa blusa de moletom e procurando o resto das roupas. Sasha era uma garota estranha, mas Ralph tinha aprendido a não questionar muito a respeito dela: sabia o que precisava saber. Ela era rica - ou os pais eram - ela era filha de um Ancião Senhor das Sombras que controlava aquela cidadezinha de merda e ela sabia se divertir. Essa era a melhor parte, se tinha algo que Sasha sabia fazer, esse algo era se divertir.

Ela se vestia daquele jeito estranho, com aquele penteado estranho e o excesso de maquiagem escura. Era uma típica filhinha de papai rebelde sem causa, mas aparentemente Sasha fazia o que tinha que fazer para a Tribo, já que ninguém lhe enchia o saco. Como muitos da Tribo de Ralph, Sasha era muito boa com a tecnologia, uma hacker, ele sabia. Claro, Sasha nunca chegaria ao nível de um Andarilho do Asfalto, mas ela era suficientemente boa para aquela cidade e suficientemente boa para lhe conseguir umas informações, às vezes.

E suficientemente boa para que uma vez ou outra, os dois acabassem ali, na cama.

- Estou fodidamente atrasada.- Disse ao conseguir 'pescar' as calças em algum lugar em baixo da cama. Sasha tinha aquele sotaque estranho - não era Irlandês, Ralph já tinha ouvido muito Irlandês na vida para saber que o sotaque dela era diferente, uma coisa puxada para os Russos. Ela se enfiou dentro das calças e pegou os sapatos.

Eles tinham se conhecido de um jeito engraçado, Ralph era motorista particular de Masha, que por sua vez era a irmã mais velha de Sasha e um dia ele teve que buscar a moça em um lugar e levar para o outro, no caminho Sasha o convenceu a parar em um bar e uma coisa levou a outra. Ninguém sabia - ou achavam que ninguém sabia - que os dois às vezes se encontravam. - Você vai servir de cachorrinho para a Tirana hoje? - Perguntou, mas a realidade é que Sasha não tinha muito interesse nisso. Sasha não tinha muito interesse em quase nada.

Mas as coisas não funcionavam como Sasha achava. Ralph só precisava ir quando Masha ligava, precisava ficar a disposição em horário comercial.

- Vai ter uma corrida hoje, fora de Bray. Você vai? - Era outra coisa que quase tinham em comum. Sasha adorava essas corridas.

Sasha ignorou o primeiro comentário, agora debruçada observando seu próprio reflexo na janela fechada. Sua maquiagem estava uma zona e seu cabelo parecia ter passado por um processo doloroso de guerra, teria que se arrumar no carro do jeito que desse. Não que isso fosse de alguma forma fazer qualquer diferença.

Ela riu, ao ouvi-lo falar daquele jeito sobre a 'relação' com a 'patroa', mas moveu os ombros. Conhecia Masha suficientemente bem para entender que nem tudo era piada. Ela se afastou quase instantaneamente quando foi puxada. Sasha não gostava daquelas coisas - o fazia não gostar -, de ficar de mãos dadas ou abraços.

- Torcer? Não, mas talvez algumas apostas. - Moveu as sobrancelhas, antes de revirar levemente os olhos e catar o celular. Deu uma olhada muito breve nele.

- Ah, é verdade. Eu não te contei. Hoje é o grande dia que vamos conhecer a bastardinha do nosso patriarca. - Deu uma risada meio sarcástica e moveu os ombros. Diante da oferta dele, Sasha sorriu de canto e se aproximou dele como se fosse beijá-lo, mas parou frente à frente com o Andarilho.

- Não preciso de caronas.- Deu uma olhada de cima a baixo nele. - E se eu fosse você, tomava um banho antes da Toda Poderosa te chamar, porque se você aparecer assim ela te demite num piscar de olhos. - Ralph pode ouvir o som de pneus do lado de fora e do que parecia um carro estacionando. O celular de Sasha apitou. E mais um dia tinha começado.

- Meu carro chegou. Te vejo à noite. - E no mesmo furacão que ela chegou, ela saiu.

O apartamento em que vivia não era das coisas mais chiques ou grandes, mas servia para o que precisava: um lugar para dormir. Tinha um quarto, uma pequena sala, banheiro e cozinha e uma varanda tímida. O melhor de tudo era que ficava próximo ao centro. Conseguia se deslocar com facilidade dali para qualquer lugar que precisava. Bray não era uma cidade muito grande, como as que estava acostumado, mas dava para viver e caso necessitasse muito de uma fuga, Dublin estava logo ali.

Quando Sasha se foi, o local ficou em silêncio de novo. E ele tinha tempo para tentar se livrar dos cheiros da noite anterior.

Foi mais ou menos por volta de uns vinte minutos após ter saído do banho que seu celular apitou, a mensagem era bem simples:


"Strand Rd, número 7 às 10:40h. Chegar 20 minutos antes."

Ralph sabia que aquela mensagem não vinha diretamente de Masha, tinha aprendido que a mulher tinha alguém para fazer praticamente tudo na vida, uma delas era mandar as mensagens que ele recebia dos locais onde deveria esperá-la ou esperar algo para fazer. Bom, ao menos agora já tinha algo para fazer, e Strand Rd era de frente para a orla, podia fazer uma hora ali enquanto esperava a madame.