- Bom, vou seguir com eles até fora da cidade então, já que posso ir.
Ĝeko volta para dentro da tenta da carroça sem nem se dar conta de quão perto chegou de uma luta, pois os soldados estavam realmente a fim de confusão, mas o rapaz volta para dentro com tanta ingenuidade que deixa os outros com cara de "WTF". Depois de alguns segundos em que estavam duvidando que ele estava mesmo disposto a simplesmente seguir aqueles doentes, mas viram que era isto mesmo que ia fazer, eles ainda discutem baixo entre si.
- Camarada, acho que aquele pivete zombou de nós. Deveríamos fazer algo.
- Talvez ele seja só louco. Tem muito louco nesta cidade.
- Ainda assim precisava de um corretivo. E se ele for contaminado pela doença, pode contaminar outros.
- Acho que tem razão, mas EU não quero ir lá tirar ele daquela carroça, prefiro deixar que arrisque morrer fora da cidade. Se acham que devemos se enérgicos por pouco, podemos obriga-lo a se apresentar aos superiores, mas sem querer parecer preguiçoso... por mim os superiores nem precisam saber disto, caso esteja bom pra vocês também.
Eles dão a conversa por encerrada e deixam tudo por isto mesmo.
O zumzumzum acompanha todo o trajeto, os bois não estavam com pressa, principalmente ao pegar o grande aclive que dava para o portão norte. Os animais reclamam quando finalmente chegam no portão, como se dissessem "oh trabalhinho desgraçado puxar este peso todo morro acima!"
Os homens estavam um pouco mais conscientes, mesmo assim continuavam deitados pingando de febre. A única coisa que o senhor podia fazer era agradecer ĝeko várias vezes seguidas.
Os bois tinham parado logo depois do portão da cidade, para pastar e descansar antes de entrarem deserto a dentro, não são sequer desligados da carroça durante a pausa. Ĝeko aproveita para ir vir a outra carroça.
Ele fala com as mulheres, mas estas, se chegam a ouvir, não dão sinal de ter entendido. O rosto delas é pura dor e desânimo, poderiam ser fatiadas vivas e não reagiriam. Quando toca uma delas, percebe sua mão fria e mole, só a respiração fraca e gemidos baixos mostravam que elas ainda estavam vivas. Não eram jovens, nem muito velhas, mas pareciam acabadas.
A caminhada tinha sido lenta, mas Velora, quando informada, tinha se posto rapidamente a caminho, montada num lagarto-demônio (apesar do nome não era uma fera demoníaca de verdade, mas o bicho era rápido) e logo encontra as carroças do lado do portão. Enquanto Ĝeko descreve para a mestra o que tinha acontecido e o que tinha feito em detalhes, o rosto dela não dava dicas de se gostava ou não do que ouvia, parecia emocionalmente indiferente de tudo, mas Ĝeko começava se acostumar com isto.
Ela investiga a carroça onde os homens estavam. Embora Velora não fosse das demônios mais assustadoras que existiam, a visão de uma demônio era bastante para amedrontar boa parte dos humanos, e os doentes se apertam num canto da carroça. Ela leva a mão até o rosto deles, depois até o peito.
- Mm, você está certo, há alguma base mágica baseada em água negra nesta doença, e provavelmente foi algo proposital. Houve certa remissão, e agora o corpo reage em febre. Você fez isto sozinho?
Mesmo em sua natural e irritante indiferença, a Anciã demonstra admirada da capacidade do neófito.
- E a outra carroça?
- Estão duas mulheres, eles estão como eles estavam até agora pouco.
- Mostre-me o que fez.
Ĝeko fica de um lado de uma das mulheres, enquanto a anciã fica do outro, observando os passos dele e monitorando as reações dela. Ele começa fazer o exercício de percepção:
- Abaixo do pescoço há um padrão irregular de mana azul, posso senti-lo na ponta dos dedos. - Ĝeko mantinha a mão 1 centímetro acima do corpo da doente, embora conseguia uma pequena leitura mesmo a 3 centímetros.
- Toque o chacra.
O sireno pousa a mão logo abaixo do seio da enferma.
- Por dentro da roupa. - Velora diz imperativa. Ĝeko fica um pouco tímido pela outra não estar muito consciente, mas passa a mão por dentro das blusas dela. - O que sente?
- A energia está estagnada, fluindo com dificuldade, como... viscosa ou grudenta? - Eram ainda difícil para ele expressar-se em termos técnicos, Velora manda continuar, ele leva a mão até o estômago - Está se acumulando fortemente no Terceiro Chacra, por isto deixa-os tão debilitados. - Velora apenas gesticula com a cabeça, ele alisa a região abdominal em círculos horários em direção à cintura. - Acho que os rins estão comprometidos.
- Acha? Não é uma resposta aceitável. Quanto?
O rapaz enxuga o suor da testa, tenta se concentrar mais:
- A doença se instala mais no estômago, mas "filetes" de mana azul densa penetram aos poucos nos rins, o ritmo deles está prejudicado, estão...
- Secos?
- Mm, não. É algo diferente... a magia ainda não os fez parar...
- Inflamados?
- Não sei...
- Inchados?
- Acho que é isto.
Velora podia sentir a magia negra e azul correndo no corpo da enferma com muito mais facilidade do que Ĝeko, mesmo estando um pouco mais longe, mas fazia questão de ver como ele se saia sozinho.
- Verifique os outros dois chacras.
- Ahn, mesmo a doença estando no terceiro chacra?
- Faça!
Ĝeko deslisa a mão pela pele da mulher, esta reclama baixinho, parecendo usar o resto de consciência que tinha: "não... não..."
- O corpo é só uma máquina para o espírito. - Ĝeko ainda tinha receio de aceitar esta "verdade". - Se quer ajudar, trate o corpo como a "coisa" que é.
Ele sente as ondas de energia nocivas que o corpo dela mostrava.
- Anciã, acho que a doença está comprometendo até aqui.
- Aqui onde?
- Ahn, no fígado?
Velora fecha a cara: - Parece o fígado?
A energia se entranhava em pontos menores do que esperar do fígado, mas o coração e os rins estavam acima, Ĝeko estava meio perdido.
- Não sei mestra. Intestino? (mas cara feia) Baço?
- São os ovários. Doenças tendem a caminhar em meridianos principais.
Ah! Então eram ali que eles ficavam?
- E os ovários são importantes para ela?
- Todas as glândulas são importantes centros de magia, mesmo as que não estão diretamente nos chacras.
- Ovários são glândulas? - Velora o olha com severidade, ele percebe que teria de estudar mais. - Mas se ela for uma quieta?
- Mesmo sem o dom a magia precisa fluir no corpo dela. Se os ovários foram comprometidos ela pode continuar doente para a vida toda, e ainda adoecer os filhos que tiver. Mas claro, como uma quieta a importância do ovário é bem menor que para uma maga.
Quando ajudou os homens, Ĝeko não pensou em todos estes detalhes, apenas agiu por impulso, com Velora do lado ele tinha que ser mais meticuloso, e estava um tanto nervoso.
- O que devo fazer agora?
- O mesmo que fez antes.
- Acabei pegando uma dica com Fensio, e pensei que poderia ser coerente tentar canalizar a magia branca com um pouco de música, já que é a magia do ar.
- Faz sentido. Cante então.
- Tili-tili-bom
Zakroy glaza skoreye,
Kto-to khodit za oknom,
- Aumente um tom.
-...I stuchitsya v dveri.
Tili-tili-bom.
- A mana negra está reagindo, mas não está em sintonia, cante em Fá.
Ĝeko se esforça mais:
- Krichit nochnaya ptitsa.
On uzhe probralsya v dom.
K tem, komu ne spitsya.
Tili-tili-bom.
Ty slyshish', kto-to ryadom?
Pritailsya za uglom,
I pronzayet vzglyadom.
- Está melhor, suba para Sol.
- Tili-tili-bom.
Vse skroyet noch' nemaya.
Za toboy kradetsya on,
I vot-vot poymayet.
Tili-tili-bom.....
Aos poucos as mulheres também parecem melhorar. Os rostos quase mortos ganham um pouco de cor, e Ĝeko sente que a energia azul densa no corpo delas, apesar de ainda lenta, começa fluir e ficar "menos grossa".
- Ela estava com o corpo frio, mas agora parece que a febre aumentou!
- Isto por que AGORA a febre está reagindo contra a doença.
- Isto é tão complicado.
- Ser mago de cura é complicado.
Os corpos delas ainda apresentam muita dor, mas as duas começam recobrar a consciência.