(observações: eram cinco humanos, três homens e duas mulheres. Os homens apresentaram melhoras em graus diferentes, portanto ainda estão "mais ou menos", a senhora apresentou uma melhora melhor e só a mais nova continua com os sintomas graves. O arcebispo (e provavelmente os demais sacerdotes que o seguem) não demonstra exatamente insensibilidade, pelo menos não como Velora, ele mostra certa tristeza, e pouco ou muito, para ele o ato de permitir que a moça acampe não muito longe dos portões foi um gesto de "boa vontade". Porém ele se vê (provavelmente) como impossibilitado de fazer algo mais. Seu cargo diz para analisar os doentes, ver se eles podem se considerar curados ou pelo menos dignos de quarentena, e foi o que ele fez.)
Ĝeko se aproxima de Velora, percebendo que eles estavam prestes dar o assunto por encerrado, e discretamente questiona:
- Agora que já terminei por aqui, eu devo me retirar junto ao arcebispo?
A anciã dá um leve sorriso, respondendo (por incrível que pareça) sem o habitual tom sarcástico:
- Você não é mais escravo, e a partir de agora terá que tomar suas decisões sobre até quando pretende ficar e quando preferirá partir. - Ainda parecendo amigável, ela continua
- Mas preste atenção, não tenha pressa de chamar qualquer pessoa de "mestre" e tão pouco de contar tudo que sabe, caso contrário poderá voltar à condição de escravo rapidamente, e acredite, é sempre pior depois de se ter provado o sabor da liberdade, ainda que um pouco. Não confie sua história ou sua capacidade a ninguém que conheceu a pouco tempo.Ela o deixa pensando, enquanto o arcebispo fala novamente com ela (bem, fala com todos em geral, mas voltado principalmente a ela):
- Esta praga pode ter implicações contra La Cour des Miracles. Precisamos saber quem está por trás disto e contra quem está.- E quem nos garante que não é alguém de dentro da Corte que está por trás disto?- Arre! Este não é nosso estilo! Além do mais você não disse que a praga foi criada por um mago de dons negro e azul? La Cour des Miracles treina magos do fogo, não da água! Não teria sentido algum dos nossos ter se envolvido em algo assim sem conhecimento do alto clero!- É mesmo? - Ela volta ao tom sarcástico
- Tem certeza que a Corte se preocupa em recrutar as pessoas mais confiáveis para suas fileiras?- Err, bem... Talvez nossas bases possam ser um pouco "negligente", mas nossos círculos superiores são escolhidos e vigiados a dedo!- Apesar da magia ser, a primeira vista, uma alquimia de alto grau, nada impede que tenha sido feito por pessoas de suas bases. Além disto nada garante que foi um único mago a ter desenvolvido tal poção, pode muito bem ser uma engenharia em conjunto. Sabemos também que, apesar de treinar magos vermelhos e negros, nada impede que outros magos trabalhem em parcial ou total apoio com membros da Corte. Eu mesma sou uma maga com o dom da água e temos "certa parceria", não é? E certamente não sou a única maga de outros elementos que colabora com vocês. Portanto não podemos descartar, sem margem de erro, que alguém ligado à Corte esteja ligado à esta praga.O arcebispo não gostava daquela suposição, mas não consegue rebatê-la. Ele questiona os humanos afetados para ver se consegue alguma pista importante, mas além deles estarem semi-entorpecidos, a vida deles é tediosamente comum. Eram humanos sem dons mágicos ou espirituais despertos, os mais jovens nasceram em Dafodil, os outros eram empurrados de cidade a cidade pelos eventos das guerras, vindos de Nesopry, Gaja ou qualquer vila. Cultivavam raízes como rabanete ou cenoura, mas a atividade na terra ruim da Ilha dos Exilados não garantia muita coisa, e todos eles tinham que também mendigar e fazer bicos. O porto e o rio eram importante fonte de renda extra, primeiramente da pesca, e depois de trabalhos pequenos que as pessoas que frequentavam o porto não tinham tempo ou vontade de fazer: descamar peixes ou até preparar o couro destes, estripá-los e preparar em postas ou filés, lavar ou coser roupas, cozinhar, fazer reparos de navios ou móveis ou qualquer outra coisa que aparecesse. Sendo assim trabalhavam para pessoas de qualquer bandeira, recebendo em moedas de qualquer país. Nenhum deles era suficientemente atraente para inspirar algum romance inusitado e possíveis vinganças daí advindos. Apesar disto não se descartava que a garota mais jovem pudesse talvez ter feito um ou outro trabalho como prostituta, embora nenhum deles confirme também. A garota parecia ser a fonte inicial da contaminação, embora não fosse certeza que ela não tenha pego de outra pessoa. Os demais podem ter sido contaminados através de objetos (lavar as mãos e tomar banho não era algo que os humanos de Dafodil faziam diariamente) ou talvez até pelo ar, embora Velora acredite que por usar energias densas a doença provavelmente não se transmitisse pelo ar.
Como trabalham para qualquer pessoa que se disponha a pagar, não podem afirmar que viram alguém "estranho" nos últimos dias ou se aceitaram comida ou bebida suspeita. Aliás não era raro trabalharem em troca de comida, mas quando tinham algum dinheiro para comprar algo, sempre faziam nos mesmos lugares, em geral próximo ao porto. A primeira vista nenhuma destas informações pareciam relevantes.
Velora comenta que há uma boa chance de serem apenas pessoas de grande azar que estavam no lugar e hora errados. Podem ou ter sido alvo de uma experimento, e para isto qualquer pessoa serviria, ou podem ter sido alvos aleatórios de rituais cujo número e não a qualidade dos afetados importa, ou ainda terem apenas sido alvos de algum sádico que também se importa só com números, e não qualidade de quem prejudica.
Era bem possível que mais miseráveis, em especial os que viviam perto do porto, estivessem ou viessem a se contaminar em breve, o arcebispo diz que colocará alguns "homens" da Corte para verificar isto. Toda a rede de informações principal deveria ser movimentada. Um ou outro sacerdote do séquito trocavam ideias com o arcebispo, mas nada que fosse mais relevante do que já foi dito; boa parte do diálogo era sobre como usar a rede de informantes. Tinafe permanecia calada, embora estivesse prestando atenção ao que era dito, mas aparentemente ela também não percebeu nada mais relevante.
Nadhull questiona a Velora novamente sobre Niréia.
- Devo vê-la em dois ou três dias, mas se encontrar com ela antes direi que os procure. Ela talvez possa ser encontrada em uma das bases da Corte dos Milagres. Há uma chamada Copa de Ânima, de tijolos vermelhos, onde ela pode estar. Mas se não estiver ocupada com assuntos que eu pedi, pode ser achada junto aos discípulos de Marcel, ou estar com seu irmão "patrulhando" a Necrópole, neste caso eles costumam ficar nas proximidades de uma taverna chamada "Hamkuanabe" (algo como "suspiro da presa" em moloke)
, mas redobre a descrição se for por aquela parte da cidade, se entregar um dos nossos e não lhe matarem, nós o mataremos.O arcebispo vai passando algumas informações técnicas para outros sacerdotes, e alguns destes se afastam para ir cumpri-las de imediato. Tinafe fala algo baixo e em Tareno para o arcebispo, que responde no mesmo idioma, ambos fazem sinal de concordância com as cabeças. Ela ainda permanece no lugar por um tempo.
Velora observa a outra diaba.
- Bem, creio que não tenho mais o que fazer aqui. Foi um prazer conhecê-la, mestra Tinafe. Me procure sempre que tiver questões de nosso deus a resolver.Tinafe sorri, apertando a mão dela.
- É um igual prazer conhecer uma anciã de tão grande fama, mestra Velora. Será agradável ter mais oportunidades de desfrutar de sua companhia no futuro.As duas parecem jogar o tempo todo.
- Que Piro a abençoe grandemente e que seu caminho lhe seja claro. - Velora diz sem soltar-lhe a mão.
- Que assim seja! Que seu fogo esteja sobre sua cabeça, constantemente.- Nisto cremos!- Por isto lutamos.- Para todo sempre. - Dizem ambas. Pelo menos ao falar de seu deus elas pareciam um pouco sinceras.
Velora fala rapidamente com Ĝeko:
- Estou indo para Copa de Ânima, e lá devo continuar por mais dois ou três dias, caso precise, neófito, procure-me próximo ao segundo chamado*, não antes. Podes permanecer até que decida seu destino.*O grande templo de Piro fazia de três a cinco chamados no dia, dependendo do dia. Três deles eram os principais, e o Segundo Chamado era entre 10:30 H a 11:20 H.
Tinafe e o Arcebispo veem ela montar e partir.
- Pensei que ela ia ficar aqui para sempre. - Resmunga Tinafe para si mesma.