O cheiro fresco das folhas entrava por suas narinas e lhe dava uma sensação relaxante. Estava acostumado com ele, mas era sempre maravilhoso sentí-lo todos os dias ao acordar. Aquela harmonia era uma magia antiga, a magia verdadeira. A que todos faziam parte, embora nem sempre a respeitassem.
Já fazia algum tempo que você morava ali. O suficiente para se lembrar de seus anos na cidade como algo tão distante... parecia ser outra vida, outra encarnação. Mas de vez em quando, você ainda sonhava com essa vida.
Talvez nada que lhe trouxesse arrependimentos, veja. Você bem sabia os motivos para sua partida daquela vida que não te encaixava, que não te acolhia. Mas ainda haviam memórias, memórias do tempo em que você não estava em comunhão com o Coração da Floresta de Iluê. Memórias do tempo em que você era Andras, um simples garoto abastado da cidade e não Andras, o druida de Iluê.
No sonho, você ainda era um garotinho. Andava de mãos dadas com um homem, provavelmente seu pai. O rosto dele era difuso. Caminhavam por um armazém, pelo menos era isso que você achava que fosse o lugar. Fazia tempo, nada daquilo estava fresco em sua cabeça.
O homem lhe contava como os negócios funcionavam. Dizia que você tinha que aprender e aprender cedo. Trabalho, negócios, trabalho, negócios. Dinheiro. Muito dinheiro.
Como eram complicadas as relações humanas.
Como todo o Druida, você sabia que a floresta era viva e consciente. Assim havia aprendido, com os outros membros da sua ordem, que você encontrava muito raramente agora. Essa vida e consciência era representada pelo Coração, uma jóia por onde passava toda a vida Iluê.
E você se lembra com clareza quando encontrou o coração pela primeira vez. Rejeitou sua vida na cidade grande. Fugiu de casa, tornando-se um errante, se desprendendo ao longo do caminho até mesmo dos poucos pertences que carregou consigo.
Foi quando ouviu uma voz, diferente de tudo. Só você ouvia, só você entendia. Ela te guiou até Iluê, nos confins do mundo, distante de qualquer um ou qualquer coisa que se proclamsse "civilizado". Dentro de Iluê, você finalmente viu de onde vinha a voz. Uma joia, guardada em um pedestal feito por uma formação natural de árvores, rocha e musgo.
O Coração de Iluê te ouviu, te ensinou os caminhos druídicos. Houveram outros como você mas eles partiram para florestas distantes que também precisavam de proteção. Hoje, você sabe que provavelmente é o único presente que em Iluê que sabe falar a lingua da floresta.
Assim que se levanta, você vê uma coluna de fumaça ao longe. Uma brisa passa por você assim que acorda. Ela traz palavras, o Iluê falava com você.
- Socorro, Andras. Socorro...