por Soviet Qui Mar 06, 2014 10:42 am
- Não tenha medo, Nasri - O Desertor surgiu por entre as árvores - Este carvalho está aqui desde muito antes de nós e permanecerá por muito mais tempo depois que morrermos. As almas daqueles que perecem neste lugar vivem no Grande Ancião e alimentam a terra, nutrindo-a de tudo o que precisa nestes tempos conturbados.
O Desertor das Árvores se aproximou de Nasri, o cristal da humana ainda estava em suas mãos pétreas. Os outros homens, os seguidores do sacerdote, o seguiam, envolvendo Nasri em um círculo ao redor do carvalho. A mulher sentiu um desconforto cada vez maior. As manchas que pareciam ser sangue, o clima opressivo da mata, os olhares estranhos. O Desertor estava a poucos passos de Nasri.
- Nós não faremos sacrifício algum para o Grande Ancião, tudo tem um propósito maior. Nada na natureza acontece por acaso, Nasri. Não existe acaso na perfeição do mundo. Nossos olhos desacostumados que enxergam o caos aonde ele não existe. - Nasri respirava com dificuldade e suava, apesar do frio. Uma leve dor começou a invadir sua cabeça, indo das têmporas para a parte de trás, e voltando cada vez com mais força - Apenas nossa inteligência limitada consegue pressupor que a natureza precisa de nós. A realidade é o oposto disso. Você está aqui com um propósito, Nasri, não apenas por acaso. Você está aqui para alimentar a terra de onde um dia veio. - O Desertor olhou para Gawen e os outros - Segurem-na.
Sem poder reagir, Nasri teve um dos braços agarrados pelo homem de olhos estreitos e outro vinha para segurar o outro braço da mulher. Nasri o acertou com a mão aberta no rosto e virou para tentar se libertar, mas perdeu o ar antes que conseguisse fazer algo. A mão grande e peluda do homem de olhos estreitos acertou Nasri na boca do estômago e a humana perdeu por um momento a força nas pernas. Nasri estava ofegante e seu rosto coberto de suor. Um fio gelado escorreu entre os seios da mulher, que sentia as costas ensopadas. A dor havia tomado a mente de Nasri por completo e nenhum pensamento vinha com clareza.
Antes que pudesse recuperar a força e se colocar de pé, os sons ao redor se tornaram ecos distantes e Nasri viu a luz ao seu redor diminuir e tudo se tornar descolorido. Dez bocas surgiram, e logo elas eram dez vezes dez e logo dez vezes mais. O apertão no braço de Nasri era um gentil afago diante do frio solitário que tomou a mente da humana, e os gritos dos homens tentando agarrá-la eram palavras ternas diante do sussurro daquelas vozes. E todas elas tentavam dizer algo, mas Nasri não conseguia ouvir. As bocas se moviam, mas tudo o que surgia era o silêncio estrangulando aquelas vozes, e o que sobrava era um gemido terrível de se ouvir. Uma mão negra e etérea alcançou mulher e antes que ela pudesse tocá-la, Nasri gritou.
As bocas sumiram com um lamento e a mão se desfez no ar. O corpo de Nasri ainda estava ensopado, mas sua cabeça não doía mais e os pensasmentos eram claros pela primeira vez desde que a mulher acordou com o rosto na neve. As vozes dos seguidores do Desertor surgiram ao redor como se a humana estivesse acordando de um sonho. Um deles, com um corte na boca, estava a meio metro da humana com um punhal na mão. Nasri estendeu a mão para se proteger e, sem saber como, a dor que antes sentia percorreu todo o seu corpo, e o homem gritou e caiu, inconsciente.