por Tellurian Seg Set 10, 2018 3:45 pm
A matilha avançava em fila indiana, pois dois Crinos não conseguiriam andar lado-a-lado naquele corredor sem ficarem desconfortavelmente apertados. Com Antonio corajosamente como ponta de lança, os Garou avançam na escuridão. Onde a visão falha, os outros sentidos afloram.
Sussurros preenchem a escuridão, como uma respiração dolorida, insuficiente. Uma respiração sofrida e pesada.
Os dedos dos pés afundavam na terra fofa e molhada um ou dois centímetros, e a água minava por entre os dedos. Cascalhos finos se quebravam entre cada passada, produzindo estalidos breves e abafados pelo som da terra fofa comprimida conforme andavam.
Uma sequência de tosse ecoa pelas paredes de pedra. Tosse molhada, com o gorgolejar típico de doenças graves.
As mãos tateavam as paredes de pedra nua, e era possível sentir o frio da umidade em seus dedos, e o toque aveludado do líquen, que preenchia as reentrâncias na rocha de tempos em tempos.
o gotejar de água e a sua fluidez era ecos constantes, e muita vezes vocês se pegam pensando em chuva.
É possível sentir que o túnel é um declive. Estão descendo, entrando na montanha. Andando por corredores sinuosos na escuridão.
E, por Luna, está frio. Cada vez mais. Mesmo Gwenhwyfar, que já sentiu o beijo da neve da Sibéria sente seus pêlos se arrepiarem conforme adentram na caverna.
Então, após vários minutos (ou horas? o sentido de tempo fica torpe na escuridão) de caminhada hesitante, uma suave luz azulada ilumina o final de uma curva. Quando a matilha alcança a luz, perdem o fôlego. Uma câmara enorme jaz a sua frente. Cristais de luz azul nascem das paredes e iluminam o salão com sua luz fantasmagórica. Pilares gigantescos de rocha parecem sustentar a escuridão onde ficaria o teto. Que, graças a luz fraca dos cristais acima, se assemelha em muito a um céu estrelado.
Um leito subterrâneo congelado corta o salão, alimentado por uma cachoeira paralisada no tempo pelo frio que preenche a câmara. Diversos espíritos habitam o salão, e seus movimentos fugidios podem ser vistos por aqueles que olharem com atenção.
Mas o que mais chama a atenção é o velho que jaz próximo à cachoeira. Ele está sentado sobre um cristal de luz fraca, que parece pulsar lentamente. Seus pés antigos estão enterrados no cascalho do leito que margeia a cachoeira. Seus olhos fechados exprimem o sofrimento com o rosto muito enrugado, marcado pela severa passagem dos anos. O ralo cabelo muito branco lhe cai sobre os ombros pesados e até o meio das costas curvadas. A espessa barba branca esconde metade de sua face contorcida de agonia. Sua respiração são os sussurros que eles ouviam nos corredores da montanha.
O velho se apóia curvado, sobre um cajado. Ele leva a mão à boca e tosse, e sua tosse parece o trovão. E quando ele se move, tentando endireitar as costas como o velho cansado que é, o chão e as paredes da caverna tremem, fazendo cair o cascalho da abóbada acima, além da vista e perdida na escuridão.
Pesadas correntes de aço negro cobrem o corpo do velho, agarrando-se em seu pescoço, tornozelo e braços, enroscando-se em seu torso. As correntes parecem machucar o idoso, marcando e ferindo a sua pele frágil. Ele se curva sob o peso delas, e contorce o rosto em agonia.
O Avô está diante da matilha. E está morrendo.