Casa Segura da Blackwater
Arredores de Haifa, Israel
Agosto de 2016 – 05h30min
Naquela noite, dividiram a mesa em um saboroso e típico jantar israelense. Conforme a noite dominava os céus de Haifa, Noah contava histórias de seu tempo no IDF enquanto o velho aparelho de som da sala entoava canções em hebraio. Perderam a noção do tempo e só perceberam que já eram 10 horas quando a guarda trocou seu turno e passaram a trancar toda a casa. Os convidados se recolheram aos dormitórios enquanto os anfitriões assumiam seus postos para garantir a segurança de seu sono.
Haifa amanhecia com o cantar dos pássaros que habitavam a rua bem arborizada, em um delicioso clima fresco, típico de uma manhã limpa após um dia de chuva. Apesar do barulho dos carros que começavam a circular pela rua, bem lá longe, era possível escutar o som das ondas quebrando contra a costa.
Eram 05:30 da manhã quando o celular de Sarah despertou no criado mudo ao lado de sua cama. Uma tênue luz entrava pelas frestas da janela de madeira enquanto o sol começava a despontar no horizonte, e ao olhar em volta, percebeu que estava sozinha. A cama de Nathalie estava feita e suas coisas não estavam mais lá.
No outro quarto, situação semelhante se demonstrava diante de Eduardo, que logo que alcançou seus óculos, pode ver que Lacerda também não estavam entre eles. Denis, por outro lado, que dormira em períodos picados durante a noite, viu quando Noah entrou no quarto e pediu para que o policial pegasse suas coisas e o acompanhasse. Entretanto, sabendo que partiriam bem cedo, não se interessou em saber o porquê daquela ocasião e tentou dormir novamente.
Aos poucos, o bairro vai apresentando sinais de sua rotina diária e os agentes começam a escutar vozes e movimentação no andar de baixo. Os três se encontram no corredor e ao descer as escadas, um delicioso cheiro de café e pão fresco lhes invade as narinas. Na sala, além dos guardas, estava Noah que conversava animadamente com mais cinco homens, que ao perceberem os agentes os saúdam com um “bom dia” de forte sotaque hebraico.
— Bom dia! Venham, eu preparei um café reforçado para vocês.
O homem então os conduziu à cozinha, e com o auxílio de uma luva, retirou do forno um belo pão sírio. Haviam também sobre a mesa, manteiga, queijo fresco, presunto cru, morangos silvestres e jarras com leite, suco de uva e café. Ao perceber que seus convidados olhavam insistentemente em volta, como que procurando por seus companheiros, se adiantou em sua explicação.
— Houve um incidente em uma missão no leste europeu. Precisavam de mais dois agentes no local e me pediram para embarcar João e Nathalie num voo para lá com urgência. Isso foi no meio da noite... Mas não se preocupem! Providenciarão apoio para vocês também – disse o homem, com um sorriso – Bom, estes homens na sala vão escolta-los até Ithriyah após o desjejum. Eu espero que sua estadia aqui tenha sido agradável. Agora se me dão licença, vou para meu descanso merecido. Espero que tenham uma boa viagem e que D’us lhes proteja na missão. Mazal Tov!
Arredores de Haifa, Israel
Agosto de 2016 – 05h30min
Naquela noite, dividiram a mesa em um saboroso e típico jantar israelense. Conforme a noite dominava os céus de Haifa, Noah contava histórias de seu tempo no IDF enquanto o velho aparelho de som da sala entoava canções em hebraio. Perderam a noção do tempo e só perceberam que já eram 10 horas quando a guarda trocou seu turno e passaram a trancar toda a casa. Os convidados se recolheram aos dormitórios enquanto os anfitriões assumiam seus postos para garantir a segurança de seu sono.
Haifa amanhecia com o cantar dos pássaros que habitavam a rua bem arborizada, em um delicioso clima fresco, típico de uma manhã limpa após um dia de chuva. Apesar do barulho dos carros que começavam a circular pela rua, bem lá longe, era possível escutar o som das ondas quebrando contra a costa.
Eram 05:30 da manhã quando o celular de Sarah despertou no criado mudo ao lado de sua cama. Uma tênue luz entrava pelas frestas da janela de madeira enquanto o sol começava a despontar no horizonte, e ao olhar em volta, percebeu que estava sozinha. A cama de Nathalie estava feita e suas coisas não estavam mais lá.
No outro quarto, situação semelhante se demonstrava diante de Eduardo, que logo que alcançou seus óculos, pode ver que Lacerda também não estavam entre eles. Denis, por outro lado, que dormira em períodos picados durante a noite, viu quando Noah entrou no quarto e pediu para que o policial pegasse suas coisas e o acompanhasse. Entretanto, sabendo que partiriam bem cedo, não se interessou em saber o porquê daquela ocasião e tentou dormir novamente.
Aos poucos, o bairro vai apresentando sinais de sua rotina diária e os agentes começam a escutar vozes e movimentação no andar de baixo. Os três se encontram no corredor e ao descer as escadas, um delicioso cheiro de café e pão fresco lhes invade as narinas. Na sala, além dos guardas, estava Noah que conversava animadamente com mais cinco homens, que ao perceberem os agentes os saúdam com um “bom dia” de forte sotaque hebraico.
— Bom dia! Venham, eu preparei um café reforçado para vocês.
O homem então os conduziu à cozinha, e com o auxílio de uma luva, retirou do forno um belo pão sírio. Haviam também sobre a mesa, manteiga, queijo fresco, presunto cru, morangos silvestres e jarras com leite, suco de uva e café. Ao perceber que seus convidados olhavam insistentemente em volta, como que procurando por seus companheiros, se adiantou em sua explicação.
— Houve um incidente em uma missão no leste europeu. Precisavam de mais dois agentes no local e me pediram para embarcar João e Nathalie num voo para lá com urgência. Isso foi no meio da noite... Mas não se preocupem! Providenciarão apoio para vocês também – disse o homem, com um sorriso – Bom, estes homens na sala vão escolta-los até Ithriyah após o desjejum. Eu espero que sua estadia aqui tenha sido agradável. Agora se me dão licença, vou para meu descanso merecido. Espero que tenham uma boa viagem e que D’us lhes proteja na missão. Mazal Tov!
Fronteira de Israel e Jordânia
Agosto de 2016 – 08h11min
A bordo de um antigo furgão de pintura queimada e empoeirada que um dia foi branca, sentavam-se nos dois bancos que ladeavam o compartimento de carga, Denis, Eduardo e Sarah, além de mais três seguranças armadas com pistolas AK, além de duas galinhas que se encolhiam deitadas embaixo do banco, se ajeitando a cada solavanco que o veículo dava ao passar por algum buraco. Já fazia 1 hora que dirigiam pelas rodovias israelenses quando finalmente alcançaram o rio Jordão, adentrando em território da Jordânia. Perambular por aquelas terras era como testemunhar parte da história da humanidade. Mesmo para que não era crente, era no mínimo curioso cruzar aquele curso d’água, onde diziam que o Cristo recebera o sacramento do batismo pelas mãos de João Batista.
Avançaram por mais uma hora, passando por Der Abi Saeed até a rodoviária de Al-Hussun. O líder da escolta, Isaiah, lhes informara que dali até o destino, não era mais seguro percorrer o caminho de carro e que iriam cruzar a fronteira síria de ônibus. Se despediu do motorista, que retornou com o furgão sentido a estrada e rumou para o terminal rodoviário, seguido por todos.
O clima da Jordânia era seco e abafado, e o local onde estavam, um misto de feira e posto de parada. À beira da rodovia, alguns homens com caminhões de petróleo faziam parada para usar o banheiro ou se alimentar. O grupo caminhava por entre uma viela formada por barracas onde muitas pessoas se aglomeravam, fazendo negócios aos gritos, como se estivessem brigando ou praguejando uns contra os outros – e provavelmente estavam.
Sarah trajava um “hijab” verde com bordados florais que Isaiah providenciara para ela, a fim de melhor se misturar enquanto cruzavam aquelas regiões. Já Eduardo, havia sido orientado ainda em Haifa a trocar o terno chique por algo mais urbano e a esquecer momentaneamente seu disfarce de embaixador. “Se decapitaram um assiste da embaixada ao vivo, imagine o que fariam com um embaixador” disse o encarregado da escolta, mais cedo. E tudo o que Denis “trajava” era uma amarga lembrança do sofrimento de sua terra ao observar aqueles feirantes, claramente em miséria e em situação de grave desnutrição, desesperados para ganhar algum trocado que pudesse alimentar suas crianças.
Agosto de 2016 – 08h11min
A bordo de um antigo furgão de pintura queimada e empoeirada que um dia foi branca, sentavam-se nos dois bancos que ladeavam o compartimento de carga, Denis, Eduardo e Sarah, além de mais três seguranças armadas com pistolas AK, além de duas galinhas que se encolhiam deitadas embaixo do banco, se ajeitando a cada solavanco que o veículo dava ao passar por algum buraco. Já fazia 1 hora que dirigiam pelas rodovias israelenses quando finalmente alcançaram o rio Jordão, adentrando em território da Jordânia. Perambular por aquelas terras era como testemunhar parte da história da humanidade. Mesmo para que não era crente, era no mínimo curioso cruzar aquele curso d’água, onde diziam que o Cristo recebera o sacramento do batismo pelas mãos de João Batista.
Avançaram por mais uma hora, passando por Der Abi Saeed até a rodoviária de Al-Hussun. O líder da escolta, Isaiah, lhes informara que dali até o destino, não era mais seguro percorrer o caminho de carro e que iriam cruzar a fronteira síria de ônibus. Se despediu do motorista, que retornou com o furgão sentido a estrada e rumou para o terminal rodoviário, seguido por todos.
O clima da Jordânia era seco e abafado, e o local onde estavam, um misto de feira e posto de parada. À beira da rodovia, alguns homens com caminhões de petróleo faziam parada para usar o banheiro ou se alimentar. O grupo caminhava por entre uma viela formada por barracas onde muitas pessoas se aglomeravam, fazendo negócios aos gritos, como se estivessem brigando ou praguejando uns contra os outros – e provavelmente estavam.
Sarah trajava um “hijab” verde com bordados florais que Isaiah providenciara para ela, a fim de melhor se misturar enquanto cruzavam aquelas regiões. Já Eduardo, havia sido orientado ainda em Haifa a trocar o terno chique por algo mais urbano e a esquecer momentaneamente seu disfarce de embaixador. “Se decapitaram um assiste da embaixada ao vivo, imagine o que fariam com um embaixador” disse o encarregado da escolta, mais cedo. E tudo o que Denis “trajava” era uma amarga lembrança do sofrimento de sua terra ao observar aqueles feirantes, claramente em miséria e em situação de grave desnutrição, desesperados para ganhar algum trocado que pudesse alimentar suas crianças.
Fronteira da Jordânia e Síria
Agosto de 2016 – 09h05min
Embarcaram no ônibus e em menos de uma hora já cruzavam a fronteira síria, passando sem maiores problemas pelo posto alfandegário de Nassib. Dali, seguiram para Damasco, a grande e metropolita capital da Síria, uma das cidades mais antigas do mundo e continuamente habitada por mais de 5000 anos. Horas mais tarde, rumo ao norte, puderam avistar o famoso Krak des Chevaliers no alto de um monte, na cidade de Homs. O castelo cruzado mais preservado no mundo.
Agosto de 2016 – 09h05min
Embarcaram no ônibus e em menos de uma hora já cruzavam a fronteira síria, passando sem maiores problemas pelo posto alfandegário de Nassib. Dali, seguiram para Damasco, a grande e metropolita capital da Síria, uma das cidades mais antigas do mundo e continuamente habitada por mais de 5000 anos. Horas mais tarde, rumo ao norte, puderam avistar o famoso Krak des Chevaliers no alto de um monte, na cidade de Homs. O castelo cruzado mais preservado no mundo.
Ithriyah, Síria
Agosto de 2016 – 16h48min
O sol começava a cair no ocidente, anunciando o fim da tarde quando desceram do ônibus em um ponto de parada na cidade de Ithriya. Um lugarejo de gente desconfiada, sujo e seco às margens da famigerada Rota 42.
Enquanto o grupo tomava um café, Isaiah fazia uma chamada em um telefone público. Não demorou muito para avistarem um homem corpulento e calvo que acenava para eles de uma caminhonete à beira da pista. Se acomodaram no veículo como puderam, uns na cabine, outros na caçamba e seguiram rumo ao posto avançado da Blackwater.
Posto Avançado da Blackwater
Limites de Ithriya, Síria
Agosto de 2016 – 17h25min
Dirigiram por cerca de 20 minutos ou mais em uma estrada secundária rumo a sudeste. A viajem até a o destino havia sido cansativa, especialmente aqueles últimos minutos na carroceria de uma caminhonete, sob o castigo do sol e da poeira que levantava da estrada de terra arenosa. O terreno amplo e plano pelo qual percorriam, permitiu visualizar de longe a propriedade da empresa para qual trabalhavam, uma imensa fazenda no meio do nada que servia de fachada para uma base de operações.
Ao passar pelas duas torres que serviam como caixa d’água, logo na entrada, puderam notar que havia uma pequena plataforma que as circundava no alto, e em cada uma delas, seguranças com rifles de precisão. Já no interior da fazenda, era possível observar quatro grandes complexos de estufas à esquerda, cobertas por lona transparente, onde se cultivavam tomates. Do lado direito, um vasto campo coberto por placas fotovoltaicas, para produção de energia solar. Ao certo disso tudo, se encontrava a sede administrativa e três grandes galpões, rodeados por caminhões. Apesar de todo o aparato produtivo disponível ali, a quantidade de pessoas no local era diminuta.
O motorista estacionou dentro de um dos galpões, que facilmente deveria ter por volta de 50 metros de frente por 100 de lado e 20 ou mais de altura, montado sobre pesadas estruturas de aço. No teto, grandes exaustores trabalhavam a toda velocidade na tentativa de deixar o ambiente mais agradável. Em um dos lados, de frente para uma cozinha, grandes mesas se estendiam com bancos dispostos pelas laterais em uma espécie de refeitório e ao fundo, uma seção era cuidadosamente separada do resto por divisórias.
Ao saltarem da caminhonete, um homem de traços árabes e pele queimada de sol, ostentando uma longa barba negra veio em sua direção. Estendeu a mão a todos e se apresentou:
— Salaam Aleikum, meus amigos! Meu nome é Zufar el-Aslam e sou o comandante dessa instalação. Por favor, sintam-se em casa! Meus homens vão ajudá-los a se acomodarem por hoje, e se houver alguma necessidade imediata de que precisem, não deixem de me comunicar, ok?!
Agosto de 2016 – 16h48min
O sol começava a cair no ocidente, anunciando o fim da tarde quando desceram do ônibus em um ponto de parada na cidade de Ithriya. Um lugarejo de gente desconfiada, sujo e seco às margens da famigerada Rota 42.
Enquanto o grupo tomava um café, Isaiah fazia uma chamada em um telefone público. Não demorou muito para avistarem um homem corpulento e calvo que acenava para eles de uma caminhonete à beira da pista. Se acomodaram no veículo como puderam, uns na cabine, outros na caçamba e seguiram rumo ao posto avançado da Blackwater.
Posto Avançado da Blackwater
Limites de Ithriya, Síria
Agosto de 2016 – 17h25min
Dirigiram por cerca de 20 minutos ou mais em uma estrada secundária rumo a sudeste. A viajem até a o destino havia sido cansativa, especialmente aqueles últimos minutos na carroceria de uma caminhonete, sob o castigo do sol e da poeira que levantava da estrada de terra arenosa. O terreno amplo e plano pelo qual percorriam, permitiu visualizar de longe a propriedade da empresa para qual trabalhavam, uma imensa fazenda no meio do nada que servia de fachada para uma base de operações.
Ao passar pelas duas torres que serviam como caixa d’água, logo na entrada, puderam notar que havia uma pequena plataforma que as circundava no alto, e em cada uma delas, seguranças com rifles de precisão. Já no interior da fazenda, era possível observar quatro grandes complexos de estufas à esquerda, cobertas por lona transparente, onde se cultivavam tomates. Do lado direito, um vasto campo coberto por placas fotovoltaicas, para produção de energia solar. Ao certo disso tudo, se encontrava a sede administrativa e três grandes galpões, rodeados por caminhões. Apesar de todo o aparato produtivo disponível ali, a quantidade de pessoas no local era diminuta.
O motorista estacionou dentro de um dos galpões, que facilmente deveria ter por volta de 50 metros de frente por 100 de lado e 20 ou mais de altura, montado sobre pesadas estruturas de aço. No teto, grandes exaustores trabalhavam a toda velocidade na tentativa de deixar o ambiente mais agradável. Em um dos lados, de frente para uma cozinha, grandes mesas se estendiam com bancos dispostos pelas laterais em uma espécie de refeitório e ao fundo, uma seção era cuidadosamente separada do resto por divisórias.
Ao saltarem da caminhonete, um homem de traços árabes e pele queimada de sol, ostentando uma longa barba negra veio em sua direção. Estendeu a mão a todos e se apresentou:
— Salaam Aleikum, meus amigos! Meu nome é Zufar el-Aslam e sou o comandante dessa instalação. Por favor, sintam-se em casa! Meus homens vão ajudá-los a se acomodarem por hoje, e se houver alguma necessidade imediata de que precisem, não deixem de me comunicar, ok?!