Fyrtorn está em polvorosa. Nunca em sua história o vilarejo recebeu tantos visitantes, nem tão variados seres. Dos robustos anões aos esguios halflings, de poderosos feiticeiros a humildes mercenários, habitantes de todas as partes de Värld chegam à pequena comunidade litorânea, atraídos pela farta recompensa prometida por misteriosos contratantes.
Os habitantes nativos, sempre conservadores e resistentes a novidades, não ficaram muito contentes com a súbita invasão de suas terras. Muitos simplesmente fecharam-se em suas casas de madeira aguardando o fim do tumulto, enquanto outros não hesitaram em demonstrar sua hostilidade. Ocorreram alguns focos de embate e confusão quando os primeiros começaram a chegar, mas os fytornianos rapidamente se viram impotentes diante da massiva quantidade de viajantes e aventureiros que chegavam a cada dia.
Entre os primeiros a chegar estava Sarah MacShine, e por esse motivo a genasi foi uma das poucas a conseguir um quarto na Boca de Peixe, que não tardou a lotar. O taverneiro, um homem rabugento de longas barbas brancas e uma perna de madeira – pois perdera a sua lutando pela independência do Norte, como gosta de ressaltar sempre que há oportunidade – chegou a vender espaços nos estábulos, mas logo até os cavalos estariam cercados de viajantes.
A aparência humana de Sarah e sua rudeza advinda da criação entre os anões fez com que o taverneiro tivesse menos antipatia em relação a ela comparativamente aos outros hóspedes. Não à toa, aceitou a proposta da guerreira de fazer a segurança do local como forma de pagamento – segurança esta altamente necessária diante do risco iminente de invasões e assaltos por outros migrantes que não tiveram a sorte de conseguir um quarto.
Alerathla também chegou com antecedência, mas, diferentemente de Sarah, não poderia arriscar-se ao se instalar na cidade. Elfos não são nada bem-vindos entre os nortistas, e os olhares curiosos e cheios de repulsa cedo ou tarde enxergariam nela a Fé Antiga. Teve que acampar nas bordas selvagens do vilarejo, perto o suficiente para acompanhar as novidades, mas longe o suficiente para não ser incomodada.
Não foi a única a fazer essa opção. Muitos outros viajantes decidiram evitar o tumulto do vilarejo, preferindo ocupar as proximidades. Talvez alguns ali fossem também sacerdotes da Fé Antiga, de outros núcleos, mas ninguém ousava vocalizar esse tipo de indagação. O próprio vento tem ouvidos, e nenhum lugar é seguro quando sua própria existência é renegada.
Por sua vez, a viagem de Cirilla foi mais demorada. Muito embora a guerreira tenha desenvolvido habilidades extraordinárias para contornar sua cegueira, uma viagem longa ainda tem suas dificuldades. Duas servas de sua família acompanharam-na até Fyrtorn, e apenas aguardavam saber se Cirilla retornaria com elas ao sul ou partiria na jornada à ilha. Não escondiam seu descontentamento com aquela ideia milaborante, e muito menos com o clima árido e frio do norte de Värld.
Em razão de sua ascendência, foi-lhe permitido ficar em um dos quartos do grande Farol de Fyrtorn, chefiado por um bispo rechonchudo que não lhe poupava galanteios e favores – talvez à espera de influência suficiente para ser alocado em uma região mais agradável. Fytorn é conhecida como o destino mais temido por clérigos e noviços da Ecclesia, em razão do absoluto tédio que é capaz de prover.
De certo a Ecclesia não poderia, de forma alguma, apoiar uma jornada à ilha de hereges. Por isso, o bispo simplesmente aparentava estar completamente alheio a esse fato – mesmo todos os diálogos em um raio de dez quilômetros sendo exclusivamente sobre isso – e desconversava qualquer iminência de aproximação do assunto.
Ed Wagen e Milo chegaram praticamente juntos, na véspera da data marcada, e acabaram tendo o mesmo destino: os estábulos da Taverna Boca de Peixe. Com os quartos já lotados, e considerando que o ponto de encontro anunciado era a própria taverna, seria melhor passar uma noite entre equinos que sair da cidade para entrar de volta no dia seguinte.
Acabaram não tendo muito contato com o povo de Fyrtorn, já que, ao chegarem, a maioria dos ali presentes já era de viajantes. Ed foi calorosamente cumprimentado por alguns que o reconheceram por sua reputação, agradecendo-lhe por ter ajudado o irmão do vizinho da avó de alguém. Milo também foi abordado por alguns dos oriundos de Akermark, que ele liderara contra orcs, mas a recepção era sempre carregada com pitadas de decepção – talvez ver seu líder entre os candidatos tenha diminuído sua esperança de serem selecionados.
Por fim chegou Teryn, também na noite da véspera – mas o bardo não hesitou em trocar seu entretenimento por uma acomodação mais confortável que os estábulos. Seu talento logo ofuscou os demais bardos que tentavam se apresentar, coisa jamais vista em Fyrtorn: muito raramente tinham um único bardo, e naquela noite apreciaram a concorrência.
O repertório do músico treinado por elfos conquistou os clientes, e as canecas de cerveja saíam freneticamente da cozinha para as mesas. O taverneiro ofereceu-lhe um espaço no chão de seu próprio quarto para que dormisse, um pequeno pagamento considerando o lucro que a apresentação de Teryn rendera-lhe.
O que todos murmuravam, contudo, era sobre o dia seguinte. Como seria a reunião? Quais seriam os critérios para a seleção? Será que tudo não passava de uma grande enganação? Como a Ecclesia e o General Lamarque estavam permitindo aquilo? Quem eram os contratantes?
Muitos dos viajantes foram dormir com essas perguntas martelando suas cabeças, preocupados. O clima até então amigável entre eles foi sendo substituído por uma tensão no ar à medida que a noite encerrava-se – afinal, aqueles eram concorrentes na busca de uma recompensa altamente desejável. Estavam confraternizando com o inimigo.
O que não sabiam é que não haveria seleção alguma no dia seguinte, pois ela já havia sido realizada. Sarah e Cirilla em seus quartos, Alerathla em sua tenda improvisada, Ed e Milo em suas mochilas e Teryn em seu travesseiro: todos os seis encontraram o mesmo pergaminho misterioso ao se encaminharem para dormir.
- off:
- @Rosenrot @Lyvio @Dycleal @Irving @Edu @Vinah
O TREM ESTÁ PARTINDO, MORES! Mesa oficialmente inciada e estamos a todo vapor.
Esse primeiro post é pra ser bem introdutório mesmo (até pq o Teryn nem tem ficha ainda). Fiquem à vontade para descrever a viagem até Fyrtorn e o que fizeram na vila nesse meio-tempo, e até interagirem entre si, se quiserem. Contanto que no final estejam todos no quarto 3 ao amanhecer, para daí seguirmos enquanto grupo
P.S.: os personagens que sabem Élfico conseguem ler o nome Faelar na assinatura do pergaminho