[!Solo!] John McGregor

John acorda novamente, o sol arde seus olhos e a dor de cabeça é intensa, ele está suado e confuso, alguns segundos se passam e ele lembra-se que está no hospital, com algum medo ele olha para baixo em direção ao seu braço, que encontra-se coberto pelo lençol, ele tenta levantar o lençol porém percebe que está contido à maca por algo na altura de suas coxas e no meio do peito por cima dos braços, e algo segura seu punho direito.

Uma máquina fora do teu campo de visão bipa

pi......pi.......pi......pi...pi...pi...pi...pi...pi..pi.pi.pi.pi.pipipipiiiiiiIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIII

Jonh força ambos os braços, tentando movê-los. Uma, duas, três vezes, sacode no leito, tentando se soltar. O lençol impede de saber o que o mantém preso. Continua não sentindo a mão esquerda. Ele pragueja e fica alguns instantes parado, pensativo e respirando forte, recuperando o fôlego.

Aos poucos sua memória volta. Ele começa a se lembrar do pátio do caminhão. Do barulho embaixo do caminhão. Do urso que o pegou desprevenido. Urso. Começa a sentir a dor dos ferimentos. Seu braço esquerdo está dormente, mas ainda sente as pontadas de uma dor incômoda na altura do pulso. Então ele se lembra do que acontecera com sua mão. E começa a lacrimejar, soluçando baixo.

Então o som de algum aparelho lhe chama a atenção. O bip constante é incômodo e John se lembra onde está. E começa a gritar chamando por ajuda:

-"Aqui! Enfermeira! Doutor! Alguém! Me ajudem! Por favor!"

Você grita ja com uma enfermeira chegando no quarto sendo seguida de mais 2 pessoas, quando você se debate você consegue arrancar um dos feixes de couro, o que te segurava o peito e puxou a máquina que te monitora para perto da cama. Mas o mais importante é que você percebe que está realmente sem o antebraço e a mão esquerda, e embora teus sonhos tenham sido intensos eles são frutos da realidade.

-SE ACALME SENHOR!
uma voz com tom incisivo sobrepõe-se ao barulho

2 enfermeiras começam a cercar a tua cama e uma homem de seus 30 35 anos com roupa de centro cirurgico e uma touca cobrindo o cabelo se aproxima com as mãos erguidas

-Sou o dr Ross, cirurgião geral desse hospital, eu que fiz teu atendimento no pronto socorro

John, apesar de ainda estar um pouco sedado, se debate, mas sem violência. Consegue libertar seu braço esquerdo e encara a realidade. Antes que pudesse entrar em desespero, duas enfermeiras surgem cercando seu leito e falando alto para se acalmar. John encara as enfermeiras. Não consegue olhar para o que sobrou do seu braço. Então uma terceira figura se aproxima e se apresenta como cirurgião. Apesar de desconhecido, um rosto humano naquele momento faz John se acalmar um pouco.

Erguendo seu braço e o mostrando para o cirurgião, John suplica: -"Doutor! Cadê meu braço? Por favor! Salve meu braço! Coloca ele de volta! Por favor!"

- Senhor, respire fundo e escute:
Tudo que poderia ser feito a respeito disso foi tentado, é sempre difícil lidar com uma amputação, mas o senhor precisa se recuperar, você está recuperando de várias lesões não apenas essa do braço e ficará alguns dias de recuperação aqui no hospital, agora que você está consciente tentarei agendar uma visita da dra Lynn uma psicóloga que irá conversar com você.

John respira fundo e escuta esperançoso, achando que tudo não passa de um sonho de mau gosto. Mas a realidade é pior.

Instintivamente ele leva a mão até o topo da cabeça para esfregá-la, uma mania que possui quando está nervoso ao pensar em algo... então o cotoco do braço resvala na sua fronte e ele o encara. -"NÃO! NÃO! MALDIÇÃO!", grita em fúria, batendo o antebraço na lateral do leito. Por sorte, sua outra mão e pernas ainda estão amarradas, senão, ele sairia quebrando tudo de raiva.

-"Saiam! Saiam DAQUI! ME DEIXEM!", grita, pedindo por um pouco de paz. John sabe que custará a aceitar o fato. Mas não precisa da piedade de ninguém.

uma das enfermeiras te aplica algo no acesso que está em seu braço direito e todos eles saem do quarto te deixando sozinho para pensar.
O remédio te deixa relaxado e grogue como se fosse apenas a parte inicial de encher a cara, só que com um pouco mais de sono

John é deixado sozinho no quarto. O bipe das máquinas é a única coisa que corta o silêncio sufocante do quarto. Pensando na vida, na angústia da dor e da perda, afetado pelo sedativo, John aos poucos sucumbe ao sono.

... ao som de "All I do Is Drive" de Johnny Cash, um caminhão percorre sozinho uma rodovia pelas planícies noturnas canadenses. Está uma noite calma com uma lua quase cheia iluminando a paisagem. Sentado ao volante está um John despreocupado, com o braço esquerdo sob a janela aberta, curtindo o som do seu rádio. Tudo seguia tranquilo quando de repente um solavanco e John percebe pelo retrovisor que atropelou algo. Ele freia o caminhão. Pega uma lanterna e desce preocupado pela escura rodovia. Se aproxima da forma atropelada, parece ser uma pessoa, algum andarilho talvez. Ele se aproxima, sua lanterna ilumina a cabeça do corpo e para seu horror é a cabeça do urso que lhe atacara no pátio! John se assusta, caindo sentado para trás e tentando se afastar, então ele sente uma pontada no seu braço esquerdo e o leva próximo da lanterna para iluminá-lo e vislumbra que sua mão esquerda fora arrancada..."

John acorda gritando todo suado. Fora apenas um pesadelo. Mas a realidade fora muito pior.

Uma senhora de 50 60 anos toda arrumada entra no seu quarto logo após você acordar gritando

-Boa hora para eu chegar não é mesmo John, sou a dra Feiser mas pode me chamar de Michelle, eu sou a psiquiatra que vai te acompanhar por algum tempo enquanto a gente se acostuma com a tua nova situação.

Ela abaixa tua cama alguns centímetros, puxa uma cadeira até o lado direito da sua cama, abaixa o apito dos aparelhos ao seu lado e senta perto de você com as pernas cruzadas e o braço apoiado próximo ao seu corpo na cama.

-Parece o fim do mundo, ainda mais porque você é motorista, mas as pessoas se adaptam, você quer conversar sobre o que aconteceu? Para te deixar menos preocupado seu caminhão está estacionado no pátio do posto e está trancado, as chaves estão com o pessoal do hospital. Você tem algum parente ou amigo para o qual você quer que eu mesma ligue pra contar onde você está e como estão as coisas?

-"Senhora! Não sei o que fazer! Eu... eu nem consigo olhar para meu braço. Não tem nada que possam fazer? Ouvi falar que podem juntar de novo, como era mesmo o nome? Ah, não sei! Não podem colar? Costurar? Fazer alguma coisa? Não sei o que vou fazer... não quero ser um inválido... não poderei trabalhar mais... não tenho ninguém... ela não vai me querer mais...", responde, um pouco eufórico, mas controlado pela dose cavalar dos analgésicos.

-muitas pessoas conseguem manter uma vida normal mesmo após acidentes piores que o seu, as vezes o dano é maior do que o possível para recuperar um membro. Você é caminhoneiro não é mesmo? O seu caminhão pode ser modificado para que você possa dirigi-lo normalmente.
Algumas pessoas te deixaram um cartão na portaria, e um presente, se você quiser eu posso trazê-los na minha próxima visita

-"Não sei doutora, eu não acredito que possa levar uma vida normal. Sim, sou caminhoneiro. Viajar é minha vida. Cartão? Presente? Doutora, eu não conheço ninguém aqui! Vim de muito longe! Não entendo... Doutora... preciso de uma bebida.", responde o pobre caminhoneiro que apenas se lamenta e não tem coragem para seguir para frente.

As conversas com a psiquiatra continuam por mais 2 dias, ela te medica e você se sente mais tranquilo com relação ao teu destino, e embora você não tenha tido alta realmente do hospital ela te libera para caminhar pelo hospital ou mesmo fazer saídas rápidas, ela te indica uma lanchonete do outro lado da rua que tem um belo hambúrguer porém você tem que estar no hospital durante a noite até a medicação pela manhã, as 14h para a medicação da tarde e antes das 18h.

Sentindo-se puto porém entediado você decide dar uma volta e quando está saindo pela portaria do hospital o porteiro, pergunta
-John McGregor? temos um cartão aqui para você

E te entrega um envelope com algo dentro além de um cartão

John já está menos inconformado com sua desgraça, porém, se acostumar vai ser difícil. John sente a dificuldade da falta das mãos em pequenas tarefas do dia a dia, como ir ao banheiro, segurar um prato enquanto come, e nem quer imaginar como será quando for dirigir. Aceita a sugestão da doutora e se dirige para a lanchonete, já está cansado da comida do hospital e uma carne suculenta com queijo iria bem agora. Então ele se dirige para a saída do hospital quando o porteiro lhe aborda e entrega uma carta.
John a pega, vira para ver o remetente, e tenta abrir com dificuldade e meio desajeitado para uma tarefa que seria melhor feita se tivesse duas mãos. O cartão cai no chão e John pragueja enquanto se abaixa para recolher e ler o conteúdo.

você pega o cartão no chão e dentro do envelope algo sobra, você palpa com a mão boa e sente algo cilíndrico do tamanho de uma pilha, olhando pelo vão do envelope é uma munição com seu cartucho dourado e o projétil escuro e redondo.

Esperamos que você se recupere logo! Não podemos te oferecer saúde mas podemos te dar a chance de ter sua vingança!
Nos ligue

555-2252

John olha em volta, como se o responsável pelo bilhete estivesse por perto. Ele junta tudo na mão, amassa o envelope com o cartucho, os coloca no bolso e segue até a lanchonete. Quando chega na porta do estabelecimento, ele nota ao lado um telefone público. Instintivamente já estava com o bilhete amassado na mão e encarando-o enquanto tentava entender aquilo. Sim, vingança! Era o que ele precisava agora!

Se aproxima do telefone público, se atrapalha um pouco colocando o fone entre o rosto e o ombro esquerdos, e com sua mão boa coloca uma moeda e começa a digitar o número: 555 2252. O telefone chama do outro lado, alguém atende, mas John desliga.

Ele senta em um banco ali do lado, pensativo, encarando o cartão, o cartucho e o telefone. Lhe falta coragem. Ele pondera por um bom tempo. Olha o movimento da rua, o andar das pessoas, a alegria dos inteiros. John encara seu cotoco. Puxa a manga da blusa para escondê-lo. Tem vergonha da sua condição.

John permanece tanto tempo naquele banco que perde a noção do tempo, perde o horário da medicação da tarde, e a dor começa a voltar ao seu cotoco devagar e devagar. E foi desta dor insuportável que John precisou para tomar coragem.

Ele se aproxima novamente do telefone, ajeita o fone entre seu rosto e o ombro esquerdo, e novamente disca o número: 555 2252. Então aguarda, decidido.

-Alo? Gregory Watts aqui, Lembranças de Belavista!
uma voz animada atende o telefone

Com a voz nervosa, responde: -"John McGregor... pediram para ligar neste número."

- John? quem é John? você ligou errado...
depois de você começar a abrir a boca ele responde
-puta merda, desculpe, mas puta merda o motorista do Caminhão Peterbilt.... sim, que bom que você está bem, a Dora me disse que sim, ela me explicou da mão, pelo menos foi a esquerda né?....e segue-se uma pausa desconfortável

John, que antes estava receoso com a ligação, fica um pouco consternado com o tom da ligação. Ele permanece em silêncio, aguardando o que o outro lado quer além de dizer o óbvio. Ainda não sabe dizer se isso é uma piada de mau gosto ou não. Apenas sua respiração deste lado do fone revela que John ainda está ouvindo, aguardando em silêncio.