por Gelatto Dom 17 Mar 2019 - 12:43
John olha em volta, como se o responsável pelo bilhete estivesse por perto. Ele junta tudo na mão, amassa o envelope com o cartucho, os coloca no bolso e segue até a lanchonete. Quando chega na porta do estabelecimento, ele nota ao lado um telefone público. Instintivamente já estava com o bilhete amassado na mão e encarando-o enquanto tentava entender aquilo. Sim, vingança! Era o que ele precisava agora!
Se aproxima do telefone público, se atrapalha um pouco colocando o fone entre o rosto e o ombro esquerdos, e com sua mão boa coloca uma moeda e começa a digitar o número: 555 2252. O telefone chama do outro lado, alguém atende, mas John desliga.
Ele senta em um banco ali do lado, pensativo, encarando o cartão, o cartucho e o telefone. Lhe falta coragem. Ele pondera por um bom tempo. Olha o movimento da rua, o andar das pessoas, a alegria dos inteiros. John encara seu cotoco. Puxa a manga da blusa para escondê-lo. Tem vergonha da sua condição.
John permanece tanto tempo naquele banco que perde a noção do tempo, perde o horário da medicação da tarde, e a dor começa a voltar ao seu cotoco devagar e devagar. E foi desta dor insuportável que John precisou para tomar coragem.
Ele se aproxima novamente do telefone, ajeita o fone entre seu rosto e o ombro esquerdo, e novamente disca o número: 555 2252. Então aguarda, decidido.