O som do silêncio

O som da água corrente era reconfortante. A pequena nascente minava da rocha coberta de musgo da montanha, caindo como um véu transparente até alcançar o shishi-odoshi¹ abaixo. O som oco e repetitivo do dispositivo mantinha longe os javalis da montanha e, somado ao som tranquilo da água, também ajudava Suzuka a compassar a sua respiração e acalmar a sua mente.

A jovem maiko andava com cuidado pelas pedras arredondadas do riacho. Havia descalçado suas sandálias para que tivesse mais firmeza, mas as pedras estavam geladas. Ela deu pulinhos pra tirar rapidamente os pés da água gelada e riu de si mesma, brincando no córrego como uma criança.

Ajoelhou-se ao lado de um fino amontoado de pedras que delimitavam a sua pequena horta de ervas. Tivera sorte em encontrá-las quando chegara na montanha, e agora as cultivava com carinho. Elas eram importantes para os emplastros que a velha senhora havia lhe ensinado a fazer. Havia algumas ervas daninhas brotando entre as folhas verdes das ervas curativas, e Suzuka as removeu com vigor. Uma erva daninha em especial tinha uma bela flor roxa de aspecto aveludado, que fez a jovem moça sentir pena de arrancá-la. A pobre flor tentava apenas sobreviver em meio a natureza difícil, e talvez a sua beleza lhe servisse como ferramenta de sobrevivência. Comovendo jardineiras de coração mole para que não as arrancasse, por exemplo. Suzu riu um pouco mais de si mesma antes de puxar para fora da terra as raízes da bela erva daninha. Limpou-a, e decidiu honrar seu sacrifício usando-a em um ikebana² para enfeitar sua cabana. Tinha anos desde a ultima vez que praticara, mas talvez o espírito da planta ficasse feliz.

Lembrou-se de quando chegaram até a cabana. Ela e Gensai haviam deixado pra trás o caos do incêndio, misturando-se à multidão que se aglomerava para deter o incêndio e aproveitando o anonimato garantido pela aglomeração de pessoas para desaparecer sem serem notados.

Gensai tinha um cavalo a postos, próximo. Ajudou Suzuka a subir e montar o animal de forma confortável, sentando-se lateralmente sobre a sela. A Geisha corou quando Gensai montou o cavalo logo atrás dela, e sentiu o corpo do samurai próximo ao seu, e os braços fortes com os quais fantasiara ao seu redor, segurando as rédeas. O coração da moça estava acelerado, mas ela percebeu que Gensai estava ofegante. O suor dele estava gelado. A geisha interpelou o samurai, perguntando-se se tudo estava bem, e ele apenas sorriu e disse que tudo ficaria bem assim que saíssem da cidade.

Suzuka perdeu as contas de quantas horas cavalgaram. Saíram da cidade pela Nakasendo³, mas após pouco tempo saíram da estrada principal e cavalgaram por pequenas vias não pavimentadas, rumo as montanhas. As costas da moça estavam duras e suas pernas doíam, mas Gensai não permitiu que parassem até alcançarem um local seguro.

O céu já perdia sua matiz negra e se confundia com o azul escuro da aurora que viria em breve quando alcançaram a cabana na montanha. Era um local bastante bonito, embora simples e rústico. Ficava às margens de um córrego, cuja nascente ficava na parede rochosa da montanha à poucos metros da casa. Tinha o telhado espesso de palha de arroz, e as paredes e piso pareciam bastante sólidas. A cabana tinha formato retangular e possuía apenas um cômodo, que usavam pra tudo. Dormir, cozinhar e tomar banho. De certa forma, era até espaçoso, mesmo que fosse um cômodo único.

Quando alcançaram o lugar. O corpo de Gensai pesou sobre Suzuka. A moça sentiu o coração acelerar, acreditando que o samurai a havia abraçado, mas logo notou que o rapaz ardia em febre. Ele havia perdido a consciência assim que chegaram a um lugar seguro.

O som do shishi-odoshi chamou Suzuka de volta à realidade. Já haviam passado quatro dias desde que chegaram, e Gensai ainda não havia acordado. Estava deitado em seu futon, num canto da cabana. A febre estava sob controle, mas o Samurai parecia ter perdido sangue demais. Por sorte, não estavam distante de uma vila nas montanhas, onde a jovem maiko conseguiu ajuda dos aldeões. Tivera o cuidado de ocultar as armas de Gensai antes da velha curandeira o visitar. A velha senhora também ensinou Suzuka como limpar as feridas, trocar as bandagens e fazer os emplastros necessários para a recuperação do homem. Com o dinheiro que havia encontrado com Gensai, Suzula comprou mantimentos dos aldeões, que usou para manter os dois nos ultimos dias. Suzuka se preocupou com o que faria caso o dinheiro acabasse e Gensai ainda não tivesse despertado.

Notas:

Deixar Gensai sozinho era sempre difícil. No fim das contas, eram fugitivos e Suzuka sabia que ele era um retalhador procurado. Porém, acreditava na palavra dele quando lhe disse que ali era um local seguro. A vila era um local pacato, com poucos moradores, isolado do centro urbano de Kyoto e longe do fervor político que devora a cidade. Ali, naquele lugarejo isolado à sombra das montanhas, ainda havia a paz típica do interior, onde as maiores preocupações são a falta de chuva e a proximidade do inverno. Os moradores são sempre cordiais, e ajudam muito uns aos outros. Suzuka precisou contar com essa solidariedade interiorana desde seu primeiro dia no local, e era muito grata a todos que a ajudaram tão prontamente e a receberam tão carinhosamente.

Baa-chan era como era conhecida a velha senhora que a havia recebido. Ela era, aparentemente, algum tipo de líder ou conselheira comunitária. Uma pessoa muito gentil e muito bem quista por todos. Se havia alguém que a poderia ajudá-la a encontrar calêndula naquelas paragens, seria Baa-chan. Se não, então ela provavelmente conheceria uma pessoa que poderia ajudar.

A casa de Baa-chan era distante, mas a caminhada era revigorante. O ar fresco da montanha carregava o cheiro das folhas de bordô dos vales e de neve fresca vinda dos picos nevados pelo inverno precoce que já mordia o cume das montanhas. Na primavera, a brisa teria o cheiro de azaléas frescas, e todo o vale estaria coberto de flores de cerejeira. Seria uma visão de tirar o fôlego, se ainda pudessem estar lá quando o inverno findasse.

A "moça nova" do povoado fora muito bem recebida por todos os moradores, e todos cumprimentavam a bela jovem conforme ela passava pelos campos de cultivo de arroz. Por mais que os aldeões estivessem apressados para ter uma última colheita antes do inverno, tiravam alguns momentos de descanso em seu trabalho árduo para cumprimentar e observar a beldade que passava e lhes oferecia sorrisos iluminados.

Encontrou Nobu, filho de Baa-chan, trabalhando na plantação da família, a apenas alguns minutos de distância da casa da velha senhora. Nobu era um homem na casa de seus trinta e poucos anos, apesar de carregar os sinais de fome que eram típicos a todos os trabalhadores rurais japoneses, possuía a constituição sólida. Tinha a pele escurecida pelas horas ao sol trabalhando, em uma tonalidade que quase ocultava a barba por fazer e os cabelos curtos e negros, despenteados pelo vento. Empunhava de jeito firme a enxada com a qual arava o solo. O trabalho ja estava no fim, e em breve o rapaz iniciaria a ultima semeadura do ano.

Ele ergue os olhos severos para a jovem moça que passava pelo seu campo, e ele repousa a enxada por alguns momentos. O homem limpa o suor da testa com uma toalha de algodão que trazia ao redor dos ombros e oferece um sorriso à moça.

-"Ohgo-chan, que surpresa agradável. A sua presença é quase como se a primavera chegasse mais cedo. Procurando Baa-chan?"-

[justify]Suzu caminhava por aquele  vilarejo tão  livremente,
e em tão  pouco tempo ja conhecia as ruas e suas libações.  Suzu gostava de caminhar por la, mesmo aflita por deixar seu Gensai  desacordado na cabana, ela gostava da sensação de liberdade, do vento bater suavemente no seu rosto, gosta da cordialidade das pessoas dali, que mesmo com toda a dificuldade conseguiam acenar, sorrir e serem solidarios, pois eles ajudavam a geisha sem questionar ou bisbilhotar sua gida e qual foi a circunstância que trouxera um homem ferido e uma mulher para ali.

Suzu estava distraindo com os seus pensamentos, perguntando para si se o capitão havia sobrevivido e como estaria as coisas na cidade depois daquela noite. Com certeza ela agora seria uma procurada e aliada ao inimigo do governo. Suzu precisava ser forte, pois sua vida mudara
e ela terá que enfrentar batalhas, e tinha a convicção que nunca mais teria paz, talvez seja por isso que gostou de andar pelas.ruas daquele vilarejo.

Seu silêncio interior foi quebrado com a voz do Nobu, filho de  Ohgo-chan, a senhora que Suzu procurava e que poderia lhe arrumar algumas calendulas.

- Boa tarde senhor Nobu - A geisha faz um leve cumprimento - estou a procura de sua mãe, você  poderia chamar por ela por favor.

Dizendo isso Suzu ficou ali esperando, mas um frio da espinha a alertou de que algo pessimo poderia acontecer, e comecou a temer pela vida do Gensai, ou de que foram descobertos .... e uma sensacao ruim tomou por inteiro Suzuka./justify]

[continua no tópico Lobo em Pele de Cordeiro]

***

[Retornando do tópico Lobo em Pele de Cordeiro]

No caminho de volta à casa, Suzuka e Kaito foram mais à frente, e conversavam sobre ervas e métodos de curativos. Suzuka se impressionava com o conhecimento do rapaz a respeito de remédios e emplastros, e tomava nota mentalmente de todos os conselhos que ele lhe fornecia. Pelo que o jovem dizia, seria capaz de dar um tratamento adequado aos ferimentos de Gensai apenas com as ervas que já possuía em seu jardim. A sabedoria de Baa-chan lhe seria suficiente. Contudo, era necessário que Kaito observasse o ferimento para julgar o grau de infecção.

Noobu atrasou um pouco o passo, e observava Suzuka com olhos preocupados. Akemi acompanhou o passo do rapaz, observando as reações dele. O homem parecia legitimamente consternado pelo problema de Suzuka, embora Akemi não soubesse exatamente dizer porque. Ao longo de todo o percurso, Noobu parecia lutar uma batalha interna, e chegou a tomar fôlego para falar algo a Akemi algumas vezes, apenas para lançar um olhar a Suzuka e desistir logo em seguida.

"Não se precipite, Noobu"- Akemi foi capaz de ler os lábios de Noobu articularem em silêncio essa frase, e se perguntou o que poderia significar. Porém, antes que tivesse a chance de interpelá-lo a respeito, chegaram à casa.

Gensai estava exatamente do jeito que Suzuka o deixara. Trajava um quimono branco leve, e estava deitado em um futon no canto do cômodo único da casa. A geisha logo percebeu que o homem estava empapado de suor, e tratou de pegar uma toalha para enxugá-lo. Kaito se ajoelhou ao lado de Gensai e tomou-lhe a temperatura, colocando a mão em seu rosto. Logo foi capaz de dizer que o homem estava com febre.

Akemi fez as vezes de assistente de Kaito, trazendo-lhe panos limpos e água ao médico enquanto ele cuidadosamente removia os emplastros feitos por Suzuka.

-"Você fez um ótimo trabalho, Ohgo-san. O curativo está limpo. Não deve haver infecção. A febre é, muito provavelmente, por conta da perda de sangue."- O médico então termina a remoção do curativo e analisa o ferimento no peito de Gensai. Ele imediatamente lança um olhar tenso à Akemi. -"Quem feriu o senhor Ohgo possuía grande habilidade. Dá pra dizer pela limpeza do corte. Usava uma katana."-

Noobu estava escutando da soleira da porta. Ele franziu o cenho quando Kaito deu seu parecer, e então socou a parede. -"Malditos lobos!"- Akemi sobressaltou-se com a súbita explosão de fúria de Noobu, mas notou que ele respirou fundo e repetiu a frase Não se precipite, Noobu silenciosamente. -"Diga, Ohgo-san. Os bandidos que feriram seu marido usavam quimonos azul e branco?"- ele diz, com os olhos preocupados encarando Suzuka

Akemi percebe que existe mais acontecendo ali do que um mero ataque de ladrões. Ela pede mais detalhes à Suzuka, que se sente intimidada pelos questionamentos súbitos e desvia os olhos, se aproximando mais de Gensai e evitando olhar para os homens em sua casa.

Noobu cerra o punho. A sua expressão é de quem entendeu tudo, e nenhuma explicação mais é necessária. -"Não se preocupe, Ohgo-san. Todos nesta vila sofrem nas mãos desses cachorros malditos. Vocês não fizeram nada de errado, tenho certeza.- Ele claramente lamenta profundamente o que teria acontecido à Suzuka e ao marido, e expressa essa consternação com uma imensa fúria contida. Porém, quando ele fala, sua voz é embargada por pura tristeza.

Akemi troca olhares com Kaito. Sentia a urgência de defender a honra de seu capitão e de sua tropa, mas precisava manter o disfarce. Kaito lhe ofereceu um olhar gentil, como se implorasse para que o amigo contivesse sua ira pelo bem da missão.

Suzuka suava frio. Não queria entrar em detalhes, mas sabia que tinha de dizer algo. Sentia-se pressionada e não sabia o que dizer. Noobu colocou a mão no ombro de Suzuka.

-"Não fale mais nada. Eu ja entendi o que aconteceu. Você é recém-casada, certo? Foi exatamente assim que todos começamos a sofrer nas mãos dos malditos samurais. Eu entendo a dor da sua família, Ohgo-san"

Kaito sorri gentilmente para Suzuka. Ele assente com a cabeça, dizendo à moça que tem tudo o que precisa à mãos. Ele diz que logo seu irmão retornaria com as ervas necessárias para fazer um emplastro.

-"Eu acho que ele está em condições de acordar. Eu irei tentar acordá-lo agora, assim que meu irmão retornar. Vou finalizar o curativo, consertar alguns pontos que ficaram ruins e fazer o emplastro. Para acordá-lo eu preciso de um perfume bem forte, a senhora teria algo do tipo?"

Neste momento, Akemi retorna para o interior da casa, com Noobu logo atrás. A moça entrega para Kaito as ervas que tinha encontrado no jardim, lavadas e livres de terra e insetos, e o jovem médico imediatamente começa a macerar as folhas em equipamentos que Suzuka havia disponibilizado para seu uso.

A jovem Geisha pode sentir o cheiro adocicado das plantas maceradas conforme Kaito as esmaga habilmente, manipulando o pilão com maestria. assim que acaba a infusão de ervas, o resultado é uma pasta de cor amarelada e um cheiro que desponta entre doce e floral.

Quando o rapaz se debruça sobre Gensai, Suzuka prende o fôlego. O kit de sutura era por demasiado parecido com suas ferramentas de costura para que a moça tivesse estômago para assistir o que viria, mas quando a agulha de Kaito atravessou a pele do retalhador, e este quase não se moveu, Suzuka sentiu um frio na espinha. Talvez fosse apenas um homem acostumado com a dor, ou talvez seus ferimentos fossem mais sérios do que se imaginava. Teve medo do samurai não acordar mais.

Felizmente, a Geisha era vaidosa, e tinha usado um pouco do dinheiro para comprar um pequeno frasco de perfume. Queria estar bonita para seu samurai quando ele acordasse. Felizmente, isso acabou se revelando uma boa escolha. Decidiu deixar Kaito costurando seu "marido" e foi buscar nas suas coisas o pequeno frasco de perfume. A fragrância doce de ameixas brancas estava na moda entre as moças, mas Suzuka nunca imaginou vê-lo usado para fins medicinais.

Depois dos pontos feitos, Kaito embebeu alguns retalhos de tecido em sake. Espalhou o emplastro de ervas sobre os ferimentos suturados, e depois cobriu-os com os panos embebidos em sake. Suzuka retornou com o perfume, e o jovem médico destampou o frasco com um estalido surdo, e logo o aroma de ameixas brancas se espalhou pelo recinto.

Quando colocou o frasco sob o nariz do samurai, o mesmo abriu os olhos lentamente, com um curto gemido de dor.

Gensai piscou os olhos por alguns momentos, enquanto eles se acostumavam novamente à luz. Teve o reflexo de sentar-se, e então sentiu o açoite da dor aguda de seus ferimentos não cicatrizados. A dor fez que recobrasse a consciência e logo o retalhador viu a imagem de Kaito diante de si. Arregalou os olhos e ergueu-se rapidamente. O movimento foi tão rápido que Kaito caiu sentado. Akemi surpreendeu-se, um homem tão ferido não deveria ser capaz de se movimentar de forma tão ágil.

Kawakami se movimentou procurando uma arma, mas não encontrou nada que pudesse ser usado como tal. A dor era excruciante, e ele não conseguia se mover como gostaria. Acabou com as costas na parede, como um animal encurralado por predadores. Ele tem uma mão erguida à frente e as pernas afastadas. Akemi reconhece na posição do homem uma postura de Jujutsu¹ e percebe que ele tem treinamento de combate. Ela diz ao homem que está tudo bem, que ninguém irá machucá-lo, mas sua voz parece não alcançar Gensai em sua confusão.

Porém, Suzuka se aproxima, abrindo os braços e tentando acalmar Gensai. O samurai sente o cheiro do perfume da moça, o mesmo que sentiu nos dias em que ela velava seu sono. Reconheceu a voz melodiosa que cantava para ele em seu sono e lhe dava doces sonhos. E se acalmou. Afrouxou a postura combativa e se deixou receber desajeitadamente nos braços da Geisha. Tinha baixa estatura, mas ainda assim era pesado para que uma jovem moça como Suzuka sustentasse sozinha todo seu peso.

-"Acalme-se, marido. Essas pessoas são amigas, estavam aqui me ajudando a cuidar de você enquanto esteve desacordado."- Suzuka disse a gensai, que entendeu imediatamente o aviso contido em suas palavras. Era preciso manter o disfarce.

-"E-entendo... Perdoem-me. Não me lembro bem do que aconteceu."- disse a todos com uma breve reverência, e sentou-se à mesa com ajuda de Suzuka, que sentou-se a seu lado.

Todos se sentam e iniciam as apresentações. Gensai é muito gentil e polido com todos, e oferece sorrisos fragilizados pela dor a todos enquanto conversam sobre amenidades e sobre os acontecimentos dos dias quando permaneceu inconsciente.

Findas as apresentações e as conversas, Kaito diz a todos que devem deixar Gensai descansar, e que devem dar privacidade ao casal. Assim, todos se recuperam, com a promessa de que voltariam para visitar e trazer presentes de boa recuperação ao ferido.

Assim, quando todos vão embora, Gensai se levanta com dificuldade e caminha até a tina de água, onde lava as mãos, a boca e o pescoço. Em seguida, ele olha para Suzuka e faz uma grande reverência.

-"No fim das contas, eu lhe causei grandes dificuldades e sofrimento, Ohgo-dono. Muito obrigado pelos seus cuidados" - o samurai parece um pouco ofegante pela dor, mas tem um sorriso gentil no rosto.

Suzuka entrou em desespero quando percebeu Gensai levantar a guarda e temia que o mesmo estragasse o disfarce que ela levou dias e dias pafa manter, e antes qur isso acontecesse ela entrou em acao e se aproximou do samurai e o mesmo entendeu o recado.

Depois que houve as apresentações, e aqueles homens finalmente deixaram eles sozinhos Suzu sentia um frio na barriga, era uma mistura de sentimentos, de alívio por Gensai finalmente estar acordado, e por estar sozinha comum homem desconhecido e ao mesmo tempo tão íntimo. Suzu estava perdida em seus sentimentos e pensamentos quando foi despertada pela.voz de Gensai.

Suzu sorria para Gensai gentilmente - Gensai, você precisa de um banho, e comer alguma coisa, vou esquentar a água para seu banho, e fazer sua comida, e assim que terminar precisamos sentar e conversar, preciso te contar tudo que aconteceu enquanto estava adormecido, e precisamos decidir o que sera é como será daqui em.diante, e você precisa me dizer quem realmente é você, e porque briga co. Os soldados, afinal de alguma forma sou sua companheira e cúmplice e preciso saber com quem estou e porque estarei lutando.

Dizendo isso Suzu encaminhou para a cozinha, e.comecou a esquentar a água e cortar alguns legumes que aquela homens lhe trouxeram, e seu corpo todo tremia.

O samurai cora quando é chamado pelo primeiro nome pela geisha, em sinal de intimidade. Ele precisaria se acostumar com isso, afinal, para todos ali eram marido e mulher. Ela havia se referido a si mesma como sua companheira. Muita coisa havia acontecido enquanto ele estava desacordado, pelo visto. Precisava refletir sobre os acontecimentos que lembrava e tentar organizar a mente, ainda muito confusa. Quanto tempo ficara desacordado? Precisaria ouvir o que Ohgo tinha a lhe dizer. Mas, como a moça havia dito bem, antes de mais nada precisaria de um banho. Deveria estar fedendo, e sentiu-se envergonhado.

Ajudou Suzuka com a tina de água, e sentiu os ferimentos doerem quando sustentou o peso da chaleira. Seus joelhos fraquejaram, e ele quase caiu, mas foi sustentado de pé pela geisha. Os olhos de ambos se cruzaram, e Gensai sorriu para Suzuka. Ele percorreu o rosto da moça de traços delicados com os olhos por alguns momentos, lembrando-se de como ela era realmente bonita. Então, percebeu que estava encarando a moça e corou, encabulado.

-"Nós nunca nos apresentamos formalmente, certo? Meu nome é Kawakami Gensai. Sou um humilde ronin sob o serviço de Kagoro Katsura-sama, do feudo de Choushuu. Acredito estar em dívida com a senhorita."

Gensai cora de forma intensa quando Suzuka se aproxima e começa a ajudá-lo a se despir. Pela primeira vez, a Geisha percebe o quanto o rapaz era jovem, praticamente um garoto. Os traços finos, o cabelo comprido que caía-lhe gentilmente sobre os ombros. Os olhos que, pelo menos por este momento, pareciam ter perdido a sombra que povoava a alma do rapaz e recuperado a luz da juventude.

-"Suponho que você já tenha me lavado enquanto eu estava desacordado?"- o rapaz diz, visivelmente encabulado. Mesmo permitindo que a moça o ajudasse a se despir, Gensai tomava cuidado para que as partes mais vergonhosas de seu corpo ficassem ocultas da visão da Geisha, seja ficando de costas para ela, seja entrando rapidamente na agua.

Suzuka estava igualmente corada. Sorria para Gensai, tentando não mostrar tensão. Já havia visto o homem nu algumas vezes enquanto o limpava durante o sono, e até mesmo lhe tocado. Mas com ele acordado tudo era diferente. Não era um convalescente com quem a preocupação superava a excitação. Era um jovem saudável que habitava muitas de suas fantasias. E estava ali, agora. A moça apertou as coxas, tomada pela própria excitação, que tentava conter. Acenou com a cabeça, respondendo à pergunta do rapaz. Mas estava encabulada demais para responder com a própria voz.

-"E-entendo. Parece que causei muitos problemas a você."- ele se encabula e evita olhar para a moça, mantendo os olhos fixos na água, conforme ela pega uma esponja, a encharca com a agua da tina e começa a passar-lhe pelas costas. Suzuka se perguntava se aquelas costas sempre lhe pareceram tão largas.

O silêncio reinou constrangedor durante alguns momentos. Suzuka reviveu em sua mente a sua história com aquele homem. Desde aquela noite no beco, onde ele lhe protegera, até a fuga as pressas no meio do incendio. O que ele representava para si lhe era uma incógnita. Porém um sentimento cresceu tão intensamente dentro de si que ela não pôde se conter e acabou por expressá-lo em palavras.

-"Eu estou tão feliz que você tenha acordado"- disse-lhe bem baixinho, sendo incapaz de conter um suave beijo no rosto do homem.

A Geisha nota que a pele do rapaz se arrepiou quando ela o beijou. Ele se virou para ela, e seus olhos se encontraram. Ele a toca no rosto, de forma surpreendentemente delicada, e desenha os traços do rosto da moça com os dedos. E então, toca os lábios dela com os dele, gentilmente.

Doce era o sabor daquele instante. Suzu fechou os olhos, sentindo o sabor daquele beijo. Havia imaginado diversas vezes aquele momento, mas nenhuma das vezes chegava perto do que realmente era. Seu corpo todo correspondeu àquele beijo, e Suzu se entregou para aquele momento, para aquele desejo.

O beijo, inicialmente tímido, se aprofundava conforme Gensai provava dos lábios de Suzuka. Subitamente, a distância que separava os corpos dos jovens parecia enorme e insuportável. Ultrapassá-la se tornou uma necessidade implacável.

Ainda com os lábios colados ao de Suzuka, Gensai se levantou da banheira, erguendo a moça junto consigo. Envolveu o corpo esguio da mulher com seus braços, puxando-a para si. Suzuka podia sentir a excitação de Gensai através do fino Gi que ela mesma trajava, a única camada de tecido a separar-lhe do objeto de suas fantasias. Excitação essa que crescia, conforme o beijo se aprofundava e se transformava em um esfregar de corpos sôfrego e ofegante, ansioso de desejo.

O toque forte de Gensai em seu corpo, aquele beijo, o corpo próximo. Suzu sentia aquele homem, sentia aquele desejo. Seu corpo parecia possuir uma eletricidade que nunca havia sentido antes, e seu corpo pedia pelo toque daquele homem. Suzu puxa os cordões de suas vestes, soltando-as e expondo a pela branca e macia, entregue aquele homem, a seu homem.

As mãos fortes exploravam o corpo delicado da moça, enquanto o Ronin se perdia nos lábios doces dela. O corpo da moça, os toques, os sabores, os cheiros... o calor daquele corpo que ardia de desejo. Gensai sentia a urgência de tê-la imediatamente, de possui-la ali e agora...

Não.

Um ofegante Gensai reunira todas as suas forças para afastar a moça de si. A segurava pelos ombros delicados, de forma firme, embora hesitante.

-"Eu... preciso lhe contar uma história."- o rapaz dizia à Geisha, com a voz vacilante, e ainda ofegante pelo desejo que o consumia.

Aquele homem mexia Suzu de uma forma que ninguém jamais mexera, o seu corpo estava todo eletrico, ela queria aquele homem, mas tinha medo de não ser correspondida, tinha medo de estar ultrapassando os limites, mas ela o queria, e quando os olhares cruzaram, ela teve uma leve impressão que ele também a queria, então resolveu arriscar e beijou levemente o.rosto de Gensai, e sabia que esse gesto significava aproximação, e surpreendeu se com o lábios do samurai encostando no dela!!! Doce ... paixão... excitação... Suzu era uma.mistura de.sentimentos, ela o queria, o.desejava e se entregava para aquele homem, para o.homem que dominou o seu coração, e agora queria entregar sua honra, seu íntimo e o seu ser para ele!!! E entre os beijos e toques, Suzu estava envolvida com o.cheiro, com o.calor e com o.toque de Gensai  e naquele momento mais esperado por.ela tudo pareceu rolar para montanha abaixo, será que ela tinha ido rápido demais? será que tinha feito errado? Porque ele afastou dela ... sua respiração estava ofegante, a respiracao dele estava acelerada, e ela sentia a mão  dele segurando sua nuca, seus olhos seguros olhando os dela, e ela ouvia sua voz rouca falando  algo parecido de que ele.precisava contar uma coisa!!!

Em.instantes Suzu só conseguia piscar os olhos tentando digerir tudo aquilo que estava acontecendo e o.que ele tinha de tão importante para falar a ela que o fez desistir dela, Suzu queria sair correndo dali, sentia se envergonhada e frágil diante daquele homem, então afastou -se do Gensai, procurando por sua roupa caída no chão,  vestindo se, ela sentia corada, e por fim olhou para Gensai, colocou o cabelo atrás da orelha, e por fim disse...

- o que tem de tão importante para falar? Você é casado de verdade? - ficou olhando para Gensai com os olhos em meio a lágrimas, lágrimas de vergonha e por sentir seu coração trincar ...

O rosto de Gensai parecia cansado quando ele finalmente soltou os ombros de Suzuka. Quando a moça expressou suas preocupações sobre a possibilidade de Gensai ser casado, o rapaz não pôde conter um sorriso. A inocência de Suzuka era luz em meio a escuridão. Sua doçura era um sopro de ar fresco dentro do calabouço sufocante que era a vida de Gensai. E o rapaz sentiu crescer em si a certeza de que não merecia tal luz, criatura das trevas que era.

Talvez ele devesse dizer que sim. Que era casado. A moça partiria. Iria de volta para casa, de coração partido, e teria de recomeçar sua vida do zero. Porém, estaria segura. Um coração partido metafórico é melhor do que um literal. Teria a chance de ser feliz. Poderia esquecê-lo e evitar a maldição que o acompanha. Não dormiria em uma cama ensanguentada pelo resto de seus dias.

O corpo de Gensai subitamente ficou pesado. Parecia perder as forças, e acabou afundando o corpo novamente na tina de água ainda fumegante. Ele inspirou profundamente. Não poderia mentir para Suzuka, nem mesmo pela segurança da moça. Devia a ela a verdade. Talvez, essa fosse um dos momentos nos quais ele seria forçado a enfrentar seus pecados... e a pagar por eles.

-“O nome que me foi dado por meu mestre é Kawakami Gensai, o mesmo de sua família. Porém, não foi esse nome que meus pais me deram. Esse nome se perdeu no tempo, por eu mesmo não lembrar dele. Meus pais morreram em um surto de cólera quando eu ainda era quase um bebê. Meu tio me vendeu como escravo a um senhor feudal.”

Os olhos de Gensai se fixaram nas águas tremulantes. A luz desapareceu novamente deles, que se tornaram mais uma vez opacos e profundos. Ele afundou na água até quase o queixo tocar a superfície do líquido. Tinha uma expressão neutra, e a voz monocórdia. Contava a história de forma quase protocolar, sem sentimento, sem emoção. Mas, Suzuka podia sentir naquelas palavras frias uma tristeza profunda. Como se algo sagrado estivesse quebrado e perdido além do conserto.

-“A minha vida se resumia a trabalho nos campos de arroz e abusos frequentes. Um dia, o capataz chegou bêbado e decidiu me culpar pela falta de chuva. Eu tinha dez anos de idade, e não tinha nome. Eu temi pela minha vida, e corri. Quando ele me acuou, eu agarrei o cabo de madeira da vassoura mais próxima, e então... Essas mãos fizeram a sua primeira vítima.”

Gensai ergueu as mãos e olhou para elas fixamente. Como se as odiasse. Tinha uma expressão repugnante no rosto, de puro repúdio. Desprezava as próprias mãos. Elas o enojavam profundamente.

-“O instrutor de Kenjutsu¹ do feudo estava por perto e me viu fugindo do capataz. Ele viu quando peguei o cabo de vassoura e usei como arma para proteger a minha vida daquele agressor, extinguindo a dele no processo. E ficou muito satisfeito pelo que viu. Ele me disse que tinha um presente muito especial para me oferecer.”

O rapaz deu um sorriso distante. Ele contou à Suzuka como se mudou para as montanhas e se retirou do convívio social, juntamente com seu mestre. Contou que o Shidoshi² o adotara, e dera a ele seu nome. E relatou como os anos se passaram em uma rotina de treinamento árduo, pouca comida e esforço constante. Mas falava com ternura sobre aqueles anos. Como se lembrasse de anos felizes, os poucos que tivera em sua curta vida. Mas mesmo esses anos eram marcados por treinamento infernal e fome constante.

-“Eu sentia que era forte. Sentia que poderia usar essa força para proteger as pessoas. Para impedir que sofressem. Implorei a meu mestre que me deixasse partir e me juntar às forças dos Monarquistas, que eu via como as pessoas que poderiam pôr um fim à essa era de dor, sofrimento, desigualdade e injustiça.

Aqui Gensai parecia estar à beira das lágrimas. Sua voz foi tomada por uma emoção transbordante, que fazia a voz vacilar enquanto a sua juventude lhe cobrava o preço e ele segurava o choro que forçava seu caminho à tona. Ele contou à Suzuka que quando o Shidoshi o proibiu, ele tentou fugir. E isso partiu o coração do homem que o adotara e o ensinara tudo o que sabia. E ele tentou impedi-lo à força. Eles lutaram. E aquelas mãos haviam feito sua segunda vítima.

Gensai levou as mãos aos cabelos, como se tentasse arrancá-los. Não conseguiu conter as lágrimas, consumido por demônios de profunda angústia que devoravam aquela alma tão jovem. Mas o arrependimento, a dor e a tristeza borbulhantes que vieram a tona por apenas um segundo foram rapidamente represadas e sufocadas, mais uma vez. E Gensai pediu desculpas à Suzuka pela demonstração breve de fraqueza. E retomou sua narrativa protocolar e monocórdia.

-“Parti então da montanha. Ouvi dizer que o feudo de Choushuu estava recrutando ronin, e viajei até lá com o objetivo de me unir às fileiras da guerra. Quando cheguei lá, eles estavam realizando testes. Katsura Kagoro, um dos Senhores de Choushuu, observava os testes. Ficou muito impressionado com minhas habilidades, e me tomou para seu serviço pessoal. Eu achei que seria um guerreiro das linhas de frente, mas ele me disse que tinha missões especiais para mim.”

Gensai então se ergueu da tina d’água. Não teve preocupações em esconder seu corpo nu de Suzuka, e a Geisha percebeu que sua nudez ia muito além da física. Gensai estava na sua frente, nu de todas as formas. Fisica, emocional e espiritualmente. Ele mostrava a ela cada canto de seu ser, para que ela visse e se repugnasse do que via.

-“E então eu matei. Homens, mulheres. Crianças. Perdi as contas de quantas vítimas essas mãos fizeram. Dezenas, centenas, tanto faz. Sou um Hitokiri, uma criatura das trevas, que destrói a era da injustiça e pavimenta o caminho da nova era com sangue. E vou matar muito mais. Muitas vidas ainda serão colocadas no altar da guerra até que a nova era chegue, e que todos possam finalmente, parar de sofrer. Até que as pessoas possam ser felizes. Possam estar em paz.”

Por um segundo, Gensai emanou uma aura de escuridão imponente. Como se fosse maior do que realmente é, como se fosse uma entidade solene, um deus da morte que havia aparecido diante de Suzuka e colocado seus olhos sobre ela.

Mas, logo em seguida, a aura desapareceu, e os ombros de Gensai se curvaram sob um fardo imensamente pesado. Ele parecia exausto. E sentou-se mais uma vez na banheira. Pegou uma esponja e começou a esfregar a sua pele. Bem mais forte do que deveria, como se tentasse limpar não apenas a sujeira, mas os pecados que o cobriam. A pele do rapaz começou a ficar vermelha com o esfregar.

A Geisha sentiu que ele tinha mais coisas a dizer. Que ele queria falar muito mais. Mas, assoberbado pelo peso do fardo que carrega, permaneceu em silêncio. Apenas o ruído da água da tina preenchia a noite escura.

”Notas”:

Diz o mito que, ao passar muito tempo preso nas trevas de uma caverna, um homem pode ficar cego ao ser exposto à luz do sol. Os mais fracos de espírito retornariam à caverna e à escuridão, aceitando a escuridão, temerosos da luz que machuca seus olhos. Abandonando o mundo da verdade e da luz em busca das sombras confortáveis em meio a escuridão.

Mas "fraco de espírito" não é algo que se possa dizer de Kawakami Gensai.

E era isso que Suzuka Ogho era para Gensai: Luz. Um raio de sol que penetrava e, aos poucos, dissipava as trevas profundas nas quais seu coração estava submerso. E ele não fugiu dessa luz. Entregou-se à ela, para que ela o cegasse, que o consumisse por inteiro. Tinha medo. Tinha dúvidas. Tinha cicatrizes profundas que ainda o assombrariam por muito tempo e que nãos seriam facilmente desfeitas.

Mas ali, naquele momento, com o calor daquele corpo e daquele amor, a determinação do jovem Kawakami Gensai em proteger a moça das próprias trevas falhou, e venceu o desejo humano, simples e verdadeiro, de amar e ser amado.

Quando os braços do samurai envolveram a geisha novamente, ela sentiu que o coração do homem hesitava. Um homem que enfrentara milhares de espadas, um oceano de dor e morte... tremia de medo diante de uma frágil donzela. Medo de amar. Medo de ser feliz. Medo do futuro.

Mas, quando os seus lábios se tocaram, e o fôlego lhe abandonou, a geisha também percebeu a determinação do samurai. Enfrentava seus temores de peito aberto. E seus braços hesitantes recuperavam aos poucos a virilidade e a firmeza, conforme o beijo se aprofundava, e o calor retornava e aumentava até se tornar uma chama de desejo incandescente.

Quando ele retirou do caminho o tecido que escondia a nudez da moça, e o calor dela se misturou ao dele, a respiração virou sussurro. As palavras não encontravam mais lugar. O medo desapareceu, as incertezas viraram cinzas, consumidas nas chamas do desejo de ambos os jovens corações.

E então os dois se tornaram um, e os sussurros viraram gemidos. A moça o apertava, como se desejasse que nunca mais ele saísse de dentro de si. E ele a puxava como se qualquer distância milimétrica fosse insuportável. A escuridão dele encontrou equilíbrio na luz dela, e o universo ficou em branco. Nada existia além deles, de seus gemidos, e do prazer intenso que os envolvia e os redimia.

Quando acordou na manhã seguinte, a jovem Geisha sentia o corpo dolorido, e nem lembrava como havia parado na cama, como se na noite anterior estivesse bêbada de desejo e de prazer. Mas estava feliz. E, ao seu lado, dormia o seu homem.

Kawakami Gensai dormia. Tranquilo. Em um sonho sem pesadelos, pela primeira vez em mil anos. Pela primeira vez, tinha o semblante do garoto que era.