Como não sabia como fabricar os remédios, Akemi acabou por se tornar a responsável em cuidar da plantação. Kaito ensinara-lhe o básico do trato com a terra, e plantaram juntos as diversas ervas medicinais que seriam necessárias para a fabricação dos remédios de Kaito. Ele parecia estar se divertindo, apesar de tudo. Kaito gostava do trabalho com a terra e com as ervas, e tinha quase sempre um sorriso satisfeito no rosto. Muito mais do que tinha quando Akemi o observava nos treinos no quartel general de Kyoto. Foi uma imensa surpresa o quanto ele conhecia de medicina e farmacologia. Kaito seria um médico muito melhor do que era espadachim, Akemi pensava, mas não atrevia a dizer ao amigo. Temia ferir-lhe os sentimentos.
A espada, aliás. Sentia falta da prática com a lâmina. Sentia-se nua sem sua espada do lado. Mas o disfarce obrigara-lhe a escondê-la, e agora quase nunca a tinha por perto. Temia que acabasse enferrujando. Encontrar um lugar isolado onde pudesse treinar e banhar-se tinha ocupado sua atenção no início. Mas logo descobrira um belo lugar afastado do povoado, longe das plantações. Os agricultores havia represado um rio, para que pudessem desviar a água que irrigava as suas plantações. E a barragem acumulara água suficiente para criar uma pequena lagoa. Seguindo o riacho por alguns minutos, alcançava-se uma pequena queda d'água. Era suficientemente longe do povoado para que poucas pessoas decidissem ir até lá, simplesmente não valia a caminhada. Akemi suspeitava que durante o verão o lugar ficasse infestado de crianças, mas agora o Outono avançava, e a temperatura congelante da água afastava qualquer interesse, não apenas dos pequenos, mas dos adultos também. Se pudesse suportar a água gelada, Akemi poderia banhar-se e treinar sozinha com a espada, sem se preocupar em ser vista.
-"Bom dia, Ishida-kun. As ervas têm crescido bastante, hein?"-- a voz arrastada da anciã trouxe de volta Akemi de seu transe. Era uma velha senhora local, que produzia leite e derivados em pequena quantidade, porque tinha uma vaca. Era uma senhora muito simpática e querida por todos, que a chamavam carinhosamente de baa-chan¹. Akemi nem sabia seu nome verdadeiro, pois a velha senhora já havia se apresentado dessa forma. Os cabelos brancos presos em um coque, os olhos bondosos e muito puxados e as mãos enrugadas e calejadas por uma vida de trabalho duro certamente inspiravam respeito e consideração.
-"Obrigada pelo trabalho duro! Por favor, passe lá em casa quando acabar. Tenho um queijo pra você e para seu irmão."- a anciã sorriu um sorriso desdentado, mas cheio de carinho
- Notas:
¹- Vovó