Livro I: Estrada

Muitos caminhos se encontravam nos primeiros momentos de preparação. Até os que estavam mais distantes do grupo que conversava no local podiam pelo menos ouvir a conversa e saber do que se tratava. Havia uma expedição sendo preparada - o barro pisoteado por pessoas e cavalos fazia um cheio doce da terra molhada subir nas narinas de todos, tinha um poder calmante - mas ao mesmo tempo, com a proximidade da montanha, o ar gelado chegava a incomodar um pouco os mais despreparados. Como o fluxo na cidade era muito alto e tinham um único interesse, boa parte das construções era um pouco decadente - Harsga era uma cidade de trânsito, alguns vinham para descobrir e outros para se aventurar, esses, os aventureiros, muitas vezes deixavam seus pertences abandonados por ali, pois nunca mais iriam retornar das montanhas. Era comum então ver sacas de comida estragada que não conseguiram carregar, carroças com partes faltando e animais soltos, sem dono.

- Aqui mesmo, meu rapaz.

Uma voz rouca saiu um pouco mais alta, no meio da multidão e um soldado com os brasões da família Madeirazul colocou um caixote de madeira velha no chão, em cima do mesmo barro pisado. Tão logo, o dono da voz apareceu. Era o próprio Lorde Madeirazul - quem talvez estivesse dedicando mais tempo e dinheiro para a expedição, tanto que ele próprio estava arriscando sua vida para acompanhar seus contratados na expedição. Tinha uma guarda própria e mais diversos mercenários, além disso, ao que parece mais e mais eram chamados para as fileiras da aventura, como deixaria claro em alguns instantes.

- Meus amigos! Meu nome é Kvass, patriarca da casa de Madeirazul. Sou o guardião do leste de Monte Ferro, por decreto de nosso rei, Khatar.

Pigarreou antes de continuar - eram raros os homens velhos, a teimosia os matava antes de qualquer coisa. Mas Kvass parecia estar bem de saúde e não tinha dificuldades para caminhar ou qualquer outra coisa parecida. Em seus trajes era possível perceber alguns pedaços de armadura protegendo algumas partes do corpo e tinha uma espada presa à sua cintura. Não era difícil de perceber que o homem tinha algum tipo de treinamento militar, mas mesmo assim, era um idoso e não devia ser fácil levar sempre esse tipo de peso para todos os lados - mas, contra o que 'parecia ser', ali estava ele. De pé e imponente. Retomou a fala, então.

- Muitos falharam nessa empreitada, mas talvez não tenham levado a sério como estou levando. É um momento importante para Bosia, meus amigos. Não sabemos quais são os poderes dessa espada, mas a Casa Madeirazul irá entregar essa arma nas mãos do rei e com ela, garantir a segurança do continente! Tenho um grupo grande comigo e disposto a aceitar mais seguidores, vocês sabem que tenho o dinheiro suficiente para pagar cada um de vocês, mas esse pagando será feito quando retornar para Harsga com a lâmina de esmeralda em mãos.

Deu um pequeno salto, descendo do caixote de madeira que tinha sido alocado para o mesmo. E disse então uma última frase.

- Partimos em algumas horas, na saída da cidade.

Alguns já tinham contratos (Barastyr), outros tinham ordens (Thersos) - os demais, acabavam de descobrir um jeito de se unir à expedição. Apesar do discurso empolgado de Kvass Madeirazul, a segurança não era o principal problema de Bosia, mas sim a fome. Se aquela espada fosse capaz de gerar qualquer tipo de alimento, seria útil para o rei. Caso contrário, o povo continuaria com dificuldades para plantar e cosneguir caça, ainda mais nas regiões mais frias.

William estava um pouco mais distante do grupo, mas conseguiu ouvir o discurso. Antes mesmo que pudesse decidir o que fazer - um dos soldados que passava por ali o respondeu, referente à sua rápida apresentação. O barulho ao redor era demais, mas aquele soldado conseguiu ouvir e ficou admirado inicialmente pelas palavras, parou um pouco e olhou o cachorro, voltou os olhos para William e por fim falou.

- Acho que você deve vir, bardo. Vai ser melhor morrer ouvindo uma música - mas não acho que seja uma boa ideia levar ele.

Referia-se a Ikarus.

A chegada do lorde foi um tanto quanto inesperada. Imaginava um jovem altivo que pretende conquistar o mundo e não um senhor já de idade. Ele parecia ter um preparo para aquilo, era verdade, mas não gozava das benesses da juventude. O homem coberto de armaduras apresentou o bardo que ali estava e que o próprio lorde já parecia inclinado a recebê-lo. Depois foi o arcanista que se apresentou.

Imaginou que aquela fosse a oportunidade. - Também falava com Barastyr oferecendo-me a seguir com a companhia. Me chamo Ghak. Posso ajudar na segurança e no tratamento com os moradores, pois sou das proximidades.