Seus passos ecoam no corredor escuro, seu som maculando o silêncio quase sagrado da madrugada. A porta da geladeira resiste a sua força por um momento e estala ao se abrir. O estalo e o som das garrafas na porta quase cobriu o som.
Que som?
A luz branca e débil que vaza junto com o frio ilumina a cozinha o bastante para evidenciar a escuridão. Deixar claro o quão sozinha ela estava. O quão profundas eram as sombras.
Ela tinha ouvido de novo? Era só imaginação?
Um ruído suave e amortecido, quase agradável. O distante estalar da lareira que seus passos tinham encoberto.
Não havia lareira.
Ela acorda com o despertador pintando as paredes de roxo e branco azulado. O silêncio do sonho preso na garganta. Era tão fácil acordada. Era tão fácil ouvir os passos caindo com os dela. Saber que não estava sozinha naquele sonho. Saber que a cada passo algo estava mais perto.
As cortinas fechadas eram espessas, impenetráveis para a luz do dia. A única iluminação no quarto dela era o telefone que insistia em tocar.
“Estamos todos apenas fingindo que sabemos o que estamos fazendo.”
Haru lutava para conter os tremores que percorriam cada centímetro do seu corpo. A sensação era arrepiante, como se algo estivesse presente como um espectador silencioso e invasor, se aproximando dela pouco a pouco. O lugar estranho crepitava em sua mente, enquanto a gibosa se revirava na cama, sua camisola rosa deslizando pelas curvas delicadas do seu corpo. A presença do sonho tentava se esgueirar para o mundo real, fazendo com que Haru se lembrasse da irmã Hana, que ainda dormia no quarto ao lado. Antes que pudesse se levantar para checar como ela estava, o toque do celular começou a cantarolar a música "Saints" da banda Echos .
“Alô”, ela disse, piscando algumas vezes e afastando os fios soltos do rosto. A escuridão silenciosa permeava tudo ao redor, enquanto ela tentava afastar a sensação de ser uma presa frágil em um mundo sem a família ou alcateia. Ainda atordoada, Haru lutava para manter a calma e tentava esquecer o sonho que ameaçavam consumi-la.
Visual:
Haru
Haru Choi Cahalith- Sombras Descarnadas — Somewhere far away Memórias
"Onde os guerreiros repousam seus corpos suas mortes são interrompidas. Sequestradas"
Silêncio.
"Então?" A voz estranha de um homem. "Eu ouvi e agora você também, sombra." O telefone bate contra o gancho. Quem usava telefone assim hoje em dia? Quem sabia o telefone dela?
Ela olha para tela e vê o número de um telefone público. Vê também uma notificação do seu serviço de e-mail, a instituição em que o tio estava.
"Cara senhorita Choi,
Informo por meio deste que seu tio, o Sr.Choi precisou ser sedado para escapar de um surto violento. Aconselho uma visita assim que conveniente.
Cordialmente,
Doutor H.H. Rariot"
Embaixo a assinatura corporativa padrão do Instituto de tratamento.
“Estamos todos apenas fingindo que sabemos o que estamos fazendo.”
Ela apertou o celular com tanta força que seus dedos doeram. A voz do outro lado parecia um zumbido distante e desesperador, ecoando em seu ouvido como um sussurro de terror. Ela sentia seu corpo se contorcer de medo, uma sensação que parecia estar em todo lugar, dentro e fora de si. Tão rápido quanto começou, a ligação terminou, deixando-a com mais perguntas do que respostas.
Como aquela pessoa sabia o número dela? O que mais sabia? O que queria? Um rosnado frustrado arranhou sua garganta, um reflexo de sua raiva e medo se misturando em uma explosão de emoções. Ela arremessou o celular na cama, com uma mistura de raiva e desespero. Aquela hora, Hana ainda dormia, mas ela sabia que sua irmã estava em perigo. Ela sempre estava.
Hana passava seus dias editando vídeos de maquiagem, cosméticos e receitas, postando no YouTube e em outras redes sociais. Era um trabalho que às duas faziam juntas, quando tinham um tempo livre. Mas agora, com essa ameaça, tudo parecia tão distante e insignificante. Quando ela finalmente pegou o celular novamente, sua camisola já tinha deslizado para o chão, deixando-a exposta e vulnerável. Só então percebeu ser um número de telefone público e uma notificação do seu e-mail.
Aquilo a deixou com o coração partido. “Eu vou cuidar de vocês do jeito que a Yuna faria, prometo meninas”, o tio Jae sussurrou para elas mais de uma vez antes de tudo aquilo acontecer. Haru estremeceu, lembrando da ligação e do medo que sentiu. A gibosa sabia que, se alguém tentasse machucar sua irmã ou seu tio novamente, ela seria capaz de qualquer coisa.
A cahalith estaria disposta a suportar a dor sangrenta que a perseguiu em seus pesadelos, só para se vingar daqueles que ameaçavam a segurança de sua família. A incerteza e o medo estavam lentamente destruindo sua sanidade, e ela se perguntou se teria coragem de enfrentar o terror que estava por vir.
Passando pelo quarto de Hana ela dormia enrolada nos lençóis pintados a mão. A irmã adorava pintar, enquanto Haru gostava da produção das cerâmicas e entalhes de madeira coisas que a mãe delas sabia fazer com maestria. Ela sempre deixava o pé do lado de fora, então Haru apertou de leve com carinho e saiu do quarto.
O banho foi extremamente relaxante, com a água quente aliviando a tensão e o aroma delicioso do sabonete líquido perfumando suavemente a pele. Ao sair do banho e se enrolar em uma toalha felpuda azul, ela começou a se arrumar e se sentiu como uma loba em pele de cordeiro, embora sua irmã Hana brincasse dizendo que ela era uma lobinha travessa. Logo ela estava pronta e deu uma última olhada no espelho antes de sair para fazer fotos com Hana.
Enquanto preparava o café, Haru deixou um bilhete para Hana, avisando que precisava ir ao instituto para descobrir o que aconteceu com o tio e pedindo para que Hana não abrisse a porta para estranhos. Às duas irmãs haviam cozinhado bolinhos no vapor recheados com carne e legumes na noite anterior e deixaram uma quantidade generosa.
Sua mãe costumava dizer que "pequenos gestos mudam o dia das pessoas", e as gêmeas estavam gratas por serem levadas para aquele lugar depois de tudo o que aconteceu após o ataque dos puros. Para mostrar sua gratidão, Haru deixou um pacote em cada porta antes de partir em sua moto em direção ao instituto para visitar seu tio e levar alguns Kyungdan como agradecimento à paciência de todos que cuidavam dele. Embora muitas vezes pensasse que as pessoas ali não eram muito dadas a expressar emoções, ela continuava a praticar seus costumes aprendidos com a mãe.
Após pegar sua moto, Haru partiu em direção ao instituto.
Visual,motinha e lanches coreanos:
Motinho
Bolinhos no vapor que ela deixa nas portinhas
Embalagens onde leva as coisas e coloca um recadinho fofo " Desejamos um ótimo dia para você" Haru e Hana
Doces que leva pro instituto
Haru
Haru Choi Cahalith- Sombras Descarnadas — Somewhere far away Memórias
Deu um bug ela se arrumou pra sair haha não tem nada haver tirar fotos com a irmã Mas quando rolar tô cheia de imagens pra cena haha e obg pela postagem @Wordspinner
Ela podia sentir o cheiro do medo, do sofrimento e da dor no lugar. Ela não sabia o nome oficial do bairro, mas os locais chamavam de alcatraz e assim que entrou ela queria sair. Queria dar meia volta e acelerar dali na velocidade que pudesse. Não que a sua moto fosse muito rápido nem quando ela queria.
As ruas eram calmas e vazias. Vazias não, evitadas. As pessoas pareciam não querer caminhar, não pareciam querer sair do seu refúgio seja ele qual fosse. Uma bela praça vazia, exceto por um trailer de sorvete e outro de burritos com suas respectivas filas ansiosas, ficava bem na frente do Instituto. De lá ela também podia ver a prisão, seus muros altos e opressivos chamavam atenção uma grade de metal pontilhada de torres circulava todo o perímetro. Um lembrete artificial do conflito do homem com a sua natureza. Lá ficavam os perdedores.
Ou pelo menos uma parte deles. A parte mais quebrada ficava no prédio limpo e estéril com estacionamento grande e arborizado que ela tinha que enfrentar. Nos fundos uma grade de metal parecida com a outra fazia um perímetro em volta de um belo jardim. Pelo menos deveria ser belo, agora era assustador e triste com as árvores desfolhadas cobertas de orvalho congelado. Garras negras e lustrosas tentando arranhar o céu. Os canteiros de flores vazios mostravam a terra escura que esperava a primavera. O som das cadeiras de rodas rangendo junto com gemidos e reclamações dos loucos era a trilha sonora perfeita. O lugar devia ser ruim para um humano normal, mas para ela? Dava arrepios.
Quando o companheiro ronco da moto cessou e ela teve de tirar o capacete a coisa pareceu piorar. Os pés já sabiam o caminho e a levaram sem que precisasse pensar nisso. Sem que desviasse a atenção do horror cotidiano que era tudo aquilo. O rotineiro desespero de uma prisão feita para liberar a mente, ou para acomodar uma alma derrotada demais para o confronto com as outras.
"Frio hoje." A enfermeira dizia passando apressada. A voz tinha uma simpatia cansada e o rosto carregava uma tentativa breve e miserável de sorriso. Já os pés, assim como os de Haru, sabiam o caminho e queriam sair logo dali.
A Cahalith passa pela porta de vidro que a mulher abriu enquanto ela fecha devagar. Lá dentro o recepcionista sorri educado, treinado e cordial. Bem diferente dos dois homens corpulentos parados ao lado de uma senhora de semblante alegre e sorriso maníaco ela parecia ter idade para ser avó com sua cabeleira branca, mas era alta e larga.
"Senhorita Choi, bom dia. Obrigado por vir tão prontamente." Não era a mulher. Era o recepcionista que saia da sua mesa cheio de compaixão na voz. "Doutor Rariot estará disponível em breve, porém com a resposta do seu tio aos medicamentos ele aprovou uma visita. Entretanto, não deve agitá-lo e nem provocá-lo."
O rapaz mostra um formulário com um termo de compromisso. Ela devia assinar e isentar a instituição de responsabilidade a danos que seu tio a causasse. A expressão dele era exatamente a média perfeita de encorajamento, compaixão e compreensão, porém não iria a lugar algum sem aquela assinatura.
--
Uma porta de metal com uma barra ativada remotamente. Não podia ser necessário, seu tio não era violento. A porta abre sem nenhum rangido, mas ela tinha rangidos o bastante vindo de dentro das outras celas. As luzes vinham de um vão nas bordas do teto. Nenhum móvel. Nenhum enfeite. Só o tio sentado no chão acolchoado.
O cheiro de sangue foi um golpe delicioso e a culpa veio logo depois, uma lâmina fria que torcia dentro dela. A parede branca estofada tinha rabiscos em coreano, alguns já pretos e descascando, todos eles imprecisos e tremidos. Bem na direção da porta uma tentativa de paisagem bem vermelha e viva. Um rosto familiar olhava para ela de lá. Não saberia dizer quem era.
"Eu preciso de tinta." a voz era calma e controlada. Sã. Mas os olhos que a encaravam não a reconheciam.
“Um piscar de olhos e o sangue escorreu vermelho. O cheiro tão acobreado quanto o dela. Um truque de luz. Uma alucinação, outro sonho...”
Haru percorreu as ruas vazias da cidade em sua motoneta, tentando decifrar os caminhos que ainda lhe eram desconhecidas. Ela sentia como se estivesse flutuando em um mundo cinzento e sem vida, mas não sabia se era a atmosfera de Dover ou seus próprios sentimentos que a deixavam assim.
Quando o trailer apareceu à vista, ela sorriu com o aroma de burritos e o sorvete derretido escorrendo pelas casquinhas. Mas sua alegria se transformou em tristeza quando avistou o instituto e a prisão ao lado, como duas irmãs cruéis competindo para destruir mentes.
Enquanto se arrastava pelos jardins secos e olhava para as grades negras como garras alcançando o céu, as árvores cobertas de orvalho congelado pareciam chorar. Os gemidos e murmúrios insanos ecoavam pela área, criando uma trilha sonora que fazia seus pelos se arrepiarem. Um vazio negro parecia se aproximar, ameaçando engoli-la.
Apesar disso, Haru manteve-se firme. Ela sabia que precisava ser forte pelo seu tio, que estava sendo mantido preso ali. Quando a enfermeira passou por ela, Haru ofereceu um dos doces que havia trazido e fez uma leve reverência educada. "Tenha um bom dia, senhorita", disse ela com um sotaque estrangeiro em sua voz. A gibosa respeitava aqueles que ainda tentavam manter um pouco de humanidade em um lugar tão opressivo.
“Obrigada.” Em seguida ela assinou os documentos sem hesitação e deixou alguns doces com o recepcionista, evitando interromper o trabalho dos outros funcionários. Quando se aproximou da porta de metal ativada remotamente, Haru respirou fundo antes de entrar. Ela sabia que havia muito mais do que seus olhos podiam ver ali dentro, mas tentou não deixar que os sons e luzes sinistras a afetassem.
Ao avistar seu tio, ela sentiu um soco em seu estômago e o cheiro de sangue invadiu suas narinas, despertando seus instintos. Ela se aproximou dele com compaixão e amor, oferecendo-se para encontrar tinta para ele e perguntando se precisava de mais alguma coisa.
Mas a sensação de impotência a envolveu, e Haru sentiu como se uma fera estivesse rasgando seu coração. Ela era uma Uratha, e deveria ser forte e feroz, mas naquele momento sentia-se fraca e vulnerável. Ela olhou para as paredes, tentando decifrar alguma pista, mas nada parecia fazer sentido. A Cahalith só queria poder ajudar seu tio, mas não sabia como. O desespero tomou conta dela, mas ela manteve sua máscara de determinação, prometendo a si mesma que encontraria uma maneira de libertá-lo. "Samchon, vou arrumar tinta na próxima visita", disse com os lábios trêmulos, lutando para não chorar.
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Doces que leva pro instituto
Haru
Haru Choi Cahalith- Sombras Descarnadas — Somewhere far away Memórias
O homem que a acompanhava coloca uma não no seu ombro.
"Ele pode ser perigoso agora. O procedimento é a senhora ficar fora da vista." Ela ouve o homem que não tinha dito nada até agora. Mas o tio lhe sorria educado, agradecido. Uma leve reverência. Pura etiqueta.
"Ele pode ser um perigo para ele mesmo se ficar agitado." Ela podia ver escorrendo do teto e das paredes, medo lento e escuro. Impenetrável, mas infeccioso.
A barreira entre os mundos era mais fina ali. Não tanto quanto seria em uma floresta intocada. Mas mais do que deveria em uma cidade, talvez o sofrimento rotineiro e a repetição dos traumas e pensamentos dos confinados deixasse um lado parecido com o outro. Cada cela era sua própria história e ainda assim eram iguais. Iguais de um modo que os olhos não conseguem ver. Iguais de um jeito que aperta o coração e devora a alma.
A porta de metal se fecha e um silêncio desconfortável segue até os outros enfermeiros chegarem e entrarem sem cerimônia. Ela vê o tio novamente por um momento tentando escrever na parede com dedos mordidos.
“Um piscar de olhos e o sangue escorreu vermelho. O cheiro tão acobreado quanto o dela. Um truque de luz. Uma alucinação, outro sonho...”
Ela se sentia perdida, sem saber como ajudar. Seu tio estava sofrendo e ela não conseguia aliviar sua dor. Era seu dever estar ali, mas a frustração a consumia de um jeito doloroso. Como ajudá-lo a se livrar do medo que o consumia? Sua insanidade era transitória ou ele estava em caminho para o fim inevitável?
De repente, a voz de um homem interrompe seus pensamentos e Haru sente uma fisgada forte no peito. A realidade a puxava de todos os lados, como se pudesse arrebentá-la a qualquer momento. "Desculpe…", murmura sem olhar para o homem, ainda focada em seu tio.
Enquanto observa seu tio tentando escrever na parede, ela sente o medo e o sofrimento impregnados nas paredes, como se fossem um mofo contagioso. Um arrepio percorre sua espinha vendo os dedos dele. Será que ele está tentando convencer a si de algo? Ou será que está tentando convencer a ela? A película ali é frágil e assustadora.
A jovem uratha não sabe o que dizer. Sente um nó na garganta, uma mistura de compaixão e medo. A gibosa só queria ser uma garota normal, vivendo um dia de cada vez e lidando com os dramas corriqueiros. Queria voltar para casa naqueles dias de verão cálido, com toda a sua família reunida. Mas seus ombros caem com seus braços, visivelmente vencida pela cena que vê.
No entanto, em seu íntimo, ela sabe que não está disposta a perder aquela guerra. Seu tio vai ficar bom e ela dará um jeito de conseguir isso. "Eu posso visitá-lo de novo?" Haru pergunta em um sussurro, quando as enfermeiras passam. "O Doutor Rariot está disponível agora?" São apenas duas perguntas, mas ela não desgruda os olhos do tio.
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Haru
Haru Choi Cahalith- Sombras Descarnadas — Somewhere far away Memórias
"O doutor vai te informar sobre as visitas minha querida." Ela diz fechando a porta. "Venha comigo por favor." Um toque leve no cotovelo de Haru e ela segue pelos corredores com uma lentidão estudada.
As duas caminham juntas para uma outra ala separada por uma grade automática que abre quando elas se aproximam. " Eu sinto muito." Ela diz assim que atravessam. "Um momento." Ela entra em uma porta branca e lisa que quando se fecha mostra o nome Rariot em letras simples e pretas. Algum material macio e fosco.
Poucos minutos depois a enfermeira sai e faz um sinal para ela entrar. "O doutor pode vê-la agora." A mulher espera e fecha a porta atrás de Haru. O silêncio que se segue é ensurdecedor. As portas e janelas e paredes do lugar eram a prova de sons. A janela dava para um refeitório e havia uma pessoa do outro lado do vidro fazendo caretas. A mesa do doutor ocupava a maior parte da sala e pastas e papéis ocupavam a maior parte da mesa. Alguns cadernos e outros objetos de escritório. Uma estante de cada lado da janela grande cobertas de livros de lombada séria e acadêmica. O cheiro era incenso e perfume amadeirado. Uma máscara de madeira na parede acima da janela e em cada uma das outras.
O homem em pé ao lado da porta tinha cabelos grisalhos já ralos sobre a testa, o rosto cheio de marcas de expressão ligeiramente bronzeado. Ele oferece um aperto de mão a Haru. Uma mão grande e suave. Ele parecia gentil apesar de também parecer um barril.
"Sinto muito que seu tio esteja aqui senhorita. Mas esteja certa de que fazemos o nosso melhor por nossos pacientes." Com ou sem aperto ele se move para sua cadeira e aponta uma a Cahalith. Uma cadeira séria, mas muito confortável.
Ele se acomoda e a olha por cima dos papéis como se não estivessem ali. "Muito obrigado por vir, pode ser sofrido ver aqueles que amamos nessa situação. Soube que ele teve um episódio novo hoje. Vai ser somado ao estudo que estamos fazendo. O trauma que sofreu não está nem perto de ser curado. Estamos mapeando as manifestações da sua dor e então teremos um plano melhor." Ele pausa como se fosse esperar ela falar, mas prossegue mesmo assim.
"Ele atacou um outro paciente. Um jovem muito frágil que não consegue falar. Seu tio gritava algumas coisas e queria perguntar se lhe soam familiar se alguma forma." Ele pega uma das muitas folhas.
""Eu te vejo! Você aí atrás! Não tenho medo de você!' Então ele ataca o garoto e grita o tempo todo: 'Eu vejo! Eu vejo!'. Quando o levaram ele murmurava coisas desconexas como espelho, medo e traição. Alguma coisa faz sentido para a senhorita?" Os olhos grandes e escuros fixos nela com uma curiosidade clínica e fria.
“Um piscar de olhos e o sangue escorreu vermelho. O cheiro tão acobreado quanto o dela. Um truque de luz. Uma alucinação, outro sonho...”
Pensamento Falas
Haru sente um arrepio percorrer sua espinha enquanto engole, em seco, as palavras do médico ecoando em sua mente. "Eu... eu não sei ao certo, doutor", responde ela, ainda sentindo um nó na garganta. Hana e Haru não conseguem se lembrar com exatidão do que aconteceu naquela noite. Era estranho, mas a irmã tinha lido sobre estresse pós-traumático e talvez fosse isso que estivesse acontecendo com as duas.
A Cahalith se recosta na cadeira, sentindo-se um pouco desconfortável com a objetividade do médico. Ela sabia que não poderia falar sobre o tio Nicolai, pois isso significaria revelar um segredo que poderia ser muito perigoso."O segredo é o que nos mantém vivos", seus tios costumavam dizer isso com frequência. Por isso, as meninas terminaram seus estudos em casa.
Era tentador ser "normal", mas elas sabiam que não podiam arriscar. "Eu entendo, doutor", diz ela, tentando manter a calma. "Mas como posso ajudar em algo? O tio me pediu tintas… Posso trazer?" A gibosa parecia inquieta na cadeira, como uma criança agitada. Tudo ao seu redor exalava um aroma que desencadeava um turbilhão de sensações em sua pele. A morte, a dor, a tristeza, o medo e as amarras que se prendiam aquele lugar eram como uma corrente pesada que a uratha ansiava por destruir de alguma maneira.
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Doces que leva pro instituto
Haru
Haru Choi Cahalith- Sombras Descarnadas — Somewhere far away Memórias
Ele pensa um longo momento antes de falar. "Nos temos tintas atôxicas e comestíveis, ele gosta de pintura com as mãos?" E então espera a resposta.
"Traga suas tintas na próxima visita, mas atôxicas e comestíveis. Tudo bem? Acho que pode ajudar ele a expressar a sua dor, nós deixar ver o problema ou a sombra que ele faz." O doutor se ajeita na cadeira e olha para trás seguindo o olhar de Haru.
Um momento antes o paciente que estava fazendo caretas na janela aponta para ela e diz, sem som, 'Eu vejo você '.
“Um piscar de olhos e o sangue escorreu vermelho. O cheiro tão acobreado quanto o dela. Um truque de luz. Uma alucinação, outro sonho...”
Pensamento Falas
Off: Quando puder delete a postagem acima @Wordspinner desde já obrigadinha
"Uma lástima. Poderia ser útil.
"Lamento, doutor, não ser capaz de ajudar", respondo em voz baixa, sentindo como se minhas pernas estivessem prestes a ceder sob meu peso. Quando meus olhos se encontram com o do paciente, que repete as mesmas palavras que meu tio, um arrepio percorre minha espinha como um véu de gelo. Sinto um filete de suor frio escorrer pela minha testa enquanto a voz do médico se torna distante, quase irrelevante.
Respiro fundo, fincando meus pés firmemente na realidade. Não posso me permitir ceder ao medo que lateja em meu íntimo. "Tudo bem, doutor", digo, misturando um pouco de coreano em minha fala. "Continuo tentando processar a situação do meu tio". Sorrio com esforço, sem mostrar os dentes, antes de desviar meu olhar do paciente. "Mas por favor, me diga quando posso voltar para vê-lo. Minha irmã gêmea também gostaria de visitá-lo."
As palavras do médico ecoam distantes em meus ouvidos, como se estivessem sendo proferidas em outro mundo e se repetindo incessantemente. É como se eu estivesse presa em um estado de transe, lutando para assimilar o que ele estava dizendo, mas as palavras parecem escapar da minha compreensão. É uma sensação estranha e desconfortável, como se eu estivesse fora de sintonia com a realidade. Então tento afastar isso da minha mente, mas é difícil. Sinto meu coração pesado e minhas emoções tumultuadas enquanto caminho em direção à minha motoneta. Respiro fundo e passo as mãos pelos cabelos, sentindo-me vulnerável e exposta em uma vida que exige força constante.
Decido me encaminhar para a fila de sorvete e sentido uma súbita vontade de saborear uma casquinha gelada. A fila é longa, mas não me importo. É reconfortante estar cercada de pessoas comuns, em busca de algo simples e prazeroso. Enquanto espero, permito-me um breve momento de paz, esquecendo as preocupações e ansiedades que me atormentam. Quando chega a minha vez, peço educadamente: "Por favor, um sorvete de chocolate, mirtilo e morango". Pago com uma gorjeta generosa e suspiro, lembrando-me de que todos lutam para sobreviver em um mundo cinza.
Saboreio meu sorvete enquanto encosto na motoneta, um achado vintage que me faz pensar na minha mãe. Quando termino, limpo minhas mãos com um lenço úmido que tenho na bolsa e me sinto mais encorajada a voltar para o meu pequeno apartamento. O mundo é um lugar difícil, mas estou determinada a lutar por mim mesma e pelos outros.
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Haru
Haru Choi Cahalith- Sombras Descarnadas — Somewhere far away Memórias
Haru: Mas por favor, me diga quando posso voltar para vê-lo. Minha irmã gêmea também gostaria de visitá-lo.
"Provavelmente em um ou dois dias. No horário habitual. Vai receber a ligação." Ele provavelmente sorri acolhedor enquanto a guia até a saída.
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As pessoas esperam na fila do sorvete como quem espera na montanha russa. Uma eletricidade silenciosa de em se enfrentar o medo. Medo que parecia encarar em cada reflexo olhando de dentro dos olhos dela, esperando para sair do escuro dentro dela.
O sorvete era gelado e doce. Intenso e azedo. Muito cremoso. O atendente era mal humorado, mas servia com generosidade. Nenhum sorriso. Só uma remungada sobre o frio.
No caminho para casa o trânsito era leve. Nada preocupante. Nada exceto as pessoas que sempre olhavam para ela quando se via em um reflexo.
Quando a irmã fala com ela é um alívio que as palavras não sejam " Eu vejo você ".
"Onde cê foi?" Não era inglês. Ela ainda tinha uma cara de sono mesmo estando molhada do banho com uma toalha na cabeça. "Não te vi quando acordei. Acordei e tava sozinha." Uma cara de triste perfeitamente fofa.
“Um piscar de olhos e o sangue escorreu vermelho. O cheiro tão acobreado quanto o dela. Um truque de luz. Uma alucinação, outro sonho...”
Pensamento Falas
Off: Quando puder delete a postagem acima @Wordspinner desde já obrigadinha
Voltei pelo caminho até aquele pequeno apartamento, o lugar que mais se assemelhava a um lar para nós. Tirei os sapatos e, assim que entrei, enfiei os pés em um chinelo estampado com corações. Ainda havia algo juvenil e rosado pairando ao meu redor. Encontrei Hana com aquela expressão adorável, embora ela geralmente seja debochadamente ácida, uma herança clara de nossa mãe.
No meu caso, eu tinha facilidade em dissimular o que realmente sentia e mascarar tudo com um sorriso doce. Mas Hana conseguia ler-me tão bem quanto eu conseguia fazer o mesmo com ela.
"Recebi um e-mail do instituto. Fui ver o tio, ele continua do mesmo jeito..." Não segurei o assunto, não adiantava adiar a realidade. Não queria mencionar o que havia acontecido com o paciente, mas aquele maldito medo continuava a arranhar a superfície do meu semblante.
Sirvo-me de um pouco de chá gelado e sento-me à mesa redonda de madeira, com duas cadeiras. Aquele lugar era uma bênção, embora todas as alcateias daquela cidade ainda fossem um mistério para mim.
Mas eu sempre me sentia pronta para lutar contra qualquer uratha que tentasse se mostrar ou agir como um filho da mãe em relação a nós. Minha irmã e meu tio eram meu território íntimo. Eu me esforçava para mantê-los bem, então soltei as palavras da mesma maneira que aprendi com nossos tios. "Andei sonhando com algo espreitando na escuridão e no hospital há uma sensação macabra, além de um paciente soltar 'Eu te vejo'." Hana era feita de vento, você não consegue prender minha irmã em amarras comuns. O que assustaria outras garotas, para nós era apenas diferente. Nós somos feitas de um material caótico agora, depois de tudo pelo que passamos, especialmente a parte frustrante de não lembrarmos de certas coisas.
"Nada de ficar vagando sozinha por aí, especialmente com esses lobos daqui. É preciso ter uma atenção redobrada, pois esses não são os carinhas com os quais lidamos virtualmente." Hana tinha suas habilidades para lidar com investidas e se defender, mas contra um uratha, era necessário muito mais do que isso, e até onde eu sabia, minha irmã não era feita de titânio.
"Esses são famintos e, desta vez, não temos o tio Nicolai para fazê-los ficar com a cara desfigurada ou faltando um pedaço..." Ri ao relembrar como ele mantinha sua alcateia protegida. Era como se ele fosse o pai de todos, ao mesmo tempo carinhoso e assustador. Ele exalava o aroma da terra e da chuva, algo que me fazia tão bem. Seu abraço era quente e acolhedor, e sua risada contagiante. Cerrei os punhos, pensando em tudo, e ao lembrar de Hana, respirei fundo antes de tomar outro gole de chá. Era necessário manter a calma e reunir forças para enfrentar os desafios que estavam por vir.
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Haru
Haru Choi Cahalith- Sombras Descarnadas — Somewhere far away Memórias
"Porque você foi sem mim?" A voz tem uma seriedade cortante. Ferida. " Porque eu fiquei dormindo em casa?" Ela dá um momento para Haru. Não mais. "Não sou um jarro. Não sou um prato. Eu tenho um tio." A voz mais aguda como passos descalços em cacos de vidro.
"Ele não mudou mas é o único que eu tenho."
A mágoa só fica segundo plano quando ela fala dos sonhos. Da coisa espreitando na escuridão.
"Eu vou onde eu quiser." Ela fala como se não fosse a lugar algum. "Não é como se eu conhecesse alguém por aqui."
"É tão sozinho aqui. Tão azul." Ela fala fazendo aspas com os dedos.
Ela tira a toalha da cabeça e anda até a geladeira. "Tanta fome."
O dia passa devagar e as sombras vão aumentando lá fora. Ela se deita para dormir e a voz do telefone invade o momento de solidão confortável. "Sombra, você precisa ver. Os guerreiros não podem descansar. Estão perdidos. Vagam."
“Estamos todos apenas fingindo que sabemos o que estamos fazendo.”
Eu ouço ela dizer que não era um jarro e que queria ter ido. "Nunca disse que você é um objeto, só que não sabia se era uma boa ideia nós duas aparecermos juntas." Bem, realmente não tinha certeza se deveria levá-la comigo, mas talvez na próxima vez ela devesse ir. "Na próxima, você entra e visita ele." Meu tom é afetuoso. Às vezes, sinto-me paralisada, com um medo subjacente de guardar meus sentimentos, com receio de parecer fraca ou tola. "Ele é nosso tio, Hana, eu sei disso muito bem, assim como você sabe que as coisas não são como antes. Não temos mais nossa alcateia para nos proteger, e depois de tudo o que aconteceu na fazenda, não tenho ideia de como vamos lidar com as coisas aqui..."
Levanto-me e levo meu copo comigo. O som da água borbulhando dentro do recipiente de vidro, uma pequena trinca nele. Acho que nós duas também temos nossas trincas adormecidas. "Vá para onde eu achar que deve ir." Minha voz é estranhamente firme, assim como nossa "Umma" (forma carinhosa da palavra "mãe"). "Você se lembra do que os tios diziam: 'o outro lado da cerca é onde o predador caça os desavisados'." Meu olhar se fixa no dela, o ônix dos seus olhos se mescla com o meu. "Eu não quero te sufocar, não quero te prender, unnie, mas por enquanto, até entendermos o que está acontecendo, redobre a atenção, por favor... Se algo acontecer com você..." Meu tom carrega uma chama ardente que queima profundamente na minha alma, minhas mãos apertam o balcão frio da pia com força. Somente depois me viro para Hana, vendo-a fazendo aspas com os dedos, e me forço a sorrir, afastando o sentimento de posse que tenho em relação a ela e ao meu tio. Eles são tudo o que tenho agora. Meus braços a puxam pra perto com carinho.
"Em breve, tudo vai se encaixar, vamos voltar a sair juntas, fazer tudo o que gostamos, mas por enquanto, me escuta, tá?!" Nunca fui a mais sensata das duas, sempre fui a briguenta, embora a personalidade da minha irmã possa ser tão feroz quanto a minha quando provocada. "Na próxima visita, vamos juntas, e lembre-se, você tem a mim também." Me afasto da pia e me arrasto para o banheiro. Um banho quente e o aroma de morango enche o ar, graças a um esfoliante corporal que fizemos há algum tempo. Adoro aquela atmosfera doce. O restante do dia é dedicado a calcular gastos. Chamo minha irmã para pesquisar lugares para alugar, montar a loja de artesanato, retomar a venda de chá e cosméticos naturais.
Depois, conversamos sobre coisas triviais, dou uma olhada nas mensagens que recebemos e anoto as que são em busca de parceria. Pelo menos é um breve momento de normalidade que me faz bem. Gravamos alguns vídeos juntas. Ela é fofa em cada gesto, acabo sendo a irmã com carinha mais birrenta. Nós costumamos cantar juntas, Hana chegou a dizer que devíamos ganhar alguns trocados em barzinhos, mas nossos tios nunca foram a favor, a proteção deles era imensa, tio Nicolai bem mais que tio Jae.
Depois eu dizia “ Você edita as coisas, preciso dormir por farvozinho..Juro que da próxima vez eu faço.” Fiz uma carinha fofa. “Cê sabe que você é meu amor todinho né?” Estava mais leve e sabia que ela me daria uma bronca por não ajudar na edição. Aproveito pra mostrar a caixa com cosméticos recebidos de uma marca vegana. “ Você testa e me diz qual é o melhor pra minhas pontas ressecadas.” Mostrava o meu cabelo, ultimamente andava tudo tão corrido que não me dava a tanto luxo de me cuidar por horas, embora como qualquer garota eu quisesse.
No quarto.
Assim que entro no quarto, meu coração se aperta e uma onda de melancolia toma conta de mim. Visto a camisola azul repleta de estrelinhas amarelas, como se elas pudessem me trazer um pouco de conforto e magia. Me enrolo nas cobertas, buscando um refúgio naquela pequena fortaleza que criei para mim mesma. Com o celular em mãos, começo a percorrer as fotos, deslizando meus dedos pela tela. De repente, me deparo com uma imagem que me traz uma mistura de alegria e tristeza. É o tio Jae, em um almoço de domingo, ao lado de Nicolai, com aquele sorriso acolhedor que sempre aquecia meu coração. Naquela ocasião, a alcateia estava reunida, cada membro ali representado. Por um instante, sinto uma pontada de dor ao lembrar dos nomes deles, temendo reviver a cena horrível de ossos quebrados, cinzas flutuantes e o cheiro sufocante de carne queimada.
Desvio o olhar para o teto do quarto, meus olhos marejados e sem foco. Uma lágrima solitária escorre pelo meu rosto, carregando consigo a saudade que consome minha alma. "Oh, Umma, como sinto sua falta...", sussurro em um fio de voz, deixando minhas palavras se perderem no vazio do quarto. As memórias daqueles tempos felizes e seguros inundam minha mente, trazendo consigo a dor dilacerante da perda. Minha respiração fica ofegante, meu peito apertado como se uma tempestade feroz estivesse desabando dentro de mim. As lembranças da presença amorosa de minha mãe são como facas afiadas perfurando meu coração, deixando cicatrizes emocionais profundas.
Mas, mesmo envolvida pela tristeza, eu guardo uma centelha de esperança. Sinto que, de alguma forma, o amor e a proteção da minha mãe estão presentes, mesmo que de uma maneira etérea. É como se sua presença me envolvesse em um abraço reconfortante, sussurrando palavras de encorajamento em meu ouvido. Mesmo que ela não esteja fisicamente aqui, seu espírito e suas memórias vivem em mim, guiando-me nas estradas sombrias da vida. Enxugo as lágrimas, determinada a seguir em frente. Abraço meu celular com força, segurando-o como um amuleto de conexão com o passado. Meus olhos pesam e tudo ao meu redor está em silêncio, até que aquela voz ressoa de forma invasiva. "Que guerreiros?", murmuro como se apenas balbuciasse algo. "Quem é você?" .
Haru
Haru Choi Cahalith- Sombras Descarnadas — Somewhere far away Memórias
Haru: Não temos mais nossa alcateia para nos proteger, e depois de tudo o que aconteceu na fazenda, não tenho ideia de como vamos lidar com as coisas aqui...
"Mais razão pra não me deixar pra trás. Toda visita pode ser a última chance de ver o nosso tio."
Haru: "Você se lembra do que os tios diziam: 'o outro lado da cerca é onde o predador caça os desavisados'."
Ela sustenta o olhar de Haru como ela esperava, sem desvios.
Haru: Se algo acontecer com você..."
Ela aceita o abraço da irmã e sussurra: "Você não vai deixar nada acontecer comigo. Nunca."
Haru:"Na próxima visita, vamos juntas, e lembre-se, você tem a mim também.
"Assim é bom, é a minha irmã." ela sorri envergonhada.
Haru: Você testa e me diz qual é o melhor pra minhas pontas ressecadas.
Ela deixa as expressões todas caírem do rosto. "Me subornando com isso?" Ela olha a embalagem devagar. "Se não for bom eu fico com a sua parte" Então ela pega a caixa e corre para dentro.
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Haru: "Quem é você?"
Ela ouve do lado de fora alguma coisa se movendo. Chegando mais perto da janela. Lento. Leve. O som de algo duro arranha o vidro.
A face pequena olha para ela do escuro. Os olhos quase podem falar.
As luzes do quarto vacilam. Ela sente o frio cinza do dromo. O gato não está mais lá.
O mouse sem fio dela cai no chão sem nenhum aviso. Em cima da mesa o gato preto olha para ela enquanto lambe uma patinha com garras brancas e afiadas.
"Não." a primeira língua é um som quase esperado. "Quem é você?" Os olhos amarelos cheios de julgamento
Cahalith- Sombras DescarnadasHaru ChoiO que não provoca minha morte faz com que eu fique mais forte.
"Enquanto a neve cai e os ventos brancos uivam, o lobo solitário perece, mas a alcateia persiste!"
A onda de tremores percorre meu ser como um ser rastejante e pegajoso, uma massa de patas que desliza sobre minha pele, provocando arrepios que se espalham. A presença do visitante vindo de terras desconhecidas traz à tona lembranças de um veludo negro e suave, uma tentação tátil que anseio por afagar. Seus olhos dourados possuem o dom misterioso de sondar minha essência, uma leitura inquietante que se alinha com as danças de luzes no meu quarto.
O gato, uma vez sólido e presente, evanesce como uma quimera nascida de minha própria mente. No entanto, plenamente consciente de que há mais além dessa forma fugidia, minha atenção se volta para o leve som de um objeto caindo. Num átimo, viro-me e lá está o felino, fitando-me com a confiança altiva que só a sua espécie possui. Seus olhos parecem destilar uma sabedoria ancestral, transbordando com enigmas e promessas. E então, daquela boca que deveria apenas entoar ronronares, emerge uma voz, uma língua que ecoa dos primórdios.
"Eu sou aquilo para o qual fui criada, sou o Coração da Sombra, e pergunto: o que desejas?"
Minha resposta escapa com uma reverência implícita, uma homenagem à grandiosidade que ultrapassa as barreiras do meu entendimento. Recuso-me a erguer-me com soberba, acreditar que posso decifrar todos os mistérios apenas por ser parte de uma tribo que navega entre a vida e a morte, que explora os recônditos de terras sombrias e universos alienígenas mais intensamente do que as almas comuns.