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    O Expurgo - Capítulo I

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    Mensagem por JTaguchi Seg Ago 10, 2020 7:06 pm

    Ser um vigilante é o maior atestado de loucura que existe. Ainda mais no Rio de Janeiro.

    Hugo e Bárbara sacaram isso assim que viram o estado em que Maria voltou do assalto na Urca. A garota, que agora estava forçadamente repousando na casa de Heitor, tinha levado três tiros durante o confronto e precisaria de um tempo para se recuperar. Enquanto a parceira não voltava, Walther decidiu cuidar de alguns aspectos da vida pessoal e realizar poucas missões sozinho.

    A coisa toda não seria pior se não fosse o fato de o crime nunca cessar. Embora faltassem vigilantes, nunca faltava trabalho. Isso, por incrível que pareça, podia ser encarado como algo bom. Afinal de contas, os vigilantes não tinham recrutado novos agentes para simplesmente não fazer nada. Era necessário um pouco de ação.

    Depois de semanas de treinamento e espera, chegou uma mensagem pelo canal secreto no celular: Reunião na base hoje às sete. Não se atrasem.

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    Mensagem por Count Zero Ter Ago 11, 2020 2:30 am


    Hugo velava pela sua paciente. Ele contemplava Maria Eduarda com um olhar zeloso, enquanto ela dormia de forma profunda, com uma respiração pesada. Ele colocou a mão sobre a fronte dela para verificar se ela estava com febre, mas quando percebeu, se pegou acariciando seus cabelos.

    “Então foi isso que escolheu para você? Bom! Há! Há! Há!”, ouviu novamente aquela voz cavernosa na sua mente e, quando olhou para o pequeno espelhinho preso na parede do lado oposto, não viu o seu reflexo, mas apenas a escuridão total, mesclada em um par de olhos vermelhos flamejantes e uma boca composta unicamente de presas,escancarada em um sorriso.

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    “Liberte-me… Liberte-me e eu expurgarei a vida, propagarei o nada e tornarei você o centro do vazio!”, falava aquele rosto no espelho.”Onde o nada impera, também impera a paz. O vazio é o maior temor dos indignos, pois com o fim da existência, nada sobra. O esquecimento é inevitável!”. Naquele momento Hugo caminhou a passos lentos porém decididos até o espelho.

    – É essa a solução, então? – perguntou para o espelho. – Aniquilação? Devo soltar a besta?

    “Yes! Death is just a tiny part of justice. I am not only Death. I… AM… OBLIVION! HÁ! HÁ! HÁ! HÁ! HÁ!”

    – HÁ! HÁ! HÁ! HÁ! HÁ!I AM OBLIVION! HÁ! HÁ! HÁ! HÁ! HÁ! – e então calou-se assustado. Não sabia o que havia acontecido, mas estava caído de joelhos e flagrou-se gargalhando. Por que estava falando em inglês? Não sabia dizer, mas o nome Oblivion havia ficado em sua mente como uma cicatriz feita a ferro quente fica na carne.

    Ele se levantou e voltou a encarar o espelho. Nada além do seu rosto empalidecido, desta vez. Virou-se e olhou para Maria Eduarda, que ainda respirava pesadamente. Será que ela havia acordado? Tudo indicava que não, mas o fato de pensar que ela poderia ter visto e ouvido o que ocorreu a pouco era constrangedor. Isso o fez pensar em várias coisas. Estava grato por Maria ter salvo sua vida, mas por que havia aceitado tão rapidamente essa proposta maluca? Alguém mais são teria ponderado por mais tempo a ideia de abraçar um estilo de vida caótico e violento, não é?

    “Não… Eu fiz certo”, agora falava em pensamento para si mesmo. “O mundo é caótico e violento, não importa como escolhemos viver. Estamos no inferno e assim sendo, é melhor ser um demônio do que ser uma vítima. Risco sempre vamos correr, não importa o que aconteça. Devo entregar ao esquecimento aqueles que ameaçam o mundo. Sem vida, sem problemas. Apenas a paz do vazio absoluto…”

    Ele então refletiu sobre sua roupa, sobre seus apetrechos e sorriu. Estava fazendo um bom trabalho. Aqueles que cruzassem seu caminho sentiriam a mais pura agonia e a mais escruciante dor antes de serem tragados pelo nada eterno, e ninguém jamais sentirá falta deles.

    Seus pensamentos foram interrompidos por um alerta sonoro provocado pelo smartphone. Uma mensagem do canal particular – secreto – havia chegado.

    Reunião na base hoje às sete. Não se atrasem

    – Vamos, Oblivion. Vou te dar algumas almas para se alimentar – falou sorrindo, enquanto deixava o quarto de Maria e se dirigia para a base.

    Tema de Oblivion:

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    Mensagem por Dracone Qui Ago 13, 2020 4:03 pm

    Estava em seu quarto, era manhã e o sol entrava sutilmente pelas cortinas da janela. Ainda não tinha tomado café com sua mãe e tinha acordado com uma sensação diferente hoje. Como um chamado interior, como se sentisse que algo estava prestes a acontecer.

    Contemplou por alguns minutos o florete repousando sob seu altar, aos pés da santa, como que ofertado à ela. Sentia uma estranha euforia ao pensar em usar aquela arma e tudo o que o padre havia ensinado em combate e sentia que a hora estava chegando. A vela de seu anjo da guarda estava quase no fim e a chama se mantinha pequena e serena dentro do cilindro de vidro. Lhe acalmava um pouco olhara para a pequena chama.

    - Sinto que algo está próximo. Deus tem falado comigo como nunca antes por meio dos seus sinais.

    Bárbara nunca tinha tanta certeza em sua vida de que aquilo era o certo. Era certamente um instrumento na mão dos santos e dos anjos e de Deus para trazer justiça à essa terra, ela tinha convicção disso. Sem falsa modéstia, não era um privilégio. Era porque mais ninguém era capaz de fazer além de alguns loucos envolvidos. Mas colocar a mão no sangue, bem... esses são ainda mais raros de achar. Ela, Hugo, a Rosa vermelha e o Carrasco no meio de uma cidade inteira.
    Se perguntava se isso parecia terrível aos outros vigilantes apesar da obrigação, ou todos estavam plenamente convictos, assim como ela, de que tudo isso era necessário? O purgatório existe. O inferno existe e são necessários. Eles eram necessários.

    Depois de muitas semanas treinando até seu corpo não aguentar mais recebeu o tão aguardado chamado.

    Mensagem escreveu:Reunião na base hoje às sete. Não se atrasem.

    Finalmente, poderia colocar tudo o que aprendeu em prática. Seria rápida e clemente. Porque a morte às vezes é uma demonstração de piedade com a outra criatura. Olhou seus trajes cuidadosamente costurados ao longo das semanas escondido em um canto do guarda-roupas e respirou fundo.

    - Que seja feita a tua vontade, finalmente.
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    Mensagem por JTaguchi Qui Ago 13, 2020 6:01 pm

    Os dois se dirigiram para a principal base: a sede da Gladius, companhia de segurança privada com funcionários de várias partes do mundo. A empresa, que vinha ganhando notoriedade por causa do alto nível de qualidade de seus operadores, também começava um estranho trabalho em terras brasileiras - muitos de seus contratos eram feitos com forças policiais de todo o Brasil, onde veteranos de guerra norte-americanos, ingleses, australianos, franceses e israelenses compartilhavam suas experiências e doutrinas de combate com policiais e militares brasileiros.

    O que ninguém imaginava é que, secretamente, a Gladius também financiava os vigilantes que chacinavam a população criminosa do Rio.

    A reunião acontecia sempre no subterrâneo de um dos galpões da empresa que servia de depósito para coisas inúteis onde ninguém entrava. Os dois entraram pela porta dos fundos e desceram uma escada escondida que dava para o subterrâneo, onde os equipamentos eram escondidos. Ali, encontraram Heitor elegantemente vestido num terno feito sob medida - ambos nunca o tinham visto em trajes informais - acompanhado de um homem negro e alto que vestia um macacão de encanador.

    - Boa noite, senhores. - cumprimentou ele, depois indicou o homem ao seu lado. - Este é Manoel, um dos nossos amigos. Atua principalmente na Rocinha.

    Manoel deu um sorriso descontraído e cumprimentou os recém-chegados com um aperto de mão.

    - Prazer, pessoal. - disse. - Durante o trabalho, vocês vão me chamar de Lixeiro. No resto tempo, Mané está de bom tamanho. Se estiverem precisando de um faz-tudo, podem me chamar. Eu faço de tudo mesmo.

    Então o Lixeiro da Rocinha era um deles. Menos conhecido que a dupla clássica mas tão brutal quanto, o Lixeiro atuava quase que exclusivamente na favela, onde facções criminosas dominavam e competiam por território. Conhecê-lo foi uma surpresa, mas nem tanto.

    Heitor retomou a palavra.

    - Ele vai supervisionar vocês na primeira missão. - anunciou. - Que vai acontecer justamente na Rocinha.

    Ele ligou um projetor que lançou uma imagem na parede. Eram prints de várias reportagens em diferentes jornais digitais, todas falando sobre o mesmo assunto: um assassino em série que, sob o disfarce de motoqueiro, estuprava e matava mulheres na noite carioca. A polícia estava em seu rastro, mas ainda não tinha nenhuma pista relevante para a resolução do caso.

    - Esse assassino está atuando há sete meses, e já matou cinco mulheres. - disse Manoel, com uma expressão séria. - Quatro delas eram minhas conhecidas lá do morro. Por causa do tráfico, a polícia não consegue investigar o caso direito e a história continua muito mal contada. A parte boa é que temos uma ideia de quando ele atua: sempre próximo da mata, onde a iluminação é ruim e tem lugar de sobra para esconder corpos. Além disso, todas as vítimas morreram em noites chuvosas.

    "Outro detalhe importante e bizarro é que todas as vítimas tiveram o couro cabeludo arrancado. Não se sabe muito mais do que isso."


    - O trabalho de vocês vai ser simples. - disse Heitor. - Vocês vão se infiltrar na Rocinha e fazer uma tocaia no lugar onde a maioria das vítimas foi morta. Se vocês conseguirem pegar o maldito ainda com vida, tentem extrair informações sobre onde encontrar os corpos e, de preferência, uma confissão dos crimes cometidos. Não se preocupem em ser piedosos: Marcelo Fraga vai ficar com essa função.

    "E, caso vocês se interessem, temos previsão de chuva para a madrugada de hoje. Por sinal, estamos numa quinta-feira: os bailes funk da favela já começaram. Alguma dúvida?"


    Assim que todos as dúvidas foram tiradas e os vigilantes se equiparam, Manoel os fitou com um sorriso no rosto. Parecia animado.

    - Então, garotos - disse, esfregando as mãos. - Estão prontos?
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    Mensagem por Count Zero Sex Ago 14, 2020 8:47 am



    Quando Hugo adentrou o território pertencente a Gladius e se dirigiu ao local da reunião secreta através da entrada dos fundos, ele percebeu que não havia sido o primeiro a chegar. Aquela moça, Bárbara, já estava lá e, junto com Heitor, um homem alto que ele ainda não conhecia sorriu para ele assim que o viu.

    – Boa noite, senhores – cumprimentou Heitor, depois indicou o homem ao seu lado. – Este é Manoel, um dos nossos amigos. Atua principalmente na Rocinha.

    – Prazer, pessoal – disse Manuel. – Durante o trabalho, vocês vão me chamar de Lixeiro. No resto tempo, Mané está de bom tamanho. Se estiverem precisando de um faz-tudo, podem me chamar. Eu faço de tudo mesmo.

    Hugo cumprimentou Manuel com um aperto de mão, surpreso por saber que ele também fazia parte do time de matadores particulares de Heitor. Ele cumprimentou Bárbara com a mesma formalidade, afinal ele ainda não a conhecia muito bem.

    – Ele vai supervisionar vocês na primeira missão – falou Heitor sobre Manuel, retomando a palavra. – Que vai acontecer justamente na Rocinha.

    “Ótimo lugar para começar o processo de purificação… Héh, héh, héh, héh…”

    Heitor então fez uso de um projetor que mostrava reportagens na maior parte dos slides. Um matador. Um motoqueiro matador…

    – Esse assassino está atuando há sete meses, e já matou cinco mulheres – disse Manoel, com uma expressão séria. – Quatro delas eram minhas conhecidas lá do morro. Por causa do tráfico, a polícia não consegue investigar o caso direito e a história continua muito mal contada. A parte boa é que temos uma ideia de quando ele atua: sempre próximo da mata, onde a iluminação é ruim e tem lugar de sobra para esconder corpos. Além disso, todas as vítimas morreram em noites chuvosas.

    “Iluminação ruim… Escuro… Meu lar…”

    – Outro detalhe importante e bizarro é que todas as vítimas tiveram o couro cabeludo arrancado. Não se sabe muito mais do que isso.

    “Um souvenir? Que tolice… A destruição tem que ser completa! Limpa! Total! Sem resquícios! Sem lembrança! Oblivion!”

    Hugo voltou dos seus pensamentos quanto percebeu que Heitor havia voltado a falar.

    – O trabalho de vocês vai ser simples. Vocês vão se infiltrar na Rocinha e fazer uma tocaia no lugar onde a maioria das vítimas foi morta. Se vocês conseguirem pegar o maldito ainda com vida, tentem extrair informações sobre onde encontrar os corpos e, de preferência, uma confissão dos crimes cometidos. Não se preocupem em ser piedosos: Marcelo Fraga vai ficar com essa função. E, caso vocês se interessem, temos previsão de chuva para a madrugada de hoje. Por sinal, estamos numa quinta-feira: os bailes funk da favela já começaram. Alguma dúvida?"

    – Sim… – disse Hugo, falando entre eles pela primeira vez desde que chegara. – A infiltração vai ser por disfarce, ou usaremos… trevas, para nos encobrir e nos mantermos ocultos?

    Assim que Heitor explicou esse detalhe, ele perguntou com ânimo intensificado:

    – Então, garotos – disse, esfregando as mãos. – Estão prontos?

    – Pronto matar a carne, destruir a alma e aniquilar totalmente um ser, entregando-o ao abismo do esquecimento? Sim, estou. Essa é a minha Raison d'etre. Eu nasci para isso.
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