“Oh, tu, que queimas no coração por aqueles que estão a queimar No Inferno, cujas chamas tu mesmo irás por tua vez alimentar Em quanto tempo estarás a gritar: ‘Tenha piedade deles.’ Deus! Pois quem é Ele para aprender e quem és tu para ensinar?" Edward Fitzgerald, |
Na cidade de Berna uma tragédia deu origem à uma nova heroína. Na Igreja de São Barnabé, as orações matinais tinham terminado. Era a Missa de Sétimo dia de Andrea, o jovem rapaz que desapareceu em um turbilhão que fez com o fim de sua vida desaparecer também a normalidade da vida da jovem com quem esteve naquela tarde. Os clérigos deixaram o altar. Os meninos do coro atravessaram em bando o presbitério e se arrumaram nos bancos. Um sacristão de uniforme elegante marchou pela nave sul, batendo com seu bastão a cada quatro passos no pavimento de pedra. Atrás dele vinha aquele pregador eloquente e bom homem, o monsenhor Phanauel. O acento de Ava Alvarez ficava perto da balaustrada próxima ao altar central. Eu me virei na direção da extremidade oeste da igreja. As outras pessoas entre o altar e o púlpito também se viraram. Houve certo rastejar e farfalhar enquanto a congregação se sentava novamente; o pregador subiu as escadas do púlpito, e o solo do órgão interrompeu-se. O órgão da São Barnabé era para Ava extremamente interessante. Ela sabia de tudo um pouco, mas a música lhe soava culta e científica demais para o conhecimento tão parco dela sobre música, mas despertava o interessa da jovem por tudo... Expressava uma inteligência extremamente vívida, mesmo que um tanto fria. Isso fazia com que Ava passasse a admirar aquele som da música... Ele reinava no imaginário de Ava supremo, autocontrolado, dignificado e reticente. Naquele dia, entretanto, desde o primeiro acorde Ava sentia que havia uma mudança para pior, uma mudança sinistra. Durante as orações matinais, o órgão tinha essencialmente apoiado o belo coro, mas, agora, mais uma vez, parecia que, de modo deliberado, a partir da galeria oeste — onde fica o órgão —, uma mão pesada golpeava por toda a igreja a paz serena daquelas vozes límpidas. Era algo mais que áspero e dissonante, e não traía qualquer falta de habilidade. Como diversas vezes antes, aquilo me pôs a pensar nos livros sobre arquitetura que em sua vida diletante de "Faz Tudo" a jovem Ava folheou. A famíla de Andrea estava ali, os pais e um irmão caçula, todos com brilhantes olhos esverdeados que espiavam a jovem Ava. Em sua expressão eles pareciam incomadados com a presença da garota. Um corpo não foi achado, ela foi a última a estar com ele. Para ela, estar ali sendo uma suspeita para polícia e familiares do rapaz incomodava, mas incomodava menos o que do que não fazer o que é certo. Ela estava ali porque precisava saber o que houve, ela precisava mostrar que não tem culpa. |