Livro 1: Dívidas e Pagamentos

Cabeça nas Nuvens escreveu:-- Conseguimos ajuda dos espíritos. Temos 4 espíritos barata para nos auxiliar na penumbra e mais 4 no plano material. Esses espíritos costumam ter boa afinidade com tecnologia e devem facilitar abrir portas e espionar dados armazenados. ele suspira e segue pra prior parte. -- O espírito foi bem enfático pedindo que não deixássemos seus filhos serem destruídos a toa, e saiu sem anunciar seu preço apesar de eu ter pedido pra negociar agora... seremos cobrados em breve e o preço será desagradável, eu imagino. Mas temos ajuda por hora e eu vou poder pedir uma ajuda na seita pra lidar com espíritos escorregadios. Creio que estamos no lucro? Ele se lembra de acrescentar --Também prometi dois quilos de comida deixados hoje por aqui por perto em algum lugar seguro para baratas.

Charles ouviu o relato com atenção. Coçou o queixo, pensando que teriam muito mais trabalho depois de concluir aquela missão, quando teriam que lidar com o preço da barata pela ajuda que queriam. De qualquer forma, o Theurge tinha conseguido seguir sua ordem, e ele se sentia pessoalmente comprometido com o pagamento daquele serviço. A ideia tinha sido dele, afinal.

- Muito bem, Allan. - começou. - Você não só conseguiu negociar com os espíritos, mas também trouxe ajudantes que podem lidar bem com tecnologia. E, já que estamos no coração de uma grande cidade, não consigo pensar em opção melhor do que essa.

Pensou por alguns segundos, então deu seu veredito.

- Apesar da reação estranha do espírito, não posso negar que isso vai facilitar muito a nossa vida. Se isso não for lucro, eu não sei o que é. Quando essa etapa terminar, vou providenciar a comida para que você a entregue. Vou agora com o Philodox para o outro lado da película e providenciarei a comida. Manda uma das que estão no outro lado para nos acompanhar e com isso já fechamos este ponto.

Vamos nos concentrar na missão.

Apesar do nervosismo em saber que o espírito cobraria por um serviço depois que a missão acabasse, Charles não podia deixar que a matilha sofresse com a mesma dúvida. Quanto mais hesitante ele parecesse, mais contestada seria sua liderança e isso poderia custar a unidade do grupo. Respirou fundo e tratou de colocar mais entusiasmo na voz.

- Finda esta parte, é hora do reconhecimento. - falou, num tom mais decisivo. - Se não houver nenhuma dúvida, vocês podem partir. Lembrem-se: discrição total. E tomem cuidado. Minha intenção é celebrar a formação de nossa matilha daqui a alguns dias, não uivar na Cerimônia dos Falecidos de vocês.

[quote="Vigilante da Meia Lua"]- E agora, Charles? Se atravessarmos a película, vamos perder nossos companheiros de vista. Se ficarmos, vamos ter que adiar o chiminage. O que você prefere fazer?/quote]

A ideia não agradava Charles, mas ele tinha que admitir que atrasar o chiminage não era uma boa ideia. Allan fora bem enfático sobre o quanto aquilo era importante e ele não pretendia, de forma alguma, questionar os deveres de outro augúrio. Além disso, já tinha passado todas as instruções que podia no momento. Qualquer interrupção poderia atrapalhar os dois.

- Não era minha intensão deixar os dois fora de vista, mas também não pretendo atrasar o chiminage de um espírito que já não estava muito disposto a nos ajudar. - respondeu. - De qualquer forma, Allan já tem as instruções para esta etapa da missão e autonomia o suficiente para se adequar a qualquer imprevisto. Só posso confiar que ele vai usar o celular em caso de emergência. Vamos atravessar a Película.

Ele procurou um lugar tranquilo e afastado dos humanos para percorrer atalhos e, assim que se viu no plano material, caminhou até o MacDonald's na companhia do Filho de Gaia. Embora sua mente ainda estivesse na missão, decidiu aproveitar o momento para saber um pouco mais de seu companheiro.

- Aparentemente, nosso maior desafio vai ser esperar numa fila ou aguentar algumas crianças barulhentas. - comentou, tentando começar uma conversa. - Lembro-me de que nossa superior citou que você é um estrangeiro. Você me parece perfeitamente adaptado à vida no Canadá, além de ter uma carreira por aqui. De onde você vem?

Assim que chegou a vez da dupla, Charles pediu vários sanduíches repletos de conservantes e gordura e mais alguns pacotes de batata frita gordurosa. Por fim, comprou doces para que as baratas pudessem se fartar em açúcar. Era visível para qualquer um que ele não estava acostumado a ambientes como aquele: o terno caro, o sotaque e a postura formal destoavam demais numa lanchonete cheia de crianças e pessoas afeitas à comida industrializada. Apesar disso, Charles não era esnobe ou condescendente. Deixou uma gorjeta generosa para o funcionário e agradeceu educadamente o atendimento. Respirou fundo quando se viu do lado de fora.

- Não sei você, mas lugares apertados e cheios de gente me deixam ligeiramente irritado. - contou. - É sempre um alívio estar ao ar livre.

Procurou um beco na Bloor St, onde não havia mendigos ou curiosos. Colocou tudo próximo a uma saída de esgoto, onde baratas eram comuns. Só esperava que os ratos não chegassem primeiro.

- Nobre Barata, entregamos aqui o chiminage que prometemos. - disse, sem saber ao certo se aquilo era necessário ou não. - Esperamos que nossa oferenda te agrade e que seus filhos nos vejam como amigos. Obrigado pela ajuda prestada.

Então fitou Arthur.

- Acho que nosso trabalho termina aqui. Vamos voltar para a Umbra.

Procurou por um canto discreto, onde não poderiam ser vistos e percorreu atalhos, olhando para a tela do celular.