O terno bonito de risca de giz e azul profundo envolvem outro esqueleto. Limpo e sem nem um pedaço de carne. Os ossos polidos, mas não brancos. Ligeiramente amarelados como deveriam ser. É impossível de saber se ele se incomoda com o que Shaw diz. Mas ele se levanta de sua cadeira para ouvir. Antes do uratha terminar tem uma bandeja com dois drinks com guarda-chuva na mesa. Real? Espirituais? Os dois?
"Primeiro eu preciso dizer que admiro sua postura, sem lua. Mas não me mostrou um bom negócio. Deixe me lhe dar um conselho, se é que isso tem valor, não comece pelo que você precisa quando for negociar. " Ele toca a bandeja empurrando ela um pouco na direção dos dois. As orbitas vazias poderiam estar olhando para qualquer lugar, mas impossível não sentir que estavam fixas neles. "Agora, no começo eu achei que nunca ia me encontrar, lua crescente... Mas quando apareceu, poderia ser? Uma parte de mim teve esperança. Esperança de que tivesse desvendado meu chamado. Que tivesse se aliado ao medo pra entregá-los a mim. Uma oferenda. Eu aceitaria só para ver os dois tremendo em suas casas construídas com paranoia. Achei que estava aqui para mostrar o quanto estavam dispostos a sacrificar por mim. Mas eu olho para os dois e sei que não foi pericia e uma profunda e sagaz ardilosidade que trouxe os dois aqui. Não foi respeito e devoção. Só..." De alguma forma ele parece profundamente desapontado. A sensação vem das luzes e paredes. Do chão e do ar a sua volta. Vem das imagens nas tvs onde o anfitrião sorridente assassina brutalmente seus hospedes. Seja com garrote ou faca. Martelo ou picareta. Drinks envenenados ou travesseiros durante o sono.
"Vou confiar que vão pagar o meu preço pelo que pediram. Não tem outra escolha." Agora a voz dele vem dos aparelhos de tv e não do esqueleto. Chamando ainda mais a atenção para as cenas sangrentas. "Sua amiga está presa a você, sem lua. Você é um grilhão impedindo que ela siga o seu caminho. O mesmo caminho das almas de todos os mortos humanos. Você a viu morrer, eu sei, agora eu vi também. " A cena aparece em todas as tvs. A menina sendo engolida. Os pezinhos passando pela garganta enorme do monstro uratha. "Você é a única coisa que fez sentido para a morte dela. A única parte do mundo que ela ainda entendia. Você correu para ela, não foi? Se importou? Se aproximou das chamas para salvar a mariposa. Tarde demais." A boca da fera se fecha. Ela olha na sua direção com olhos que são estrelas azuis.
"Por isso já me devem. Posso libertá-la e pagarão ainda mais. De um jeito ou de outro não espero vê-lo de novo por aqui lua crescente. Eu aconselho deixar ela ir. Deixar ela ir pra bem longe dos Sombras descarnadas. Eles guardam almas de humanos mortos. Dá para imaginar." Ele olha para tela vendo o rosto congelado da fera. "Isso é um problema rapazes. Que tal pagarem sua divida e sumirem daqui enquanto ainda podem? Alguém tem que resolver isso, não é?" A voz voltou a sair do esqueleto. Novamente ele toca na bandeja prateada com os copos de cristal.